Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 9
Capítulo 9




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Senti algo acariciar o meu rosto lentamente e me fazer despertar do sono. Eu estou em meu quarto, mesmo me lembrando de estar no jardim pela última vez e ter desmaiado dentro da piscina. Sinto minha cabeça dar voltas, mesmo estando deitada em minha cama. O que aconteceu comigo? Eu me lembro de ouvir Djoser chorar sem parar e ser chamada por Hur e Paser.
O vinho que Gab me ofereceu... Talvez seja um novo vinho e eu não seja acostumada com ele, ou será que estou doente?
Se Yunet estivesse no palácio, poderia jurar que fui envenenada novamente.

—O que aconteceu? —Pergunto ao ver Hur em minha frente.

—Eu quem devo te fazer essa pergunta. —Hur fala preocupado.

—Eu me lembro de pouca coisa... —Falo procurando Djoser, mas com a tontura que sinto volto a me deitar.

—Eu pensei que fosse te perder. Você não estava reagindo... —Eu sinto a mão de Hur segurar a minha enquanto ele fala.

—Por quanto tempo eu dormi? —Pergunto.

—Duas luas. —Hur me responde. Me assusto ao saber que permaneci duas luas desacordada, fiquei assim em uma das vezes que pensei ter perdido um filho quando na verdade fui envenenada por Yunet. —Pode imaginar o que fez você ficar desacordada por duas luas?

—Eu não faço a mínima ideia. —Respondo assustada. Tento me levantar da cama, mas acabo sendo "derrubada" pelo peso do meu próprio corpo. —Não consigo me levantar...

—Não faça nenhum esforço, por favor. —Ele pede temendo uma possível queda minha da cama. —Não sabe o susto que nos deu, Henutmire. Foi horrível te ver desacordada nessa cama, sem falar... —Lágrimas caíram dos olhos de Hur. —Mais difícil foi ver Djoser chorar e saber que você não podia acalmar ele.

—Mas agora eu poderei. —Minha voz saiu rouca de minha voz e eu me assusto com a gravidade do meu problema. —A minha voz... —Reclamo.

—Nem mesmo Paser sabe explicar o que aconteceu. —As palavras de Hur me assustam. —Ele pensa que talvez isso seja obra dos deuses.

—É de se pensar, Hur. —Falo pensativa. Por quê os deuses fariam isso comigo?

—Ela acordou? —Paser pergunta assim que entra em meu quarto. —Graças aos deuses. —Ele agradece ao me ver acordada. —Sente algum mal estar?

—Não consigo me levantar. —Reclamo. —Meu corpo pesa. —Minha voz sai rouca novamente.

—Os deuses andaram brincando com a vida da senhora, princesa. —Paser tenta me animar. —Quiseram nos assustar!

—Eles não deviam fazer isso. —Hur fala.

—Não vamos julgar os deuses... —Paser fala.

—Algo mudou durante o tempo que permaneci desacordada? —Pergunto.

—Absolutamente nada. —Hur responde. Foi nesse exato momento que vi Leila entrar com Djoser em seus braços.

—Olha, meu príncipe, sua mãe despertou... —Hur fala indo buscar Djoser.

—Com certeza ele sentiu mais falta da senhora do que todos nós juntos. —Paser fala e sorri ao ver Hur se aproximar com Djoser em seus braços. Ainda me restam forças para segurar o meu filho e matar as saudades.

—Meu filho amado... —Falo ao me deparar com o olhar penetrante de Djoser, quando meu filho me olha e permanece me olhando por muito tempo eu chego a pensar que ele consegue ler a minha mente.
É uma espécie de conexão inexplicável que ocorre entre nós dois, uma conexão a qual somente Djoser consegue decifrar.

—E Nefertari? —Pergunto ao né lembrar da gravidez de Nefertari.

—Falta muito pouco para conhecer o meu neto. —Paser fala empolgado, ele estava ansioso para conhecer o seu neto, isto é perceptível . —Muito em breve o príncipe Djoser terá um primo.

—Espero que eles cresçam unidos e que nunca briguem por nada. —Falo ao voltar minhas atenção para Djoser.

—Eu sabia que poderia encontrar o senhor aqui. —Karoma fala euforicamente após invadir meu leito.

—O que houve? —Paser pergunta.

—A rainha entrou em trabalho de parto. —A resposta de Karoma nos faz sorrir.

—Meu sobrinho vai nascer! —Exclamo contente.

—Meu neto vai nascer! Ele vai nascer! —Paser fala repetidas vezes até se retirar junto com Karoma.

—Ouviu isso, meu amor? —Pergunto para Djoser e ele ergue seus suas mãos até tocar em meu rosto, eu senti os pequenos dedos dele acariciar o meu rosto. Ele observava cada movimento que eu fazia, mas o que veio logo em seguida foi o que mais me surpreendeu. Após eu sorri para Djoser, ele sorriu para mim.

—Ele sorriu. —Hur e Leila falam ao mesmo tempo.

—O primeiro sorriso dele foi para mim! —Falo com lágrimas nos olhos. —Você sorriu para mim? —Pergunto emocionada e vejo Djoser sorrir novamente. —Você sorriu para mim, filho... —Eu falava totalmente abobalhada ao ver o sorriso de Djoser ser direcionado para mim.

—A senhora sente fome? —Leila pergunta.

—Não. —É a única coisa que respondo.

—Mas a senhora precisa. —Leila insiste.

—Não agora. —Respondo ainda olhando para Djoser. —Eu só quero olhar para o meu filho agora...

(...)

Após ser obrigada a me alimentar por Hur e Leila, fiz um esforço para tentar me levantar da cama, sem sucesso. Mas eu pelo menos tinha força para segurar o meu filho em meus braços. Mas eu desejo me levantar para ir até o leito de Nefertari e saber se ela já deu a luz e conhecer o meu sobrinho.
Com o nascimento do meu sobrinho, o príncipe Gab retornará para a Núbia e só irá visitar o Egito de tempos em tempos.

Eu não me recordo de Gab nas conversas de meu pai, isso me deixa intrigada, ao contrário de seu primo que foi muito amigo de Moisés. Isso me deixa confusa também por quê Gab é muito mais velho que Jahi, eu deveria saber de sua existência, ou não? Isso não irá mudar em nada agora, Gab partirá do meu reino e será esquecido com o passar dos anos.

—Henutmire, precisamos conversar. —Hur fala se aproximando aos poucos. —Preciso deixar claro uma coisa...

—Que coisa? —Pergunto.

—É sobre Miriã. —Hur despeja suas malditas palavras e me faz perder o bom humor. —Não existe nenhum filho meu com ela. Não houve nada entre mim e Miriã, nunca haverá. —Ele se explica. —Eu sei o quanto tudo isso é constrangedor para você, mas... Naquela época eu não poderia imaginar que um dia teria você ao meu lado como tenho agora.

—E como eu posso ter certeza de que você nunca mais irá se encontrar com Miriã?

—Por quê eu sempre vou escolher você. —As palavras dele pesaram em meus olhos. —Por quê sempre vai ser você, Henutmire.

Observei Hur por alguns instantes, notei o quanto verdadeiro ele estava sendo, mas eu não posso passar a mão na cabeça de Hur todas as vezes que ele mentir para mim.
Mesmo com esse quase pedido de desculpas, uma quase trégua, eu não ainda me sinto constrangida. Mas o olhar que ele me lança me faz ter pena, pena em saber que ele está com medo e pressionado. Hur está se sentindo ameaçado com a terrível presença de Gab e, sinceramente, não sei se me agrado ou desagrado com isto.

—Eu vou pensar. —Falo. Me arrependo amargamente após dizer tais palavras para ele, as mesmas o fizeram se desapontar.

—Chego a pensar que talvez você e eu não deveríamos ter nos conhecido. —Agora foram as palavras de Hur que me amarguraram e me desapontaram, mas eu não me deixei intimidar.

—Está livre para ir. —Rebato com orgulho que o fere pior que uma espada que acabará de sair do calor de uma brasa. Ele me olhou incrédulo, sem chão, como se procurasse entender o que estava acontecendo. Na verdade, nem eu mesma sei o que acontece comigo e com Hur.

Depois de ter enfrentando tanta coisa para que pudéssemos nos casar e vivermos em paz sem nenhuma censura e até mesmo termos um filho, passamos a nos tratar pior que dois inimigos. Tudo isso começou quando Leila me revelou sobre Miriã, quando ele teve a coragem de me contar sobre o "caso" que ela e Hur tiveram.

—Se eu for, eu não irei sozinho. —Hur fala seguro. —Djoser irá comigo. —Pude sentir meu sangue ferver por entre minhas veias ao ouvir Hur falar. Também imaginei meu filho sendo tratado como escravo, e pior, sendo possívelmente criado por Miriã.

—Você só levará Djoser para longe de mim quando eu morrer. —Falo alterada. —Ao contrário disso, você sairá daqui e esquecerá que um dia tivemos um filho...


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Notas finais do capítulo

Vamos para o casos de família?



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