CAROLINA

                O temo passou em um só respirar; depois de ouvir sobre alguns projetos e de soltar suspiros que em alguns momentos pensou serem audíveis à empresária, estava encantada com todo o envolvimento que a futura profissão lhe traria.

                Mas seu encanto não se estendia apenas à arquitetura.

                A tensão sexual parecia nublar o ambiente quando as duas estavam próximas; Nunca pensou ver-se tão envolvida com alguém, tampouco, com uma mulher. Os olhares, toques, sorrisos, tudo era extremamente cativante na dona de traços fortes e intensos olhos verdes. Perdia-se nas explicações quando seus olhos encontravam os dela e poderia estar extremamente enganada, mas sentia seu olhar retribuindo.

                Chegou em casa já quando o sol caia; passou no mercado para comprar as coisas que lhe faltariam para a semana, visto que a faculdade começaria no dia seguinte e não teria tempo para compras; tomou um demorado banho quente e posteriormente acomodou-se na cama. Tinha sono e parecia-lhe que o dia havia deixado-a plena. Sentiu os olhos fechando lentamente e, talvez seu sono não lhe seria tão profundo, visto que logo, lábios rosados sorriam-lhe docemente.

~~

                O dia amanheceu envolto em nuvens de chuva; depois de vestir-se de forma mais aquecida, pensou na possibilidade de comprar um carro durante o decorrer do ano; não tinha pressa, amava andar de ônibus e ver os prédios imponentes pela janela, assim como os gestos e jeitos de pessoas que passavam por si, tentar ler-lhes os pensamentos e também entristecer-se supondo que talvez muitos só tenham a solidão para lhes acalantar.

                Foi tirada de seus pensamentos ao ver o imponente edifício se aproximar; desceu do veículo a passos lentos, despedindo-se do motorista e sentindo o cheiro de terra molhada da chuva que acabara de cair. Quando se preparava para correr e fugir dos pingos de chuva, ouviu seu nome de um jeito único, que na noite anterior, fizeram em seus olhos o incendiar.

                —Carol!

                Observou a morena aproximar-se com um guarda-chuva e pôr sob suas cabeças:

                —Não queremos que nossa nova estagiária pegue um resfriado, não é?

                Sua voz veio como um sussurro e fez mais uma vez arrepiar.

                -Obrigada Diana... – Falou.

                —Não agradeça... Sabe, amo dias chuvosos, o céu parece-me tão mais bonito...

                -A chuva trás carinho, não é o que dizem? – Sorriu e corou com o intenso olhar que recebeu.

                A semana passou encantadora; não entendia a fama de coração de gelo que era atribuída à Diana; Descobriu-se completamente envolvida por aquela mulher, seu jeito meigo, mas que exalava uma superioridade e intimidação que a deixavam ainda mais curiosa sobre tudo o que a envolvia. A faculdade adicionou ainda mais animação aos seus dias, depois de passar pelo tão temido trote, até fez alguns amigos, dentre eles uma menina extremamente cativante que alegrava quem chegava perto; Lara era negra, tinha olhos castanhos e a mesma  estatura que Carol, conectaram-se imediatamente e envolviam-se em diálogos acalorados sobre o curso, logo, tornaram-se inseparáveis.

                O tempo foi passando e quando percebeu já faziam três meses desde sua mudança para a capital, a mãe havia lhe visitado algumas vezes e estudavam até a possibilidade de mudar-se para perto da filha, tinham uma a outra e precisavam.

                Em uma tarde, depois de observar bem de perto e até dar algumas opiniões sobre um projeto de uma empresa de design que Diana estava liderando, foi convidada pela mulher para um café pós expediente e quase que prontamente, aceitou. Nos últimos meses aceitou o inevitável, estava apaixonada e em tristeza seu coração apertava ao perceber que nunca poderia ter a mulher que amava.

DIANA

                -E então? Gostou? Admita, é o melhor café da cidade!

                Falou enquanto observava a expressão de puro contentamento da linda menina a sua frente. Estavam em um simpático café perto da empresa, haviam acabado de finalizar um projeto e cedeu ao que seu coração praticamente implorava ao convidar Carolina para um café.

                Não conseguia tirar seus olhos da cabeça. Quando a tocava acidentalmente uma onda de choque percorria seu corpo e seu coração batia descompassado, extasiado. Não havia mais como negar a si mesmo o que sentia, desistiu assim que os dias foram passando. Amava-a.

                Não importou-se mais com as implicâncias de Ricardo, tampouco com as saídas que agora eram ainda mais constantes, estava completamente encantada com a outra mulher e queria para si, queria sentir o gosto de seus lábios, seu toque, tudo que até então só em sonhos eram seus; não tinha mais insônia. Dormia como se fosse acalantada pelos hipnotizantes olhos azuis. Estava perdida. Talvez não, havia encontrado-se.

~~

                Depois de mais uma xícara do café já muito elogiado por Carol, insistiu para levá-la até a faculdade, dizendo que era tarde e já que tomou-lhe o tempo, deveria aceitar. Foram falando sobre música; A MPB tão admirada por ambas deixava o ambiente ainda mais sedutor e não podia negar, sexual...

                -Bom, chegamos... – Suspirou, queria mais tempo com a mulher.

                —Sim... Obrigada Diana... – Sorriu-lhe – Foi muito gentil da sua parte...

                Olhou para ela e sorriu; aproximou-se para despedir-se com um beijo no rosto, mas estagnou.

                Seus olhos prenderam-se aos azuis e sentiu a respiração da mais nova tocar levemente os lábios já umedecidos, ansiava por aquilo, sabia que Carolina também sentia, também percebia no que estavam envoltas e estava dando o primeiro passo, um passo que não teria retorno.

                O beijo começou em um toque casto de lábios... Macios, doces... Sentiu o corpo todo tensionar-se e explodir em destroços do que agora era seu coração; Estava em êxtase, fruto da delicadeza da menina ao pedir-lhe passagem com a língua. Nunca pensou sentir algo tão inacreditável. Era delicado e ao mesmo intenso, envolvente, acolhedor...

                Sentiu o coração disparar quando pararam em busca de ar; deparou-se com o olhar encantado e apavorado da menina e ouviu quase em um sussurro suas desculpas e a saída rápida do carro.

                Ficou ali, ouvindo a chuva cair e observando o vidro embaçado talvez pelo calor que seus corpos emanaram.

                Está feito, pensou.