Oh, vã cobiça! escrita por Eduardo Marais
Mais uma manhã e o grupo de Regina retoma caminhada para a Floresta das Esmeraldas. A chuva fina e fria caía sobre eles e dificultava a caminhada pelas trilhas úmidas, incomodando tanto a Cesar, que ele decide desaparecer até que a água parasse de cair sobre sua cabeça.
– Por que Zelena quis meu pai?
Regina fica espantada com a pergunta.
– Ela sempre me culpou por ter sido abandonada por minha mãe. Enquanto eu recebia os cuidados de uma princesa, ela era criada numa aldeia por um camponês bêbado.
– Zelena é linda, tem poderes, tem um castelo absurdamente lindo e tem servos. O que falta a ela?
– Amor.
– Mas raptando meu pai, não o fará amá-la. Ele ama você, mãe!
Um sorriso involuntário surge nos lábios de Regina. Como era bom ouvir aquilo!
– Embora você ame Robin, meu pai continuará amando você. Por que tia Zelena não procura um amor para ela?
– P-por que sua tia não conhece as próprias belezas. Não descobriu os atributos e é insegura.
Yasemine ajeita o capuz sobre a cabeça e leva seus olhos ferozes para Smila, que caminhava à frente, vigiando o trajeto.
– Smila também quer meu pai. Ela sabe que ele é seu, então, por que colaborou com Zelena?
– Não mandamos em nosso coração, meu amor. – Regina sorri e tenta segurar a mão da filha, vendo a menina refutar o toque. – Não escolhemos a pessoa que irá ocupar o nosso coração.
– Por isso você não escolheu meu pai?
Regina ia responder, mas um tremor de terra a faz desequilibrar-se e agarra-se à filha. Smila se levanta rapidamente e corre para junto das companheiras de jornada. Do meio das árvores, Cesar surge saltitante e ainda mais feroz.
Outro tremor acontece e logo a origem é descoberta. Não era um abalo sísmico, mas o abalo de passos feitos por pés grandes que se pareciam com raízes. A criatura feita de terra e raízes emaranhadas, vinha na direção dos viajantes.
– O que é isso? – Regina segura a mão da filha.
– É o gigante Antão! Fujam dele! – a voz de Nicolas é ouvida e ele consegue a atenção sobre si. Tinha surgido de alguma parte da floresta. Gesticula e observa o grupo obedecer sua ordem.
Todos fogem na direção das árvores maiores e o gigante não se intimida. Avança furioso e consegue derrubar duas árvores com a força de seu golpe.
– Venham lutar até a morte! – sua voz era potente como um trovão.
– O que é aquilo? – pergunta Regina voltando-se para enfrentar o gigante e sendo impedida por Nicolas.
– Seus poderes não fazem efeito contra ele, Rainha! E aquilo é o filho de Gea!
Regina para por instantes e pensa no nome da mãe e do gigante. Olha para o cigano e sorri.
– Então, o nome não é Antão! O nome dele é Anteu!
– E o que importa? – ele corre e traz Regina consigo.
A rainha para subitamente e impede o movimento do cigano.
– Ele é filho da terra! E é dela que retira sua força! Não estudou mitologia?
– Nem sei o que é isso, Rainha Má!
– Corra, mãe! – Yasemine é puxada por Cesar e não refuta.
Afastando-se do gigante, Regina providencia o surgimento de cordas fortes, porque iria precisar delas para conseguir salvar suas vidas. Ela atira uma corda para cada um dos seus companheiros de viagem.
– Joguem os laços contra o gigante! Temos de levantá-lo do chão!
Obedecendo a ordem da Rainha, todos atiram seus laços na direção daquele emaranhado de galhos, raízes e terra que se movia ferozmente. Teriam de ser rápidos contra a força física do opositor. As pontas das cordas são atiradas em galhos mais altos e usados como alavancas. A força dos seis humanos é suficiente para que os pés de Anteu sejam levantados a alguns centímetros do chão.
Regina sabia que suas habilidades não funcionariam contra o corpo do gigante, mas funcionariam sobre as cordas. Consegue criar nós fortes que manteriam o gigante preso até que estivesse mais fraco e facilitasse a fuga do grupo.
Anteu debate-se, enquanto o grupo afasta-se correndo em direção oposta a ele.
– Vamos para a região do rio! – grita Nicolas, sendo seguido pelos outros, exceto por Yasemine que fica estática olhando o gigante debatendo-se. – Menina brava! Venha!
– Venha, meu amor! – grita Regina retornando para buscar a garota.
– Não! Isso não está certo! – Yasemine retorna correndo e usa suas habilidades para desamarrar os nós feitos para prender Anteu. Observa o gigante cair no chão, já bem menor em tamanho.
Por segundos, Anteu fica ajoelhado e parecia respirar com dificuldade. Yasemine estende a mão e toca o ombro dele, acocorando-se à sua frente.
– Você vai ficar bem, eu sei disso. – ela sorri e recebe o olhar escuro da criatura.
– Por que você voltou, menina?
– Porque você não é meu inimigo, Anteu. Não seria justo ou decente, deixar você morrer apenas porque temos medo de você.
Anteu se senta no chão molhado pela chuva contínua.
– Apenas precisamos chegar ao Castelo das Esmeraldas e resgatar meu pai. Ele foi levado pelos macacos voadores. É tudo o que quero neste momento.
Levantando-se e mostrando-se ainda fraco, Anteu vira o rosto para olhar os outros adultos. Aponta o que seria seu dedo, na direção deles.
– Conheço Nicolas, o cigano. Mas quem são os outros?
– Minha mãe Regina, minha professora Smila e meu amigo Cesar. Estamos em viagem de urgência, porque minha mãe acredita que meu pai esteja vivo, ainda.
– Vou levá-los. – Anteu aponta numa determinada direção. – Mas vamos por baixo da terra. Há tuneis sob nossos pés e são mais quentes e seguros. Além disso, estarão seguros contra os ataques dos macacos voadores.
Yasemine sorri e estende a mão para segurar a mão do gigante. Consegue segurar apenas um dos dedos.
– Você nos perdoa?
Um som parecido com uma risada salta da garganta do gigante. Ele se encanta imediatamente pela menina-moça com rostinho de boneca de porcelana.
Ao longe. Regina se mostra histérica e tomada pelo orgulho de mãe. Sua pequena boneca ainda guardava sua natureza amorosa, embora continuasse sendo uma fera.
– Essa menina é louca ou algo assim? – pergunta Nicolas olhando o perfil sisudo de Cesar.
– Algo assim. – o macaco bufa e caminha na direção de Yasemine, sendo seguido pela calada Smila.
– Uau! Será que fiz bem em voltar? Agora que estou aqui, preciso saber o final desta história. – Nicolas fala de si para si. – Ei, esperem por mim!
O grupo de humanos adultos seguia distante, observando a menina e o gigante caminhando mais à frente.
– Daria um belo quadro: a menina e o gigante. – comenta Nicolas caminhando ao lado de Regina. – Somente posso comparar Yasemine à atividade de um vulcão.
Regina sorri e olha o perfil do cigano. O homem tinha traços fortes e másculos, mas era velho demais para sua menina. Principalmente, quando ela retornasse a ser criança.
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