A Escolhida escrita por Pharah


Capítulo 35
Trinta e cinco


Notas iniciais do capítulo

A demora é justificada por motivos pessoais, então peço que me perdoem. Vou voltar.



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Sabaku no Temari/ Suna Temari

Era ascendente: dez de novembro 1523, Segunda-feira.

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Agora me lembro como se fosse ontem. Era uma tarde quente e bonita com uma brisa fresca, atípica de Suna. Jamais daria para perceber que o dia seria tão cruel. Tudo começou com uma brincadeira estúpida.

— Temari nunca se esconde bem. — zombou o pequeno Gaara.

Ele tinha um sorriso maldoso. Não me dava muito bem com ele, mas com Kankuro sim. Tive vontade de socá-lo, no entanto fui bem treinada a não fazer isso. Seria a rainha, algo assim não poderia tirar a minha compostura.

— Ela pode, caso se esforçar. — garantiu Kankuro.

Sempre protetor... Talvez estivesse aqui se não fosse desse jeito, no meu lugar.

— Posso tentar achar vocês na brincadeira, então. Provavelmente não vai durar dez minutos. — Gaara mais uma vez provocou.

— Veremos. Você nunca mais vai nos ver!  — maldita boca amaldiçoada.

Porque fora exatamente o que aconteceu. Eu e Kankuro procuramos um lugar bom para esconder, mas não gostei. Queria algo mais profissional, por isso saímos do castelo. Procuramos e procuramos até que em um determinado momento já nem sabíamos onde estávamos. Kankuro ficou com medo, mas eu não. Tinha certeza de que se alguém nos visse iria nos colocar de volta no castelo. Mas não foi o que aconteceu. Ninguém veio. Uma, duas, três, quatro horas. Ninguém. E o dia foi embora. O frio de Suna nos pega durante a noite. Kankuro fica próximo, como se precisasse de esquentar. Procuramos algum lugar menos frio. Um beco parecia perfeito. Exceto que nos sujou totalmente.

— Eu quero ir para o palácio. — Kankuro chorou, borrando a sua pintura facial que tanto amava.

Queria dizer que estava tudo bem, que logo voltaríamos, zombando de Gaara por não nos achar e não ter tido essa aventura conosco. Mas não tinha forças mais nem para isso. Havia a fome e o medo, principalmente. Demorou muito tempo para alguém nos encontrar. Era um homem alto, esbranquiçado e de olhos amarelos. Nada parecido com uma pessoa de Suna. Mas era alguém e isso já podia nos ajudar. Eu gritei para que o homem nos visse, acordando Kankuro com a altura da voz. Ele se assustou, mas logo se animou quando vira um adulto.

— Ei, pode nos ajudar? — perguntei.

O adulto sorriu. Seu sorriso era estranho, medonho até. Mas em um dia como esse, num momento assim, não poderia escolher um Salvador. Então sorri de volta, assim como Kankuro.

— É claro — respondeu o homem. — que não.

A partir daí veio o inferno. O inferno que me fez reprimir toda a memória.

♦♦♦

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Foram dias horríveis. Não sei quanto tempo durou, não via a luz do sol ou do luar. A visão era nula, porque fomos vendados. Em compensação ouvia muito. Gritos de horror e choros desamparados. Dor. Chicotadas sem sentido, socos sem motivos.  Quando estava no palácio, não pensei que fosse tão desesperador uma vida fora de lá. Mas agora via que poderia ser. Porque fomos escravizados. Bem, ainda não. O homem dos olhos amarelos nos disse que iria nos vender, e assim viraríamos escravos. E tudo isso seria cotidiano. Eterno.

— Precisamos sair daqui. — foi o que eu disse para o Kankuro.

— Mas como? Está tudo escuro.

— Eu consigo tirar essa algema. 

Esperei o homem nos tirar da carroça onde transitávamos e retirei minha algema e logo depois a venda. Sorte que eu havia aprendido a fazer isso. Um truque simples de circo. Adorava espetáculos como esse, e agora gostava ainda mais. Fora fácil retirar a minha, mas a de Kankuro demorou um tempo. Queria salvar a todos, tinha mais crianças, mas não daria tempo. Um dia eu os acharia. E tiraria todos eles do horror. Esperamos o homem ir para outro lugar e usamos o tato até a saída. No fim das contas, estávamos em apenas uma caverna. Mas mal deu tempo de qualquer tipo de reação. O homem estava lá.

— Ora, ora, ora. Como saíram de lá? — achou graça.

Mas o sorriso não chegara aos olhos dele. E isso me deu medo. Vi que Kankuro percebeu a mesma coisa. Sibilou para mim: corra. Neguei com a cabeça. Ele me olhou intensamente, como se me obrigasse. Kankuro era o meu irmão gêmeo mais novo, mas agia como meu protetor, assim como eu era o dele. Corra você, eu disse de forma muda. Mas ele fez um gesto em cima da cabeça. Sabia o que aquilo significava. Eu seria a rainha, depois de Rasa, nosso pai. Não podia ser escravizada ou morrer. Era um fato. Mas sacrificar meu irmão... Não.

— Eu vou voltar para te salvar. — e corri.

Corri como nunca. Sei que Kankuro correu também, mas sempre fui mais rápida. Ele ia na mesma direção que eu, talvez esperançoso de que pudéssemos escapar juntos. Mas não aconteceu. Quando o homem o pegou, eu estava metros a frente, atrás de uma pedra. Não pude fugir, porque ouvi os gritos de meu irmão. Um grande arrependimento, pois caso eu corresse não veria a pior cena da minha vida.

— Achou que ia escapar? Pirralho imundo!

E mais gritos. Socos. Tapas. Até que ouvi um tilintar de uma arma de metal. O homem perfurou a cabeça de meu irmão. Seu rosto já não era mais o mesmo. Desconfigurado, com uma expressão de horror, manchado de sangue ao invés de suas pinturas usuais. Lágrimas saiam dos meus olhos, mas não podia nem gritar. Porque eu seria vista. Então corro novamente. Chorando, odiando a vida injusta. Porque uma pessoa como eu não merecia viver. Uma pessoa que larga o próprio irmão não merecia estar livre. Mas não poderia desistir, ou a vida de Kankuro seria retirada em vão. Odiei meu destino, mas corri. Até que meu corpo fraquejou por falta de força e eu desmaiei.

Acordei em uma cama limpa. Não era majestosa, mas limpa e confortável. Assim que abri meus olhos, vi uma mulher me encarando. Seus olhos eram gentis, já que o sorriso chegava até eles. Ela tinha um cabelo já grisalho e segurava um copo com uma bebida. Inicialmente fiquei com medo, mas ela me deixou livre na cama, então relaxei.

— Olá, consegue me escutar?

Sua voz era melodiosa, mas não a entendi muito bem. Era outra língua. Conhecida por mim, mas não dominada.

— Não entendo. — era o pouco que eu sabia.

A mulher pareceu compreender o que eu quis dizer,  e colocou o copo sobre uma mesa. Ficou pensando em algo, até que decidiu dizer mais.

— Você. Nome. — ela apontou para mim.

Nome. Eu conheço essa palavra. Meu nome...

— Temari. — respondi prontamente.

Ela esperou por mais, mas... Qual era o resto mesmo? Não me lembrava mais. Do meu nome todo, da minha história. Apenas que eu era Temari. E que sentia uma dor inacreditável no coração.

♦♦♦

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— ... Memórias foram recalcadas devido a algum trauma. Vossa majestade provavelmente fora o gatilho para a princesa voltar com suas lembranças.

Ouço a conversa pelo meio,  mas é óbvio que estão falando sobre mim. O curandeiro não fala a língua de Konoha, mas a de Suna. E eu entendi muito bem, como sempre tive domínio. Agora fazia muito mais sentido minha compreensão da língua, o medo de caverna... Era por causa das minhas memórias reprimidas. Abro os olhos e vejo Gaara ainda conversando com o curandeiro.

— Temari... — ele diz quando me vê acordada.

Parece surpreso, é claro, mas há algo mais. Seus olhos brilham como se fosse chorar a qualquer momento. Sei que somos irmãos, no entanto, como nunca fomos muito amigos, estranho sua atitude. Não pensei que ele gostasse tanto assim de mim. Seu rosto pede explicações também, e isso eu darei.

— É, eu me lembro de tudo agora. E vou lhe contar.

Não foi fácil dizer o que aconteceu. Tanto tempo reprimindo as memórias... Eu nunca tive a chance de ficar de luto pelo irmão que salvara a minha vida. Então eu chorei e Gaara também. Ele parece tão crescido, maduro. Nem ao menos lembra o pentelho que era. Gaara, o que você passou durante esses anos todos?

— Eu... Senti tanto a falta de vocês. — o rei de Suna confessa assim que o curandeiro sai do quarto. — Foram tempos difíceis. Perdi vocês dois cedo demais e isso fez com que eu perdesse nosso pai também.

Já sabia que Rasa está morto. Lembro quando foi comentado isso em Konoha. Eu me senti muito mal e chorei. Mas nunca havia pensado no porquê de ter ficado dessa forma. Era porque Rasa era meu pai biológico. Mas tudo ainda é difícil de processar.

— Esses anos todos eu sempre quis dizer algo a vocês e o Kankuro. Nunca odiei vocês ou algo do tipo. Eu só os importunava para ganhar mais atenção. Quando vocês dois eram chamados para aprenderem mais como se portar, eu ficava só. Você seria a rainha, o Kankuro seu substituto e sua mão direita. E eu, nada. Apenas um príncipe mimado que sentia falta dos irmãos que não tinham tempo. Eu era apenas uma criança solitária querendo um pouco dos meus irmãos. Nunca me arrependi tanto de uma atitude egoísta como essa. Se eu não fosse assim, vocês não teriam sido raptados.

— Não tinha como você saber... — respondi, porque é a mais pura verdade. — E está tudo bem. A culpa de termos saído do castelo não é sua, a brincadeira foi longe de mais por minha ideia.

— Eu já tinha perdido as esperanças anos atrás. Devia ter procurado vocês com mais afinco...

— Não estávamos no seu território.

— Na verdade é seu. A coroa é sua por direito. Sou só o seu segundo substituto.

Não. Eu não quero mais isso. Minha vida não é mais a realeza, por mais que eu tenha ido ao palácio de Sasuke. Agora eu via isso. Acho que, no fundo, tive interesse em ir para o de Konoha porque eu ficaria mais próxima do meu passado, de certa forma. Mas agora que me lembro sei que eu não mereço a coroa.

— Eu renuncio a coroa. A realeza faz parte do meu passado. Também não sou mais uma cidadã completa de Suna, não seria justo. Passei mais tempo em Konoha, afinal.

— Você tem certeza disso?

Como eu poderia ser rainha de um país que mal tenho conhecimento de sua atualidade? Isso é loucura. Sinto que não mereço também.

— Sim. Ainda não sei o que vou fazer. Tenho família nos dois país e não quero deixar nenhuma delas, então ser rainha de Konoha também não está mais nos meus pensamentos.

Meus pais adotivos. Não posso deixá-los. Eles são muito importantes para mim e isso não muda com a volta da minha memória. Foram eles que me acharam, acolheram e me amaram com tudo que tinham. Serei grata até o fim da minha vida.

— Você poderia ser a representação do acordo que farei com Sasuke. Uma dupla cidadania. Ele veio aqui para falar sobre isso, e depois dessa história... Temos de preparar para uma guerra.


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Notas finais do capítulo

Acho que algumas pessoas já sabiam que algo assim ia acabar acontecendo com ela. Sofreu muito. Sinto muito pela falta dos principais, mas logo no próximo estarão de volta. Até lá!

Esclarecimentos sobre minhas histórias no geral: estou oficialmente desistindo de escrever Sasusaku. Tem anos que escrevo e me sinto presa a fazer histórias com personagens de personalidade já criadas e aparência também. Sinto que isso prende a minha escrita. Gostaria de criar personalidades novas, aparências, nomes... E não me preocupar em ser fiel a algo que não foi feito por mim. Mas não me arrependo de ter escrito, de forma alguma. Gosto do ship mas é o fim. Não ia terminar nenhuma história, mas no fim das contas, acho que vocês merecem o final pra essa. Laços de Sangue e À flor da pele até então serão canceladas pela metade. Vou terminar esta história e depois penso em escrever originais. Obrigada por tudo gente. Bem, ainda não é uma despedida. Nem terminei essa KKK mas obrigada.



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