Serena escrita por Maria Lua


Capítulo 13
Lado a lado


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Esse capítulo é atendendo alguns pedidos... Mas não criem grandes expectativas. Sério. Hoje vou começar uma coisa que fazia muito em minhas outras fanfics: dedicar uma música ao capítulo. A de hoje é Your Song, do Elton John. Eu, particularmente, prefiro a versão do filme Moulin Rouge, mas aí está o link: https://www.youtube.com/watch?v=VJaWmGVQ5Ws
Boa leitura!



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Assim que Serena entrou em meu quarto eu percebi o frio que ela estava passando. Ofereci uma toalha para ela e desliguei o ventilador. Ela agradeceu e começou a se secar. Ainda sem tocar no assunto que a motivou a vir até aqui, ela deslizou até o meu armário e escolheu uma de minhas camisas para vestir. Eu a assistir trocar de roupa, um pouco chocado para ficar admirado com o seu corpo molhado, mas nem tanto para apreciá-lo de qualquer maneira.

– Obrigada. – ela falou, e pendurou no banheiro um cabide com sua blusa. Logo em seguida sentou em minha cama e se embrulhou em me edredom. Ela estava bem em cima do dossiê, que estava um pouco para fora da cama. Apreensivo, me sentei ao seu lado e empurrei-o com os pés para o fundo. Ela pareceu não notar.

– Agora me diga. O que houve? – perguntei. Seus olhos esquivaram-se por um breve momento e me encararam, cansados.

– Eu tenho segredos, Charles. – falou, e quando vi que ela esperava uma resposta eu apenas assenti. – Bom, tenho muitos segredos. Infelizmente a diretoria é obrigada a conhecê-los para eu poder viver aqui, e foi um preço que achei valer a pena.

Foi então que me passou pela cabeça... E se Marie Curie tiver sido opção da Serena? Pode estar fugindo de sua realidade de menor de idade em um lugar onde sua madrasta não a alcance. Tantas possibilidades!

– Acontece que... Ah, eu não sei sobre qual começo devo falar primeiro. Vou começar pelo começo mais antigo. Muitas das meninas já sabem sobre nós dois. – falou, analisando minha expressão. Eu não estava surpreso, então não me posicionei sobre. – Não de forma concreta, porque nunca afirmei nada além de minhas opiniões sobre você, mas elas me veneram por isso. E eu simplesmente sinto orgulho de meu feito. Gosto tanto de dar amasso em você quanto de ser vangloriada. Até aí está tudo bem. Seu emprego está salvo, apesar de que imagino que você seja muito assediado se eu estiver mais longe de você do que estou agora.

– E qual o ponto chave? Onde entram os segredos? – incentivei. Admito estar angustiado com isso. O dossiê e todas as suas coisas passavam por minha cabeça como um filme do Hitchcock.

– Calma! Vou chegar lá. A sua namorada, a Violet.

– Ex-namorada. – lembrei.

– Isso. Ela, naquela noite com a diretora, deve ter mexido nos documentos, ou chantageado alguém, não sei, mas ela descobriu. Ela sabe meus problemas familiares, o meu passado, todas as coisas que eu quero enterrar. Eu sei, eu sei que você deve estar curioso, mas ninguém, ninguém, pode saber o que aconteceu. E a Violet contou. Saiu perguntando para as meninas do meu dormitório o que sabem sobre, sendo que foi uma surpresa total para todas, e os boatos começaram. – ela estava descontrolada. Gritava, abanava as mãos, franzia o cenho e balançava a cabeça freneticamente. Estava completamente abalada.

Isso me fez pensar... Ela não sabia que a diretora compartilhava isso com os professores. É algo importante de se fazer, mas ela não podia espalhar assim e sem autorização. E, acredito eu, que os detalhes que deixei de ler eram tão gritantes que fez com que Serena, a rainha da inibição, ter medo da opinião alheia. Ou da ressurreição de sua infância, não se sabe. Mas era instigante! Eu ansiava por suas respostas. Precisava saber do que ela tanto foge, o que ela pensa sobre isso. Juro que até mesmo em hipnose pensei de tanta curiosidade.

– Você não vai falar nada? – ela perguntou indignada.

– O que quer que eu diga? Estou preocupado de alguém importante descobrir sobre nós, mais do que você. – falei. Minha intenção era fazer com que ela pensasse que eu não sabia nada sobre seus problemas, mas prestando atenção eu percebi que eu pareci indiferente quantos os seus problemas, que eram bem reais. Mais graves, inclusive, que o meu futuro ser arruinado.

– Só isso? Charles, eu estou com medo. E, também, com vergonha. E agora mais ainda, depois de assumir para você... Eu... Eu não tenho ninguém. Você era o único que pensei em conversar, mas acho que estava enganada. Você não pode me ajudar. – ela tentou levantar, mas a segurei pelo pulso. – Me deixa ir!

– Não, não. Desculpe-me, Serena. Foi indelicado de minha parte. Diga-me como posso te ajudar. – falei.

– Você não se importa, não tem como ajudar assim. – falou, e então notei o tom de ressentimento em sua voz. Há quanto tempo ela não baixava guarda para alguém? Soltei o ar balançando a cabeça.

– Olha, tem mais de um mês que tento me convencer disso. – ela parou atentamente para me ouvir. Vi suas linhas rígidas de expressão se suavizando de um jeito diferente. Não da maneira sedutora de mulher que ela tinha, mas da maneira humana. Feliz e surpresa. – Não me leve a mal, mas você sabe. Eu odeio não conseguir conter isso. Não consigo te negar um sorriso, te expulsar do meu colo, meu quarto, da minha vida, e muito menos da minha cabeça. Você está aqui. Está aqui em minha mente o dia inteiro, todos os dias da minha vida. Eu odeio isso justamente porque, e me desculpe ceder ao clichê, apesar de tudo, todos os riscos, eu não consigo te odiar por segundo algum. Não pode dizer que não me importo com você, porque nem mesmo o meu subconsciente acredita nisso. Quem dirá nós dois.

Ficamos em silêncio. Ela parecia ainda engolir aquelas palavras com muita dificuldade. Estava boquiaberta olhando para meus olhos. Os seus estavam esbugalhados, trêmulos. Eu ainda segurava seu pulso, então arrastei meu palmo até o seu, apertando a sua mão. Ela olhou para nosso encontro físico, ainda estando estupefata. Eu vi um sorriso muito singelo erguendo-se no canto de seu lábio superior. Seus olhos aparentavam estar úmidos.

– Então, me diga. O que posso fazer pra te ajudar? – perguntei. Só então ela pareceu acordar de seu momento em transe e olhar mim com os olhos piscando várias vezes.

– Eu só preciso de você. – falou e veio ao meu encontro. Dessa vez não foi como o esperado. Não me beijou. Não fez nada vulgar ou costumeiro. Ela simplesmente me abraçou, deitando sobre meu peito. Estávamos, então, deitados na cama enquanto ela me apertava de um jeito novo. Eu mexia nas mechas de seu cabelo molhado, tirando-as do seu rosto. Ela fechava seus olhos com força, aproveitando a sensação. Eu olhava para ela e não enxergava Serena Doolitle, aquela de tantas facetas. Eu via a sua única personalidade. A pessoa por baixo da máscara, a atriz por baixo do papel. Era só uma menina. Uma menina que extrapolou a cota do sofrimento. Aguentou mais do que merecia, e agora estava cansada. Cansada de se esconder, de mentir, de fingir, e eu a entendia. A entendia e sentia pena. O pior sentimento que poderia ter por ela surgiu, e eu não gostava disso. E não queria que mais ninguém a visse assim. A sua vulnerabilidade não pode aparecer nunca, ela não pode ser frágil, porque senão o mundo a derrubaria. E foi então que eu percebi: ela era dessa maneira comigo. Deve haver algum motivo para ter me escolhido. Ela viu algo em mim, alguma confiança, alguma sinceridade que me colocou em um espaço acolhedor. Eu era isso para ela: o seu conforto, e precisava fazer bem o meu papel. Porque eu a amava.

A abracei mais forte, alisando sua pele.

– Serena... – sussurrei. Ela murmurou um “diz”. – Eu desisti de evitar você.

Ela abriu um sorriso largo, ainda de olhos fechados.

– Agora estamos juntos nessa. – falou, aprofundando mais o abraço.


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