Chaos escrita por Diane


Capítulo 8
Capítulo 7 - Sorte. Pura sorte?




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Perspectiva de Rosie.

 

 

Existiam várias coisas no mundo que Rosie detestava. Voar de avião, comer pizza gelada, zerar as vidas no candy crush em uma fase difícil, quebrar o salto e cair de cara no chão em publico, cair de bicicleta, vomitar no avião — e pior, na cabeça de um pobre passageiro que teve o azar de sentar na frente dela. Mas nada era tão detestável quanto choro. Ela detestava choro, ver pessoas chorando. E era pior quando era ela chorando.

Rosie nunca foi uma pessoa emotiva, aquela pessoa que chora vendo Marley & Eu e Titanic. Ela podia contar nos dedos as vezes que chorou de verdade. Quando ela caiu da escada quando tinha seis anos, quando caiu do topo da árvore e quebrou a perna com nove e quando seu cachorrinho, Bob, morreu. Bom, pelo menos era essas as vezes que ela se lembrava.

E agora ela estava chorando, imaginando onde seus tios estariam. Mortos? Ou torturados por Trivia?

Ela nunca tinha visto essa Trivia na vida, mas não pensaria duas vezes em arrancar a cabeça dela. 

Então Rosie parou de chorar e sentiu uma súbita vontade de se estapear. Ela estava sendo uma idiota. Quantas vezes ela tinha dito paras as amigas: "Se você ficar chorando, a vida não vai se resolver sozinha"? Milhares de vezes. 

Se você ficar chorando, disse para si mesma, a vida não vai se resolver sozinha. Mark e Cathe não vão reviver com suas lágrimas e tampouco vão ser libertados do cativeiro se estiverem vivos. 

Ela respirou fundo e enxugou as lágrimas. Foi até o espelho e viu seu reflexo. O nariz e as bochechas dela estavam avermelhadas, como sempre ficavam quando ela chorava. Ela queria ter maquiagem  ali, mas maquiagem seria um recurso de se achar. Christine, Mary, Kimberly, Ilithya, nenhuma delas usava maquiagem, porque a genética de descendente de deuses era injusta e elas eram perfeitas naturalmente. A única que gostava de usar maquiagem era Vanessa e Rosie não se sentia á vontade para pedir maquiagem para a ex-namorada de Damien. Principalmente com aquela cara de choro patética.

— Eu estou patética — disse para seu reflexo.

Barulho de algo se chocando contra a janela chamou a atenção dela. Quando viu, tinha um gato de olhos azuis batendo no vidro. Mingau. 

Ela até a janela e viu Mingau empoleirado no batente da janela e Damien, mais abaixo, segurando as pedras que compunham a parede. 

— Vocês escalaram a janela do meu quarto! — Ela soou incrédula.

Tigre olhou para ela com aquela expressão arrogante e cínica que todo gato consegue fazer.

— É, exatamente isso, agora abre a janela senão  ele vai cair de bunda no chão — Ele apontou para Damien.

Rosie ficou encarando os dois por cerca de dois segundos. Seu lado malvado se sentia tentado a fazer Damien ficar lá parado, só para ver quanto tempo ele iria aguentar se segurar nas pedras. Garotos não sabem o que é privacidade? Se ela trancou a porta, era para ninguém entrar, caramba!

— Só vou abrir porque sou muito boazinha — E abriu a janela. 

Mingau pulou graciosamente para dentro. Damien pulou a janela e caiu sentado no chão, ofegante.

— Eu deveria ter vindo voando — Ele murmurou — Vai tentar escalar, trouxa... 

— Você deveria ter comparecido nas aulas de treinamento físico — Mingau disse, amavelmente — Até um humano escala melhor que você.

Discriminação com humanos. Rosie se sentiu tentada a jogar o gatinho pela janela, mas se lembrou que o gatinho virava um tigre gigante. Ela imaginou a cena de Damien voando até a janela dela, com aquelas lindas asas e de preferencia... sem camisa. 

Para de ser tarada, foco, pensou.

— No você está pensando? — Damien perguntou — Você está com uma cara esquisita.

Damien era uma coisinha engraçada, nas horas que você precisava que ele fosse lerdo... ele não era lerdo. Isso era bem frustrante.

 —  Nada demais —  Rosie fez um gesto de desdém com a mão.

Mingau se sentou no chão e começou a lamber as patas. 

— Você está vermelha — Mingau disse. Oh, deuses, Rosie detestava quando  ficava corada — Você estava chorando.

Ah, isso. O gato acho que a vermelhidão era por causa do choro e não por pensamentos... 

— É — disse — Não sei se meus tios estão vivos ou se estão sendo torturados por Trivia. 

O gato — O de quatro patas, não o de olhos verdes — olhou para ela, compadecido. Damien ficou olhando para o chão, sem saber o que falar ou fazer.

— Sabe, dizem que abraçar um gato ajuda a afastar a tristeza — Mingau pulou para o colo dela antes que Rosie pudesse protestar.  

Ela abraçou o gatinho. 

— Eu preciso de ajuda para achar meus tios. Onde eles estiverem. 

 

 

Perspectiva de Mary. 

 

— Isso foi totalmente irresponsável — Ilithya disse, finalizando o discurso.

Mary sabia que iria dar nisso. Ela tinha feito bem em se esconder no quarto antes que inventassem dela abrir o portal.  Ela abaixou o livro e se virou no sofá, que dava vista para a cozinha. 

Sam, Chris e Alec estavam sentados na mesa pequena da cozinha enquanto Ilithya discursava e Raphael surrupiava os bombons da geladeira — pelas costa de Ilithya, claro. Sam, pobre Sam, estava com a cara abaixada, se ele estava com o rosto abaixado para esconder o riso ou para aparentar humildade, Mary não sabia. Alec estava dormindo, é, isso mesmo, dormindo. E Christine estava olhando para o teto e sentada do lado mais próximo da geladeira e compartilhava bombons com Raphael sem que Ilithya percebesse. Ilithya parecia bastante feliz discursando. Ela adorava isso. 

Então Vanessa saiu do outro sofá e foi até Ilithya, tirando a loira do seu topor. 

— Titia, quando vou ir para as pirâmides? Agora depois da assembleia tudo deve estar se acertando — Vanessa falou animadamente — Thanatos vai poder ir?

— Não. Nem você e nem seu... — Ilithya não sabia o que falar, obviamente —  consorte vão poder ir.

Vanessa estancou, perplexa. 

— Por que eu não posso ir? 

Ilithya revirou os olhos, como se fosse falar algo difícil.

—  Você vai ser um peso morto lá. Inútil. A pirâmide é uma força militar. É melhor você ficar aqui, para a sua segurança —  A loira disse  —, Vanessa... 

Mary esperou que Vanessa gritasse, esperneasse e protestasse. Mas não, ela ficou quieta e subiu correndo para o quarto. Quando ela passou perto de Mary, a ninfa pode observar que o queixo da ruiva tremia. Se era de raiva ou de frustração, Mary não sabia dizer. 

 — Quando que a loira oxigenada e o neandertal  vão sumir daqui? — Christine perguntou, nem um pouco gentilmente.  

Raphael tampou a boca para não rir.

— Suponho que o neandertal seja Thomas? — perguntou.

 Christine assentiu maldosamente e começou a rir. Ilithya permaneceu com a expressão inalterada. Mary não entendia isso, o porquê deles detestarem Thomas que era tão gentil e atencioso.

 — Jake, Kimberly e Thomas vão partir amanhã à noite — Ilithya falou.

 A morena ergueu as mãos para o alto. 

 — Graças aos deuses! Estou livre dessas pragas!

 Ilithya paralisou e encarou Christine.

 — Você está comendo minhas trufas! 

 Sam começou a rir histericamente.

 —  O seu amante também está furtando suas trufas, olha ele ali, na geladeira — A feiticeira morena apontou.

 Raphael fechou a geladeira na velocidade de um raio e escondeu as trufas. 

 — O que? Eu? Mentira, Ily. 

 Daria para acreditar nele pela cara, mas o canto da boca dele estava sujo de chocolate branco e calda de morango. 

 Ilithya passou os dedos vagarosamente pelo canto da boca de Raphael e depois colocou os dedos na boca.

 — Eu adoro calda de morango — ela disse com um olhar malicioso.

 — Tem menores de dezoito aqui! — Sam disse, quebrando o clima — Vão se agarrar mais tarde, por favor. 

 Ilithya e Raphael talvez quisessem matar Sam. 

 — Vamos embora. 

 A feiticeira loira abriu um portal e puxou Raphael junto com ela. 

 Christine se levantou e chacolhou o ombro de Alec para acorda-lo. 

 — O sermão já acabou —  disse — Você devia ter ficado acordado, teve trufas. Só que Ilithya e Raphael levaram as trufas com eles agora.

 — Nem quero saber o que eles vão fazer com as pobre trufas — Sam sacudiu a cabeça.

 Alec fez um gesto de exasperação e os três foram jogar videogame no lado mais afastado da sala, de uma maneira que os sons irritantes não perturbassem a leitura de Mary. 

 Mary voltou a ler seu livro, Júlio César de Shakespeare. Era um dos livros que Mary mais gostava, não pelas conspirações politicas, mas sim pelas cenas entre Cleópatra e Marco Antônio. Ela já tinha lido e relido o livro várias vezes, mas a leitura nunca perdia a graça. 

 Cerca de meia hora depois, Alec sentou no sofá do lado dela.

 — Júlio César de Shakespeare? — Ele perguntou, cético, com uma expressão de "quantas vezes você leu esse livro mesmo?"

 — É.

 —  Acho que esse livro devia se chamar Brutus e não Júlio César —  O vampiro disse —  E tem várias contradições, em uma cena Júlio César é descrito vestindo um casaco isabelino e não uma toga romana. E também tem  uma cena onde um relógio toca. Relógios desse tipo não existiam em Roma antiga. 

 Era típico de Alec, só criticar. Na primeira vez que Mary viu Alec, ela pensou que ele tinha um aspecto divino, como ela imaginava os príncipes e reis dos livros. Depois que conheceu ele e suas ironias, ela descobriu que ele não tinha nada de semelhante com os personagens que ela tanto amava. 

 Mary estreitou os olhos. Alec nunca foi de conversar muito com ela, ele sempre estava conversando com Christine e Sam, na maioria das vezes. 

 — Acho que ler tanto esses livros faz mal para você —  Por fim, ele disse — Você acaba confundindo a personalidade de pessoas reis com a dos personagens. 

 Era isso, uma alerta sobre Thomas. Mais cedo, Sam tinha dito à ela que Thomas não parece ser o anjo que aparenta, depois, Vanessa insinuou que Thomas não prestava. 

 — Thomas é um imbecil egocêntrico — Alec disse — E ele só vê você como uma próxima conquista. Quando ele conseguir o que quer, e todos nós sabemos que ele só quer levar você para a cama, ele vai deixar você. Bom, é isso. Eu não tenho paciência para ser gentil e delicado ao avisar. Essa é a verdade e você já é bem grandinha para ouvir a verdade que ninguém quis te contar para não magoa-la.

 Mary ficou parada, encarando os olhos negros dele. 

 Ela não acreditou nem um pouco nele, como também não acreditara nas insinuações de Vanessa e Sam. Nas vezes que conversara com Thomas, ele havia sido gentil e simpático. Talvez um dia ele tenha sido assim, realmente, mas ele deve ter mudado. As pessoas mudam.

 — Vocês estão supondo coisas demais. Eu só estava conversando com ele — Mary se defendeu — Eu não sou uma princesinha indefesa.

 Por algum motivo, Alec estava olhando para Sam enquanto falava.

 — Mary, todos nós vemos a sua carinha de apaixonada quando olha para Thomas. Para você ele é um príncipe que saiu dos seus livros. Ele não é o que você gosta de imaginar, ninfinha. 

 — Acho que ele mudou. As pessoas mudam — Mary disse.

 Alec olhou para ela, cético. 

 — Ninguém vira santo de uma hora para outra. 

Então ele provavelmente perdeu a paciência e voltou para o sofá deixando-a sozinha. Mary achava aquilo ridículo, todos começarem a alertarem para ficar longe de Thomas quando ela nem tinha certeza se ele gostava dela. Provavelmente Thomas só a via como amiga, como todos garotos a viam.

 

 

Perspectiva de Christine.

 

— Então... ela ouviu você? — Sam perguntou.

— Nem um pouco. Ela ainda acha que Thomas é um santo — Alec respondeu. 

Pausei o videogame.  

— Acho que ler romances demais está fazendo mal para aquela criatura — admiti.  

Sam me olhou feio. 

— Ela não é uma criatura. 

— Ela é uma criatura ingênua — falei.

— Você é uma criatura arrogante, fria e cruel — o elfo disse. 

Eu me ofenderia se fosse mentira. Olhe, eu tenho que admitir que não sou a humildade em forma humana. E que às vezes eu sou bem fria, só às vezes. Quanto ser cruel... er, bem, tem algumas coisas que já fiz que podem ser consideradas cruéis pela maioria das pessoas, mas eu prefiro pensar que foi em legitima defesa. 

Alec começou a rir.

— É, todos nós sabemos que Christine é assim.

— Alec, cala a boca porque você é ainda pior que eu.

— Não sou.

— É sim.

Sam olhou feio para nós dois.

— Vocês não estão preocupados com Mary. 

Suspirei.

— Sam, você tem que entender que não podemos amarrar Mary no quarto dela e forçar ela a se afastar de Thomas — falei.

— Thomas vai ir embora amanhã à noite. Ele não vai conseguir seduzi-la nesse tempo —  Alec disse.

Sam, por algum motivo, saiu do sofá e foi para o quarto, resmungando coisas sobre como ele deve fazer musculação.  

Resolvi voltar a jogar o videogame.

 

 

[...]

 

 

Sabe aquele momento em que você está quase passando de fase no jogo? Quando falta cerca de um só segundinho para você entrar na outra fase e você já está se sentindo vitoriosa? Eu estava nessa fase, pensando coisas como "Hahaha, Alec, te passei, imbecil. Toma essa". Então, a tela ficou preta.

Ok, crianças, todos vocês sabem que a titia Chris é uma pessoa muito educada e que raramente fala palavrões, mas eu admito, falei coisas que não posso escrever aqui.

Alec  arremessou o controle na criatura que desligou a Tv, que por acaso, era meu excelentíssimo irmão, Thanatos. Sim, eu tenho que especificar qual é o irmão porque minha mãe deve ter uns trezentos filhos por aí. Não a culpo, ela está viva a sei lá quantos bilhões de anos. Provavelmente não tem nada para fazer, aí ela vai fazer filho.

Eu queria matar Thanatos. Arrancar a cabeça dele, arrebentar as costelas dele... Oh, eu sei que Vanessa surtaria se eu fizesse isso, mas acho que ela iria se recuperar. Claro que iria. 

— Praga infernal! — Eu gritei? Acho que sim — Por que você fez isso? Quer morrer?

Alec não ligou. Só porque ele estava perdendo. 

— Calma, irmãzinha — Ele sorriu e eu pensei seriamente de jogar a TV nos dentes dele, mas concluí que não iria valer a pena — E não, você não pode me matar. Eu sei que você quer me matar. A mamãe falou que se você me matar vai ter que se entender com ela.

Que bonitinho, ele sabia que eu queria mata-lo. Mas, pensando bem, o que mamãe faria comigo? Me matar? Ela não teria  coragem, certo

— Some da minha frente! — falei, gentilmente e tirei minha bota. Cano alto, de couro e com salto afiado e fino. Iria doer bastante se acertasse a cara de um infeliz. Sim, eu aprendi com Vanessa.

— Não posso. Lembra que a nossa mãe falou que eu tenho que treinar seus poderes? Vamos, levanta sua bunda do sofá. 

Alec começou a rir. 

— Treinar os poderes dela? Nem minha tia conseguiu fazer os poderes dela funcionarem. Boa sorte.

É muito triste isso. Eu, uma filha de Nyx, devia ser aquelas feiticeiras tipo Morgana, poderosa, fazer algumas explosões e etc. Meus poderes funcionam raramente, só em situações de vida ou morte. Em outros casos, nem um cristal eu consigo levantar.

Bati a almofada na cabeça de Alec.  Eu não precisava de ninguém tirando uma da minha cara. E por algum motivo, ele começou a rir mais ainda.

 

 

 

[...]

 

 

 Comecei a detestar vasos. Sério.

Lá estava eu, no meu quarto, encarando um vaso branco e simples que estava na mesinha, bem na minha frente. Thanatos disse que era para mim fazer alguma coisa com o vaso: Jogar na parede, mover ele ou sei lá, qualquer coisa— Desde que não fosse jogar o vaso na cabeça dele, o que eu estava muito tentada a fazer — só que sem usar as mãos. Mover o vaso com a força da mente.

É obvio que eu não conseguia. Se nem  um cristalzinho eu conseguia mover, quanto mais um vaso. 

— Não é melhor fazer isso na sala?— Perguntei inocentemente, mas na verdade eu queria estar na sala para ver TV.

— Não! — Thanatos e Alec disseram ao mesmo tempo.

Thanatos estava encostado na parede, observando o vaso com uma cara de tédio absoluta. Acho que ele estava se arrependendo de estar vivo. Alec estava deitado na minha cama e com cara de riso. Ele só estava ali para cronometrar quantos minutos Thanatos iria levar para declarar que eu era uma caso perdido. E eu sei disso porque consigo ler a mente dele.

— Por que não? 

— Não quero que você exploda a TV — Alec disse isso embora não tivesse muita fé que eu pudesse explodir algo. Mas tudo pelo bem da preciosa TV.

— Se você ficar na sala, você vai só se concentrar no videogame — Thanatos disse e era verdade — Vamos, se concentre no vaso.

Encarei o vaso. Vamos vasinho imbecil, pule da mesa, implorei. Alec tentou disfarçar uma risada. Quem precisa de inimigos quando seu amigo é essa coisa maldosa?

Ignorei a criatura e me concentrei no vaso. Imaginei que mãos imaginarias moviam o vaso para a esquerda. Sério, pensei que fosse funcionar, mas não funcionou. Foquei-me na porcelana branca do vaso, imaginando ela rachar. Não funcionava. 

Fiquei encarando o vaso até minha visão ficar embaçada. A porcaria não fazia nada. Movia as mãos da um lado e outro, igual uma idiota — Tenho certeza que eu estava parecendo bem idiota fazendo aquilo — e nada.

— Thanatos, minha mãe deixou você vivo para me ensinar a usar meus poderes e não para me fazer encarar um vaso — Quase gritei.

— Até uma criança feiticeira consegue fazer isso — Ele ergueu as mãos para o alto — Não é minha culpa que você é uma inútil. 

— Você quer levar um soco na cara? — Perguntei, amavelmente.

— É, faça isso. Prove que você é um desastre de feiticeira. Outros feiticeiros só lutam com magia, eles não precisam de armas. Ilithya precisa de armas? Damien precisa de armas? Não, só você.

Esse é Thanatos, a única pessoa que consegue fazer o ato de socar parecer uma fraqueza.

"Quer que eu queime o vaso e diga que foi você?" Alec perguntou, dessa vez ele estava falando sério, não zombando. Ele deve ter percebido o quão irritada eu estava. 

— Não! — Gritei. Ops, esqueci de responder por telepatia. 

Thanatos arqueou uma sobrancelha.

— Alec, não é para você ajuda-la. Você disse que veio aqui só para observar.

É, observar. Observar eu passando vergonha para ter algo para usar contra mim em alguma próxima discussão. 

"Como você me julga mal", ele disse. "Se fosse eu no seu lugar, você estaria fazendo o mesmo, acho que até estaria rindo". 

— Faça algo, Christine — Thanatos disse — Eu não tenho todo o tempo do mundo.

Sorri maldosamente. Achei o ponto fraco dele.

— Claro que não tem. Agora é um mortal e vai envelhecer. 

Ele me ignorou, mas os olhos dele começaram a brilhar de raiva.

— Você é tão engraçadinha. Só por que teve sorte. Nos ataque de Trivia você teve a sorte de só lutar com as bestas e descendentes de deuses inexperientes. No ataque de Caos, você também teve sorte de conseguir mata-los rápido. Mas um dia você vai encontrar um descendente de deuses poderoso. Um do tipo que não dá para matar rápido com uma adaga, sorte, técnica e trapaça. Aí você vai morrer. Porque não tem seus poderes. 

Minha vontade era pegar o vaso e arremessar na cabeça dele. Mas se eu fizesse isso, iria provar que era fraca.   

— Eu estou vivo à milhares de anos e nunca vi uma criança de Nyx ser tão fraca quanto você. Filhos de Nyx são feiticeiros poderosos que marcam a história. Você não. Você foi poderosa na sua antiga vida, como Diana. Agora você é só uma sombra do que Diana foi. Uma sombra bem fraquinha, na minha opinião —  Ele continuou — Você sobreviveu à sacerdotisa da Balança por sorte. Matou um dos generais de Trivia por trapaça. Uma hora não vai ter agulhas para você usar. Você é fraca. O desastre que Nyx tanto ama.  

Eu estava com raiva. Não, eu não me importava com a opinião de um deus caído e fracassado. Eu me importava porque era verdade o que ele estava dizendo. E a verdade doía.  

Não sei como aconteceu. Eu estava lá parada, nem me movi. Em um segundo um estrondo cortou o ar e Thanatos foi arremessado até a parede oposta. A parede ruiu e ele atravessou a parede, direto para o corredor. Depois, o vaso voou e foi arremessado encima dele.  

Fiquei parada estática. Só encarando. Fui eu que fiz isso?  

Alec pulou da cama.

— Meus deuses, acho que você matou meu cunhado!


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Thanatos voando, Rosie tarada, Mary besta...