Oh, vã cobiça! escrita por Eduardo Marais


Capítulo 23
Capítulo 23




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/661233/chapter/23

Vasco abre seus olhos e encontra Cosima deitada em seu peito, naquela cama protegida por peles felpudas de animais. Sua cabeça girava e inúmeras imagens consideradas impuras voavam diante de seus olhos. Ele havia tocado o corpo daquela mulher, como apenas havia tocado o corpo de sua esposa.

Em seu coração, sentia-se traidor e sujo, indigno de olhar nos olhos dela e pedir perdão por ter perdido-se naqueles momentos lascivos, embora soubesse que não tinha sido por vontade própria. Teria Regina a mesma sensação de nojo de si mesma, quando terminava seus contatos íntimos com o homem a quem amava verdadeiramente? Será que ela se sentia suja quando retornava para casa e deitava-se em seu leito de matrimônio, ao lado de um marido devotado e cego?

Agora, ele havia feito o mesmo e sabia que haveria consequências.

Logo nas primeiras horas da manhã, dois cavalos escuros galopavam pela trilha de terra vermelha, direcionados por dois cavaleiros hábeis e determinados. Homem e mulher seguiam em direção ao seio da Floresta de Esmeralda.

Vasco e Cosima param próximos à margem do rio e apeiam quando se encontram com um pequeno grupo de homens retornando pelo mesmo caminho.

– Saudações, irmã! – um dos homens beija o rosto de Cosima. Apenas inclina levemente a cabeça para saudar Vasco. Não sustenta o olhar nos olhos poderosos do homem. – Conseguimos informações de que um grupo de viajantes foi visto dirigindo-se para o Vale das Esmeraldas.

– E o que há com esse grupo? Carregam uma menina?

– Eles estão na companhia de um macaco forte... – o homem fica hesitante. – Estão na companhia de duas bruxas. Uma delas é a Rainha Má.

– Minha esposa está aqui? – Vasco não se controla e fica exultante. Um sorriso largo e bonito ilumina sua boca pequena. – Minha filha não está com ela?

– Não há menina alguma. – o homem não encara Vasco. Aponta da direção norte. – Foram vistos naquela direção. Talvez estejam indo na direção do castelo da Rainha Verde.

–É certo que estão! – Vasco se dirige para o cavalo e monta no animal com a destreza típica dos cavaleiros.

Cosima morde o lábio inferior e estreita os olhos fitando algum ponto do horizonte.

– Vasco e eu seguiremos para o Vale e com sorte alcançaremos nosso objetivo. Quero que saiam do campo de visão e assumam suas posições de ataque.

O soldado se inclina próximo ao ouvido de Cosima.

– O soldado que sobrevoou, conseguiu localizar o grupo bem próximo ao castelo. Ele viu o grupo ser atacado pelos macacos voadores e presenciou a magia da Rainha Má. Cuidado com ela, porque é forte demais e está furiosa.

– O que houve depois?

– O príncipe Galeano levou o grupo para o castelo e o nosso soldado teve de fugir dos macacos. Você está com as esferas?

Cosima confirma e sorri ao ver o cavalo de Vasco se afastar.

Momentos mais tarde, ela o alcança e os dois continuam seu trajeto rumo ao Castelo das Esmeraldas. Cosima estava radiante porque finalmente seu mundo ficaria livre dos infortúnios das magias usadas para o controle e realização de perversidades.

Em direção oposta, vinha o grupo de Regina. À frente, quatro macacos voadores serviam de batedores. Cesar ia adiante e Nicolas na parte de trás do grupo, observando a retaguarda do grupo juntamente com a taciturna Smila. No centro do grupo, Galeano, Regina e Yasemine caminhavam calados e atentos.

– Poderíamos seguir em cavalos.

– Minha mãe não teve forças para criar esse meio de transporte, Rainha.

Regina ignora a fala do sobrinho e gesticula, dando a cada um dos companheiros de viagem, um belo equino equipado para o conforto. Mas para sua surpresa, Yasemine se estabaca do cavalo e fica sentada no chão, dando risada. Cesar não acha graça alguma e rapidamente vai ao auxilio da amiga. A ajuda a subir em seu cavalo como garupa.

O cavalo de Yasemine desaparece diante dos olhos do grupo e a jornada é retomada seguindo a margem do rio, caudaloso devido às chuvas dos últimos dias. Por horas o grupo cavalga em busca do que seria a salvação da vida de Vasco e o desejo era o encontro eminente do homem, ainda com vida.

Vários quilômetros dali, Vasco e Cosima continuavam sua cavalgada e ainda não havia parado para hidratação. Percorreriam mais alguns metros e iriam proteger seus animais do sol do meio do dia. E é o que acontece.

– Acredito que em mais algumas horas, estaremos no Vale das Esmeraldas. Para o castelo será pouco tempo. – Cosima acaricia a crina de sua égua. – Os animais precisam de descanso e nós também.

Ela se aproxima de Vasco e de forma íntima, toca sua coxa. Ele se sobressalta e afasta-se.

– Tire sua calça. Preciso ver seu ferimento.

– Estou bem. Acredite em mim.

– Tire sua calça ou serei pouco delicada ao fazer isso por você. Já vi sua nudez e não há segredos para mim. Agora, faça!

Vasco demora alguns segundos a obedecer a mulher. Timidamente vai abaixando a calça e expondo suas pernas. Cosima se ajoelha diante dele e passa a ponta dos dedos sobre a ferida.

– Precisamos lavar e trocar o emplastro. Está cicatrizada, mas pode infeccionar caso não cuidemos devidamente. Sente-se e eu vou fazer a limpeza.

Observando os movimentos da mulher, Vasco fixa sua atenção nos contornos da ferida na carne de sua coxa. Era um traço fino e retilíneo, perfeito e seu desenho. Não se parecia com aqueles cortes provocados acidentalmente por pedras ou algum galho pontiagudo. Assemelhava-se aos cortes feitos com lâminas.

– Você desconfia de como eu me cortei?

– Alguma pedra pontiaguda no rio, talvez algum material da janela de onde você pulou...talvez alguém o tenha ferido antes de sua fuga. Você não me forneceu detalhes de como conseguiu pular pela janela do castelo em direção ao rio.

– O seu homem disse mesmo a verdade? Ele não viu minha menina com Regina?

Cosima levanta seus olhos atentos e sorri.

– Ele não é meu homem. É soldado de nossa aldeia, assim como eu sou. E sua filha não é mais uma menina. Os rumores vindos pelos ventos já falavam da menina-mulher e do macaco-humano. Ela agora é uma mulher bruxa, segundo os aldeões vizinhos. E isso já faz tempo!

Quando a tarde começa a descer naquele pedaço de terra, Cosima desperta Vasco que dormia encostado no tronco de uma árvore. Ele ainda não estava tão forte para aquela jornada, mas era urgente que as bruxas fossem eliminadas e ele seria um elo de aproximação. Retomam sua jornada e cavalgariam até o início da noite, quando encontrariam um ponto para descanso.

Paralelo a este tempo, outro grupo se mantinha firme em seu trajeto, uma vez que os cavalos não precisariam de descanso e hidratação. Nenhum minuto poderia ser desperdiçado, além dos necessários para que as paradas de reabastecimento de água.

– Yasemine, eu preciso falar algo. – Galeano entrega um odre cheio de água, para a garota. Ele olha para os lados. – Da outra vez em que esteve em contato com minha mãe, ela não lhe contou toda a verdade.

– Que verdade?

– Você e eu não somos primos. Nós somos filhos da mesma mãe.

– O quê?

O rapaz leva o dedo aos próprios lábios e pede que a garota fale baixo.

– Quando o seu pai foi envenenado e morreu no hospital, sua mãe estava grávida. O motivo do atentado contra ele, foi a libertação de Regina para viver o amor com Robin, meu pai. Os dois tramaram envenenar Vasco, acusando a esposa de Robin, porque sua mãe estava grávida de mim.

Yasemine olha-o incrédula e assustada.

– Seu pai descobriu e os amantes quiseram livrar-se dele. Então, sua mãe não foi exitosa e decidiu acelerar a gravidez e eu nasci. Assim como Cora abandonou Zelena, a sua mãe me abandonou. Zelena me resgatou e cuidou como se eu fosse o seu filho biológico. Tenho quase a mesma idade de sua irmã Alda e quando passei pelo poço, assumi esta forma de adulto.

Cesar se aproxima do casal e não se mostra amistoso com a proximidade dos primos. Galeano sorri e afasta-se dos dois. Seus movimentos são acompanhados pelos olhos do macaco.

– Tome cuidado com o que esta pequena cobra fala. Ele é astuto como a mãe dele e tenha sempre em mente que eles tentaram nos matar, para evitar o resgate de Vasco. Pense em Vasco como algo muito valioso para ele e Zelena.

– Ele me disse que também e filho de minha mãe. De minha mãe com Robin e que os dois tentaram matar meu pai...

– Esse moleque é filho da puta, isso sim. Ele percebeu que você odeia sua mãe e quer fomentar ainda mais discórdia entre vocês duas. Você será estúpida, caso acredite nas mentiras dele. Você e Galeano são primos, apenas! E ele tem lançado olhares mais pervertidos do que os olhares de Nicolas. Caso ele continue com isso, conto para sua mãe!

Um sorriso surge nos lábios da garota. Olha Galeano lá longe, subindo em seu cavalo e percebe que precisa proteger-se mais contra aquele rapaz de olhos perversos e invejosos. Dá um solavanco para frente, quando Cesar empurra seu ombro e a obriga a retornar para o cavalo.

Neste momento, Nicolas se aproxima dela e traz no rosto uma carranca feroz.

– Eu costumo carregar uma besta com flechas envenenadas para serem usadas contra criaturas que não morrem com espadas. Nunca encontrei uma até hoje...- ele olha na direção de Galeano. – Mas posso ter me enganado.

Yasemine sorri e sobe no cavalo, agarrando-se à cintura peluda do chimpanzé. Aquela excursão não seria tranquila e algumas vidas deveriam ser ceifadas para o bom desenrolar da história de sua vida com seu pai e sua irmã. No futuro iria resgatá-la e trazê-la para viver ali.

No dia seguinte, os dois grupos retomam sua cavalgada sob forte neblina, o que anunciava um calor intenso para o restante daquele dia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Oh, vã cobiça!" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.