CAROLINA

Estava sentada na última classe da sala espaçosa do primeiro ano da arquitetura; Lara estava ao seu lado falando sobre algo que havia lhe acontecido, mas seu cérebro não absorvia nada, estava tão absorta no mundo “Diana” que sequer percebeu o tempo passar e a outra menina chamar-lhe a atenção para o fim das aulas:

                -Carol! Você está bem? Esteve tão distraída durante as aulas... Aconteceu algo?

                Questionou com as sobrancelhas franzidas.

                Despertando de um transe, sorriu amigável:

                -Está tudo bem Lara! O que estava dizendo mesmo?

                Lara olhou-a com ar preocupado e tornou a falar:

                -Estava falando sobre seu estágio. Deve ser incrível aprender com uma das maiores arquitetas do país e da América latina, além de ela ser uma gata ein! – Riu – O que eu não daria pra ver todas as manhãs aquela mulher!

                Olhou-a com certa desconfiança. Nunca foi de sentir-se enciumada, mas a fala de Lara sobre Diana a deixou profundamente incomodada. A amiga havia lhe confessado há alguns dias a sexualidade e como foram conturbados os dias que se sucederam à sua confissão à família. As brigas fizeram com que Lara deixasse a casa da mãe e passasse a dividir apartamento com outro amigo, que também teve problemas de aceitação da família. Lara apelidava carinhosamente a moradia de “caverna do arco-íris”.

                -Ela é uma pessoa maravilhosa, não um objeto sexual. – Falou com ar magoado.

                -Calma Carol! Não fique com ciúmes da sua chefinha! Mulheres assim, tão imponentes são quase molduras intocáveis! Haha quem dera! – Lara disse rindo e já saindo da sala.

                “Que sentem como qualquer outra pessoa”— Completou mentalmente.

                Lara convidou-a para ir a um bar com alguns outros amigos da faculdade. Quando pensou a respeito achou a idéia interessante, já que sua vida estava resumida à estágio e trabalho, achou interessante conhecer mais pessoas e relaxar. Foram ao Republic Pub um charmoso barzinho com ares londrinos.

            Lara a introduzia em todas as conversas conheceu, além do famoso Pedro, o outro morador da Caverna, Marieta e Luiza, duas simpáticas acadêmicas de Design. Pedro, muito bonito, tinha olhos castanhos e cabelos caramelos, usava roupas estilosas e conseguia entreter a todos com as histórias de suas peripécias em boates LGBT. Marieta era uma menina baixinha de traços latinos, tinha cabelos lisos e lindos olhos negros, falava no mesmo ritmo que Pedro e apesar de sua “heterosexualidade crônica”, segundo ela mesma havia mencionado, não descartava a hipótese de ficar com mulheres e ria a cada flerte descarado que Lara lhe jogava. Luiza, a mais quieta dos presentes, tinha cabelos curtos ruivos e lindos olhos verdes quase castanhos, transpassava um mistério que deixava qualquer um curioso, sua voz rouca passava a imagem de uma cantora indie e suas sutis investidas para com si, estavam deixando-na desconcertada. Luiza era linda e seus trejeitos eram realmente apaixonantes, mas não se comparavam em sua cabeça e coração à pose elegante e sensual de Diana e o gosto e sensações que seu beijo estava deixando em sua cabeça.

            Trocou telefone com todos os presentes e resolveu caminhar até em casa. O bar era relativamente perto e como era sexta-feira, achou que não correria riscos andando algumas quadras pela noite ensolarada.

            Ao passar em frente à um elegante restaurante, que parecia extremamente privado e com seguranças por todos os lados, viu de relance Ricardo Vertir e seu coração explodiu com a possibilidade de ver também Diana. Esticando um pouco o pescoço para ver sob as janelas do local, porém, não viu Diana e sim uma bela morena intimamente perto do marido de sua chefe. Rapidamente desviou o olhar e se dirigiu para a portaria de seu prédio. Seu coração doía ao pensar em qualquer tipo de sofrimento que uma mulher tão... perfeita, poderia sentir por causa de um homem tão desprezível. Já havia visto em algumas revistas que o arquiteto era um galanteador de primeira e que haviam relato de supostas traições vindos de si.

            “Como alguém pode magoar e trair a mulher mais linda do mundo.” — Pensou.

            Em um impulso, tomou o celular em mãos e digitou uma mensagem para Diana; ainda não haviam se falado desde o episódio do beijo, temia até por seu emprego diante disso, mas não conseguiria ficar sabendo que talvez a outra estaria desolada.

            Sinto muito pelo beijo.

            Enviou e jogou a própria sorte, deixou o celular em cima do sofá e foi em direção ao banheiro, despindo-se de roupas e preocupações, mas levando ansiedade.

DIANA

            À noite após o beijo decorreu-se angustiada. Não conseguia parar de pensar na menina e em seu jeito doce e decidido. Aninhou-se em seus cobertores assim que chegou a casa, Ricardo já não estava provavelmente deveria estar com alguma de suas amantes. Não sentia desapreço por estas mulheres, tampouco, se havia alguém desprezível nesta história era seu marido, um homem frio e desonesto que era capaz de tudo por prazer e poder.

            Depois de um longo banho de espumas, pegou-se pensando na menina dos lindos olhos e que seu olhos só faziam lembrar. Não haviam se falado desde o beijo e sabia que provavelmente a outra deveria estar desesperada com a possibilidade de ser hostilizada, queria falar, entrar em contato, mas não sabia como reagir ao sentimento que se apossava de seu coração.

            Serviu-se de vinho e sentou na varanda com um cobertor a observar as estrelas. Onde está você? Pensou. Levantou-se quando ouviu o celular alertar uma mensagem no outro cômodo e imediatamente aqueceu-se ao constatar de quem era.

            Sinto muito pelo beijo. — Dizia

            Seus dedos ansiavam por escrever-lhe que não sentisse, que apreciasse. Este e outros tantos que sentia vontade de dar-lhe.

            Tomou-se por coragem e respondeu:

            Onde mora?

            Aguardou a resposta da menina que chegou depois de meia hora, longas e torturantes. Trocou-se e antes de sair respondeu a mensagem que continha o endereço com outra:

            Chego aí em 5 minutos.