Zodíaco escrita por Ágatha


Capítulo 3
Descubro que meu professor era também babysitter


Notas iniciais do capítulo

Tenho tentado manter meus capítulos entre 4 ou 5 páginas do word. Caso tivesse continuado esse, passaria de 8. Logo postarei outros.
A história original era muito mais rápida, mas encaixei quatro capítulos para fechar pontas, para o leitor conseguir mastigar as informações também.



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Acordei sozinha em meu quarto, mas sabia que Lisa não tinha ido embora.

Apesar do que foi me contado parecer absurdo no momento em que ouvi, Lisa não me deu espaço para questionar. “Você deve dormir agora, Diana. No sono podemos parecer vulneráveis, mas é quando mais estamos seguros. Você perceberá nele que não se lembra de sua quinta, sexta série, porque você as passou conosco. Você perceberá que faz sentido."

Não me lembro de ter deitado e tentado dormir. Apenas de acordar e sentir, que de fato, as coisas faziam sentido.

Minha quinta ou sexta série eram borrões. Sempre estudara na mesma escola, portanto talvez as lembranças fossem facilmente misturadas. Entretanto, teoricamente eu deveria ter estudado em todas as salas do corredor, pois é uma para cada ano. Não fora assim. Não me lembro de ter estudado nas primeiras, de ter percorrido o corredor até o final milhares de vezes até as manchas em sua parede ficarem marcadas em minha mente. Entretanto, tão pouco lembrava dos anos anteriores. Como deixara um vazio tão grande em minha vida não ser notado?

Ouço passos no corredor, seguidos por Lisa abrindo a porta e entrando, com uma barra de chocolate em mãos. Ela sorriu quando me viu.

— Que horas são? – pergunto. Havia chegado em casa mais cedo na hora da briga, talvez às 18 horas.

— Duas da manhã. – ela abre a barra de chocolate, oferecendo-me. – tudo bem contigo?

— Sim, de certa forma – respondo, com a máxima leveza possível. – só tenho algumas dúvidas...

— Ah, certo. Também preciso explicar algumas coisas adicionais – Lisa sorri, de uma forma indiscutivelmente bela.

— O que aconteceu com Eric? – vou direto ao ponto máximo da dúvida.

Lisa faz uma careta, como se já esperasse tal pergunta.

— Eric transformou-se no que você viu. É popularmente chamado de dragão, mas também o chamamos de quimera. É uma das coisas que podemos fazer. Não todo mundo, claro. Raros magos conseguem se transformar em animais tão grandes quanto esse. Isso requer muito Poder e certa ira, talvez.

— Certo... Então eu também sou capaz de fazer isso?

— Sim. – Lisa sorri – Diana, eu sei que são muitas perguntas, mas tenho que focar em algo diferente agora. Tudo bem?

Sinto-me estranha por estar sendo chamada de Diana, mas concordo. Naturalmente sempre gostei de ser chamada de Hayle, considerando um nome diferente, foneticamente bonito. Porém, Diana não se tratava de um nome estranho. Parecia apenas que eu tomava outra identidade.

— Não podemos ficar aqui. – Lisa vai direto ao ponto – agora que completou dezoito anos, tem quase que uma obrigação de passar um tempo na Casa. Pelo menos até aprender a controlar certas coisas.

Lembro no mesmo momento de minha mãe. Eu terei que ir embora. Logo, isso a incomodaria, considerando que meu pai a abandonou, há alguns anos.

— Preciso falar com minha mãe então – digo.

— Antes disso... – Lisa levanta, andando pelo quarto, nervosa. – você precisa arrumar suas coisas. Rápido. Estamos partindo hoje.

— Agora? – Não poderia ir embora tão cedo. Tinha que cuidar de problemas, como meu curso, meu antigo... Futuro.

— Sim. Eric pode aparecer a qualquer momento. Ele está voando no perímetro do seu prédio há algumas horas. Está irritado, sente que alguém virá atrás de você.

— Por que alguém viria atrás de mim?

— Você foi importante, Diana. E sabe disso.

[...]

Me senti mal por não poder levar tantas roupas, ou até por não conseguir escolhe-las. Lisa parecia ficar mais nervosa a cada instante. Meu gato, Alex, entrou no quarto durante a arrumação, e convenci Lisa de levá-lo. O cachorro de minha mãe ficaria sozinho, mas Alex é meu.

Poucas roupas, alguns livros, meu celular, meu gato, algumas fotos, algumas coisas importantes. Poderia voltar para buscar mais quando quisesse, entretanto era uma viagem longa. Levaria meu notebook para conversar com minha mãe também, ela querendo ou não.

Quando terminava de arrumar, ela bateu na porta de meu quarto. Entrou, abraçou-me e abraçou Lisa também. Parecia triste, mas sorriu. Prometi que mandaria mensagens a ela. Ligaria quando possível. Voltaria se precisasse. Abraçou-me novamente quando algo bateu na janela. Um gato negro arranhava o vidro, até Lisa abrir. Não entendi a princípio o ocorrido, mas vi nos olhos de minha mãe que ela sabia. Pouco questionei. Estava cansada, e ela também.

Eric salta da janela, passando por nossas pernas e indo para o corredor. Estranhando a pressa, o seguimos, porém ao chegar à sala ele já encontrava-se na forma humana, olhando para a varanda. Seu rosto estava um tanto verde, como um hematoma imaturo.

— Alguém esteve aqui – ele diz – Lisa, você vai ficar.

Ninguém cogitou contrariá-lo.

— Você consegue encontrar Lucas? – ela pergunta.

— Sim. – Eric concorda rapidamente, virando-se para mim – Diana, pegue suas coisas.

Estranho ouvir Eric chamando-me de Diana, mas obedeço. Minha mãe me ajudou, apesar de ser apenas uma mochila e um gato molenga.

— Não, eu vou levar vocês – ela diz, ao voltar para sala.

— Lucas já está lá embaixo. Poderemos por sua segurança em risco.

— Tudo bem mãe. Fique aqui. – Digo, abraçando-a.

Eric abraça minha mãe também, um ato recluso, mas real. Ela passa a mão em seus cabelos. Pegando com uma mão, Eric me puxa para o corredor.

— Onde vamos? – nenhuma das portas dava no caminho em que ele seguia.

— Para seu quarto.

Eric entra e apaga a luz, a qual eu acendi quando passava. Permaneci parada contra parede. Eric sobe na cama, fechando janelas e cortinas, deixando o quarto numa escuridão estranha.

— Feche os olhos – ele pede, aproximando-se de mim. Sinto-me quente. Estreito os olhos, em uma pergunta silenciosa. – Apenas feche, Hayle.

Eric então beija minha testa, e em seguida, empurra seu corpo contra o meu. O que deveria ter impedido meu corpo de ir tão para trás era a parede... a qual não estava mais lá.

O vento batia forte, assim como uma fina chuva. Estávamos na rua. Eric segura minha mão.

— Hayle. Hayle. Tudo bem? – seus olhos se encontram com os meus.

— Sim, sim – respondo, automaticamente, mesmo não sendo verdade. Acabo de descer dez andares em dois segundos. Não sei o que aconteceu. E está frio.

— Vamos.

Andamos algumas ruas conhecidas. Eric algumas vezes parava, encarando o céu, ou os prédios. Depois da terceira parada percebi que ele encarava algo além deles, como o nada. Nas primeiras vezes questionei, entretanto nada respondia, sempre pedindo silêncio.

Não chequei o tempo, mas talvez se passaram uns quinze minutos quando entramos em um voyage preto.

Eric segura Alex, entrando ao lado do motorista.

— Lisa? – Lucas pergunta. Ou ao menos suponho ser este o Lucas. Possuia corte militar, um tanto loiro escuro.

— Olá Diana. Lembra de mim? – ele sorri, virando-se para mim.

Meu mundo quebrou em sete mil pedaços. Não consegui simplesmente ‘não fechar a boca’.

Meu professor de matemática estava dirigindo. Lucas, o professor de matemática, estava dirigindo.

Um Voyage.

Com Eric e meu gato.

— Acho que precisamos correr não é? – ele diz – mas sim, eu também fui sua babá.

Lucas dera aula por alguns meses, no começo do ano, em meu curso. Possuía um estilo flexível, solto, não daqueles "super animados", simplesmente mais leve, até por isso conversava muito mais com os alunos fora das aulas.

Eric passa Alex para mim e pula para o banco ao meu lado, com certa dificuldade.

— Então vocês dois eram tipo, minhas babysitters? - pergunto, incrédula, tomada por certa raiva também. Lucas e eu conversávamos bastante, apesar da relação aluna-professor ser estranha, mal vista. Eric não tem a necessidade de comentar, mas ele era simplesmente, não que ainda não seja, meu melhor amigo.

— Você é ótima em termos pejorativos, Hayle.- Eric comenta, revirando os olhos.

— Hayle? - Lucas pergunta.

— Ah, sim! - respondo, sarcástica - aparentemente tenho uma super nova identidade. - Lucas ri um pouco. Eric parece irritado, mas então respira fundo e mexe nas orelhas de Alex, rapidamente.

— Quero que prometa que não ficará braba. – ele diz.

— Hum, certo. Por que?

— Não está confusa? – ele ergue as sobrancelhas, ignorando minha pergunta.

— Não. Não sei. Sim. Acho que estou assustada porque deveria estar... Mas parece tão...

— Normal? – Lucas completa – sim, também aconteceu comigo. Eu pedi para ir embora aos quinze, mas aqui estou eu, com 24. Lembro de tudo. Volta uma hora, inegavelmente.

— Estamos indo para onde mesmo? – pergunto.

— Para o acampamento. Lisa te explicou sobre dormir? - Eric responde.

— Sim, mas não entendi muito bem. – confesso.

— É uma questão espiritual. Não posso te explicar agora. – ele me olha, solidário. Seu rosto não parece que irá ficar pior.

— Eu não vou dormir outra vez - protesto.

Ele sorri rapidamente, sem os dentes. Aproxima-se um pouco, colocando uma mão em minha nuca, e outra em minha testa. Sinto meu corpo pesado, e segundos depois, minhas pálpebras fecham-se e caio no mais profundo sono.


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