Jogos Vorazes: O NASCER DA ESPERANÇA escrita por Serena Bin


Capítulo 2
O Nascer da Esperança - Final


Notas iniciais do capítulo

Final amores.
Espero que gostem.
:3



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Assim que pôs a cabeça para fora, o homem alto de pele clara e cabelos louros encontrou o mineiro de olhos cinzentos ainda surpresos. Era tarde para tentar se esconder, então, Nash Everdeen buscou encarar o vizinho de James Wabler sem mover um músculo se quer.

– O que está tentando fazer?! – gritou Hilbert Mellark – Onde estão os pacificadores?!

Diante da ameaça, Nash finalmente se pronunciou:

– Não sou um ladrão! Sou...

– Eu sei quem você é, Everdeen! – disse o padeiro do alto da sacada – O senhor Wabler é um homem velho e jamais vai atender alguém a essa hora da noite. Dê o fora daqui!

Hilbert Mellark já ia se recolhendo quando Nash levantou a voz num ato de desespero:

– Não posso! Preciso desesperadamente de um vidro de morfináceo! Sr. Wabler vai ter de me atender! – Nash virou-se novamente para a janela do velho e gritou – Sr. Wabler!

– Cale a boca! – protestou Hilbert Mellark – Porque precisa de morfináceo? Por acaso está se metendo com drogas?

– Minha esposa, Violet. Está em trabalho de parto e precisa de anestesia – respondeu Nash já impaciente, tornando a berrar logo em seguida – Senhor Wabler! Preciso falar com o senhor!

– Violet? – indagou o padeiro – Violet Wilson? A filha do boticário aposentado que mora na rua 34?

– Sim.

Hilbert Mellark suspirou pesadamente por um instante e sumiu da sacada de sua janela do segundo andar. Minutos depois, ouviu-se um farfalhar de chaves e então uma pequena porta ao lado da padaria Mellark se abriu.

– Entra – disse Hilbert empurrando Nash Everdeen para dentro do estabelecimento.

– Olha, não quero comprar pães, preciso de morfináceo...

– Cale a boca, Everdeen. Vai acordar minha esposa e meus filhos. – repreendeu o padeiro – Espere aqui.

Nash então calou-se e acompanhou Hilbert através das escadas que davam para uma pequena mas aconchegante casa no andar de cima. A casa que contava com cinco cômodos pequenos era toda mobiliada com móveis simples, mas bem conservados. Sobre a mesa da sala, havia um vaso de flores naturais e recostada sobre uma bela estante de madeira rústica, um aparelho de telefone dormia. Era a primeira vez que Nash via um telefone. Mas mesmo mantendo alguns aparelhos tecnológicos como o aparelho de TV que brilhava, a casa ainda sim era muito mais simples do que os pensamentos de Nash haviam imaginado para um dono de comércio. Para ele, todos os comerciantes eram ricos e viviam em mansões cujas paredes eram decoradas com gesso e o piso era feito de mármore escuro e lustroso, mas o chão amadeirado e as paredes em tom pastel da humilde casa Mellark surpreenderam o mineiro.

– Aqui está. – disse Hilbert.

– O que é? – perguntou Nash desinteressado.

– Morfináceo – respondeu o padeiro e estendeu um vidro do produto ao mineiro – Deve ser suficiente até que o dia amanheça.

Nash olhou para o vidro de maneira acanhada, mas aceitou o produto porque realmente viera em boa hora.

– Obrigada! – respondeu enquanto dirigia-se para a porta, entretanto, desistiu da ideia de ir embora naquele momento porque já era possível ouvir vozes e passos rápidos nas ruas. Os pacificadores haviam voltado.

– Eles fazem uma pausa há meia noite e meia para a troca de turno. – disse Hilbert.

– Não posso esperar todo esse tempo – Nash disse irritado – Minha mulher precisa de mim!

– É seu primeiro filho? – Hilbert quis saber, mas Nash custou a responder.

– Sim. Esperamos um menino – respondeu – Posso saber como é que alguém como você possui morfináceo em casa?

– Minha esposa Liana, deu a luz há pouco mais de quatro meses. Peeta é nosso caçula. – o padeiro respondeu esboçando um sorriso enquanto apontava para o holograma de um bebê com pele clara, cabelos dourados e olhos muitíssimo azuis – O morfinaceo é o que sobrou depois que Greasy Sae a anestesiou.

Nash olhou para o homem a sua frente e sorriu antes de dar-lhe os parabéns perguntou sarcástico:
– Greasy Sae? Pensei que pessoas como vocês fossem preferir um médico ao invés de uma parteira.

Hilbert riu.

– Médicos são caríssimos, mesmo para pessoas como nós.

Nash Everdeen desfez seu humor acido e voltou a olhar pela janela em busca de algum sinal de que a rua estivesse livre de pacificadores.

– Posso saber de onde conhece Violet? E porque resolveu me ajudar? – Nash perguntou sem tirar os olhos da janela.

Depois de uma pausa, o padeiro respondeu:

– Eu conheci Violet quando ainda éramos crianças. Brincávamos juntos e nossos pais sempre foram muito parceiros. Mas então, de uma hora para outra, ela sumiu. Agora entendo o porquê.

– Por quê? – Nash quis saber.

– Você. – Hilbert respondeu.

Houve silencio porque Nash Everdeen se lembrou do momento em que seu sogro lhe dissera que preferia que Violet tivesse se casado com o padeiro.

– Isso é um problema, Mellark?

– Foi durante algum tempo.

– Você poderia ter ido atrás dela. Teria tido o apoio do Sr. Wilson – disse Nash esculpindo raiva e sarcasmo no olhar. Hilbert, entretanto, manteve-se calmo ao dar a resposta:

– Não, não poderia. Violet deixou muito claro sua decisão. Deixou visível para todos a quem ela pertencia e, por mais que fosse doloroso para mim, tive de aprender a conviver com a ideia de que o nome escrito em seu coração não era o meu. – Nash Everdeen olhou para Hilbert buscando algum sentimento de remorso ou cobiça, mas encontrou nada além de um par de olhos extremamente azuis – Doeu durante um tempo, mas depois Liana apareceu e pouco a pouco, Violet tornou-se apenas um nome conhecido. Não deixaria minha mulher e meus filhos por nenhum romance do passado, Everdeen. Nesse ponto, você pode ficar tranqüilo. O morfináceo é um presente de pai para pai. O produto é caro, você precisa dele; eu o tenho e não preciso então qual o sentido de negar uma gentileza?

Desarmado, Nash só pôde agradecer enquanto o padeiro gentilmente sorria.

– Espere aqui – disse o padeiro, depois sumiu para dentro da casa. Quando voltou, trazia em suas mãos um embrulho pesado que deixara Nash espantado.

– O que é isso, Mellark?

– São algumas roupas de Peeta. – respondeu o padeiro entregando a Nash o embrulho – Os bebês crescem muito rápido nessa idade. Separei macacões, roupas de frio, meias e alguns utensílios de uso necessário como fraldas, mamadeiras...Você vai ficar surpreso com a quantidade de coisas que os bebês precisam. São pequenos, mas dão um enorme trabalho para...

– O que acha que sou? – Nash interrompeu enraivecido, fazendo com Hilbert olhasse com espanto – Um mendigo? – o homem soltou o embrulho no sofá e colocou-se a discutir - Escute aqui, Mellark! Posso não ter uma casa boa ou comer pães quentes todos os dias, mas não estou pedindo esmola! Violet e eu não estamos à venda! Quando amanhecer, tenha certeza de que devolverei o vidro de morfináceo. Não quero dever nada a ninguém. Adeus!

Hilbert Mellark acompanhava com olhos surpresos enquanto o jovem Everdeen saía pela porta, mas antes que alcançasse a saida, o padeiro lançou uma risada que invadiu as escadas fazendo com que Nash parasse no ultimo degrau.

– Pobre e soberbo. – Hilbert cortou o ar dizendo. A expressão de Nash era a pior possível. Sentia tanta raiva que seu instinto de caçador pedia para que avançasse contra o homem para revidar a ofensa. Contudo, manteve-se parado no fim do corredor. Um escândalo poderia denunciá-lo e ser pego por pacificadores com cinco esquilos não seria uma boa ideia. – Vocês mineiros precisam parar de achar que todo mundo quer comprá-los. Não estou fazendo por você, seu grande imbecil orgulhoso. Faço pela criança que vai nascer. Gostaria muito de ter tido um bem feitor quando meu primeiro filho nasceu. Mas, se não quer aceitar, problema seu. Agora saia da minha casa e entenda-se com os pacificadores. – Hilbert Mellark recolheu-se deixando Nash sozinho no escuro. Minutos se passaram e o jovem mineiro mantinha-se apenas na companhia de sua consciência. Mas que pensava que estava fazendo? Nunca poderia comprar tantos utensílios para seu filho, então qual o sentido de tanto orgulho? Porque revidar com tantas ofensas um ato de gentileza? Qual o sentido de agir com tanta frieza e hostilidade? Que tinha o pobre Hilbert para ganhar seu ódio? Foi uma onda de coragem e arrependimento que levou o jovem mineiro novamente até o topo da escada. Em frente a porta já fechada, Nash Everdeen respirou fundo, engoliu todo o seu orgulho de caçador e com o toque mais leve que possuía, bateu na porta. Não demorou nada para que a mesma se abrisse.

– Meia noite e meia. Hora da troca da guarda. Boa Sorte. – Hilbert Mellark disse entregando a Nash o embrulho com os utensílios de bebê.

– Obrigado – respondeu o mineiro, em seguida sem olhar para trás, dirigiu-se a saída, mas antes que pusesse os pés na rua, ouviu o padeiro dizer do alto da escada:

– A propósito, eu e minha família não comemos pães quentes todos os dias. Na verdade, comemos pães apenas quando estão quase vencendo o prazo de validade ou quando estão muito queimados para serem vendidos. Passar bem, Everdeen.

A porta então se fechou e o corredor voltou a ficar escuro novamente.

Os pacificadores haviam feito uma pausa como Hilbert Mellark havia dito. O centro do distrito estava livre. Nash então, agarrou o embrulho de roupas, o vidro de morfináceo e os cinco esquilos e pôs-se a correr em direção à Costura. Uma milha e meia o separava de sua esposa, mas o caminho fora percorrido em tempo recorde, de modo que quando chegou a casa, encontrou Greasy Sae impaciente.

– Onde você se meteu, rapaz?

– Tive um contratempo – respondeu Nash – Aqui está o morfináceo.

– Certo – respondeu Sae – O bebê está quase vindo. Tenho tempo suficiente para anestesiar Violet.

Como havia dito, a velha Greasy Sae fez um pequeno corte da baixa região de Violet, anestesiou-a e continuou a pedir para que a gestante fizesse força. Nash que a essa altura já se encontrava ao lado da esposa, fora enxotado para fora do quarto. Finalmente após horas de agonia, respirações pesadas e gritos, ouviu-se um barulho diferente. Um som que fora ouvido até mesmo na sala de jantar. Um suspiro de alívio acompanhado de um choro. A criança havia nascido.

A comemoração pela chegada de Romee era grande quando Hazelle lançou-se na sala trazendo a notícia, mas havia, entretanto, uma surpresa a qual ninguém esperava.

– É uma menina!

Os olhos estupefatos dos presentes caíram sobre a moça e imediatamente mudaram de direção encontrando Nash que com os olhos já cheios de lágrimas mal pode entender o que havia acontecido. Não era Romee afinal, mas sim uma garotinha.

– Uma menina? – Nash questionou – Uma garota? Mas, esperávamos por Romee...

– Uma menina, Nash. – respondeu Hazelle – Linda e saudável. Você pode conhecê-la agora.

O homem seguiu Hazelle através dos cômodos até chegar ao quarto. Na cama, sob os lençóis manchados de sangue, encontrava-se uma cena inimaginável. O quarto que antes cheirava a mofo e poeira, agora irradiava vida. Violet sorrindo levantou o olhar.

– Nash – disse a mulher enquanto segurava em seus braços um embrulho rosado. O homem aproximou-se da cama e viu pela primeira vez o rosto do pequeno ser que dormia tranquilamente no colo da mãe. Sem reação, Nash Everdeen apenas olhava para a criança que tinha a aparência normal para o padrão dos mineiros: Pele clara e cabelos muito escuros, mas que para os olhos apaixonados do pai, era a criança mais linda da terra. O riso surgiu nos lábios do homem e não se apagou por nenhum minuto da madrugada daquela sexta feira, oito de maio.

– Ela é linda. Já possui nome? – perguntou Greasy Sae.

– A não ser que ela se chame Romea, não. – respondeu Nash.

Ouvindo a conversa, Violet se pronunciou:

– Na minha família, todas as mulheres possuem nomes de plantas. Gostaria muito de continuar essa tradição.

– Por mim, tudo bem – Nash concordou, voltando a admirar a filha. No silencio que se seguiu, apenas do homem se ouvia enquanto entoava um monólogo para o bebê que repousava despreocupadamente aconchegado no calor da mãe. - Você é linda, minha filha – o homem dizia – A minha pequena flor de cerejeira. A coisa mais rica que já pertenceu a mim. Infelizmente, o mundo em que você vive agora, não consegue enxergar a beleza da vida e por isso, as pessoas fazem coisas horríveis umas com as outras, mas eu te prometo que sua mãe e eu, vamos protegê-la de tudo o que há de ruim no mundo, mesmo que digam ao contrario. Porque por mais que as coisas sejam ruins e a humanidade seja má, acreditamos que um dia, haverá pessoas corajosas que conseguirão reverter esse quadro e transformar o mundo em um lugar melhor. Ao lado do marido, ouvindo atentamente as palavras, Violet não podia conter as lágrimas. Naquele momento, nada era forte o bastante para arrancar a alegria a qual o casal sentia. Era mágico, sublime e conflitante. Era conforto, paz e alívio. Ter aquela criatura tão pequena e indefesa dependendo exclusivamente deles era como ter um oásis em meio ao deserto, de modo que naquele momento, pelo menos por uma breve fração de tempo, nem mesmo os Jogos Vorazes era ameaça. Por fim, quando o bebê abriu seus olhos cinzentos, a mulher concluiu:

– Seja bem vinda ao mundo, Katniss Everdeen.


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Notas finais do capítulo

É isso! Obrigada por ler :D
Se quiser deixar um comentário...vá em frente. É de graça.
XD