Serena escrita por Maria Lua


Capítulo 14
A sós


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é dedicado, principalmente, ao meu namorado. Hoje, depois de muito enrolar, ele assistiu ao filme Lolita e tenho certeza de que agora vai entender muito mais as atitudes de Serena. Obrigada por ser um leitor tão bom pra mim, e por outras coisas também. Esse capítulo foi pedido por uma leitora, e gostei tanto que planejo fazer outros dessa maneira no futuro. Música para o capítulo: El Tango de Roxanne, do filme Moulin Rouge. Link: https://www.youtube.com/watch?v=Te2MytD1Mlg
Boa leitura!



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Não vi o tempo passar. Ficamos abraçados em minha cama por uns bons minutos, estava tudo escuro e o som da chuva ecoava em meus ouvidos em um tom que aumentava a cada instante. Competindo com ele, apenas a respiração de Serena. Passaram-se minutos. Aliás, acredito ter se passado mais de uma hora. Eu tinha certeza de que ela havia pegado no sono em meu colo, mas não consegui pregar os olhos.

Ela estava passando a noite em meu quarto e, por mais que isso fosse errado, eu não abriria mão. Eu admitir para ela o que sentia foi um passo grande o suficiente para eu desejar que isso se repita todas as noites, mesmo sem nenhum contato físico. Ela precisava de mim e, por Deus, agora eu tinha certeza!

Tremi um pouco surpreendido ao senti-la se mexer. Havia acordado. Ela levantou um pouco a cabeça até ver onde estava, sorriu, e se sentou na cama. Suas coxas passaram por cima de minha barriga, afinal eu ainda estava deitado. Os seus cabelos já estavam quase secos, ainda um pouco inchados e espichados. Sorri com a visão dessa linda loira acordando vestida com uma camisa minha, dessa maneira, úmida. Eu daria tudo para estarmos em outra situação.

– Não percebi que estava com sono. – ela falou, esfregando os olhos. Em seguida continuou me encarando até esticar o braço e alisar o meu rosto. Seus dedos eram tão delicados... Seu toque gracioso fez com que meus olhos fechassem-se. Ela aproximou-se, tocou nossos lábios e voltou para a sua posição. Abri os olhos de imediato. Estávamos em silêncio.

– Quero uma resposta completa... Por que eu? – pedi. Ela soltou o ar e pôs o cabelo para trás da orelha. Estava linda.

– Eu confiei em você assim que o vi. Sabia que você era o tipo de pessoa que eu gostaria de me abrir. Em todos os sentidos possíveis e imagináveis. – ela sorriu maliciosa. – Admito que no primeiro dia eu me diverti brincando com você, e no segundo eu estava satisfeita porque começaram os boatos sobre nós, mas em seguida eu sabia que você era especial. Eu posso ter acompanhamento escolar, psicológico, ou até mesmo amigas, mas ninguém nesses quinze anos jamais me tratou com o carinho que você trata. Com essa atenção. – ela deu de ombros. – Deve ser completo de inferioridade. Toda adolescente tem.

Eu a observava encantado. Tinha certeza de que meus olhos brilhavam ao contemplá-la. Ela percebeu, soltando uma gargalhada petiz que tanto me delicio.

– Cinco dólares por seus pensamentos. – ela disse.

– Eu quero saber tudo sobre você. – falei, e ela ficou me olhando como se esperasse um complemento. – Vamos, me conte. Conte-me do que gosta, do que não gosta, do que já fez. Conte-me sobre sua primeira impressão do colégio. – dessa vez a minha entonação era mais animada, e eu senti que a contagiou.

– Entendi tudo! Quer saber sobre minhas relações lésbicas. – falou rindo.

– Não! Não me referia a isso. – ri juntamente a ela. Eu não havia pensado nisso ao falar, mas precisava admitir que isso me deixa curioso. Acredito que todo homem tenha curiosidade e prazer em saber de situações lésbicas, apesar de ainda preferir algo carnal entre homem e mulher, mas não poderia recusar uma oportunidade de ter a tão famosa pergunta respondida: como é? – Mas... Bom, quero saber tudo sobre você. Inclusive isso. E já que tocamos no assunto... – falei, fazendo-a rir.

– Eu sabia que isso ia te interessar. O que quer saber exatamente?

– Tudo! Desde o começo. – ajeitei-me na cama para ouvir a sua história.

– Está bem... O meu primeiro beijo foi aos doze anos. – ela fechou os lábios em um sorriso de canto. – Assim que entrei no colégio eu fui taxada como delinquente... A delinquente bonitinha. Para a minha sorte, várias outras delinquentes me encontraram e, não sei como, conseguiram me mudar de quarto. Passei a dormir com as meninas mais velhas. Algumas delas tinham quinze, outras dezessete, e até mesmo uma de dezoito. A de dezoito, Audrey, comandava as demais, e eu era a sua protegida. Por causa dela eu tenho uma certa “moral” no colégio. – eu devorava cada palavra enquanto visualizava cada cena. – Assim como em grandes universidades, nós temos iniciações. É a nossa forma de entrar para um grupo mais seleto, entende? Passamos uma madrugada inteira fazendo coisas que hoje faço de brincadeira... Pichar paredes, quebrar coisas, perturbar sonos, destruir coisas, traumatizar pessoas... E eu cumpri tudo. Afinal, o último lugar que morei era muito pior do que aqui. Tive um grande êxito em tudo. – hospício, eu pensei. – Até a última fase. Já estava amanhecendo e eu achei que íamos para o quarto dormir algumas horas antes de filar as aulas. Mas não... – ela parou repentinamente de falar.

– O que houve depois? – perguntei, sabendo o que estava por vir.

– Admito que fora difícil para mim cumprir o que Audrey mandou. Não por nojo, vergonha ou machismo. Pelo contrário. Eu ainda era uma pobre criancinha. Está certo que não achava beijos nojentos, mas ainda não sentia desejo algum por isso. Nem havia menstruado. – ela riu. – Audrey reuniu todas as meninas no banheiro do nosso quarto e falou bem pausadamente: você vai escolher a menina mais bonita, com os peitos mais bonitos da roda para beijar. Eu fiquei assustadíssima! Imagine! Todas elas tiraram as camisas, e todas elas estavam sem sutiãs. Elas sabiam que aquilo ia acontecer. – meus olhos estavam arregalados, surpresos, enquanto os dela se divertiam com aquilo. – Mas eu tinha que escolher. Olhei para cada seio dali e rapidamente me senti uma jurada. Avaliei os bicos, tamanho, formato, se era caído, tudo. De repente entendia tudo de peito. Foi quando escolhi uma garota chamada Elizabeth. Ela estava do meu lado, o que facilitou tanto para ver quanto beijar. Mas não foi só isso. Quando eu beijei e me afastei todas riram e eu perguntei “o que foi?”, e elas me disseram: isso não é um beijo de verdade. Quando me dei conta, todas elas estavam se beijando. Todas elas. E não eram beijos leves. As mãos arrastavam-se pelas coxas, pelos seis, algumas por debaixo das saias. Elizabeth logo me puxou e começou a me beijar. Foi a primeira vez que senti um corpo estranho me invadindo... Lá embaixo. Acariciando meu corpo, secando minha boca. E essa foi só a primeira vez. Houve mais. Muito mais. Muitas delas consideram que não sou mais virgem, mas gosto de dizer que o meu hímen é que decide. – eu estava boquiaberto. Senti que estava tremendamente excitado a sua descrição que, estranhamente, fora mais detalhada do que pude imaginar. Ela notou a minha surpresa. – E aí?

– Eu... Não sei o que dizer. Foi bom, ao menos? – perguntei, tentando evitar o constrangimento que era ouvir um relato desse porte. Ela riu de minha reação, novamente.

– Excelente. Foi o meu segundo melhor beijo. – falou.

– E qual foi o primeiro? – perguntei inocentemente. Logo vi seus olhos ficarem semicerrados, seu sorriso se alargar. Ela passou uma coxa sua para o outro lado, montando em cima de mim. Logo segurou a minha nuca, encostada no travesseiro, e a puxou para cima. Logo eu estava sentado com ela em cima de mim, nossos corpos encostados.

– Esse. – falou puxando-me para um beijo longo e acelerado. Fora, de fato, o nosso melhor beijo até então.


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