Oh, vã cobiça! escrita por Eduardo Marais


Capítulo 18
Capítulo 18




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Zelena abre a porta da cela e encontra Vasco em pé num degrau usado como cama, olhando o mundo lá fora. Estava nas pontas dos pés, acentuando os músculos das pernas pelo esforço.

– Seja bom comigo e poderá viver o mundo lá fora.

Exibindo um olhar de viés para a ruiva, Vasco desce cuidadosamente para não se machucar com as correntes e evitar exposição da nudez protegida apenas pela camisa. Ele se senta e protege as pernas com as mãos.

Zelena sorri e gesticula, abrindo os elos da corrente e libertando o tornozelo do homem.

– A partir de hoje, quero você em um dos quartos ao lado do meu. Em breve estará em meu próprio quarto. Será meu rei.

– Você disse ao seu filho sobre a paternidade? Ele sabe que Robin está vivo?

O rosto da ruiva torna-se assombrado. Não esperava pela pergunta e pelo interesse de Vasco em sua vida.

– Galeano não precisa da presença do pai!

– Isso é uma decisão dele. Não pense que eu poderei suprir a falta que Robin fará à vida dele, por mais que eu me esforce.

Aproximando-se do homem, Zelena se senta ao lado dele e atrevidamente segura a coxa dele.

– Eu preciso de amor, Vasco. Meu filho precisa de amor. E sei que dentro do seu coração há muito amor que foi desperdiçado com Regina. Embora ela o deseje, o amor verdadeiro dela sempre será Robin. Eles foram destinados pelo autor, para ficarem juntos e ela não consegue retribuir seu amor, mas nós estamos dispostos a recebê-lo irrestritamente.

O homem estreita suas sobrancelhas grossas e começa a brincar com os dedos.

– Eu apenas quero ser feliz e ter o meu par. Em todos os contos de amor existem os pares que se amam: Tristão e Isolda, Elisabeta e Vlad Dracul, Romeu e Julieta...

– Batman e Robin...

Zelena se cala, olha o homem e sorri diante da brincadeira. Toca-lhe os cabelos compridos com carinho. Percebe uma fagulha de sorriso nele.

– Nunca fui contemplada com amor. A única pessoa que me amou, foi a mulher que me adotou, mas ela morreu quando eu ainda era criança. Não sei o que é ser amada.

A alma de Vasco sofre com a força daquelas palavras. Embora não quisesse aceitar, sentia que era verdade a falta de interesse de Regina em receber a totalidade de seu amor e sua devoção. Ele havia errado ao viver idolatrando um ser humano comum, com uma carga de crueldade adormecida em seu interior? A ela, tinha entregado todos os seus sentimentos e sua verdade, porém, era clara a falta de devoção dela. Era triste, mas era real.

Momentos mais tarde, Vasco recebe um casaco e observa-se refletido no espelho. Um dos servos humanos termina seu trabalho e sai do quarto quando observa a chegada de Galeano.

– Estive em pesquisa na floresta. Os ventos e rumores falam sobre sua filha e o macaco que a acompanha.

Um sorriso ilumina os lábios pequenos de Vasco e provoca um profundo incômodo na alma amalucada de Galeano.

– Ela está bem mesmo? – histérico, Vasco segura os ombros do rapaz. – Ela está vindo!

– Está vindo, sim. Os camponeses me disseram que foi vista na companhia de duas mulheres adultas desconhecidas,do macaco e um cigano.

– Eu lhe suplico, Galeano, traga minha filha! Farei tudo o que sua mãe e você me exigirem, mas traga minha filha para meu convívio!

O rapaz sorri e liberta-se daquela prisão. Não gostava de ser tocado pelas mãos daquele homem e nem de sentir o poder que ele exercia. Vasco era forte demais! Tudo começa a agitar-se dentro da alma de Galeano e as informações borbulham e atropelam-se umas contra as outras. Ter Yasemine dentro daquele castelo seria sinônimo do total enfraquecimento de Zelena e o surgimento de um reino sem rainha, que iria precisar de um jovem príncipe amante do poder. Mas um jovem príncipe iria precisar de uma princesa poderosa e também precisaria de um rei forte e valente. E por pura coincidência, seus dois objetos de desejo estavam bem próximos.

– Eu vou trazer Yasemine para este reino, Vasco. Entretanto, preciso ter certeza de que você será bom para minha mãe...mas que também será bom para mim. – ele se aproxima de Vasco e toca o queixo dele, apreciando a maciez da barba sob seus dedos. – Não sou um pervertido...apenas sei apreciar a beleza que o mundo oferece. Sua filha é a visão mais linda que um ser humano pode ter, depois de conhecer o nascer do sol. E você, Vasco, é uma rosa vermelha surgida em meio da neve. Não há como não notar!

Vasco sorri amável e desce os olhos à meia visão. Percebe a oportunidade que a situação estava oferecendo. Iria aproveitar-se dela. Afasta-se lento e sensual do rapaz, mantendo o sorriso nos lábios, sem exibir os dentes. vira-se e olha o rapaz por cima do ombro. Sorri ainda mais e vê Galeano sorrir também.

Rápido e ágil devido às aulas de luta, Vasco desfere um golpe muito potente contra a lateral da cabeça do rapaz, que perde completamente a noção da realidade. Em seguida, passa para as costas de Galeano e usa o braço como alavanca para imobilizar seu adversário, provocando seu sufocamento e desmaio.

Sem ter tempo para descobrir uma saída longe dos olhos atentos dos macacos voadores, Vasco corre para a janela e olha o rio que corria lá embaixo. Seria arriscado, mas era a única forma de conseguir sair daquela prisão e do convívio com aqueles dementes perigosos. Sem hesitar, salta para a água fria e para o desconhecido.

O impacto contra a água fria provoca desconforto e súbita falta de ar em Vasco. Com dificuldade, consegue emergir e buscar oxigênio para seus pulmões. Aflito, zonzo e confuso devido ao impacto com aquela superfície gelada, ele se deixa levar pela correnteza e mesmo naquele emaranhado de informações, identifica lembranças da leitura do romance de Bram Stocker, quando Jonathan salta do castelo para o rio, a fim de fugir das sandices das noivas do monstro Drácula.

Lá dentro do castelo de Zelena, o silêncio do quarto continuava o mesmo. Galeano ainda não havia conseguido despertar do golpe sofrido e nenhum dos servos havia percebido o que ocorrera naquele espaço. Mal intencionado, ele tinha dado a ordem para ser deixado a sós com Vasco e sem ser incomodado, apenas avisado, caso Zelena estivesse aproximando-se do quarto. Simplesmente, estava sendo obedecido e servo algum iria atrever-se a verificar se os dois homens estavam bem.

E ele permanece caído junto à cama, totalmente apagado.


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Notas finais do capítulo

Boa leitura e obrigado por acompanhar!



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