Suspiros escrita por Sunflower


Capítulo 6
Torpor




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CAROLINA

Chego aí em 5 minutos.

                Seu coração parecia prestes a explodir; sentia-o na ponta dos dedos tamanha a excitação com a mensagem da outra mulher.

                Já havia trocado de roupa três vezes, mas nada parecia bom o bastante. Sentiu-se com o corte de cabelo errado, com a casa desarrumada, completamente desordenada perante a Afrodite que esperava.

                Quando a campainha tocou quase caiu com o susto. Mas ao abrir a porta, palavra alguma em qualquer idioma, ambíguas e clichês, nada conseguiria representar o que sentiu quando viu o ser humano mais maravilhoso de todos ali, segurando uma garrafa de vinho:

                -Essa noite não pedia solidão. – Falou Diana.

                Depois de ficar tempo demais a olhando, com olhos arregalados, ficou com medo de estar babando e convidou-a para entrar:

                -Por favor, não repare na bagunça...

                A outra lhe deu um sorriso lindo e se aproximou:

                -Onde posso guardar isso? – Falou, referindo-se ao vinho.

                A mais nova tomou-lhe das mãos e foi em direção à cozinha, a outra a seguiu de perto, como se não quisesse perdê-la mesmo naquele pequeno ambiente:

                -Desculpe vir assim... Tão precipitadamente...

                Quando sentiu a respiração da mulher perto demais, quase derrubou a garrafa que segurava. Diana tinha as mãos em sua cintura e o corpo praticamente colado às suas costas; pensou que não poderia sentir-se mais nervosa que durante a espera, mas ali, envolta naqueles braços, se sentiu completamente extasiada.

                -Tem razão... Essa noite não pedia solidão – Sua voz saiu tão fraca que pensou talvez que a outra não a ouviria.

                Diana virou-a até que fixasse seus olhos em si. Tomou-lhe a garrafa das mãos e depositou na bancada próxima; como se fosse possível aproximou-se mais e mais, como se fossem a qualquer segundo fundir-se.

                Excitada.

                Era assim que se sentia. O ventre pressionado, os olhos dilatados; jamais sentira-se assim, como se a qualquer segundo fosse explodir de prazer. Não era virgem, já esteve com alguns homens, mas em nenhum momento sentiu algo a mais que arrepios. Pensou ser normal, que sentir prazer não era algo tão exuberante como as pessoas diziam, pensou simplesmente ser diferente e ignorou desde então.

                Ali, com aquela mulher, sentia como se finalmente estivesse nascendo. Em alguns dias descobriu com ela os mais extremos sentimentos, como se estivesse destinada a tê-la.

                -Eu não me arrependo... – Ouviu-a dizer:

                -... Não me arrependo nem por um segundo... Mas, me puno por uma coisa...

                -E qual seria? – Não sabia de onde tirou a voz para perguntar.

                Diana tocou-lhe a face, uma corrente elétrica percorrendo todo o seu corpo, os lábios salivando em busca daquele sabor:

                -Por não ter te beijado mais... – Falou a outra, com uma voz carregada de torpor. - ... Eu não sei como será pela manhã, a única coisa que penso neste momento é que prezo por uma vida plena e isso significa não deixar algo tão arrebatador assim passar...

                Quando terminou de falar tomou-lhe os lábios. As mãos foram para a nunca de Carolina com um toque firme, porém atencioso segurando-lhe os cabelos. A loira, extasiada, demorou menos de um segundo para corresponder, mas quando o fez, segurou-lhe firmemente a cintura e deixou-se ser levada, por, o que quer que seja isso.

                Em segundos estavam as duas deitadas na cama, os corpos abraçavam como se pela primeira vez, tudo, em todo momento fizesse sentido, como se por mais clichê ou inconsequente que fosse, fizesse sentido aquele encontro.

                Carolina quebrou o beijo quando precisou de ar e ao abrir os olhos viu a cena que deixaria os quadros de Picasso constrangidos ao observar.

                Diana estava com os olhos brilhando, cabelos desgrenhados e bochechas rosadas; seus lábios vermelhos pelo beijo e  a respiração descompassada. Seu olhar parecia contemplar uma obra prima.

                Carolina sentiu o coração aquecer ao constatar que a outra também sentia e como ela mesma havia dito, não deveria deixar algo tão arrebatador passar.

 

 

DIANA

                Depois de muitos beijos trocados, singelos, curiosos e também tímidos. Diana envolveu Carolina em um abraço que poderia acalentar temporais; tomou-a em seus braços com a intenção de mostrar que lutaria por isso, mesmo que ainda não tenham descobrido o que eram.

                No momento encontravam-se sentadas no chão da sala. O apartamento era pequeno, mas muito aconchegante, na janela a lua as iluminava e cada uma com uma taça de vinho, iam falando coisas sem sentido uma sobre a outra:

                -A minha mãe é uma mulher incrível. – Começou a mais nova. – Meu pai nunca quis me assumir, então ela sempre teve de dar um jeito nas coisas, aprendeu sozinha a lidar com as situações e me fez ter consciência de que a vida era muito mais que uma rotina interminável desde cedo.  Mas eu ainda quero procurá-lo... Não por algum tipo de afeto, mas porque sinto em mim que isso não soa justo. Os homens deixam as mulheres e os filhos e não sofrem nenhum tipo de consequência, levam a vida como se a responsabilidade lhes fosse isenta. Eu quero ir atrás dele para fazê-lo ser punido judicialmente por abandono afetivo. Se algum dinheiro vir fruto disso, quero entregá-lo à uma ONG que apoie mulheres vitimas de violência de gênero...

                Ao sorrir-lhe terna, Diana sentiu que podia sonhar novamente, perto dela, alguém pensava em um mundo melhor:

                -Penso exatamente como você Carol... A nossa cultura impõe que as mulheres sejam responsabilizadas por tudo, como se de alguma forma não fossem autônomas e sim seres manipuláveis, sabe...– Acomodou-se melhor ao lado de Carolina. – Eu sempre tive a ideia de uma cooperativa, onde mulheres e crianças vítimas de violência doméstica pudessem viver longe de quem as fere e também serem autossustentáveis, visto que é isso que mais preocupa e prende às mulheres ao agressor...

                Carolina sorriu-lhe:

                -Eu  espero que você consiga... E quero te ajudar também... Às vezes nos perdemos nos nossos sonhos e ideologias por não termos quem as aspire também, não é? É bom ter alguém que pense semelhante...

                Ambos os sorrisos mostrara-se novamente.

                Desta vez, Carolina quem tomou a iniciativa do beijo; não se cansava de sentir aqueles lábios rosados, os cabelos dourados tomavam um tom ainda mais belo em contraste com a lua. Poderia emoldurá-las ali.

                -Eu preciso ir, meu doce. – Falou, depois de mais alguns beijos. – Tenho uma reunião logo cedo.

                Suspirou.

                -Tudo bem... – A mais nova deu-lhe novamente um beijo. – Acho que posso suportar... – E riu.

                Levantaram-se e despediram-se com um longo abraço. Não sabiam explicar como podia haver tanto sentimento assim. Parecia emanar de seus corpos, de seus peitos.

                Quando Diana saiu sorrindo com os dedos tocando os lábios e um sorriso apaixonado, enquanto Carolina resvalou entre a porta sorrindo largamente palpitando de emoção, ambas perceberam que nada precisava ser explicado.

                Só sentido.


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