Chaos escrita por Diane


Capítulo 17
Capítulo 17 - Marionete




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Perspectiva de Christine.

Eu sabia que eu estava sonhando porque aquilo nunca iria acontecer na vida real. Mesmo.

Bom, pelo menos espero. 

Eu estava em uma sala parecida com cômodos da era Elizabetana, a cena era tão realística que dava até para sentir um leve cheiro de poeira. Tinha uma mesinha com xícaras de chá de camomila. Eu estava sentada em uma poltrona e adivinhe quem estava na outra? Chaos.

Comecei a gargalhar. Bom, agora dava para dizer para as pessoas que eu já tomei chá com o deus do caos.

Ele— ou ela? Tá, esquece — ficava mudando de forma a todo instante, em todas elas, a sobrancelha estava levantada. 

— Algum problema, querida? — Chaos perguntou.

 

— É para deixar você calma. Prevejo que você irá se estressar muito ainda hoje. 

— Nada exceto o fato que o deus do caos está me servindo chá de camomila. 

 

Que lindo. Além de tudo ele virou um profeta. 

— Vai me mostrar alguma suposta cena da minha morte futura? — perguntei, casualmente — A última não deu certo. 

Estendi a mão para chá e bebi um gole. Estava até que gostosinho. Algumas pessoas devem achar má ideia beber um chá servido pelo deus do caos, mas era um sonho. Ele não podia me envenenar por sonho.

— Você é uma criança irritante — Ele comentou.

Se eu fosse contar quantas vezes as pessoas me disseram que sou irritante...

— Você é mais, todos esses planos de dominação mundial, destruir tudo, e essa coisa de ficar mudando de forma toda hora dóis meus olhos. 

Ele parou na forma de mulher-serpente.

Balancei a cabeça. 

— Não tem uma mais bonitinha?

Ele parou,por fim, na forma de um soldado romano. Não gostei muito dessa. Ele parecia demais com Thanatos e eu para meu gosto. Eu já tenho uma relação muito afetuosa com meu irmãozinho, não precisava saber que ele era uma cópia do deus do caos praticamente. 

— Que cara é essa, menina? Não percebe que herdou sua beleza de mim?

E saber que sou parecida com o deus do caos também não melhorou meu dia.

— Você seria mais legal se fosse um vovôzinho típico. Sabe, ficar o dia inteiro pescando e contando historinhas. Essa fascinação por destruir o mundo não faz você parecer divertido.  

Chaos definitivamente é o pior avô do mundo. Ou avó. 

— Prefere assim? — Aí ele virou um velhinho suspeitosamente parecido com Hitler. 

Trágico, mesmo. 

— Não, essa me faz pensar que tenho parentesco com Hitler. 

— Bem, nós nos desviamos bastante do assunto por hoje, então vamos começar — O Hitler vovó pegou mais chá e se tornou Apófis, a mulher-cobra — Vamos falar sobre sua mãe. 

Eu podia anotar aquilo na minha lista de coisas mais esquisitas que já vi. Hitler idoso virar uma mulher cobra. 

— Tenta virar uma vovó normal. As suas escamas estão me desconcentrando. 

A mulher cobra virou uma velhinha fazendo tricô. Seria uma velhinha normal se não tivesse uma cara tão psicopata. Aquela definitivamente era uma vovózinha que dava medo.  

— Como eu estava dizendo, Nix mentiu para você a sua vida inteira...  

— Você não sabe como essa frase parece clichê — Revirei os olhos — Se você quiser me colocar contra minha mãe, sugiro que comece com uma frase melhor. 

Os olhos da velhinha brilharam. 

— Quer uma frase melhor? Okay, anjinho da vovó. Seu pai não está morto. 

Pisquei. 

— Ei, vovó, eu estava esperando que você fosse mais criativa — Revirei os olhos — Quer que eu mostre o atestado de óbito dele? 

— Aquele cara era um amante mortal qualquer da sua mãe. Não é seu pai. 

— De qualquer forma, minha mãe teve algumas centenas de amantes mortais. Não dá para fazer teste de DNA com metade dos homens do mundo. 

Trágico, mas a verdade. Talvez o cara que vendia sorvete na rua fosse meu pai, olhando por esse ponto. 

— Seu pai não é mortal, praguinha.

— Não me chame de praguinha. Isso não faz você parecer uma avó boazinha. 

— Ah, que se dane. Mas então, continuando... Você nunca se perguntou por que Nyx a manteve afastada dos descendentes de deuses e perto de mortais?— Os olhos da vovó maligna brilharam. 

— Ela disse que na minha vida passada eu tinha matado muitos mortais e dessa vez eu precisava conviver com eles para ter misericórdia — Respondi automaticamente.  

— Vamos lá, até você tem que admitir que isso é moralista demais para Nyx.  

Ok, sério. Aquilo fazia sentido. Minha mãe que nunca se importa com nada, de repente, se preocupar com mortais e minha convivência com eles? Tá, era esquisito. Mas pensando bem, deuses geralmente tem umas ideias esquisitas que dão até medo. Essa certamente não foi a ideia mais esquisita da mamãe.

— É. Então você admite, netinha linda da vovó. 

Quando o próprio Caos te chama de netinha linda da vovó, você percebe que,tipo, a situação é grave.  

Caramba, eu só queria uma família normal. Sem irmãos loucos, avós do mal.

S abe por que ela fez isso?

Revirei os olhos.Detesto admitir que eu não sei alguma coisa. Na escola e na faculdade, eu preferia consultar livros para esclarecer dúvidas do que perguntar diretamente ao professor. Dói admitir que eu não sei alguma coisa. 

— Fale. 

— Por que é muito mais fácil ensinar um cachorrinho filhote a dar a patinha do que um cachorro adulto. 

— Eu não sou um cachorrinho. E não tenho patinhas. 

Chaos, ainda na forma de vovó do mal, pegou minha mão. 

— Que patinha fofa da minha netinha. 

Sorri adoravelmente e cravei as unhas na pata da velha. A forma que ele estava usando era frágil, a pele enrugada se partiu e sangue dourado escorreu. Minhas unhas não são grandes, normalmente eu corto elas para quando eu socar alguém, evitar cortar a palma da mão —  É, eu sempre preciso socar alguém —, mas no sonho ela estava grande e afiada. Quase como  garras. 

A velhinha afastou minha mão com força demais para uma senhora idosa. 

— Entenda, criança, ela te afastou de seu pai, dos descendentes de deuses, de todos, apenas para poder te manipular melhor. Ela queria que você não enxergasse ela como a poderosa e cruel Nyx como você a enxergaria se tivesse sido criada entre os descendentes de deuses, mas sim como mamãe. Você não morreria para ajudar uma deusa, mas pela sua mamãe...

— Isso me parece apenas uma teoria de conspiração idiota. 

— Apenas pense seriamente sobre isso. 

Aí, como em um estralo, eu acordei. De repente eu estava na minha cama, com meus gatos cochilando no meu cabelo e congelando de frio porque a janela estava semiaberta. 

Me levantei para fechar a janela e quase me esqueci da armadilha. Não me julguem, se você quer deixar uma janela aberta em um lugar com vários assassinos profissionais, você tem que tomar algumas pequenas precauções. Meia dezena de facas voaram na direção da janela, e caíram para fora da pirâmide. 

Esperava, sinceramente, que ninguém estivesse dando um passeio noturno. 

Pulei novamente na cama e fechei os olhos para dormir.

Então, pela primeira vez na minha vida, provavelmente, tive insônia. Sim, vai chover adagas, eu, Christine Caudermoon, o ser que mais dorme no mundo, não consegui dormir.  

"Alec, criatura irritante, seu vírus de insônia me contagiou", falei por telepatia. 

"Me deixe dormir..." 

Revirei os olhos.

"Do que adianta ter telepatia se você não pode nem conversar um pouquinho durante a noite?"

 

Só que a criatura já tinha voltado a dormir. 

Quando você percebe que Alexander Kroell está dormindo e você não, sei lá, da uma sensação que parece que o fim do mundo está próximo.

Virei para o outro lado da cama.  

Você é muito idiota, Christine, pensei, está fazendo exatamente o que Chaos quer. 

Chaos queria que eu ficasse desconfiada da minha própria mãe. E era exatamente isso que estava acontecendo.  

Ela é sua mãe, palerma. Ela nunca te manipulou. Tá, é suspeito ela ter criado você com mortais, mas vai saber, deuses são estranhos. E seu pai está morto. Agora vai dormir que amanhã você tem que acordar cedo.  

Enfiei a cara no travesseiro. 

Sei lá, sempre fui boa em saber se as pessoas estavam mentindo para mim. Uma parte de mim sentiu que havia um pouco de verdade no que Chaos estava dizendo.

"ALEXANDER!". 

"Tenha sua crise existencial amanhã, eu quero dormir...". 

Criatura inútil.  

Tá, Chaos era um animal perverso, manipular, louco, sem ter o que fazer da vida, e ele realmente precisava de terapias para tirar aquela mania de destruição. Eu realmente devia dormir. Eu estava fazendo o jogo del, daquele jeito, ficando preocupada e desconfiando da minha própria mãe.  

Mas... E se ele estivesse falando a verdade? 

Mas ele era o deus supremo do caos. Ele não iria falar a verdade. 

Exceto se a verdade fosse pior que uma mentira. Pulei da cama. Você não vai fazer isso, uma parte de mim gritava, criaturinha idiota.  

Tudo bem, até gênios precisam fazer algumas idiotices de vez em quando.  

 

[...]

 Primeiramente, peguei meu celular e liguei para minha mãe.  

—Oi, mãe.

— Vai dormir. 

— Abre um portal, eu preciso conversar com você. 

Eu podia quase vê-la revirando os olhos.  

— O que você quer falar essa hora? Não dá para esperar até amanhã? 

Se fosse uma pessoa normal falando isso, eu levaria na boa. Mas era minha mãe, a deusa dos mistérios, aquele ser que sabe de tudo, praticamente. Ela sabia sobre o que eu queria conversar com ela e estava tentando me fazer desistir da conversa para ela ter tempo de construir argumentos melhores. 

Ou talvez ela só estivesse apenas querendo dormir e estivesse sendo neurótica mesmo. 

— Mãe, preciso falar pessoalmente. Não vou conseguir dormir se não falar... 

— Ok, o portal está aberto.

  

[...]

 

Perspectiva de Ilithya.

  

Ilithya não estava se sentindo bem, por algum motivo. Desde que fora dormir estava agitada, e enquanto dormia também, julgando pelas contusões de Raphael. Ela devia ter chutado eles umas vinte vezes.  

— Estou começando a cogitar a ideia de ir dormir no meu quarto — Raphael murmurou depois do vigésimo chute.

Não era por mal. Não era culpa dela, era culpa dos malditos pesadelos.  

Era cerca de três horas da madrugada quando Ilithya decidiu que não iria ficar parada naquela cama olhando para o teto. Sua mãe sempre dizia que a intuição nunca erra. Ela sabia que algo muito ruim iria acontecer, e ela não iria ficar ali, igual uma inútil. 

Tudo bem, ela não podia convocar uma reunião e dizer:"Oi pessoal, estou com uma má intuição, acho que devemos nos armar e ficar em posição, porque Chaos vai querer invadir isso aqui". Ninguém levaria ela à sério. Não importa se vampiros, feiticeiros, elfos, monstros e deuses existem, a intuição sempre vai ser considerada uma espécie de mito.  

A feiticeira se desvencilhou de Raphael que tinha a mania de achar que ela era um urso de pelúcia, jogou as cobertas dela nele e saiu da cama. Colocou seu moletons e sua blusa mais respeitável ( Ninguém parece poderoso de pijama, mesmo). 

Aí ela começou a perambular pelos corredores, até que decidiu sair da Pirâmide e ficar recostada no portão. Se houvesse uma invasão, ela veria e lá do lado dela tinha um alarme para emergências. O ângulo que ela estava era bom, as sombras das Pirâmides a cobriam, dificilmente algo  a veria. 

E de qualquer forma, talvez ela só estivesse neurótica. 

 

 

Perspectiva de Christine. 

  

Minha mãe estava sentada no sofá da minha antiga casa, com um livro sobre astronomia na mão — Tá, se ela é a deusa das estrelas e de tudo mais, porque ela estava lendo astronomia se já sabia de tudo? Não entendo deuses — era uma cena tão normal que poderia ser uma cena que eu me depararia anos atrás. Tipo, eu poderia estar no meu antigo quarto, na minha antiga vida e ser apenas uma criança irritante que resolveu assaltar a geladeira durante a noite e encontrou a mãe na sala. 

Eu praticamente podia ouvir ela dizendo:"Chris, você ainda vai pesar duzentos quilos". 

Ignorem, normalmente fico muito nostálgica durante a madrugada. 

Ela abaixou o livro. 

— O que foi? 

Bom, o que eu poderia dizer? "Hum, mãe,  eu sonhei com Chaos e ele disse que você é uma manipuladora e que você me enganou o tempo todo sobre meu pai. Bom, isso é verdade?". 

Se eu falasse isso, ela iria me mandar pro inferno. Talvez literalmente. 

Ok, seria melhor começar com as perguntas mais simples. 

— Por que você me criou entre os humanos? 

Ela revirou os olhos.

— Talvez seja porque na sua vida passada você foi uma psicopata sanguinária que massacrou humanos. Achei que seria bom se você não tivesse tanto ódio de humanos. 

— Se eu fosse criada entre descendentes de deuses não faria a menor diferença. Descendentes de deuses não odeiam humanos. 

— Mas você se sentiria superior aos humanos. 

Isso não mudaria em nada, porque eu tenho uma péssima tendência a me sentir superior a qualquer tipo de ser. Admito, sou arrogante e presunçosa. 

"É muito mais fácil ensinar um cachorrinho filhote a dar a patinha do que um cachorro adulto" 

— E meu pai? Está morto mesmo?

— Claro que está, a menos que ele tenha virado um zumbi e levantado do túmulo e eu não esteja sabendo.

 Olhei nos olhos delas. Ah, droga, ela estava mentindo. Eu sou boa em saber quando as pessoas estão mentindo, e ela é minha mãe, conheço esse ser. Ela estava com o mesmo olhar de quando eu tinha seis anos e meu peixe morreu, minha mãe tinha olhado para minha cara com esse olhar e disse: Ele está dormindo, vou fazer uma caminha para ele na terra do jardim da vizinha.

 Eu realmente esperava que ela estivesse mentindo sobre as causas de ter me criado entre humanos. Só isso. 

 Encarei ela, bem naqueles olhos prateados idênticos aos meus quando fico com raiva.

 — Você está mentindo.

 Ela olhou fixamente nos meus olhos. 

 — Não estou.

 A maior parte das pessoas olham em outra direção enquanto mentem. Algumas sabem disso e olham fixamente para os olhos dos alvos idiotas. A minha mãe estava fazendo exatamente isso. Qualquer idiota cairia na intensidade do olhar honesto dela. Eu não, ela me criou, eu conhecia a criatura, sabia como ela era uma excelente atriz. Ah, quantas vezes ela não foi até a diretoria das minhas escolas e dizia "Minha filha nunca fez isso", sendo que ela até me ajudava a planejar minhas brincadeiras malévolas?

 — Você está mentindo, não sou idiota. 

 Então, ela perdeu a paciência.

 — Pare de bancar a santa e honesta, Christine — ela se levantou da poltrona, para olhar para mim por cima, provavelmente — Eu sei exatamente o que você estava fazendo ontem.

 Por dois segundos eu me perguntei "Espere, eu matei alguém ontem e não estou sabendo?". Aí caiu a ficha. Ah, aquilo.

 — Se Ártemis souber...

 Rosnei.

 — Nunca fiz nenhum juramente ridículo a ela. 

 — Fez na sua vida anterior e quebrou ele. Lembre-se do que Ártemis fez a Calixto.

 Pisquei inocentemente.

 — Eu seria uma linda ursinha.

 — E eu não quero que você chegue perto daquele individuo — Nyx disse, agora ela era a deusa dando ordens para uma mortal, não minha mãe — Existem bilhões de homens no mundo. Deve ter coisa melhor para você.

 Tudo bem, minha mãe nunca foi muito com a cara de Alec. Quando eramos crianças, eu pensava que ela era assim porque eu só falava mal dele, e de qualquer forma, era raro minha mãe ir com a cara de alguém. 

 Mas esse surtinho, vamos admitir, era um pouquinho suspeito. 

 — Por quê?

 — Porque eu quero.

 Mães são adoráveis. 

 — Se você não me explicar, eu vou ... — sorri maliciosamente para ela.

 — Eu espero que minha filha não esteja se tornando uma vadiazinha impulsiva. 

 Aquilo foi levemente engraçado. Eu sou praticamente uma santa de filha, vamos admitir. Minhas notas sempre foram excelentes — Eu sou um gênio praticamente, nunca houve ser mais inteligente que eu. Morra Einstein. Ah, pera, ele já tá morto —, eu entrei para Havard na primeira prova que fiz, e em um dos cursos mais concorridos, medicina. Eu nunca fui o tipo de garota que tinha más companhias, eu só tive Layla como amiga quando eu era normal. Namorados? Bom, eu nunca tive um, talvez porque eu seja relativamente má e me enjoe das pessoas só de olhar para a cara delas e goste mais de pizza do que  garotos. De vez enquanto, eu aprontava algumas coisas, explodia algumas coisinhas, socava alguém, mas tipo, eu era uma santa. 

 E ela, só por alguns beijinhos, nada mais. Vem me chamar de vadiazinha impulsiva.

 Ela, a senhorita Nyx, que teve sei lá, só uns bilhões de amantes ( E isso contando só os desse século). 

 — Ah, pare de surtar. Só foi uns beijinhos. 

 Ela me olhou, cética. 

 — Se eu não mandasse Idia para fora, vocês teriam transado nas paredes da Pirâmide.

 — Não, eu acho que não. Acho que eu iria para o meu quarto, transar em paredes deve dar dor nas costas. 

 Ah, eu acho que foi a coisa errada para se dizer.

 — Christine!

 Ergui as mãos para o alto.

 — Parei.

 — Ótimo. 

 — Mas você conseguiu se desviar do assunto. Parabéns. Agora me diga: Meu pai está realmente morto?

 — Está morto! Inferno! Quer que te leve ao túmulo e abra o caixão?

 Ela estava mentindo. Eu sabia. Minhas mãos começaram a ficar geladas. 

 Isso é impossível, pensei, não, não, não. Ela está falando a verdade.

 — Então me leve até o túmulo, abra e me deixe colher uma amostra de DNA — Falei.

 Acho que pela primeira vez, alguém pegou Nyx de surpresa. E fui eu. 

 — O que?

 —  Exatamente isso que pedi.

 — Você quer abrir o túmulo do seu pai? Você não tem noção de respeito?

 — Que o Sr. Respeito vá se ferrar no inferno — Falei — Eu quero provas.

 Oh, ela poderia me mostrar qualquer ossinhos por aí, mas ossinhos que tivessem meu DNA...

 — Eu me nego a fazer isso.

 — Se nega por que ele não está morto.

 E enfim. Chaos estava certo. Minha mãe é uma manipuladora sádica. E eu era a marionete idiota o tempo todo. E meu pai estava vivo. Eu nunca pensei nisso, desde que eu nasci ela dizia que ele tinha morrido em um acidente de carro, as vezes me mostrava umas fotinhas, e tal. 

 Quem era ele? Será que era parecido comigo? Ou eu puxei meus avós? Será que era inteligente? Será que eu iria gostar dele?

 Eu estava mais do que com raiva. Era ódio. Por ela ter me feito acreditar a vida inteira que eu não tinha pai, de sempre ter que rasgar os cartõezinhos de dia dos pais que a escola entregava porque eu não tinha para quem entregar. E não era só pai, eu devia ter tios, avós, avôs, talvez até meios-irmãos por aí. E ela me privou disso, só para me tornar uma marionete melhor.

 — Quem é?

 Ela não respondeu.

 —  Quem?

 Respirei fundo. Min ha mão coçava para acerta-la. Meus punhos tinham se fechado. Mas ela era minha mãe. Uma vadia hipócrita e mentirosa, pensei.

 — Quem? — Eu acho que estava gritando e de repente eu não estava mais sentada na poltrona, estava de pé, olhando para aquela deusa infeliz.

 — Raphael Sozza — Ela fez uma pausa — Droga, Christine. Ele e e Ilithya não sabem, por favor, não me olhe assim. Ilithya e ele só estão juntos a quinze anos. Isso foi três anos antes.  

Ai.

 Sabe, seria melhor que ela tivesse me dado um tapa. O meu professor de combates, o meu pai. Tá ele era um pouco parecido comigo, mas há centenas de pessoas morenas no mundo. Eu nunca iria desconfiar de algo assim. Aquele cara irritante que me fazia dar centenas de voltas correndo e quase me matou de ataques cardíacos umas cem vezes, o meu pai?

 O mais engraçado de tudo: Quando tive que ir no hospital em Las Vegas, ele se passou pelo meu pai. 

 Oh, ironia das Parcas. Aquelas velhas desgraçadas deviam estar se matando de rir. 

 Virei as costas para ela e abri um Portal. Não me digam como eu consegui fazer isso, não sei explicar. Eu estava louca de raiva, só queria sair de perto daquele ser antes que eu fizesse alguma coisa que me arrependeria mais tarde.

 E por incrível que parece, o portal abriu nas Pirâmides. 

 Ah, e logo em seguida, minha mãe apareceu na minha frente. 

 — Christine...

 Ignorei ela e comecei a correr até o portão. Assim que atravessei o portão, vi Ilithya.

 — Nyx, Chris? Que po...

 

— Vamos mamãe, conte para Ilithya, sua melhor amiga, que eu sou filha de Raphael. E aproveite e explique por que você agarrou ele, mesmo sabendo que ele era o amor da vida da sua melhor amiga.

Saí correndo na direção dos corredores. Conseguia ouvir Ilithya e minha mãe discutindo e até alguns barulhos de tapas. Eu não me importava. Corri na direção da porta de Raphael e Ilithya. Fiquei parada por dois segundos encarando a porta. 

 O que eu ia dizer:"Oi, sou sua filha". Pena que Alec estivesse dormindo, aquele ser inútil. Mas abri a porta e decidi pensar no que falar depois.

 Entrei em passos largos para o quarto.

 E levei o segundo tapa da noite.

 Raphael estava deitado na cama e morto. E era dois de julho. Meu aniversário. 

 

 


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Notas finais do capítulo

Ok. Sei que vocês querem me matar, mesmo. Tudo bem, admito, voc~es tem razão. Bom, mas boa parte desses dias eu fiquei com pontos na mão, e sabem, OPF ( Olimpiada Paulista de Física), eu passei na segunda fase e estou estudando para pegar ouro. Beijos. Não me matem, eu amo vocês , criaturinhas lindas. O próximo cap pode demorar, ok?

E quanto o cap. HUHUAHUAYHAHA. Vocês nunca esperariiam isso. Tadinha da Chris.