Avatar: A lenda de Tara - Livro 1 Terra escrita por Glenda Leão


Capítulo 12
As Dunas irreais


Notas iniciais do capítulo

E não é que o capitulo não demorou?! Oremos de pé.



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Abro os olhos assustada com o monte de gente me olhando. Suna, Kadda, Ramsis e uma garota que eu ainda não tinha visto me olham intrigados. Ela é tão linda, seu olho direito é um pouco mais verde que o esquerdo e seu cabelo escuro é composto por pequenas trancinhas bem enraizadas, sua pele é tão morena que parece chocolate. Quando Suna e Kadda percebem que estou acordada vibram de alegria. Os gritos de emoção de Kadda fazem meus ouvidos doerem, Suna sorri de um jeito calmo e levemente malicioso.

— Você se sente bem? – a garota me encara, me faz perguntas e passa a mão na minha testa vendo se tenho febre, se estou ferida. Perco a paciência e agarro sua mão a afastando do meu rosto.

— Estou só um pouco tonta. – me sento na cama. – Quem é você?

— Eu me chamo Saara. – sorri pra mim. Ela me estende a mão, e não liga para o fato de eu ignorar seu cumprimento. Eu apenas apoio os cotovelos sobre os joelhos e encosto a testa em minhas mãos. Quero que o mundo pare de girar. – Acho melhor leva-la para comer algo. – Saara diz e Ramsis passa meu braço sobre seus ombros me ajudando a levantar. Percebo o quão estranho aquilo é. Por que eles estão me ajudando?

— Espera, espera. O que está acontecendo aqui? O que você ganha me ajudando? – estreito meu olhar para Kadda. – Você contou para eles que eu sou o avatar, seu idiota?

— Você é o avatar? – Ramsis se assusta com a informação e me solta num impulso. Quase caio, mas ele agarra meu braço de novo. – Desculpe, fiquei surpreso.

— Respondendo sua pergunta Tara. Não, eu não contei. Mas você sim. – Kadda abre um sorriso e eu mostro a língua pra ele.

— Se vocês não sabiam que eu sou o avatar, por que me ajudar então? – pergunto.

— Todos nos ajudamos aqui e, além disso, Suna é um velho amigo. – Saara olha para ele e Suna tenta não ficar vermelho. Sem sucesso, claro.

— Bléhr. – Ramsis expressa nojo. – Não me lembre dessa época.

— Que época? – Kadda e eu perguntamos em uníssono e Suna desvia o olhar.

— Depois de me juntar aos heróis rebeldes meu grupo deu uma passada aqui pelo deserto procurando um grupo de radicais e acabamos conhecendo uns dominadores de areia, vivemos com eles alguns meses. Saara e eu ficamos bem... Íntimos.

— “Intimos”. Tá bom. Você e minha irmã não me deixavam dormir. – Ramsis responde com um tom um pouco elevado.

Os segundos se passam de um jeito constrangedor. Ramsis suspira e me leva para fora da tenda onde estávamos. Os outros vem logo atrás. Saara agarrada ao braço de Suna e Kadda mancando por causa da coxa. Quando andamos pelas ruas vejo as mesmas pessoas que vi quando entramos aqui. Eles não nos dão mais atenção, apenas cuidam de suas próprias vidas.

— Por que existem tantas pessoas velhas aqui? – pergunto a Ramsis. – Quer dizer, os mais novos aqui pelo que eu vejo são você e sua irmã.

— Não há nenhum adulto nesse lugar. – ele responde. – Apenas crianças com rugas. Mas você tem razão, minha e irmã e eu somos os mais novos aqui. Tenho vinte e cinco e ela vinte.

— E o que aconteceu com os mais novos?

— Lembra quando Suna disse que passou pelo deserto em busca de um grupo de radicais? Pois é, depois de um tempo eles acabaram encontrando nossa cidade e quiseram explodi-la como fazem com as outras. Mas com a ajuda de Suna e seus amigos nós conseguimos nos livrar deles, embora muitos de nós tenham morrido. A maioria jovens.

— Ah, sinto muito. – Não sei mais o que dizer. Todos seguimos em direção a enorme praça no centro da cidade. Paramos em frente a um restaurante e Saara nos indica uma mesa. Meu estômago ronca. Nós pedimos a comida e ela chega rapidamente. Saara e Suna conversam animadamente, ela não deixa de toca-lo e fazer insinuações. Kadda e eu comemos sem dar importância a nada. Ramsis não deixa de suspirar.

Terminamos de comer e vamos para a casa de Saara e Ramsis. Saara teve sucesso e conseguiu levar Suna para o quarto. Nem ouso imaginar o que se passa lá. Nós três que sobramos ficamos na varanda jogando pai-sho. Algumas horas se passam e eu não faço ideia se já anoiteceu lá fora afinal aqui é como se fosse noite o dia inteiro, mas acho que começou a escurecer já que o calor está diminuindo. Eu já estava ficando entediada jogando pai-sho quando ouço uma voz.

“Olá”

Ergui a cabeça. Não era Kadda e nem Ramsis. A voz parecia ser de uma mulher. Olhei para a rua e não havia ninguém por perto. Talvez eu estivesse delirando.

“Pode me ouvir?”

Não conseguia acreditar. A voz vinha de dentro da minha cabeça. Devo ter batido a cabeça quando desmaiei e estou delirando, mas lembro que sou o avatar e penso que isso deve ser comum. Fechei os olhos e segurei minha respiração para tentar me acalmar e conseguir ouvir melhor.

“Escute, por favor, é importante Tara... Você precisar ir embora dessa cidade agora.”

Fiquei paralisada, assustada com o aviso. Onde é a saída? Por que Suna estava demorando tanto? Preciso de ar puro.

Boom. Boom. Boom.

De repente ouvimos explosões. Ao longe o teto de terra e areia desaba soterrando varias casas. Olho para Kadda e Ramsis e pensamos a mesma coisa. A cidade está sendo atacada por radicais. Suna estica a cabeça pela janela do quarto de Saara, percebe o que está acontecendo e corre até nós ainda vestindo a camisa. Corremos em direção ao ataque, em poucos segundos Saara nos alcança. Quando chegamos perto o bastante dos atacantes recuo ao perceber que não são radicais.

— Os agentes dai li. – exclamo em estado catatônico. O serviço secreto de guardas do reino da terra. Eles sempre me botaram medo.

— Não acredito que seu pai colocou o dai li atrás de você Tara. – Kadda diz indignado.

Eles finalmente notam minha presença. Minha respiração acelera. Começo a hiperventilar e corro. Corro como uma covarde tentando fugir deles. Suna e Kadda se surpreendem, mas me seguem, Saara e Ramsis vêm logo atrás. Os agentes dai li lançam granadas de gás em nossa direção. Levo minha mão ao nariz para não inalar o gás. Continuo a correr, mas paro bruscamente.

— Suna? Kadda? Onde estão vocês? – grito atordoada, eles sumiram junto com Saara e Ramsis. Me sinto mal, enjoada. Ouço uma voz masculina que vinha do telhado de uma casa. Quatro agentes estão lá segurando Saara, Ramsis, Suna e Kadda. Com um único gesto eles ameaçam a vida deles. – Solte-os! – Grito enraivecida. Sinto algo estranho fluir dentro de mim, algo ruim.

— Seu pai nos deu ordens para leva-la em segurança, mas não disse nada sobre seus amigos. – o líder dos agentes fala. – Não queremos machuca-los e nem leva-la a força Tara. Se entregue e todos ganham.

“Vamos Tara, mate-os. Mate-os antes que te capturem. Não seja covarde. Mate-os. Eu te ajudo. Vamos mata-los.”

Outra voz me vem à cabeça. Vaatu. Não consigo afasta-lo da minha mente. Tento lutar para controlar minha raiva, mas é em vão. Vaatu toma o controle do meu corpo.

Tudo está escuro. No pouco que consigo enxergar percebo pessoas se debatendo em agonia tentando escapar de algo, elas eram puxadas de volta e jogadas no chão inconscientes. Mortas talvez. Ouço a risada maligna de Vaatu. Ele me faz arremessar os agentes dai li para longe. Esse estado avatar sombrio faz com que eu me sinta mais poderosa, mas estou incontrolável, insana. Sei que estou matando deliberadamente. Entre radicais e simples dobradores de areia eu não consigo ver a diferença. Sei que deveria me sentir mal, então por que sinto esse gosto delicioso. Quanto mais eu mato, mais eu quero matar. Saara e Ramsis tentam ajudar os inocentes, enquanto meus amigos tentam me acalmar para o azar deles. Uma parte de mim tenta gritar para que fujam, mas tudo que sai é a risada fria de Vaatu. Ergui Suna e Kadda pelo pescoço e estava pronta para dar o golpe definitivo.

“Filha. Por favor. Retome o controle e salve seus amigos. Volte pra mim. Sei que você consegue. O universo só te dá problemas com que você possa lidar.”

Reconheço a voz emocionada que invade minha cabeça. É a voz dela. Da minha mãe.

Olho nos olhos suplicantes de Suna e Kadda. Os deixo cair no chão enquanto enfrento uma luta interna. Meus gritos podiam ser ouvidos até no mundo espiritual. Retomo o controle do meu corpo. Sem carga de poder. Observo a cidade destruída e sinto a pior das dores. Desabo no chão e choro como uma criança. Suna e Kadda correm até mim e me ajudam a levantar. Tento me desvencilhar deles, mas sem sucesso. Não mereço ajuda alguma. Suna me coloca nos ombros e eles começam a correr procurando Zena. A encontramos assustada, Kadda a tranquiliza e subimos em suas costas. Ele usa sua dobra para ajudar Zena a correr por entre as Dunas. Ainda me debato para tentar escapar de Suna, mas ele me abraça forte. Me aquieto quando sinto as lagrimas de Suna caírem em meu ombro direito. Não vejo o rosto de Kadda, mas sei que ele também está chorando.

Só noto que havia caído no sono quando acordo enrolada em uma manta com a cabeça apoiada no colo de Suna. Ele está sentado com as costas apoiadas em Zena com o olhar fixo no horizonte. Kadda está treinando dobra de areia a alguns metros. Olho para o céu e a lua está em seu ponto mais alto, não consigo imaginar por quanto tempo dormi ou por quanto tempo percorremos o deserto. Levanto bruscamente e começo a caminhar pela areia.

— Aonde vai? – Suna e Kadda me perguntam.

— Eu já volto. – Sem dizer nada eles ficam quietos me observando.

Depois de caminhar alguns metros eu me escondo atrás de uma duna para que os meninos não consigam me ver. Me jogo de costas no chão de areia e observo as estrelas em busca de respostas. Lembro-me da voz da minha mãe em minha cabeça. A frase que ela disse me vem à mente.

— Mãe, você mentiu pra mim, não foi? Você disse que o universo só me dá problemas com os quais eu possa lidar. Mas pra mim isso não é verdade. Eu não consigo lidar com esse fardo que caiu sobre meus ombros. Não vou ser um bom avatar. Mal comecei minha jornada e já estraguei tudo. – As lagrimas rolam por meu rosto. Fico sentada e tento enxuga-las. Vejo um brilho azul caminhando até mim pelo canto do olho e já imagino quem seja. – Agora não Jinora.

— Eu não sou a Jinora. – a ouço dizer e arregalo os olhos para ter certeza do que estou vendo.

— Korra?

— Estou aqui por você. – Ela se senta ao meu lado.

— Eu não sei o que fazer. Perdi o controle e o mal me dominou. Matei todas aquelas pessoas, mesmo os agentes dai li não mereciam aquilo. Sou uma assassina. Um monstro. Não sei mais quem sou.

— Seu nome é Tara, você é o avatar e sabe quem é o verdadeiro monstro. Você já desistiu de si mesma, mas eu e seus amigos não.

— Não sei como agir ou o que fazer daqui pra frente. – digo a ela.

— Não vá contra o que aconteceu, isso é passado e não se pode mudar o passado. Só não deixe que o mal tenha influencia no avatar que você vai se tornar. Ame o seu eu de agora e viva sua vida.

Korra desaparece e eu ouço passos vindo em minha direção.

— Ficamos preocupados. – Kadda diz com Suna ao seu lado. Eles esperam meu consentimento para se sentarem ao meu lado e eu afirmo com a cabeça. Ficamos em silencio alguns segundos.

— Está tudo bem dormimos ao seu lado, certo? – Suna me pergunta enquanto cada um repousa sua cabeça em um dos meus ombros. Suna a esquerda e Kadda a minha direita.

— Claro. Eu preciso de vocês ao meu lado. – digo sem olhar em seus olhos.

— Sempre estarei ao se lado. – Os dois dizem em uníssono e me abraçam forte.


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Notas finais do capítulo

Tenso não?
Comentem o que acharam. Criticas construtivas são bem vindas. Elogios ainda mais.



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