Haruno Sakura

Era Ascendente: Dois de outubro de 1523, Sexta-feira

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Não posso dizer que não fiquei surpresa quando ouvi os empregados do castelo dizendo quem iria ir embora no primeiro dia. Tinha plena convicção de que meu nome não apenas estaria lá como seria o primeiro a ser dito mas isso não aconteceu, no entanto. Ouvi o nome de Anko, Hotaru, Hana e até mesmo alguns que eu nem ao menos me lembro.

Confesso que fiquei com um pouco de dó das garotas que saíram, porque mais da metade havia chorado, como se fosse a pior coisa que poderia ter acontecido com elas, o que foi um pouco estranho, também. Quero dizer, o duque do distrito vinte e dois deixou claro que eu poderia contestar e pedir para não ir, – e embora eu tenha aceitado, não era exatamente casar que estava na minha mente – mas não era como se isso fosse tão ruim assim. As garotas viram a Vossa Alteza por apenas por um dia. Seria possível apegar-se a algo assim?

— Não, não é possível. — escuto a voz de escárnio da loira, que se chama Shion dizer para mim – parece que eu havia pensado alto. — A tristeza não é pelo Sasuke, e sim pela riqueza.

Franzo o cenho para a loira que ainda observa-me com o sorriso irônico. Entendo o ponto de vista dela e realmente é algo plausível a sua explicação... Mas esse sarcasmo não é algo muito legal. Tento dar um sorriso gentil para a garota – diferente dela – mas acho que não saiu tão real assim, esse sorriso.

— Você deve ter razão. — falo por fim, tentando terminar a conversa que não era para ter acontecido.

Maldita hora de pensar alto. É claro que eu fora um engano. Escuto a risada da mesma loira sarcástica e ela coloca seus cabelos por trás de sua orelha.

— Querida, eu sempre tenho razão. — acho que essa loira pretende caçar algum tipo de briga, porque o seu olhar de desdém é completamente irritante.

Não posso dizer que tenho uma calma acima do normal, porque seria uma mentira. Respiro fundo, tentando ignorar a atitude superior da loira que ainda espera a sua resposta e fito-a de volta dando de ombros, indiferente.

— Se você diz...

Shion muda rapidamente a sua expressão ao ver que não dou muita ideia para ela e cruza os braços irritadas. Menina mimada. Resmunga algo que não faço questão de ouvir e depois dá as costas para mim, indo para a parte mais distante do hall – onde estamos desde depois de conhecer a Vossa Alteza – e senta em uma das camas que fora colocadas para conseguirmos dormir com conforto. Algumas garotas – que estavam prestando atenção no nosso pequeno diálogo – fazem alguns comentários em voz baixa no qual não escuto, infelizmente. Não que eu queira ser petulante ou algo do tipo, mas provavelmente estavam falando de mim e de Shion.

— E-eu não ligaria para o que ela disse... — murmura uma linda garota morena dos olhos perolados.

Por deus, como uma pessoa pode ser tão bonita assim? Não bastasse o rosto angelical e o cabelo sedoso, seu corpo parece ser esculpido pelos deuses, com curvas na medida perfeita. A menina dá um sorriso meigo para mim e não consigo deixar de sorrir de volta para ela, que fica vermelha instantaneamente.

— Não ligarei, pode deixar. — concordo com o seu ponto de vista. — Sou Sakura. — estendo a mão para que a morena pudesse apertar depois que apresento-me a ela.

Eu não lembrava o seu nome, e tampouco parecia ela lembrar-se do meu, esse o motivo da apresentação. A menina aperta a minha mão um pouco trêmula sem fitar os meus olhos. Por que será que ela é tão tímida?

— Muito prazer. — ela responde ainda se olhar para mim. — Meu... Meu nome é Hinata.

♦♦♦

Após ter uma conversa bastante agradável com Hinata – uma das minhas “concorrentes”, que tinha uma beleza invejável – sigo até o jardim do palácio. Quando os empregados haviam avisado para todas que poderiam sair do hall até o jardim – e apenas isso – não esperei ver a reação de nenhuma das garotas. Apenas despedi de Hinata com um aceno sorridente e fui em direção ao local.

Sempre fui uma garota que ama a natureza e a luz do sol, então sair de um cômodo como aquele é uma dádiva para mim. Não vi mais nenhuma das garotas no local – ou talvez estivesse apenas encantada demais com a diversidade de flores e plantas – mas não me importo com isso. Com um sorriso no rosto, começo a explorar o local animada. Há tantas flores, árvores carregadas de fruta e gramas extremamente verdes que por um momento imagino estar em algum tipo de floresta dos contos de fada, exceto pelo fato de que em algumas partes não há terra e sim um caminho feito meticulosamente de pequenas pedras.

Depois de andar por uma quantidade razoável – esse jardim é enorme! – paro em uma das árvores e sento-me encostada nela, sobre a grande sombra. Não resisto a vontade de fechar os meus olhos e aproveitar a brisa e o aroma confortável de estar entre a natureza.

— O que faz aqui? — a voz rude e rouca da Vossa Alteza soa e abro os meus olhos assustada.

Olho para o meu lado esquerdo e vejo ele praticamente ao meu lado, sentado ao encosto de outra árvore. Como eu passei por ele sem nem ao menos notar?! Sinto as minhas mãos tremerem depois de levantar e fazer uma reverência desajeitada.

— Desculpe, Vossa Alteza. — olho para os meus próprios pés envergonhada. — Não havia o visto.

Sasuke suspira de uma forma quase inaudível, provavelmente desdenhando mentalmente da minha falta de atenção. Provavelmente não ser notado era algum tipo de novidade para o moreno, já que ele era alguém bem importante.

— Eu reparei. — não me surpreendo com a voz ainda sair de certa forma grossa, até porque ele parecia ser assim com todas as pessoas, mesmo as mais ricas do que uma mera camponesa como eu. — E então?

Mexo nos meus cabelos nervosa e mordo os lábios, tentando fazer com que a minha voz saia um pouco mais confiante do que costumava sair perto de pessoas importantes, como ele ou o duque do meu distrito. O moreno encara-me com uma expressão impaciente – ele definitivamente não parece gostar de esperar – e abro um sorriso meio sem jeito para ele.

— A natureza não é algo incrível, Vossa Alteza? — indago melhorando o sorriso nos meus lábios, encantada com a visão. — Assim que tive a oportunidade de sair do hall e visitar o jardim eu vim para cá.

Meu nervosismo praticamente some, uma vez que estou relaxada diante uma visão tão bela quanto a diversidade da flora que há nesse jardim e também não estou sendo fuzilada como ontem por dizer besteira ou pressionada para conhecê-lo. Isso parece deixar a Vossa Alteza um pouco curiosa, intrigada ou surpresa, uma vez que o moreno dá uma pequena arqueada em suas sobrancelhas negras.

— Hn. — ele praticamente resmunga em resposta e não falamos mais nada por alguns minutos.

Vejo que ele está com um livro em suas mãos e parece agora – que volta a ler – um tanto absorto em sua leitura. Sei muito bem que deveria ficar calada em um momento como esse, até porque deve ser rude e desconfortável parar a leitura de alguém importante como Uchiha Sasuke, mas sinto a necessidade de falar alguma coisa. O silêncio perto de uma pessoa real deixa-me desconfortável.

— Vo... — mas quando começo a dizer sou praticamente cortada por duas garotas loiras indo até a nossa direção.

As duas param ao meu lado esquerdo, como se quisessem retirar a minha visão de Sasuke, o que poderia ser chamado de algo bastante infantil e possessivo. Elas olham para mim e oro mentalmente para que não comecem a xingar.

— Sakura! — Shion, uma das loiras que chegam até aqui, diz. — Não acredito que você está roubando a atenção da Vossa Alteza apenas para si! — ela coloca as mãos na cintura teatralmente, mas sei que se não fosse por Uchiha Sasuke estar escutando, ela provavelmente iria gritar como um búfalo raivoso, devido ao estranho brilho no seu olhar.

Olho de esguelha para o moreno. Seu rosto continua com a expressão indiferente de sempre, e ele fecha o livro com uma força um pouco maior do que o necessário, dando um baque audível. As duas loiras – Shion e Ino – não parecem ouvir ou ao menos se importar com essa ação dele e continuam sorrindo.

— Realmente, muito sagaz da sua parte. — concorda Ino com um sorriso falso e engulo seco.

— Foi coincidência... — asseguro para as duas, que não parecem ser convencidas da mais pura verdade.

Espero que isso não faça com que eu compre algum tipo de briga com as duas. De Ino não tenho um ideia muito formada, mas Shion... Parece uma naja em corpo de mulher.

— Como está, Vossa Alteza? — indaga Ino com os olhos azuis brilhantes como uma joia rara.

As duas fazem uma reverência impecável – diferente da minha a poucos minutos atrás – e parecem sincronizadas uma com a outra, o que parece-me estranho, já que são “concorrentes”.

Uchiha Sasuke parece estar irritado. Não posso ter toda a certeza ao olhar para o seu rosto – pois ele parece ter algum tipo de treinamento para não demonstrar nada em sua faceta, como um bom líder – porém uma de suas mãos fecham-se por baixo do livro que agora está em seu colo.

— Bem. — sua voz sai seca, claramente demonstrando que não gostaria de ter nenhum tipo de conversa no momento.

É claro que isso não adianta nada. As duas começam a tagarelar sobre as espécies de plantas que há no local – coisa que eu gostaria de saber, embora não pareça ser bem vinda na conversa pela dupla de loiras – e ele parece segurar-se para não bufar e franzir o rosto. Coitado...

Penso no que poderia fazer para ajudá-lo a sair daquela falação das duas sem noção – e assim, quem sabe, conseguir um pouco da sua confiança – e sorrio, olhando para um de seus guardas, que nos observam. Pelo emblema em sua roupa, parece ser um dos específicos dele e não do palácio em si.

— ... Jamais em minha vida imaginaria ver um jardim com uma árvore de cerejeira e um arbusto de... — Ino continua a tagarelar até que eu a interrompa.

— Vossa Alteza, acho que o seu guarda está lhe chamando. — ele me olha com um cenho franzido.

Acho que ele sabe – não, tem certeza – de que é uma mentira, e parece estar conflitado em fingir e sair ou continuar a ouvir Ino a tagarelar. Ele me dá mais uma olhadela desconfiada para mim e assente com a cabeça.

— É, estou vendo. — responde com uma pontada de sarcasmo no timbre da sua voz. — Siga-me, Sakura, vou lhe mostrar o que havia dito.

Mas ele não havia falado nada assim para mim. Sei que isso é alguma mentira, também, provavelmente para ele perguntar porque eu havia feito isso.

— Mas já? — a voz da Yamanaka sai manhosa. — Depois apareça para conversar novamente comigo, Vossa Alteza.

Sasuke não se dá o trabalho de responder, apenas vira as costas para as duas, depois de ver a reverência delas. Quando ficamos um pouco longe da dupla de loiras, ele para bruscamente e vira-se para mim.

— Por que você fez isso? — é claro que ele seria direto e olharia ainda bastante desconfiado para mim.

Dou um sorriso mínimo para ele, agora ficando novamente um pouco tímida. Olho para as minhas próprias mãos antes de responder.

— Eu queria te ajudar... Vossa Alteza.

— Você não vai receber nada em troca. — sua voz sai acusadora e ele franze o cenho para mim, sem esconder a raiva.

Oh, droga. Ele havia entendido mal o meu propósito. Não queria um presente, ou nada disso em troca. Apenas gostaria de demonstrar que sou confiável.

— Eu não quero nada em troca. — minha voz sai firme mesmo com o meu nervosismo. — Eu só queria reafirmar o que havia dito a Vossa Alteza ontem. — sorrio para o moreno que olha para mim. — Gostaria apenas de ajudar.

Provavelmente, o excesso de sinceridade em minha fala havia o pegado desprevenido. Sasuke olha para os meus olhos um pouco surpreso e dá as costas para mim, indo embora sem ao menos responder, arisco como um gato.

Bom, pelo menos dessa vez ele não havia ficado irritado comigo.