Oh, vã cobiça! escrita por Eduardo Marais


Capítulo 22
Capítulo 22




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Zelena caminha lentamente até a sala principal do castelo e sorri ao ver os convidados de seu filho. Em sua alma, o medo dominava e fazia seu coração saltitar como um de seus macacos. Mas não poderia se mostrar vulnerável, principalmente, se a teoria de Galeano sobre a proximidade de Yasemine fosse real.

– Por que tanta celeuma para uma visita, irmãzinha?

– Eu não posso evitar a atração que exerço sobre confusões. – Regina sorri e mantém sua mão em torno da cintura da filha.

– Sua comitiva é bastante eclética! Smila, minha querida! Como está sua gravidez?

Todos olham na direção da professora e ela permanece inerte como se fosse um totem. Não responde à provocação ou afirmação de Zelena.

– O macaco fiel e um cigano apaixonado! Que grupo lindo!

Regina olha a irmã com curiosidade e alarga seu sorriso ao perceber a nítida decrepitude da aparência dela. O que havia acontecido não se sabia, mas ela estava debilitada e lutava contra o pânico estampado no brilho de seus olhos claros.

– Não pretendemos demorar, Zelena. Viemos apenas buscar Vasco.

– Lamento, minha tia, mas ele fugiu. – Galeano aponta para a própria cabeça. – Ele quase abriu minha cabeça com um soco e depois conseguiu fugir.

– Meu pai está vivo? – Yasemine altera-se e iria avançar, mas é detida pela mãe. – Onde está meu pai?

– Já lhe disse que ele fugiu, prima. – Galeano não conseguia esconder sua exaltação diante da beleza e poder da garota. Vendo Regina ali perto, permite que sua cabeça produza as mais loucas e mirabolantes fantasias de dominação daquele reino e de outros assuntos mais picantes. – Meus macacos e eu vasculhamos a floresta e toda a extensão do rio, mas não o encontramos. Talvez se uníssemos forças...

Nicolas, Cesar e Smila olham simultaneamente para Regina, esperando alguma reação.

– Vamos encontras Vasco, sim. Mas sem a ajuda de vocês, queridos parentes.

– É urgente que encontremos Vasco, tia Regina. – o rapaz sorri e os olhos de Robin se fazem presentes nele. – Quando Vasco esteve doente, tivemos de usar alguns truques que salvaram a vida dele.

Zelena olha para o filho e não o interrompe. Queria ver até aonde ele iria com o blefe.

– O que mantém Vasco vivo é a energia que as paredes minerais deste castelo emanam. Ficando muito tempo longe daqui, ele fenecerá. Só que desta vez, será de verdade.

Yasemine se liberta da mãe e aproxima-se do local onde Zelena estava em pé. Olha-a bem de perto e empurra o ombro da mulher, com a ponta dos dedos.

– Você roubou meu pai, enganou minha mãe e soltou as imagens aos ventos, de que ele havia morrido. Tentou matar a mim e ao Cesar, além de tentar nos impedir de chegar aqui. O que pretende realmente? Pensa mesmo que meu pai deixará de amar aquela mulher, para amar você, apenas por ter usados esses truques?

Um sorriso cansado surge nos lábios pintados de Zelena.

– Eu sei que irá aceitar a proposta de meu filho, porque você é a única mulher que ama Vasco incondicionalmente e provou isso ao pular no poço. Você o merece, Yasemine, mas com o seu grupo não chegará a lugar algum.

– Chegamos aqui.

– Mas não conseguirão encontrar Vasco a tempo, sendo atrapalhados por perigos constantes. Agora, estarão lutando contra o tempo. Terá de aceitar a nossa proteção e a nossa companhia. – Zelena olha para Regina. – Abaixe as suas defesas e aceite que não será páreo para os novos perigos. Seu querido cigano foi ferido por um macaco voador e logo se transformado em um deles.

Yasemine se volta para Nicolas e corre até ele, segurando seus ombros. O desespero estampa os olhos grandes dela. Abraça o homem.

– A ferida apenas abriu. Não foi o macaco, foi um centauro que me feriu há décadas. – ele cochicha no ouvido dela. Quem observa de longe, imagina que ele a estava beijando.

Um imediato alívio domina a alma da menina. Ela olha para a mãe e depois para a tia.

– Por que seu filho não partiu antes em busca de meu pai?

– Estou frágil desde o parto e ele precisa ser protegido. Vamos unir o útil ao...útil. – discretamente, Zelena apoia-se num móvel, mas seu movimento não é despercebido por Regina, que vê algo mais do que mera fraqueza pós-parto. – Todos nós queremos Vasco de volta. E quando ele estiver aqui, decidirá com quem quer ficar.

Yasemine continua segurando seu cigano pelos ombros e gosta da sensação de ter uma das mãos dele em sua cintura. Ela olha a tia de soslaio e diz:

– Aceitaremos a sua companhia. Partiremos amanhã cedo, mas quero que nos dê abrigo por esta noite.

Momentos mais tarde, no quarto de Zelena...

– Ela é a visão mais linda que já tive, depois de conhecer nosso lar! Ela me deixou sem ar!

– Sua história sobre a ligação de Vasco e esta casa, convenceu até a mim, assim como a sua teoria de que Yasemine suga a minha vitae vis. Eu me sinto mais fraca, sobretudo, depois que ela me tocou. – Zelena mostra as mãos mais enrugadas. – Ela precisa sair de minha casa, Galeano, ou vou morrer.

O rapaz se ajoelha diante da mãe.

– Eu vou encontrar Vasco e trazê-lo para nosso lado. Prometo a você que assim que conseguir tê-lo sob minha custódia, mato todo o grupo, inclusive Yasemine. Vou sofrer por não tê-la como minha princesa, mas irei superar porque teremos Vasco.

– Você é meu filho e é forte. Anule os poderes dela e a possua antes de matá-la. Satisfaça seus desejos, filho. Mas quero mãe, filha e os capachos delas mortos!

Galeano sorri, ajuda a mãe a deitar-se e retira-se do quarto.

– Prometo a você que assim que conseguir ter Vasco sob minha custódia, mato todo mundo, inclusive você, mamãe, mas mantenho meus amores vivos. – ele fala ao fechar a porta atrás de si. Sorri de forma perversa.

Num outro quarto qualquer do castelo...

– Dar abrigo por esta noite não significaria ficarmos todos no mesmo quarto! Ai! – Nicolas se encolhe ao receber o emplastro sobre sua ferida. Yasemine estava cuidando dele.

– Fique à vontade para dormir sozinho, longe daqui. – Cesar entrega água para Smila e recebe um sorriso.

Regina entra esbaforida no quarto e fecha a porta atrás de si. Sorri ofegante.

– A peça de roupa de Vasco me levou até as masmorras e depois para um determinado quarto, em seguida saiu pela janela e caiu no rio lá embaixo. Ele fez este trajeto e precisaremos seguir pelo rio, usando outra peça de roupa dele.

– E temos outra peça? – Yasemine limpa as mãos, depois de terminar o serviço com Nicolas.

Regina gesticula e faz surgir uma camisa do homem, em uma de suas mãos.

– Agora temos. – ela se senta e encara Smila. – Posso confirmar se você está grávida?

– Não se atreva. Você me ordenou vir em sua companhia, mas não me ordenou ser sua amiga. – ela continua limpando suas adagas. Mantém a cabeça baixa.

A bela rainha se volta para Nicolas.

– Você ainda não se transformou em macaco. Será que foi um macaco criado de folhas que feriu você?

O cigano se deita na imensa cama e cruza as mãos atrás da cabeça.

– Quando eu tinha pouco mais de quinze anos, fui ferido por um centauro maluco, amigo meu. Esta ferida não se cicatrizará, a menos que eu me banhe em água com propriedades curativas. A ferida se fecha, mas quando eu faço esforço, ela sangra.

– Poderemos encontrar uma cura para você. Minha mãe conhece pessoas em diversos reinos e alguém deve conhecer algum remédio. – Yasemine se senta na cama e é surpreendida pelo salto de Cesar sobre o colchão, ficando entre ela e o cigano. Deita-se ali. – Ei!

– Vou dormir com o cigano e você dormirá no sofá. Smila poderá deitar-se ao meu lado.

Regina se encanta com a cena e por segundos perde-se em pensamentos. Como Yasemine iria separar-se do amigo macaco? Ela iria decidir isso? E como ajudar o primeiro amor de sua menina? Seria certo deixá-la nutrir algum sentimento pelo cigano? E Yasemine voltaria a ser menina quando atravessassem o portal novamente? E Vasco voltaria a ser o mesmo? Este pensamento rouba o seu sorriso.


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