Oh, vã cobiça! escrita por Eduardo Marais


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Cosima Coppola como Cosima.



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Vasco inspira profundamente e roça o rosto na maciez de um travesseiro com cheiro de ervas. Travesseiro? Ele abre os olhos e percebe-se em um quarto rústico, mas aconchegante, feito em pedras escuras.

Lentamente, vai sentando-se na cama e tenta acostumar-se ao ambiente, para conseguir abrir totalmente os olhos. Um de seus ouvidos doía e ele sente que o som chegava com dificuldade.

– Você acordou! – a voz doce de uma mulher é ouvida. Ela se aproxima da cama e encosta a mão na testa dele. – Ainda está febril! Pensamos que você morreria de hipotermia!

– Estou... no castelo? – ele pergunta num cochicho.

– Não. Você está em minha aldeia e está protegido.

– Minha filha...está na floresta...precisa de mim...não posso ficar aqui...

A jovem empurra delicadamente o peito dele e o obriga a deitar-se novamente.

– Para procurá-la, você precisar estar saudável. Caso saia assim, será presa fácil para todas as armadilhas que a Floresta das Esmeraldas tem.

– Minha filha é uma...menina com quatro anos...

A jovem mantém a mão sobre o peito dele e exerce pressão contrária, para que não se movesse. Sorri ao vê-lo ser conduzido pelas mãos pesadas de Morpheu.

Ao entrar no quarto, horas mais tarde, a jovem encontra o homem em pé e olhando pela janela. Olha-o com admiração por alguns segundos, relembrando dos detalhes que havia visto quando estava cuidando dele inconsciente. Agora, ele estava firme e ainda mais bonito enrolado apenas naquele lençol.

– Trouxe comida e leite! – ela sorri e vai colocar a bandeja sobre um móvel. – Precisa alimentar-se para conseguir partir.

– Tenho um corte em minha coxa...- Vasco caminha de volta para a cama.

– Quando o encontramos, você delirava e sangrava. Estava encharcado, febril e pensamos que não sobreviveria. A propósito, sou Cosima!

Ele sorri e mostra-se tímido.

– Sou Vasco, a seu dispor!

Cosima bate palmas e vai apanhar algumas peças de roupas que estavam num cesto num quanto do quarto. Coloca-as sobre a cama.

– Eu tomei liberdade de depilar você. Cortei um pouco os seus cabelos, desenhei um cavanhaque naquele amontoado de pelos que estavam em seu rosto e deixei seu corpo liso. Assim evitamos parasitas, que se proliferam nesta época do ano.

– Sem problemas...pelos crescem de novo...

Cosima se aproxima da cama e ajuda o homem a vestir-se. Queria ter uma última visão daquele corpo desconhecido. Havia apreciado o que tinha visto e queria mais.

– Depois que se alimentar, você pode dormir um pouco mais. A noite vai...

– A minha filha está lá fora sozinha! Não posso ficar aqui!

– Caso sua filha de quatro anos não tenha sido recolhida por algum camponês, ela já está morta! Mesmo que saia daqui agora, não encontrará vestígios dela!

Vasco olha com raiva para a moça. Por segundos ele se esquece de ela o havia salvado a vida.

– Minha filha tem habilidades herdadas da mãe dela! Neste reino, a mãe dela era conhecida como Rainha Má! E é sobrinha de Zelena! Minha filha não está morta!

Uma expressão de espanto surge no rosto de Cosima. Ela sorri irônica.

– Belo histórico! E uma menina com essa herança, precisa de ajuda imediata do pai aflito? Pensa mesmo que ela está correndo perigo? Todos sabem das habilidades dessas duas senhoras e do que elas são capazes, portanto, quem corre risco iminente, é a floresta e suas feras! – Cosima aponta para a bandeja. – Agora, trate de comer muito e descansar bastante, para não pôr a perder, todo o meu trabalho.

Vasco abaixa os olhos e percebe sua rudeza.

– Estou apavorado...peço desculpas...eu fiquei preso durante muito tempo no castelo das Esmeraldas e para fugir, tive de pular num rio caudaloso que quase me matou...preciso encontrar minha filha...por favor, ajude-me...

– Vou conversar com meu líder e expor a sua situação. Ele saberá o que devemos fazer. Agora, coma! – ela sorri e sai do quarto.

Noutra sala, momentos depois, Cosima senta-se ao lado do irmão.

– Este homem deve ser casado ou é consorte da Rainha Má e tem uma filha de quatro anos com ela, dona de habilidades especiais. Já consegue imaginar que habilidades?

– Outra bruxa em nosso território? A Rainha Má foi embora, depois Zelena partiu e agora recebemos a filhinha poderosa em nossas terras?

– A Rainha Verde retornou com um filho. Agora, sabemos que estamos com o homem de Regina e a filhinha mágica. E pensávamos que tudo de metafísico tinha acabado. – Cosima brinca com a aliança tirada de Vasco. – Zelena mantinha Vasco como prisioneiro.

– O povo de nossa aldeia já havia comentado sobre mudanças sensíveis na nossa floresta. Algo metafísico estava manifestando-se, mas não poderia imaginar que seria devido a presença dessa tríade de coisas ruins. Elas precisam ser banidas de novo!

– Acalme-se, William. Mandarei alguns de nossos irmãos para a floresta. Saberemos da presença da menina, caso ela esteja pelas redondezas.

– Já deve estar morta. Uma criança na floresta? Não sobreviveria!

Levantando uma das sobrancelhas, Cosima desdenha da fala do irmão.

– Filha de Regina e sobrinha de Zelena? Duvido que esteja morta. Coisas ruins começam a defender-se logo no início da existência. – ela se levanta e sorri. – Vou caçar essa menina e vou usá-la para banir a Rainha Verde daqui. Vasco me disse que a menina tem habilidades e eu vou aproveitar-me disso para banir todo e qualquer tipo de magia em nossas terras. Vamos limpar nosso mundo dessa sujeira.

– Vai matar Vasco? Já sei! Pelo seu sorriso, posso deduzir que fiz uma pergunta tola!

– Ele não tem magia. É um humano normal e certamente foi enganado pela Rainha Má. Quem em sua sã consciência iria ter uma filha com aquela monstruosidade? Ela o violou!

William começa a rir.

– Eu vou reivindicá-lo. Usarei alguma bebida tratada para que ele seja marcado como meu.

Lá no quarto, Vasco termina sua refeição. Precisava ficar mais forte para enfrentar um território desconhecido, sem armas e sem rumo a seguir. Estava aquecido, vestido e determinado a sair daquele lugar, naquela mesma noite. Iria trair os cuidados de Cosima, mas sua filha era muito mais importante que qualquer outra pessoa. Um dia, poderia agradecer a todos os cuidados que havia recebido. Mas não seria agora.


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