Stay With Me escrita por Baby Boomer


Capítulo 1
Pão de queijo


Notas iniciais do capítulo

HEY OU! Quem gosta de pão de queijo? A Katniss com certeza gosta!



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POV Katniss

Eu não tinha nada para fazer além de caçar, falar com o doutor Aurelius e observar Haymitch reclamar da vida. Meus pulmões reclamavam quando eu chegava perto do centro da cidade, devido a tanta poeira das construções. Entretanto, não deveria me preocupar com isso, pois para quem já quase morreu tantas e tantas vezes por coisas bem mais graves, uma poeira significa nada, e as cicatrizes em meu corpo me lembravam disso a cada dia.

Peeta só apresentava melhoras em seu estado mental, apesar de eu saber que ele lutava contra certos pesadelos durante a noite, o que me fez convidá-lo a morar em minha casa, porque, afinal, eu me sentia só o suficiente para pedir isso a ele. Claro que ele não negou, e foi até bom sentir o cheiro de pão saindo do forno em certas manhãs. Principalmente quando eram pães de queijo... Peeta me levava à perdição com eles. Bem que eu tentei aprender a fazer, mas sempre deixei essa tarefa para ele, pois minhas mãos eram hábeis com um arco, não com uma colher.

Em breve a padaria estaria pronta e Peeta retornaria ao ofício, ou seja, meus dias seriam mais longos apenas com Buttercup para “conversar”. Eu não sabia o que faria da vida. Vender minha caça, talvez, mas só depois de algum tempo, quando minha desconfiança em gente diminuísse mais.

– Katniss? – Peeta me chamou no arco da porta.

Olhei para ele sem dizer nada, sinal claro de que eu queria que ele entrasse.

Ele sentou-se ao meu lado na cama, começando a mexer em meus cabelos de um jeito que me deixou sonolenta.

– Você não vai comer nada?

Apesar de reconhecer sua preocupação comigo, eu não gostava muito do fato de Peeta tentar cuidar de mim como se eu fosse um bebê. Era bom tê-lo de volta, bom saber que ele já estava se curando e me tratando como tratava antes de ser telessequestrado, mas certas atitudes dele ainda me deixavam um pouco culpada. Não que eu estivesse encenando, longe disso, na verdade; talvez fosse porque eu nunca soube me expressar direito quando se trata de sentimentos. Peeta demonstrava sua afetividade por mim de uma maneira tão simples e natural que me fazia ponderar sobre o quão fria eu era, o quão fria me tornei.

– Não tô a fim...

– Nem se eu te dissesse que fiz pão de queijo?

A pergunta fez brotar um pequeno sorriso em meus lábios.

– Agora estamos falando a mesma língua. – Suspirei e me levantei, sentando-me ao lado de Peeta, cujo braço envolveu meus ombros de modo aconchegante.

– Você está quente. – Ele checou minha temperatura. – Ah, Katniss, você sabe o que o doutor Aurelius disse sobre pensamentos negativos. Você está com a imunidade baixa. Por que não exercita mais aquela lista de coisas boas que ele te mandou fazer?

Como se eu tivesse conseguido achar itens suficientemente bons para encaixá-los na lista…

– Como você consegue achar coisas boas para pôr na lista? A única coisa que eu fiz nessa vida foi matar. E isso não é, definitivamente, uma coisa boa.

Peeta riu do meu sarcasmo, mas sua cara divertida não durou muito tempo. Eu sabia que aquela expressão facial iria me trazer alguma bomba ou algum comentário profundo e sentimental.

– Por que minha lista praticamente se resume a você.

O peso em meu peito me impediu de falar com clareza. Ugh. Eu não sabia como reagir a esses comentários de Peeta!

– Eu não posso ser a única coisa boa na sua vida, Peeta.

– A única que restou, pelo menos. – Ele sorriu de um jeito triste.

Eu não suportava vê-lo com dor, o que me levou a encostar meus lábios nos dele, unindo-os em um beijo singelo, como se fosse o único jeito de cessar o sofrimento residente naquele rosto puro e afilado.

Só então percebi que eu não estava vestindo nada além de uma blusa e uma calcinha. Péssima mania minha de dormir do jeito que vim ao mundo, praticamente, mas Peeta pareceu não se importar muito com minha vestimenta, até porque eu estava embaixo dos cobertores.

– Vou terminar de ajeitar os pães de queijo. Por que não toma um banho para abaixar a febre? Eu volto daqui a pouco.

E foi o que fiz. Joguei o resto de roupa que ainda me restava no corpo em algum canto do banheiro e me joguei na banheira de água gelada, apesar do frio. Não demorei mais que cinco minutos ali, pois estava para congelar, de acordo com meus dedos arroxeados. Saí de roupão, pois ouvi a presença de Peeta no quarto. Ele me esperava com um prato cheio de pães de queijo e um copo de água cheio. Como se não fosse suficiente, ofereceu-se para enxugar meus cabelos enquanto eu comia.

– Você está me mimando muito, Peeta.

– Bem, é o mínimo que posso fazer depois de tantas coisas horríveis que eu já te disse enquanto estava… mentalmente desequilibrado. Eu não… eu nunca te diria aquelas coisas, Katniss.

– Não era você ali… eu compreendo, não se preocupe.

Ele não se conformou.

– Não basta compreender, eu sei que te magoei e nunca vou me perdoar por isso.

Então percebi que Peeta chorava, reação natural para qualquer ser humano decente que passou pelo que ele passou. Larguei o prato e o pão mordido e vire-me para abraçá-lo. Queria lembrá-lo que dali por diante tudo seria normal, tudo entraria nos eixos, mas não consegui falar também, porque consegui a proeza de chorar junto a ele. Chorar não é uma coisa boa, mas me senti tão reconfortada nos braços de Peeta que permiti que as lágrimas caíssem.

– Eu só tenho você agora. – Sussurrei, agarrando-o com força, como se ele fosse me escapar de alguma forma. – Chega de correr perigo, chega de sustos, de campos de força e rosas… chega de bestantes, teleguiadas e encenações…

Os soluços de Peeta me deixavam angustiada, porque eu sabia que ele estava se lembrando dos maus bocados que sofreu nas mãos de Snow, e tal perspectiva trouxe imagens que eu gostaria de não ter imaginado.

– Eu pensei que ia te perder para Snow, que nunca mais iria te ver com vida novamente. Mas, de repente, descobrir que você estava sofrendo por minha causa foi bem pior. Eu não podia ser o Tordo sabendo disso.

Peeta olhou para mim, como se admirasse alguma coisa em meus olhos que nunca vira antes.

– Quando eu estava prestes a desistir, recebi a notícia de que você estava sendo resgatado e mais uma vez a angústia tomou conta de mim, porque eu não podia fazer nada além de esperar. Senti-me impotente, incapaz de te proteger do jeito que eu deveria ter feito. A possibilidade de te perder foi uma das piores dores que eu já senti.

Eu nunca me abri tão profundamente para Peeta assim, nunca falei essas coisas para ninguém além de mim mesma. Acho que nem isso eu fiz. O pensamento pode ter até chegado à mente, mas eu nunca parara para ponderá-lo. E, agora, Peeta observava minha expressão facial de um jeito totalmente abismado e encantado.

– Não é o tipo de coisa que você diria se estivesse em sã consciência. – Ele sorriu.

– Vai ver eu não esteja sã. – Colei minha testa com a dele. – Acho que foi o pãozinho.

Cocei o nariz, já que uma lágrima fazia cócegas na ponta dele, e aproveitei para enxugar o resto das lágrimas em minha bochecha. Eu realmente nunca diria uma coisa dessas, entretanto, desabafar sobre isso me deu uma sensação de alívio, não de constrangimento como eu pensei que daria.

– Katniss, eu preciso saber de uma coisa…

Empurrei minha cabeça para seu ombro, com Peeta apoiando o queixo em minha testa ainda molhada do banho, para evitar um olhar cara a cara e, portanto, uma reação indesejada a uma pergunta provavelmente difícil.

– No Massacre Quaternário, na praia, quando você me beijou, não foi encenação. Verdadeiro ou falso?

Essa nem eu sabia. Podia eu ter beijado-o por pena, depois de escutar do próprio Peeta que ninguém precisava dele? Não, eu definitivamente precisava – e preciso – dele. Eu iria ficar tremendamente irreparável se Peeta morresse, ainda mais sob minha promessa secreta de protegê-lo não importasse o que acontecesse. Acho que foi por impulso da sensação que esse pensamento me proporcionou que eu o beijei, além de tentar fazê-lo calar a boca e deixar de discutir sobre o quão insignificante a vida dele era ao ponto de tentar fazer com que eu desistisse de tentar salvá-lo. Foi aquele beijo que me trouxe uma segunda experiência daquela sensação que me atingira na caverna dos primeiros Jogos. Aquele beijo que me fez sentir a necessidade ávida de beijá-lo mais.

– Verdadeiro.

Senti Peeta sorrir acima de mim, e quando dei por mim já estava escuro lá fora, Haymitch chegaria em instantes para nos ajudar a fazer o jantar. Malditos dias curtos de inverno…

– Eu vou me vestir, Haymitch deve estar chegando. – Informei. Peeta saiu do quarto quando percebeu a deixa, ainda tentando conter o sorriso.

Pus uma calça de moletom e uma blusa de mangas compridas de tom esverdeado, além das pantufas exageradamente peludas que ganhei da Capital há um tempo.

Quando desci, vi Buttercup chiar para um Haymitch que conversava abertamente com Peeta, enquanto os dois “assistiam” a um anunciamento da Presidente Paylor, nada com que devêssemos nos preocupar, apesar de termos certo trauma com anuciamentos e presidentes.

– Olá, Garota em Chamas. – Haymitch estendeu a xícara de chá fumegante em minha direção, com um sorriso irônico.

Para uma garota em chamas, eu estava muito apagada: reflexo de tantas bombas e tiros presenciados. Tento não admitir a mim mesma que os Jogos me destruíram, mas às vezes isso é inegável até para minha consciência.

Jogamos umas partidas de poker antes de fazermos a sopa. Como eu estava farta de pães de queijo, não ingeri muito do jantar feito, apesar deste estar bom o suficiente para ser completamente posto para dentro.

Haymitch foi embora bem tarde nesse dia, conversando conosco sobre uma de suas ex-namoradas e alguma experiência desastrosa cujo relato não prendeu muito a minha atenção. O desespero para não falar sobre os últimos ocorridos históricos era tão grande que até Haymitch decidiu recorrer a métodos toscos de distração.

Meus pesadelos desse dia não foram muito cruéis, assim como os de Peeta. Resumindo: não houve gritos de pavor nessa noite.


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Notas finais do capítulo

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