Jessie olhava as gotas de chuva que caíam na janela daquela sala de aula. Estava completamente entediada, já acabara todas as atividades que o professor de alquimia havia passado. Essa era a sua realidade: Aluna de Sweet Amoris, uma escola para "jovens superdotados".

Todos daquela escola, daquela sala de aula, tinham algum poder ou habilidade especial.

Castiel possuía uma força descomunal;

Alexy era um ótimo sensitivo, sempre notava as mudanças no ambiente, ou no comportamento dos colegas;

Nathaniel tinha a sua super-inteligência incomparável;

Rosalya era extremamente habilidosa com as mãos, seus sonho era ter seu próprio ateliê de moda;

Kentin, um estrategista nato;

Violette desenhava profecias, e até mesmo as enxergava através dos desenhos alheios;

Lysandre possuía uma virtuosidade gigantesca com as palavras, possuía o dom do charme, conseguía convencer qualquer um, a fazer qualquer coisa, isto é, se não fosse contra os seus princípios.

Kim, era ágil e veloz.

Iris, uma garota psíquica, podia levitar objetos;

Jade, usufruía de uma ligação descomunal com as plantas e com a natureza.

Ambre, Li e Charlotte, bem, ninguém nunca entendeu o motivo de elas estarem ali;

Armin, a sua maestria com qualquer coisa que funcionava com circuitos, engrenagens, ou até mesmo objetos tecnológicos, era única. Jessie costumava pensar que ele era um filho de Hefesto. Ele era mais que isso, foi um dos únicos que conseguira, nem que apenas um pouco, se aproximar da morena de olhos azuis.

Jessie, além da sua psicose "secreta", conseguia manipular qualquer ponto dos quatro elementos. Talvez ela seja a mais poderosa de todos eles, mas ela não sabe disso. Tem medo dos seus poderes, tem medo de machucar alguém. Tem medo de ser ela mesma.

Ela sabia o nome de todo mundo, mas duvidava que soubessem o nome dela. Sempre se escondeu atrás da timidez, raramente deixava alguém se aproximar.

A garota passou os olhos pela sala, avistou o relógio velho acima do quadro-negro. Suspirou. Ainda faltava meia hora para o término daquela insuportável aula. Já havia estudado parte da matéria, em uma das suas monótonas tardes. Tirou da bolsa sua pasta de desenhos, e passou alguns minutos terminando de sombrear um desenho qualquer. Ficou satisfeita com o resultado, e guardou novamente a pasta na bolsa, ou pelo menos, achou que guardou. A morena gostava de desenhar, gostava de criar seus próprios personagens, e de se imaginar vivendo a realidade deles.

Um dia — pensou. —Um dia eu crio o meu próprio Anime!

Pra ela, isso era mais reconfortante do que viver na própria realidade. Sempre fora uma garota alegre, animada, na antiga escola era até considerada uma garota maluquinha pelos seus amigos. Mas tudo isso fazia muito tempo. Quanto anos se passaram exatamente? 4?

Desde de que saiu da última escola para "jovens superdotados", não se sentia mais a mesma. A alegria da garota foi arrancada. Se tornou alguém tímido, com medo de interagir com os outros. Com medo de ser traída novamente.

"Por que devo me dar o trabalho de ter amigos, sendo que na primeira oportunidade eles te passam a perna, te traem? Vão embora, esquecem você, e depois arrumam outros amigos melhores, uma vida melhor. E você não faz parte dela." Essa era a filosofia de vida dela, desde os seus 12 anos. Agora com 16, não mudou muito o jeito de pensar.

O sinal tocou anunciando o final do dia de aula. Ela guardou todo o seu material na mochila de panda. Kawaii, diria ela. Levantou da carteira, e dirigiu-se ao clube de jardinagem. Passava a maior parte do tempo desenhando por lá, ela e Viollete se deram muito bem desde o primeiro momento em que se conheceram, e a partir daí, começaram a conversar, e a passar o tempo juntas, desenhando, até a perua escolar passar pra levar as duas para suas respectivas casas.

­— Olá, Vio — a garota se sentou ao lado da amiga, que desenhava alguma coisa, com a sua grande pasta de desenhos verde aberta. — O que está desenhado agora?

— O-Oi Jess — a garota de cabelos violeta sorriu timidamente antes de prosseguir. — E-Eu estava desenhado você.

— Posso ver o desenho? — a garota perguntou com certo entusiasmo.

— E-Eu fiz você, buscando inspiração pra um desenho — ela esticou o braço entregando a folha com o desenho de Jessie. — Já que você passou a maior parte do dia desenhando, não foi muito difícil. Não sei se ficou bom, você é muito b-bonita e muito f-fofa, não sei se captei tudo isso no desenho.

Ao passar os olhos pelo desenho, viu a perfeição que tinha ficado. Os seus grandes cabelos morenos, presos em marias-chiquinhas, com os lacinhos listrados em marrom e bege. A blusa amarela que a garota vestia, com “elásticos” nas mangas, até as pulseiras que a garota usava no braço direito. Os óculos. Tudo retratado com delicadeza e perfeição. Tudo.

— O-Obrigada Vio. Eu amei! — disse à amiga, enquanto se levantava — Eu acho que tem um desenho que eu fiz pra você na minha pasta — ao procurar em cada canto da bolsa percebeu que não achara nem um sinal da pasta — Droga! Eu acho que a minha pasta ficou na sala, você espera aqui, Vio?

A amiga assentiu, e Jessie logo rumou novamente para dentro da escola, e foi para a sala de aula A. Ao abrir a porta e entrar na mesma, se dirigiu logo para o costumeiro local onde ficava sentada, e procurou a sua fiel companheira plastificada. Aliviada, constou que a mesma estava embaixo da carteira, no suporte de livros. Virou-se novamente para ir embora, e ouviu uma voz a chamar.

— Olá, Jessie.

A morena olhou ao redor da sala de aula, na procura de quem teria dito seu nome, visualizou Armin, sentado na última carteira encostada à parede, jogando no seu PSP.

— A-Ah! O-Oi , Armin, eu não tinha te visto aí. — o moreno riu.

— Perdeu sua pasta de novo?

— Foi.. Eu tinha deixado ela aqui, pensando ter guardado na minha bolsa. — a garota sorriu timidamente, e dirigiu-se à porta. — Tenho que ir, Armin, a Violette deve estar me esperando.

— Até mais.

— Tchau.

Assim que colocou os pés no corredor, ouviu uma voz familiar lhe chamando: Rosalya. Não importava quantas vezes a garota falasse que não queria sua companhia, Rosa sempre dava um jeito de chegar perto dela, acompanhada de Alexy, o irmão gêmeo de Armin.

Esses dois de novo não! — pensou. — Não entendem que eu prefiro ficar sozinha?

Ela apertou o passo, na tentativa de escapar, mas não teve jeito, foi parada por eles no caminho, que correram até ela

— Ei, Jessie, por que não se senta conosco no intervalo, amanhã? — Rosa insistia, mesmo sabendo a resposta.

— D-Desculpe, e-eu prefiro ficar sozinha.

Só de pensar em falar com qualquer pessoa, Jessie ficava nervosa e começava a gaguejar. Eram dois desconhecidos, que há 4 anos consecutivos tentavam a amizade dela, e ela sempre arrumava uma maneira de se esquivar das tentativas. Era muita carisma pra apenas duas pessoas, e isso deixava a morena desconfortável. Antes que pudessem dizer algo, ela correu dali até o pátio, onde já avistava a perua estacionando do lado de fora da escola, foi até o clube de jardinagem falar com a amiga.

— Ei, Vio, a perua jpa chegou, vamos? — Violette assentiu, e acompanhou a amiga.

No caminho, as duas ficaram conversando, e Jessie entregou o desenho, finalmente, ao seu destinatário.

— Ficou muito bonito, Jess. O-Obrigada.

A morena nem prestava atenção no que a amiga falava, estava preocupada, novamente com medo. Com medo de si mesma, de todas as escolhas que fez. Com medo de confiar nos outros, e com medo das consequências que teria caso abrisse a porta à platinada e ao azulado, que tentavam todo dia, convencer a garota a juntar-se a eles.

Como costumava dizer:

A vida que eu crio aos meus desenhos, é bem melhor do que a vida que eu venho levando.