Flash Back On

—O choro vem dali. —Falo e dirijo meu olhar até o horizonte e vejo um cesto escondido por entre as plantas dentro da água. —Pegue o cesto, Yunet. —Falo sem tirar os olhos do cesto. Yunet faz o que eu pedi e se aproxima com o cesto.

Ao abrir o pequeno cesto me deparo com um bebê, precisamente um menino, que no caso não para de chorar. Talvez ele esteja com fome, ou com medo por ter sido abandonado pela própria mãe. Se é que posso chamar de mãe...
Que espécie de mulher teria coragem de abandonar o próprio filho, o jogar no rio Nilo e deixar ele a própria sorte?
Nenhum desespero é o suficiente para fazer isso.

—Ah, mas que bebê mais adorável! —Falo ao retirar o bebê do cesto. E ao tentar acalmar o bebê em meus braços, noto o quanto ele pesa. —Oh meu amor não chora... —Falo fascinada. —Não é a coisa mais linda, Yunet?

—Já reparou no manto desta criança, senhora? —Yunet pergunta desfazendo o meu sorriso.

—É um menino hebreu, com certeza. —Falo envergonhada.

—Então entregue o bebê ao seu pai, senhora. É o certo a se fazer.

—Se eu entregar o bebê ao meu pai ele vai mandar matá-lo.

—Mas é o decreto do rei! É assim que deve ser feito. —Yunet rebate.

—Me impressiona muito você que carrega uma criança... Não tem piedade? —Pergunto enfurecida.

—Não de um hebreu, senhora.

—Está falando igual ao meu pai, Yunet. Que horror! —Falo escandalizada com a crueldade de Yunet.

—Desculpe, senhora. Estou tentando ser leal ao deus-rei. —Yunet fala envergonhada.

—Você também deve ser leal á mim, Yunet. —Falo sem paciência e volto minhas atenções para o bebê.

—E o que pretende fazer com essa criança, senhora?

—Essa criança foi enviada para mim pelos deuses. Não vou deixar que nada de mal lhe aconteça. —Falo ninando o garoto em meus braços, todavia ele não parava de chorar. —Ele se chamará Moisés, por quê das águas o tirei...

Flash Back Off

Começo a chorar ao lembrar do dia em que encontrei Moisés nas margens do rio Nilo. Mas a lembrança que tenho logo em seguida é ainda pior...

Flash Back On

—E como ela irá se chamar? —Hur pergunta ninando a nossa filha recém nascida em seus braços.

—Anippe. —Falo exaustiva e me alegro ao ver Hur sorrir com o nome de nossa filha.

—O que significa? —Ele pergunta e eu sorrio ao me lembrar do significado do nome de Anippe.

—Filha do Nilo. —Revelo orgulhosa da minha filha. —Que seja tão forte tanto quanto as águas do rio Nilo...

Flash Back Off

—Henutmire? — Ouço Hur me chamar de longe, mas ele está bem do meu lado. É então que percebo o quanto estou abalada por não ter Moisés e Anippe comigo. —O que você tem? —Hur insiste em saber o que tenho ao me ver deitada tão cedo. —Sente alguma dor? —Faço um gesto negativo com a cabeça pensando que talvez Hur não se preocupe mais comigo. —Gab finalmente foi embora agora você não precisa mais se preocupar com ele...

—Estou preocupada com Anippe. —Falo trêmula. —Eu sempre perco os meus filhos. Seja eles sendo envenenados, exilados do Egito ou...

—Henutmire, você precisa reagir a tudo isso. —Hur fala ajoelhado em minha frente. —Ainda temos Djoser.

—Não demorou muito para ele se rebelar. Primeiro a bebedeira e agora a revolta contra os hebreus. —Volto a chorar novamente ao me lembrar da maneira que Djoser falava. —Eu não sei o que vai ser de mim.

—Você tem á mim. —Hur fala e receia segurar a minha mão. —Djoser precisa de nós dois, e nós precisamos dele.

—O que seria de nosso menino se eu morresse agora mesmo?

—Não fale isso. —Hur pede nervoso ao notar todo o meu desespero. —Você sabe que nem eu, muito menos o nosso filho suportaria a sua morte.

—Penso nisso faz algum tempo. —Falo entre soluços. —Esse pensamento me persegue.

—Então fuja dele. —Hur fala ainda ajoelhado em minha frente. —Sei que hagi mal, fui muito rude com você. —Ele tenta se redimir. —Mas ao saber que Anippe renegava as suas origens hebréias, origens herdadas de mim, eu me senti péssimo. Me senti péssimo por saber que Anippe era minha filha, filha de um hebreu, e ao saber que ela odeia todos os hebreus...

—Eu discuti tanto com ela por isso. Tentei esconder isso de você para não ver o seu sofrimento por causa do desprezo dela, mas Anippe não parou, seguiu em frente até chegar no limite. —Até então Hur não imaginava que eu tentei fazer com que Anippe parasse de odiar o fato de ter origens hebréias por causa dele. —Mas de nada adiantou o que eu fiz com ela. —Falo ao lembrar do dia em que bati em Anippe. —Ela agora se foi. Assim como Moisés...

—Moisés foi embora por quê estava sem saída. Anippe decidiu brincar e acabou indo embora por escolha. —Hur fala pensativo demais ao se lembrar do dia em que Anippe partiu. —Eu lamento pela forma que me despedi dela. Eu não poderia imaginar que a criança que carreguei nos braços e vi acrescer se tornou uma pessoa tão rude...

—Eu me lembro de todas as vezes que tínhamos que separar Anippe e Djoser todas as vezes que eles brigavam. —Falo me divertindo com a lembrança de Djoser e Anippe.

—Anippe era irredutível, não era tão frágil quanto parecia. —Hur sorri ao se lembrar da infância de nossos filhos. —Djoser não deixava ela em paz!

—Mas agora deixou. —Falo sendo surpreendida pela a entrada de Leila em meus aposentos. —O que aconteceu?

—O príncipe Moisés. —Leila fala e eu me levanto da cama bruscamente. —Está na sala do trono com o rei.