A semana tinha passado relativamente rápido, já era domingo. Dia 20 de novembro. Jacqueline e Tyler tinham sido levados para um suposto “passeio de aniversário”, como a família havia combinado.

Era uma da tarde. Jessie e Theodor organizavam a casa. Havia fotos espalhadas pela casa, em barbantes amarrados pelos móveis e cômodos. O foco da festa seria no quintal dos fundos. Theodor conseguira arrastar a mesa de madeira para o lado de fora, e agora ela estava toda decorada com coisas que transparecessem o gosto dos irmãos. Música e games.

A árvore do quintal estava toda envolta por luzes natalinas brancas. Jessie havia transformado a pequena casinha sobre a árvore em uma mini estação de karaokê, com a televisão de Theodor e o aparelho de DVD antigo da família.

As cercas estavam cheias de letras, partituras, e capas de jogos. Armin até apareceu pra ajudar com algumas coisas, como arrastar as tevês e os suportes pro quintal e montar os consoles. Os irmãos separam alguns jogos como Just Dance e Guitar Hero pros convidados.

E tudo isso sem dirigir uma palavra um ao outro.

O clima entre o loiro e a morena estava tenso desde a briga familiar onde Theodor quase ferrara com a imagem perfeita que Jessie tinha diante dos pais.

Quando os irmãos terminaram tudo, já era quase noite. E seus irmãos chegariam em cerca de 40 minutos. Logo, os convidados começaram a aparecer. Seria uma festa surpresa, mas não teria gente se escondendo e pulando de trás dos móveis para gritar “Surpresa!”. Todos, inclusive os gêmeos, achavam aquilo tosco.

Theodor foi ser arrumar, e Jessie foi tomar um banho. A garota estava frustrada com o irmão, mas não deixaria aquilo estragar seu humor, apenas fechou os olhos e sentiu toda a negatividade ir embora com a água pelo ralo.  Assim que terminara o banho, a morena vestira um cropped preto, que tinha uma estampa branca do contorno, dos olhos, e das orelhas de um panda; Uma calça jeans branca de cintura alta e um par de tênis All Stars azuis-claros.

Jessie colou uma playlist sua pra tocar, com tantos estilos e gêneros que era até difícil distinguir. Jacqueline adorava música, e Tyler não era diferente. Jessie gostava de um pouco de todos os gêneros, até k-pop – e sempre tinha que aguentar as piadas dos irmãos. E os três achavam um absurdo Theodor não gostar de nenhum gênero musical.

Castiel apareceu com Lysandre e Rosalya, Rachel foi deixada na porta pelo irmão mais velho, que a buscaria mais tarde; Ryan apareceu por lá, acompanhado de Armin e Alexy – ao que parece se encontraram ali na porta –, Giovanni e Katrina foram juntas, e logo muitas pessoas ocupavam a casa.

Quando os mais novos chegaram acompanhados pelos pais, se surpreenderam, e foram cumprimentar todo mundo.

A loira usava um vestido preto um pouco acima do joelho, uma jaqueta jeans, e um par de All Stars velhos. Já Tyler usava uma camiseta azul, uma calça jeans preta, e tênis de marca pretos e bem limpos.

— Ah! Não acredito nisso!! — Jacqueline abraçou os dois irmãos mais velhos, puxando eles um pouco pra baixo. Ela era baixinha.

Com a festa acontecendo, mais pessoas foram chegando. Logo três amigos de Tyler apareceram. Alguns tios e primos dos irmãos também.

Castiel conversava com Jacqueline, quando a mesma foi surpreendida por Theodor, que aparecera lá, e retirara uma guitarra preta e branca, com um laço amarrada ao seu braço. A loira ficou em choque por cinco segundos e abraçou o irmão, que apenas disse:

— Eu não tive paciência pra embrulhar. — e se retirou do cômodo.

— Sabe tocar? — Castiel indagou.

A loira dedilhara algumas notas, e logo colocara a guitarra ao seu lado.

— Aprendendo.

— Vai a alguma escola?

— Não, minha irmã tá me ensinando. Ela tem uma guitarra.

— A Jessie sabe tocar? — surpreendeu-se.

— Sabe. Pra ser sincera ela arrasa. Há uns quatro anos ela não largava o instrumento.

Jacqueline estranhou quando Jessie se aproximara deles, e logo em seguida correra para a sala. Chegou a cogitar a possibilidade da irmã estar maluca, mas disso ela já sabia há tempos.

A garota percebeu então que um antigo amigo havia resolvido aparecer, e ao perceber que o garoto procurava algum rosto conhecido, saiu correndo, deixando um ruivo com cara de tacho ali, e pulara nas costas do mais alto.

— Oi, Allan.

— Continua com essa mesma mania de pular nas minhas costas?

— Claro.

Allan agora estava mais alto do que a loira. Tinha olhos castanhos cinzentos, e um cabelo cacheado curto e negro, sua pele era tão pálida que chegava a ser estranho e tinha unhas maiores do que as de Jacqueline ou Jessie. Usava uma jaqueta preta de moletom, e calças  jeans da mesma cor. Assim como anos atrás, qualquer misero toque lhe causava urticária.

Castiel, Allan e Jacqueline foram ao quintal dos fundos, junto com uma rodinha formada pelo primeiro e segundo ano do ensino médio. O grupo conversava, e Jessie aparecera. Cutucou as costas de Allan e andou pro lado oposto.

— E aí, JS?

— Como vai, Lan?

Os dois fizeram um High Five, e o garoto aproveitou a deixa pra segurar o pulso da morena e puxá-la pra um abraço. Armin fingiu não ter visto.

— Fazem quantos anos mesmo?

— Acho que uns dois, JS.

— Jessie, por que você se aproximou naquela hora, e depois saiu correndo igual uma maluca?

— Porque quando eu vi essa criança — referiu-se a Allan. — Eu fui buscar uma coisa que lembrasse os velhos tempos.

A garota passou a língua pelos dentes, brincando com um piercing  que lhe atravessava a língua.

— Pera aí, você tem um piercing? — Armin perguntou.

— É,  eu estou surpresa pelo furo não ter fechado. — confessou. — Agora eu vou tirar isso. Incomoda.

E assim a garota saiu correndo para dentro da casa.

— Então, Allan, como soube da festa? — Jacqueline resolveu perguntar.

— Jessie me mandou uma mensagem. Eu não tinha nada pra fazer mesmo. — deu de ombros.

— Nossa. Valeu pela consideração, hein.  — resmungou.

Allan bagunçou os cabelos loiros da garota ao seu lado, e reparou que a mesma batia os dedos na cerca, acompanhando o ritmo de uma música.

— Você é parecida com a sua irmã.

— Ah?

— Essa mania de se envolver com a música, a Jessie tem isso.

— Eu não sei se eu ser parecida com a Jess é algo bom.

— Você deveria se orgulhar disso.

 E deveria mesmo. — Armin pensou.

Jessie voltou à roda de pessoas, desta vez acompanhada por três pessoas. Iris, Kim e Violette.

— Agora que estamos todos aqui. Bem, a maioria — Rosalya pronunciou. — Acho que todos podemos jogar alguma coisa.

As turmas começaram a discutir. Tyler, Rachel, Jason, Leo e Cameron se reuniram num dos cantos pra jogar Uno junto com Jacqueline, Giovanni e Katrina. Allan, Kim e Iris começaram uma competição no Guitar Hero, enquanto Violette conversava timidamente com eles. E o restante do pessoas foi convencido a jogar Just Dance pela platinada. Exceto Jessie e Armin.

— Vocês não vêm? — Rosa perguntou.

— Não. — Responderam em coro.

A garota estranhou, mas decidiu deixar pra lá.

— Ei, eu escondi o PS3 do meu irmão junto com o karaokê lá em cima da casa na árvore. Quer jogar alguma coisa? — propôs.

— Claro.

E assim subiram as escadinhas e sentaram-se no chão de madeira, coberto por um tapetinho de crochê.

— Como aqui é energizado? — o moreno perguntou curioso.

— Gerador. Meu pai e o Theodor instalaram esses dias.

E assim o papo acabou, Jessie tirou o Playstation 3 de uma gaveta do suporte da tevê, e com a ajuda de Armin montou-o na televisão.

Começaram a jogar uma partida de Street Figther, e conversaram sobre um pouco de tudo.

— Como vão as coisas com o seu irmão?

A garota suspirou.

— A gente não se fala desde aquele incidente.

— Sabe, Jessie.... Eu me preocupo com você. — falou sem tirar os olhos da tela. — E se alguma coisa acontecer pode me procu... GANHEI!

— Nossa, eu nunca vou ganhar uma partida disso mesmo?

— Não se preocupa, em alguns anos você pode chegar à uma habilidade um pouco inferior à minha.

— Convencido...

Os olhares dos dois se cruzaram, e Jessie chegou mais perto, e Armin passou seus braços pelos ombros da morena. Continuaram jogando, e os dois queriam que aquele momento durasse para sempre. Mas não foi isso o que aconteceu. Theodor apareceu ali, de surpresa, fazendo os dois se distanciarem em um pulo, lançou um olhar irritadiço a Armin e anunciou que logo cantariam parabéns, descendo logo em seguida.

Armin passou as mãos pelos cabelos, pediu desculpas à Jessie, e imitou o gesto do loiro.

Eu estou lascada. — foi a única coisa que a morena conseguiu pensar no momento.