Oh, vã cobiça! escrita por Eduardo Marais


Capítulo 19
Capítulo 19




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O grupo de Regina sai da rota da caverna e vem para a superfície. Havia sido deixado numa colina e dali o castelo descomunal de Zelena poderia ser avistado. Mas para chegar nele, deveriam atravessar a pequena Floresta das Esmeraldas e certamente iria enfrentar os guardiões do castelo.

– Fugimos dos macacos anteriormente, mas agora o confronto será inevitável. – Regina para a caminhada e senta-se.

– Acredita mesmo que meu pai esteja vivo? – Yasemine se aproxima da mãe e mantém os olhos na direção do castelo.

– Absolutamente sim. Zelena sempre quis tudo o que é meu. Por isso não iria tirar Vasco de mim, para simplesmente matá-lo. – Regina segura a mão da filha. – Ela sabe que você está viva e que irá continuar lutando pelo pai, por isso despertou desejo em ter você sob a tutela. Conheço a inveja de minha irmã.

– Não me importo com ela. Meu coração não me fala sobre a vida de meu pai e tudo em volta perdeu o sentido. Tudo o que quero é entrar naquele castelo e roubar o máximo que puder.

Regina se levanta e segura o rosto da filha entre as mãos.

– Não acredite fielmente no que seus olhos lhe mostram. Nem tudo é o que pensamos ver, principalmente no mundo de onde viemos. Você pensa que viu a morte de seu pai e pensa que viu sua mãe com outro homem.

Yasemine se desvencilha das mãos da mãe e afasta-se dela. Ainda sentia raiva do que estava acontecendo. Sabia que todo o sofrimento de seu pai era devido ao imenso amor que ele dedicava àquela mulher, que não o amava com a mesma intensidade.

Mais alguns quilômetros de caminhada, o grupo de Regina decide parar para alimentação e hidratação. Smila fica no alto de uma rocha em vigilância dos arredores.

Cesar entrega um odre com água fresca para Regina e leva seus olhos ferozes na direção da mata rasteira, fingindo procurar algo interessante para fugir ao contato dos olhos poderosos da Rainha. E de fato, ele encontra algo interessante mesmo: as gavinhas verdes estavam movimentando-se de maneira incomum e por todas as partes.

– Yasemine! – ele grita, despertando a desconfiança de Regina que se levanta e prepara-se para algum novo ataque, não menos fácil.

As gavinhas estavam aumentando de tamanho e com força começam a enrolar-se nas pernas dos viajantes, subindo com rapidez pelos seus corpos. Smila emite um grito agudo; Cesar é totalmente dominado, igualmente a Nicola que não tem tempo nem de levantar-se de onde estava sentado. Regina sente suas mãos serem rapidamente envolvidas pela vegetação, impedindo os movimentos dos dedos.

Yasemine retorna correndo e antes que fosse atacada pelas gavinhas ferozes, ajoelha-se no gramado e encosta o rosto sobre ele. Espalma as mãos como se estivesse acariciando a vegetação e começa a falar em algum idioma desconhecido, num tom baixo.

As plantas libertam os prisioneiros, retornam ao seu tamanho natural e formam um círculo em volta de Yasemine, que se senta e acaricia um pouco mais as plantas. Como se nunca tivessem saído de seus lugares, as gavinhas se tornam inertes outra vez.

Rapidamente, Yasemine se levanta e corre na direção de Cesar, abraçando-o.

– Como você está, amigo?

– Quase sufocado, mas vivo. – ele tenta sorrir e observa a amiga correr na direção do cigano.

Ela repete o gesto feito com o macaco, mostrando preocupação. Segura o rosto do cigano entre as mãos.

– Você está bem?

– Você está espremendo minhas bochechas. Menina, o que foi aquele ataque?

– As plantinhas estavam defendendo seu território e depois reconheceram a minha ligação com elas. – Yasemine sorri e inclina a cabeça para o lado. Franze a testa. – Nossa! Você não tem sobrancelhas!

Nicolas se desvencilha da garota e fica em pé. É claro que ele tinha suas sobrancelhas clarinhas! Mas não iria discutir esse assunto tolo, com uma menina louca, como aquela. Apaixona-se ainda mais pela inocência dela.

Ao longe, Regina olha a filha com tristeza, conseguindo sentir finalmente, todo o desprezo da garota pela sua figura. Não era apenas mágoa, mas havia ódio e repulsa também. Pensando em reverter aquele quadro, aproxima-se da filha e tenta abraçá-la, sendo imediatamente repudiada pela garota feroz.

– Não me toque! Não fiz isso por você ou por Smila! Quis apenas a liberdade de Cesar e Nicolas e não soube como salvar somente eles! – ela aponta para Smila. – Como vigilante, você está deixando a desejar! Ou faz o serviço direito ou corto sua cabeça!

A agitação causada pelo ataque impede que o sono tome conta dos viajantes. Mesmo assim, Cesar obriga Yasemine a deitar-se sobre uma cama de folhas feita por ele. Smila dormiria e Nicolas ficaria na primeira vigília.

– Tenha paciência com a menina. Ela não odeia a senhora, Rainha. – o macaco entrega mais água para Regina.

– Eu terei trabalho em provar que sou inocente. Acontecerá naturalmente.

– Quando a encontrei na floresta, estava nua, faminta e assustada, mas não menos feroz. Eu a vesti, aqueci e mesmo assim demorou muito tempo para conquistar a confiança dela. Tive de provar paulatinamente que era digno de sua confiança e que minhas intenções eram boas.

– Sabe, Cesar, minha filha e eu nunca fomos amigas. Ela é alucinada pelo pai e não deixa brechas para que eu participe da vida dos dois. Sempre percebi uma predileção de Yasemine pelo pai e pude sentir que ela me via como rival pelo amor de Vasco. Isso sempre me incomodou.

– Mesmo que ela saiba que a senhora é inocente na história da traição, ela ainda sente raiva pelo sofrimento do pai. Acredita que a senhora poderia ter evitado. Ou mesmo acredita que tudo aconteceu, porque Vasco era casado com a senhora. A senhora é o cerne do ódio dela.

Regina cruza os braços diante do peito e mantém os olhos na direção da noite fora da caverna.

– Zelena sabe que estamos atrás dela?

– Não sei, mas esta parte da floresta sabe que duas poderosas mulheres estão caminhando juntas em uma terra que conversa com seus caminhantes.

– Não vou desistir de minha filha e tampouco do homem que amo. Entrarei naquele castelo e o resgatarei, mas não me responsabilizo pelo que acontecer à minha irmã.

– A senhora precisa dormir. Amanhã, estaremos no seio da floresta e quem está mandando novamente naquele território é a Rainha Verde. Precisaremos estar fortes para os próximos ataques, talvez mais vorazes.

– Seu otimismo é contagiante!


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