Jogos Vorazes: O NASCER DA ESPERANÇA escrita por Serena Bin


Capítulo 1
O Nascer da Esperança


Notas iniciais do capítulo

Olá amores!!! Eu estava de boa na minha house esse fim de semana e no sábado tive uma ideia. Não é segredo para ninguém que eu adoro explorar outros pontos de vistas de THG e, depois de ter assistido ao ultimo filme, devo reconhecer que tive uma explosão de inspiração para escrever fics dentro do fandom. Essa duo- shot é fruto de um desses momentos de maior criatividade. Eu tentei imaginar um pov que sempre me causou muita curiosidade: o pensamento dos pais do d12. Verdade! O que eles pensavam a respeito dos jogos? Como reagiam quando um filho era escolhido na colheita? Como a população se preparava para a chegada de uma criança?
Bom, pensei e pensei muito. Quando comecei a escrever, tentei me colocar no lugar deles: mães e pais. Tentei sentir o amor incondicional que sentem por um filho, sobretudo, tentei compreender os pensamentos de alguns deles.
A fic também trás um momento que eu sempre fiquei curiosa para saber: a parte em que o Peeta fala que seu pai tinha sentimentos para com a mãe da Katniss. Não vou dar spoilers sobre o assunto, mas escrevi uma cena que me ajudou a entender um pouco mais sobre essa parte.
Espero que vocês gostem, meus amores. Originalmente, seria uma one-shot, mas ficou um tanto longa, acho que passou dos 5K ...Por isso, dividi em 2 capítulos de pouco mais de 2.500 palavras cada. :D
Bom, chega de embolação. Vamos ao que interessa!
Boa Leitura a todos.
XD



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O silêncio imperava por todas as ruas e becos do empobrecido distrito doze. No centro da cidade, as pouquíssimas lojas já estavam fechadas e seus respectivos donos – um punhado de gente tida como "abastadas", se recolhiam para uma breve noite de descanso. Entretanto, na parte baixa da cidade, nos arredores da cerca eletrificada a qual separava o local do descampado repleto de ervas daninhas chamado Campina, uma pequena e humilde casa feita dos restos de alguma madeira barata ainda mantinha suas lamparinas acesas, porque em um dos cômodos, mais precisamente no único quarto da hospedagem, uma mulher de cabelos louros e olhos muito azuis agonizava em consequência das dores fortíssimas sentidas pela proximidade do parto.

– Fique calma, Violet – dizia o marido tentando transmitir alguma tranquilidade à esposa.

– Nash, – disse a mulher com dificuldades – chegou à hora. Traga Hazelle, ela saberá o que fazer!

– Certo. – respondeu o homem com rapidez, em seguida, pegando uma das mãos da mulher, abriu-lhe a palma e plantou um beijo sutil – Vai ficar tudo bem.

Quando a porta da casa foi fechada, o único som que se ouvia era o grito aturdido e agudo de Violet Everdeen, mas a dor não era maior do que a felicidade que sentia, porque após meses de espera, finalmente veria em algumas horas o rosto de seu primeiro filho a qual já possuía nome antes mesmo de nascer.

– Acalme-se, Romee – dizia a mulher entre uma contração e outra – Fique calmo. Daqui a pouco estaremos juntos, meu amor. - Violet Everdeen acariciava com cuidado a cúpula que abrigava o pequeno ser, e quando as dores tornaram-se insuportáveis fazendo impossível uma conversa com algum sentido, a jovem de pouco mais de vinte anos, começou a cantar.

Bem no fundo da campina, embaixo do salgueiro

Um leito de grama, um macio e verde travesseiro

Deite a cabeça e feche seus olhos cansados

E quando eles se abrirem, o sol já estará alto nos prados.

As contrações se acentuavam cada vez mais e, os intervalos que as mantinham suportáveis com muita dificuldade já não existiam. Contudo, a música não cessava nos lábios da mulher que, mesmo sentido a reviravolta dentro de seu ser, continuava a cantar:

Aqui é seguro, aqui é um abrigo

Aqui as margaridas lhe protegem de todo perigo

Aqui seus sonhos são doces e amanhã serão lei

Aqui é o local onde sempre lhe amarei.

Inexplicavelmente, em meio a tanto desconforto, com o passar dos minutos, depois de estrofes e mais estrofes de canções de paz e baladas românticas, houve um pouco de descanso. Era como se o bebê tivesse parado para ouvir as canções, como se seus pequenos ouvidos fossem programados para escutar a voz da mãe e guardá-la dentro de sua memória ainda inoperante.

– Quando você nascer, seu pai poderá te ensinar todas essas canções. Nash, possui a voz centenas de vezes melhor que a minha. Ele poderá leva-lo ao campo para ouvir o canto dos Tordos, você certamente vai adora-los porque fazem a mesma coisa que você está fazendo: se calam para ouvir alguém cantar. – disse a mulher em um momento de menor desconforto. No entanto, a carência durou pouco porque ao longo dos minutos que se seguiriam, mais uma rodada de dores seriam sua companheira até que Hazelle, - esposa de um dos muitos mineiros de carvão do distrito -, chegasse para finalmente dar inicio ao parto.

Enquanto isso, nas trilhas pouco iluminadas que ligavam uma casa a outra na Costura, Nash Everdeen corria ao encontro da casa dos Hawthorne. Acompanhado apenas pela luz da lua e pelos silvos de gatos esfomeados que miavam em cima das cercas, o homem meio andava, meio corria, meio tropeçava. Muito embora estivesse faminto, sujo e cansado, a felicidade sublime invadia-lhe o coração. E, mesmo com a sentença dos Jogos Vorazes que condenavam as crianças de todos os distritos de Panem a um futuro de escassez e incertezas, ainda sim, o nascimento daquela nova vida era algo grandiosamente comemorado.

Após um longo período de estrada, o homem já ruborizado pela corrida, avistou o seu destino. Bateu a porta e foi atendido com surpresa. Encontrou uma pequena família em volta de uma mesa velha prestes a jantar um ganso silvestre com ensopado. Hazelle - a mulher esguia que possuía lábios rosados - dava de comer a um menino pálido cujos olhos eram cinzentos e os cabelos muito negros, uns dois anos talvez. Era Gale, fruto de seu casamento com Mett Hawthorne, um homem alto, corpulento que exibia os mesmos olhos cinzentos e cabelos escuros de seu filho.

– Nash?! – disse Mett com surpresa ao ver o homem parado em sua porta – Há algo errado?

– Vai nascer! – respondeu-lhe – Violet pediu para ver Hazelle. Disse que ela saberia o que fazer.

Hazelle olhou atentamente para Nash Everdeen e prontamente se levantou dizendo:

– Que maravilha! Precisamos chamar algum reforço.

– Posso tentar comunicar Greasy Sae, ela pode ajudar de alguma forma. – Mett sugeriu.

– Certo. – responderam os três.

Há poucos metros dali, morava uma velha senhora com aparência curvada e dentes apodrecidos. Greasy Sae era conhecida por vender sopa no mercado negro da cidade, o Prego. Mas, também era tida como uma das melhores parteiras do distrito. Fizera o parto de Hazelle e de mais um amontoado de mulheres pobres que não tinham condições de pagar um médico obstetra para fazer o serviço. Quando chegaram à porta do pequeno barraco feito de materiais inúteis, a velha já os aguardava com uma lamparina nas mãos.

– Eu sabia que aquela criança não esperaria até o fim do mês – disse Greasy Sae, esboçando um sorriso – Vamos, não temos tempo a perder.

Agora, o pequeno grupo de quatro pessoas e um bebê se dirigia para a parte baixa da Costura. Antes, porém, Hazelle decidira que seria melhor deixar Gale aos cuidados de alguém. Deixou a criança na casa de uma de suas colegas lavadeiras de roupas e então, finalmente seguiram para seu destino.

Chegaram à casa pouco tempo depois e encontraram uma Violet quase desfalecida, mas ainda sim, cantando.

– Violet! – Nash Everdeen se lançou sobre o corpo de sua esposa e a beijou ternamente – Trouxe ajuda. Greasy Sae e Hazelle estão aqui.

– Está pronta para o maior desafio de sua vida, minha jovem? – perguntou Greasy Sae ao olhar fixamente para os olhos da jovem que respondera apenas com um leve sorriso no canto dos lábios – Certo, vamos começar.

A velha Sae com mãos habilidosas as posicionou em volta da barriga da gestante e depois de muito apalpar, encostou seu ouvido na pele rígida e esticada da paciente. Após alguns minutos fazendo o que parecia ser o reconhecimento da área, deu a ordem:

– Preciso de pano limpo, uma bacia com água morna, uma tesoura e uma vela.

– Existem panos de linho e algodão guardados na cômoda – disse Violet com dificuldades – Eu os comprei ao longo da gestação.

Nash caminhou até a velha cômoda e abriu a primeira gaveta, encontrando algumas poucas roupas de bebê e um punhado de panos novos. Encheu as mãos com a maior quantidade que pôde e se dirigiu para o quarto.

– Aqui estão – disse entregando-os à Greasy, em seguida, colocou-se a afagar os cabelos molhados de sua esposa. O suor lhe escorria pela face pálida e as veias saltavam de seu pescoço e braços. Os gemidos e gritos de Violet eram abafados com beijos suaves e carinhos para que não chamasse a atenção dos vizinhos ou de algum pacificador que estivesse vasculhando a área da Costura. Mas a essa altura, a notícia de que uma nova criança viria ao mundo naquela noite já correra pelos becos da aldeia, chegando até mesmo aos limites da cidade. Era comum no velho distrito 12, que as famílias vizinhas se ajuntassem para festejar um nascimento de modo que alguns minutos depois que Greasy Sae dera oficialmente o sinal de que o trabalho de parto tivera inicio, uma pequena multidão se aglomerava ao redor da pequena casa dos Everdeen.

A notícia chegara aos ouvidos de Poe Wilson, o boticário pai de Violet que vira sua filha abdicar de todo o conforto de uma vida no centro do distrito 12 para viver de maneira simples e miserável ao lado de um mineiro de carvão. Mas, mesmo que nunca tivesse aprovado a ideia daquela união, ainda sim mantinha em seu coração o calor e ansiedade por ver o rosto do primeiro neto.

– Sr. Wilson – disse Nash Everdeen – Fico feliz que esteja aqui. Violet certamente ficará contente em vê-lo.

Poe Wilson, administrando sua carga de mau humor de maneira solene, naquele momento de extrema alegria, abraçou o genro.

– Nunca fui a favor dessa união e Flora também teria sido contra se estivesse viva quando você roubou o coração de minha filha. – Poe Wilson dizia com a voz firme, porém baixa. Naquele momento, Nash voltou alguns anos no tempo. Exatamente no dia em que conhecera a bela filha do farmacêutico. Lembrou-se de como Violet estava naquela manhã ensolarada de uma terça-feira qualquer, de como seus cabelos dourados brilhavam mesmo sob a luminosidade fraca da botica, mas foram seus olhos azuis como a pedra de ametista que o hipnotizaram no exato instante em que seus olhos cinzentos encontraram os dela. E dali por diante, contrariando todas as probabilidades e divisões de classes sociais, surgira uma amizade clandestina entre a garota abastada da parte rica da cidade com o rapaz pobre que passava os dias cavando nas minas de carvão. O romance nascera pouco tempo depois, deixando o velho e rabugento Sr. Wilson enfurecido com a opção de sua filha – Teria preferido que ela se casasse com Hilbert, mas, você faz minha Violet feliz e é isso o que importa. Desejo-lhe toda a sorte com essa família que vocês construíram rapaz.

Os olhos cinzentos de Nash Everdeen encontraram os olhos azuis de Poe Wilson e embora os dois tivessem suas divergências, naquele momento, via-se certo tipo de trégua surgindo.

– Greasy Sae é melhor parteira da região. – disse Nash limpando os olhos marejados – Violet está em ótimas mãos.

Nos arredores da casa, um grupo de mais ou menos 20 se aglomerava. Alguns mais folgados, inclusive tomaram a pequena residência sentandando-se nas cadeiras velhas e empoeiradas da sala, escorados nos objetos da cozinha, alguns sentavam-se até mesmo sobre a mesa de jantar. Eram amigos da mina de carvão a qual Nash trabalhava seis dias por semana. Algumas mulheres davam auxilio à Greasy Sae enquanto os homens tratavam de comemorar a chegada do bebê ao som do banjo tocado pelo velho Asper, um dos muitos vendedores do Prego. Dançavam e felicitavam o mais novo pai da aldeia. Mas embora a festa fosse grande, ninguém podia esquecer dos acontecimentos ocorridos mais cedo naquele dia, onde pouco depois da uma hora da tarde, as televisões de todo o distrito se acenderam para um comunicado vindo da Capital. O próprio presidente Snow, dera a largada para os preparativos da 58º Edição dos Jogos Vorazes. O temível e angustiante evento era a sentença de morte para centenas de jovens com idades entre 12 e 18 anos. Um horror tão violentamente grande que, alguns anos antes, muitos casais simplesmente se recusavam a ter filhos de modo que a botica do velho Sr. Wilson vivia cheia de mulheres em busca de métodos contraceptivos. Entretanto, a Capital, munida de todas as suas armas, imprimira mais uma vez o terror entre a população. A partir daquela ocasião, se não existissem crianças suficientes em idade eletiva para os jogos, cada criança existente em idade eletiva ou não, teria seu nome colocado dezoito vezes no registro da Colheita. Persuadidos pelo terror, pouco a pouco as crianças voltaram a nascer, mas, a vida era garantida apenas até os doze anos, ao passo que depois disso, o que acontecia era apenas um ato de sobrevivência, portanto, para os pais de crianças em idade eletiva aquele anuncio, dava inicio não só aos preparativos para os jogos, mas também, ao angustiante período da Colheita, onde todos os dias, a esperança lhes seriam arrancadas pelo medo de que o próximo dia fosse o último junto de seus amados filhos.

Em meio à comemoração, um ou outro comentário sobre os Jogos Vorazes surgia. Lexi, América e Giner eram alvejadas por todos os lados, porque as três mulheres partilhavam pela primeira da dor de ter um filho em idade eletiva. Alguns comentários como o de Shia Byron deixava transparecer o tamanho do estrago que os Jogos Vorazes causavam nos corações dos pais daquele distrito.

– Espero que essa criança morra minutos depois de nascer – disse Shia com os olhos fixos no céu. As palavras da mulher causaram certo espanto, mas no fundo, todos sabiam que aquele desejo não era exclusividade da senhora Byron – É melhor perde-los logo no começo do que esperar para que sejam mortos na arena. – o círculo em volta da mulher ficou em silêncio por alguns instantes. Olhares baixos e piedosos eram unanimidade porque apesar da dureza de suas palavras, Shia Byron sabia o que estava dizendo – Preferiria que Jasper tivesse nascido morto a ter de vê-lo sendo decapitado por aquele tributo do distrito 9. Ninguém deveria fazer festa. Na verdade, devia-mos dar pêsames à Nash e Violet, porque estão fornecendo a Capital um possível competidor para a 70ª edição dos Jogos Vorazes.

Os olhos cinzentos dos mineiros de carvão acompanhavam Shia Byron enquanto a mulher perdia-se em pensamentos, certamente relembrando o terrível dia em que ouvira o nome de seu filho caçula ser anunciado como o tributo masculino do 50º Jogos Vorazes, onde naquela edição, fora colhido em cada distrito o dobro dos tributos. Edição a qual deu a vitória à Haymitch Abernathy, o único vencedor vivo do distrito 12.

Mas, contrariando aos chamados de horror do coração de Shia Byron e, sobretudo contrariando a terrível realidade, dentro do quarto da casa, Violet Everdeen lutava para dar a luz ao menino que tanto esperava.

– Força, Violet! – ordenava Greasy Sae – Preciso que seja forte como uma leoa porque ainda estamos longe de ver o rosto desse bebê!

Os gritos de Violet inundavam a casa de modo que chegavam a ser insuportáveis para os ouvidos de seu marido, o homem, entretanto, mantinha-se ao lado da esposa, sempre segurando suas mãos.

– Hazelle, sente-se atrás de Violet e dê-lhe um apoio para se segurar – Pediu Greasy Sae – Nash, preciso de nos dê licença.

– Não! – berrou o homem – Não vou deixar Violet!

– Você não é necessário aqui, rapaz. Sua presença só deixa Violet nervosa, além do mais, tenho um trabalho para você. – disse a velha Sae – Vá até o centro e tente encontrar alguma banca aberta. Violet vai precisar de morfinaceo para anestesiar a região por onde o bebê passará. Preciso fazer um corte lá em baixo.

O homem olhava toda a situação com expressão de dúvida. Não queria deixar a esposa sozinha em um momento tão delicado. Queria estar ao lado dela no momento em que o primeiro choro fosse ouvido. Nash queria poder segurar as mãos da esposa para que ela pudesse sentir que ele estava ali, compartilhando da mesma dor e alegria. Mas isso não seria possível com Greasy Sae no comando.

– É melhor fazer o que ela está pedindo, Nash. – disse Hazelle enquanto auxiliava Violet como Greasy havia pedido – Vá em paz, cuidaremos dela.

– Vai dar tudo certo, eu garanto – complementou a velha parteira.

Derrotado por duas mulheres, Nash Everdeen viu-se sem alternativa a não ser acatar as ordens e partir em direção ao centro do distrito. Antes, porém, ajoelhou-se ao lado de sua amada e com ternura lhe disse:

– Estamos juntos nessa, meu amor. Estou ao seu lado. - depois lhe beijou a testa e saiu noite a fora. No quarto, as ordens eram claras:

– Violet, seja forte! – ordenava Greasy Sae enquanto buscava atentamente algum indício de que a criança estivesse saindo, mas ainda era cedo. O bebê não dava contas de que deixaria o útero da mãe tão facilmente. Hazelle auxiliava a amiga como podia e, agüentava fortemente os arranhões e berros de Violet.

– Vamos conseguir – dizia Hazelle – Estamos quase lá!

Mas não estavam tão perto de ver o rosto do pequeno Romee que a essa altura, pouco mais de onze da noite, ainda mantinha-se firme no propósito de fazer a jovem Violet se contorcer em dores. Nash que há pouco deixara o quarto, foi ter com seu sogro perguntando-lhe se dispunha de algum morfináceo, mas o velho homem há muito tempo não trabalhava com remédios de modo que, a única alternativa do jovem Everdeen era se lançar nas trilhas escuras da Costura para tentar quem sabe encontrar a banca de James Wable aberta. Mas o grande problema era encontrar algum estabelecimento aberto àquela hora além do fato de que, a noite, o centro da cidade ficava repleto de pacificadores armados, mesmo assim, pôs-se a correr em direção ao centro, teria de tentar mesmo que em vão.

Tantos anos caçando de forma ilegal na floresta lhe conferiram rapidez e discrição para enganar e despistar os muitos pacificadores que se encontravam de guarda na frente do Edifício da Justiça. Nas trilhas sombrias que davam acesso à parte comercial do distrito, os pés habilidosos de Nash Everdeen pisavam certeiros sem nem ao mesmo tropeçar nos inúmeros buracos do calcamento.

O silêncio era grande e como havia imaginado, algumas dezenas de pacificadores faziam a guarda das lojas e estabelecimentos. Nash avistou logo na entrada do distrito, a pequena loja de James Wabler, mas assim como todas as outras mantinham as portas fechadas. O plano teria de ser totalmente reprogramado. Decidira então bater à porta de James na esperança de que o homem vendesse a ele um vidro ou dois de morfinaceo em troca de cinco esquilos gordos. Precisaria primeiro passar pelos pacificadores. Nash então, usando de toda sua esperteza adquirida na floresta, traçou um plano que consistia em lançar um alarme falso para que os pacificadores deixassem a passagem livre até a casa de James Wabler.

– Certo – disse Nash a si mesmo – Vamos lá. – o homem largou os esquilos em um beco e se lançou para a vista dos pacificadores gritando a plenos pulmões: – Ladrões! Ladrões! Acabaram de roubar o estoque de carvão do galpão 13!

Como planejado, o grupo de pacificadores colocou-se a correr em direção ao norte onde o velho galpão se encontrava, deixando livre o caminho até a loja de James Wabler. Mas logo os pacificadores notariam a mentira e voltariam para pegar o delator do alarme falso. Nash precisava ser rápido. O homem então voltou ao beco, recobrou os esquilos e correu o mais rápido que pôde até a pequena porta de James Wabler.

– Sr. Wabler. – Nash tentava dizer de uma forma que não levantassem suspeitas, mas que pudesse ser ouvida pelo dono da casa – Sr. Wabler! Por favor, abra! Sou eu, Nash Everdeen, genro do Sr. Wilson, o boticário aposentado! Sr. Wabler, por favor!

Mas as tentativas de Nash Everdeen não surtiam efeito, de modo que a medida que os minutos passavam, mais ficava evidente que o tempo estava se esgotando e que a qualquer momento os pacificadores estariam de volta ao centro do distrito. Todavia, Nash precisava do morfinaceo então, num ato de pura insistência continuou a chamar pelo velho Sr. Wabler, mas agora com a voz alta e clara, realmente gritando desesperado, mas ninguém saiu para atendê-lo. O homem então, viu-se encurralado a ponto de tentar uma ultima alternativa. Seria sua ultima chance. Agarrou uma das pedras do calcamento e lançou o mais forte que pôde. A pequena pelota de calcário, bateu em uma das janelas da casa do vendedor e se espatifou em centenas de flocos de terra fazendo emergir do silencio da noite um barulho alarmante. Em seguida, quase que imediatamente, a luz de uma janela se acendeu, mas para a frustração de Nash Everdeen, não era a janela de James Webler, mas sim a de Hilbert Mellark, o padeiro.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler.xD