Zodíaco escrita por Ágatha


Capítulo 4
Um belo pijama de bananas




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Acordei com Eric me empurrando. Estava deitada no banco de trás, com a cabeça ente sua perna e um travesseiro. Muito provavelmente babando.

– Chegamos. Vamos senhora?

Levanto-me, desnorteada. Está muito escuro.

– Que horas são? – pergunto.

– Três e quinze. – Lucas responde.

Observo a janela, e como esperado, está chovendo. O carro está parado, mas não desligado. Esperando um enorme portão abrir, logo à frente. Estávamos em uma espécie de rampa, a qual subia em direção ao portão, e após dele, gradativamente descia.

“Gradativamente descia” foi o que eu imaginava ser: a partir do momento que passamos o portão ela fez trinta curvas. Aparentemente cortava uma floresta bem densa ao meio. Tratava-se de uma longa rampa também.

– Espera – Eric pede para Lucas.

– Que foi? – ele pergunta, não parando o carro, mas diminuindo o ritmo.

– Para o carro.

Lucas obedece. Eric olha atentamente para o vidro, para a escuridão. Vira-se para minha janela também. Eric parece outra vez olhar o nada.

– Está vendo? – Ele pergunta.

– O que? – eu e Lucas perguntamos simultaneamente.

– Movimento entre a Casa Norte e Leste – ele diz. – Vamos descer um pouco mais rápido.

– Deve ser só o Vini fazendo alguma coisa – Lucas diz, ligando o carro – ele anda mais à noite, arrumando o rancho que o pessoal bagunça de dia.

Eric não pareceu convencido. Voltamos a descer a rampa, em uma velocidade maior que antes, e mais perigosa também.

Ao fim da rampa, um grande pátio fica visível. Apesar da escuridão, algumas lâmpadas estão acesas, assim como algumas luzes das duas enormes casas que se erguiam, lado a lado, no final do pátio. No lado leste o pátio era cortado por um meio fio de pedras retangulares, e depois disso uma ladeira escorria até o mar, com algumas árvores nela. A julgar por isso, o terreno onde nos encontrávamos parecia um enorme planalto que terminava com o mar.

Apenas quando descemos do carro é que percebi isso. As duas casas possuíam dois ou três andares, com vários quartos aleatórios, uma arquitetura diferente, porém magnífica. A mais ao leste, localizada na beirada do final do planalto, era lilás, e a outra, ao seu lado, azul claro. Apenas a lilás possuía garagem, mas suponho que Lucas não tenha colocado o carro dentro porque os portões estavam fechados, e talvez fizesse barulho.

Entramos por um pequeno portão ao lado da garagem, logo subindo escadas. Eric carregava minhas coisas enquanto eu carregava Alex. Subimos as escadas. O primeiro andar possuía uma sala ampla com vários sofás e uma televisão maior que minha cama. Vários instrumentos musicais pendurados na parede, vários instrumentos afiados também. Havia muita cor, e provavelmente quanto habitado, muita vida. Apenas uma das luzes estavam acesas, e isso dava ao lugar um ar rústico ainda maior.

– Eric – Lucas chama – você precisa de ajuda? Acho que vou lá ajudar o Vini.

– Hum... – Eric não parece feliz com isso, mas não deve ter motivos para trancar Lucas. – não. Quer teleporte?

– De preferência.

Eric toca na parede ao seu lado e ela instantaneamente começa a ficar negra, como se nuvens a engolissem, a partir do ponto em que seu dedo tocou. Nos despedimos de Lucas e tornamos a subir as escadas. Olhei uma última vez para trás, a tempo de vê-lo entrar pela parede negra.

No momento em que Lucas entrou, ouvi um barulho. Eric havia caído. Não de uma forma muito perigosa, mas segurava-se em um degrau e um corrimão.

– Tudo bem? – pergunto, ajudando-o.

– Sim. – ele ergue-se com facilidade – só estou cansado de teleportar tanto hoje. Vamos.

Escadas.

No terceiro andar encontravam-se muitos quartos. Uma infinidade de portas, e três corredores, um no qual saímos, um central e um no fundo. Eric guiou-me para uma porta onde uma pequena placa de madeira dizia “Vestuário”. Abriu a porta quase que instantaneamente a fechou, seguido de um grito feminino.

– MEU DEUS ERIC, O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO? AQUI É O FEMININO. – ele revira os olhos com a mão na maçaneta, enquanto a garota continua os gritos.

– Três – ele diz, alto o suficiente para ela ouvir. – DOIS...

A porta é aberta e uma garota com a camisa ao avesso nos encara. Possui cabelos acobreados e compridos, com algumas sardas no rosto. Seus olhos são escuros e ferozes.

– O que foi? – ela pergunta, direcionando o olhar ora para mim, ora para Eric.

– Preciso arrumar as coisas dela – ele inclina a cabeça na minha direção.

– Tem que ser agora? – ela pergunta.

– Ana, por favor.

Ela nos deixa entrar. Largo Alex no chão, mas pouco fazia diferença, porque ele é o gato mais mole do universo. O quarto é extenso, possui vários armários pequenos com identificações em cada um. Tem algumas máquinas de lavar roupas e alguns varais portáteis na varanda, aberta. Uma porta pequena leva a um pequeno closet, onde vários pacotes e caixas encontram-se empilhados. Eric começa a revirar as roupas, me entregando alguns pacotes, muitos pacotes.

– Acho que não preciso de tanta coisa – digo.

– Precisa até de mais, mas tudo bem.

Voltamos para a área dos armários, onde havia também uma mesa, provavelmente para passar as roupas, central. A ruiva Ana já sumira do ambiente, mas Alex continua ali, observando, atento, porém sempre preguiçoso, largado no chão. Largo os pacotes na mesa e começo a abri-los com Eric. O primeiro é uma saia.

– Tenho cara de quem usa saia? – pergunto.

– Sim – ele responde dando de ombros. Sorri um pouco.

Ao todo, foram três camisetas, duas regatas, duas calças, dois shorts, uma saia, um moletom, algumas meias e um par de luvas sem dedos. Dobramos todas as roupas e as colocamos em um dos armários, de número 21, o qual Eric me entregou a chave.

– Pode deixar a chave aqui se quiser, ninguém mexe mesmo. Só pra roubar meias. Ah!

Ele volta ao closet, trazendo uma caixa de sapatos, da converse.

– Também tem coturnos, mas não vai precisar agora. Guarda aí e prova outra hora. – ele dá de ombros.

– Certo. E agora? – pergunto, enquanto guardo os sapatos no armário.

– Provavelmente você não está com sono, então pode ficar na sala pelas próximas... Três horas. Ou quatro. O Café sai às 8:00, mas eu venho te buscar.

– E se alguém aparecer? – pergunto, um pouco apreensiva. Afinal, sou uma estranha.

Quando alguém aparecer, você diz que é minha recruta.

Ficamos nos encarando por alguns segundos. Segundos nos quais sentimos algo independente do ambiente e da situação. Segundos nos quais nos lembramos que somos amigos.

– Desculpe. – Ele fala, por fim.

– Pelo o que?

– Por ter escondido isso se você. Por tanto tempo.

Não havia parado para pensar tanto nisso até agora. De fato, magoava um pouco.

– Tudo bem. Mas você precisa me explicar mais coisas.

– Eu sei – ele diz, saindo então.

Seguimos até a sala, onde me deito, deixando Alex novamente a solta. Eric desce para a garagem, deixando-me sozinha.

A sala era composta por um barzinho, com algumas coisas da cozinha, mas não tudo. Uma geladeira, pia e microondas. As luzes do barzinho estão apagadas, mas vejo muitas fotos na geladeira. Ao lado da televisão há uma salinha fechada, a qual tenho curiosidade de checar, mas talvez seja um quarto, e não seria legal entrar no quarto alheio assim. Não gosto de televisão, apesar de ter um Xbox ali, engulo a idéia de ligá-lo. Trouxe um livro, portanto lerei.

Acontece que as horas passaram muito devagar, e querendo ou não eu mexi em tudo. Menos na salinha. Não liguei a televisão também, mas abri todos os armários, a geladeira, olhei as fotos mil vezes, vi mapas nos quais reconheci o lugar onde me encontrava. Duas casas era pouco, havia quatro, todas denominadas com suas devidas posições geográficas. Uma ao norte, no meio da floresta, outra mais ao leste, sendo essa onde eu estava, e uma ao sul, na praia. Não havia Oeste, apenas. A do sul, no mapa, ficava mais ao leste que a do próprio Leste, praticamente na mesma linha imaginária vertical, mas devido a sua posição, sendo a mais ao sul em relação as outras, pouco importava. Havia ranchos, plantações, casas no meio da floresta, menores. Casas na árvore. Trapiches. Tratava-se de um lugar extremamente extenso. O único lugar no qual consegui fazer certa relação tratava-se de um desenho de uma caverna, localizada próxima à Casa Sul, onde estava escrito Poder. Lisa havia citado isso quando contara minha suposta história. Uma guerra pelo Poder.

Amanhecia lentamente. Parecia que o sol estava sendo forçado a se levantar. Já não agüentava mais ler ou ficar sem fazer nada quando a primeira pessoa apareceu.

Era alto, possuía uma pele escura e seu ‘Black Power’ estava amassado para a direita. Parou na escada mesmo e ficou a me encarar. Estava de pijamas não combinados, sendo a parte de baixo estampada com bananas.

Nos encaramos por aproximadamente quinze segundos até ele sair correndo escada abaixo. Voltou alguns segundos depois, colocando os óculos.

– Quem é você mesmo?

– Ahn, Hayle. Sou... tipo, a recruta de Eric.

Ele permanece parado, incrédulo.

– Você é Diana.

– Ahn, também. – sorrio um pouco, nervosa.

Alex salta para perto do garoto, que se assusta. Logo começa a rir.

– Desculpe. Eu sou Juan – ele atravessa a sala rapidamente e aperta minha mão. - Posso te chamar de Diana? -

– Acho que sim... – digo, com certa incerteza.

– É que eu lembro de você quando éramos crianças. Você mudou muito! – ele abre um sorriso muito extenso. – Eric te dropou aqui?

– Dropou? Tipo, largar? – ele concorda com a cabeça – Ah, sim. Eu dormi bastante já, fiquei sem sono.

– Que esperto. O quarto tá muito bagunçado mesmo, mas se quiser entrar, ficaa na casa azul, quarto 22, a senha é aquário, caso alguém pergunte. Tem uma cama vaga lá.

– Ah, certo. – sorrio, agradecida.

– Talvez você ganhe um quarto feminino, mas o nosso é mais legal. – Juan sorri. – Já vai sair o café, quer ir conosco?

– Pode ser. – tudo o que eu gostaria de fazer: comer e me movimentar.


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Notas finais do capítulo

Desculpe a falta de ação, ou de mistério talvez. Pontas não podem ficar soltas, certo? E seguindo a linha de quatro ou cinco linhas.