A Escolhida escrita por Pharah


Capítulo 36
Trinta e seis




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Uchiha Sasuke

Era ascendente: dez de novembro 1523, Segunda-feira.

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No momento em que Temari cai, algumas garotas e empregados perdem a compostura, demonstrando desespero em forma de gritos. Não posso dizer que não me preocupo, mas não demonstro muito em minha expressão facial. Por sorte Tenten segura a garota, já desacordada, para que não bata a cabeça contra o chão. Alguns criados do castelo de Gaara se encarregam de levá-la para averiguar o que exatamente aconteceu.

Devo confessar... O preocupante mesmo não é Temari desmaiando, mas o que o rei de Suna fará. Não preciso olhar para Gaara; sei que está deveras furioso com o ocorrido.

— O que você fez com a minha irmã?! — algumas outras palavras foram ditas, desconexas e em sua língua natal, que tenho certo conhecimento, mas dito rapidamente dessa forma não pude compreender bem. — Não podem se safar disso!

— Ninguém fez nada com ela. Mas como pode ser sua irmã? — indago para mim mesmo.

Percebi que a loira não estava mesmo muito bem a cada passo mais perto do castelo, mas não imaginei que fosse irmã do rei. Ela, há anos, estava desaparecida e dada como possivelmente morta.

— Não sejas sonso! — esbraveja o rei. — Se isso for alguma estratégia de Konoha... — e ele chama seus guardas em sua língua.

Sinto o medo de todas as pretendentes a rainha do meu lado. Vejo também que isso pode significar uma guerra contra Suna, caso dê algo muito errado.

— Espere! — a voz de Sakura é escutada. — Não achas estranho que, caso seja sua irmã mesmo, ela veio de livre e espontânea vontade conosco? Se fôssemos os vilões por aqui, ela não trairia vossa majestade dessa forma.

Gaara pensa na possibilidade de Sakura até porque ela é real e plausível. O rei coça o queijo, ordenando em sua língua para que esperem e não façam nada no momento. Viro-me para a garota, orgulhoso, e ela soletra algo como conversa privada.

— O que achas de termos uma conversa privada? — indago para Gaara, mas com a língua dele. — Não tenho poder sobre Suna; não posso fazer uma armadilha. Se quiser, podem me revistar também.

— Tudo bem. — diz Gaara por fim. — Siga-me.

— Irei levar duas garotas. É interessante que leve algum estrategista, também. — Gaara assente, sério. — Sakura, Hanabi. Venham.

Começo a me arrepender de chamar as duas quando vejo a reação das outras garotas. Raiva, mágoa, rancor não direcionado a mim. Poderia causar problemas com as duas. Mas isso fica para outra hora. Nós três seguimos Gaara em silêncio, enquanto ele nos leva até uma sala com uma pessoa já dentro dela. Suponho que seja o seu estrategista, pois ele não fica surpreso com a nossa entrada. Faz uma reverência para todos nós, polido e neutro.

— Meu nome é Ryu. Prazer em conhecê-los, sou o estrategista real de Suna.

— A formalidade fica para depois. O que aconteceu lá em baixo? Não posso deixá-los impunes por terem raptado a minha irmã! Mesmo que ela esteja de acordo.

— Não acho necessário nos intimidar com a sua fala no momento, majestade. Não estamos no nosso território, sendo assim vossa majestade tem todo o poder para fazer o que quiser sem precisar disso. Estamos tão surpresos quanto qualquer pessoa... Mas, por favor, peço que tenha paciência e escute Temari. Qualquer coisas impensadas podem desencadear em uma guerra. — Sakura termina, ainda olhando nos olhos de Gaara.

Fico surpreso com a fala dela, além de ter algo nos olhos esverdeados que já presenciei diversas vezes no meu próprio pai. Firmeza, certeza e até um pouco de imponência. O que não foi percebido por ela, já que apesar disso, suas mãos estão fechadas e tensas.

— Konoha não raptou ninguém, majestade. Tenho certeza de que saberemos a história assim que ela acordar. — Hanabi diz, calma, completando a fala de Sakura.

Quando Gaara as olha de volta, Sakura não parece tão calma assim. Observo suas pernas tremendo e as mãos ainda tensas. Mas ela mantém seriedade e compostura na sua expressão. Não me atenho a olhar para ela muito, no entanto. Isso pode me distrair.

— E quem seriam vocês? — Gaara indaga com uma voz superior.

— Meu nome é Haruno Sakura, mas não sou ninguém. O que não invalida em nada do que eu disse.

Sakura... Cuidado com a boca audaciosa. Gosto do que ela diz, mas no momento isso pode ser um problema para todos nós. E foi exatamente por isso que trouxe Hanabi, que sorri, sagaz, sabendo o quão diferente a conversa seria depois de dizer quem é.

— Meu nome é Hyuga Hanabi, majestade. Sou a quinta escolha para governar o reinado do país do arroz, mas resido em Konoha no momento. Espero termos uma boa conversa, já que meu país fornece noventa e seis por cento da comida da qual se alimenta.

Quase quero rir da expressão de Gaara. Com os olhos e o cabelo de Hanabi seria impossível desconfiar de sua família. Ele muda a sua compostura e até mesmo faz uma reverência desajeitada para a garota, que continua com o sorriso sagaz. Sakura mantém-se impassível.

— Então esperaremos Temari. — ele finaliza. — Estarei indo entrar em contato com ela agora, fiquem com Ryu aguardando.

Quando Gaara sai, conto para o estrategista tudo o que ocorreu. Ele me ouve completamente imparcial e silencioso, o que demonstra um trabalho excepcional. No final, não tece nenhum comentário relevante, apenas diz que irá esperar ansioso com a volta de Gaara e Temari.

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No fim das contas, Gaara não volta para a sala, mas um criado seu nos direciona para sermos bem hospedados. Isso já significa muita coisa. Temari acordou e mostrou que não está contra Konoha, no mínimo. Ele adiou a nossa audiência para amanhã e pediu que Sakura e Hanabi fossem também. Hanabi parece satisfeita por ter sido incluída e Sakura também. Então, quando estamos já bem hospedados é a primeira coisa que observo a ela. Sakura fora chamada até o meu quarto, e se senta confortavelmente na cama king de dossel do luxuoso quarto do castelo.

— Parece feliz.

— É claro, depois de tudo o que eu disse, fiquei com medo de morrer.

Com tanta tensão ocorrendo, a doença de meu pai, o cansaço da viagem e das burocracias que tenho de fazer, permito-me rir. Não uma risada escandalosa, mas uma curta e verdadeira.

— Tens que melhorar a sua compostura, Sakura. 

— Achas que se eu melhorar isso, Sasuke-kun, eu seria uma boa rainha? — ela mexe no lençol alaranjado do quarto, distraída, sem me olhar nos olhos.

Fico surpreso com a sua pergunta; não pensei que seria tão direta assim. É claro que também não demonstro muita reação, por orgulho. Mas seu comentário me atinge em cheio.

— Isso e estudar mais um pouco sobre as burocracias de Konoha. — pontuo.

— É verdade. Mas ainda não leio tão bem assim.

Modéstia da parte dela, pois está avançando muito bem em seu ensino. Não demorará muito para conseguir ler um livro como qualquer pessoa alfabetizada tem capacidade.

— Em breve. — digo.

— Em breve. — ela repete.

E quando o assunto acaba o clima do local muda. É algo denso e intenso, mas não pesado de forma ruim. Sei que Sakura está pensando em me beijar, e eu também quero isso, mas devo ser mais cauteloso. Ainda que eu tenha, de fato, sentimentos em relação a ela, eu não posso dizer que já a escolhi como rainha. O país é mais importante que meus sentimentos. Ela tem potencial, é claro, mas o medo de ferir os seus sentimentos caso não seja escolhida me atinge.

— Sasuke-kun... — ela sussurra o meu nome de forma delicada. — Está tudo bem.

Com sua expressão, vejo que ela leu exatamente o que se passa na minha cabeça. E ela diz que está bem. Sakura compreende a minha situação e parece confortável por enquanto. Isso me faz ceder, no momento. Nossos lábios se tocam em um doce beijo que não dura nem cinco segundos, porque alguém bate na porta. Sakura se sobressalta e afasta com uma rapidez digna de uma gatuna e eu fico no mesmo lugar, sério por fora e deveras irritado por dentro.

— A princesa deseja vê-lo, senhor. — o sotaque carregado do habitante de Suna logo preenche a sala.

É peculiar chamar-me de senhor, no entanto não estou em meu país. Estranho seria se me chamasse de algo superior... Sakura ergue a sobrancelha ainda corada pelo nosso rápido momento íntimo e se recompõe antes que o homem adentra realmente no quarto.

— Princesa? Seria Temari? — Sakura indaga baixo para mim.

— Sim. Não há outra em Suna.

Logo tenho de deixar para trás Sakura no quarto reservado a mim, junto com a minha vontade de aproveitar nosso momento privado. Uma vontade poderosa de ficar carrancudo se apodera sobre mim, mas controlo esse desejo. Não posso ser mais mimado assim. Tenho deveres mais importantes que desejo carnal. Ainda que seja com Sakura.

Pondero mentalmente se ela iria continuar no quarto ou ir para o seu, mas essa pergunta se dissipa em minha mente quando chego até Temari. Ela traja ainda a mesma roupa que veio, mas parece outra pessoa. Sua expressão mudou de forma drástica. Um quê de tristeza é visto, mas também mais sabedoria e imponência. Não que ela não tivesse antes, mas agora ainda mais.

— Alteza. — ela cumprimenta usando o honorífico, mas não faz a reverência de cortesia.

Não dou atenção a isso, até porque ela tem um status maior que o meu no país em que estamos. Seria idiotice achar ruim.

— Princesa Temari. — não soa estranho falar assim, mas ela parece incomodada.

— Não. — diz. — Eu já reivindiquei isso mais cedo. 

E então ela me conta tudo o que aconteceu até chegar em Konoha.

— Então você foi escravizada. Provavelmente por mando do rei cobra.

— Foi o que concluí com Gaara. Embora não soubessem de fato que eu fosse uma princesa na época.

— Não teriam assassinado seu irmão se soubessem, isso é uma certeza.

O que não sai de minha cabeça é porque ela não havia contado que era uma princesa. Ou seu irmão. Seria mais fácil e talvez ambos estivessem vivos e aqui.

— Na verdade, acho que teriam. Eles eram do reino de Orochimaru, e na época pensamos que nos matariam para encobrir isso.

É uma possibilidade. Mas o rei cobra não deixaria uma brecha como essa de se aproveitar. Não quando ele mesmo gosta de manipular tudo que tem direito.

— Orochimaru faria questão de enchê-los de droga para esquecerem de tudo. E depois os entregariam meses depois após confirmar a falta de memória. Seu pai ficaria em dívida com ele e o segredo dos escravos continuaria salvo.

Ela abaixa a cabeça. Quando volta a olhar pra cima, seus olhos estão cheios de lágrimas.

— Não pensamos dessa forma... Eu... Deveria ter estudado mais. — lamenta.

Se a dor de perder um irmão é imensa, o que dirá a dor de perder o irmão por sua culpa. Não acredito que seja de fato culpa dela, entretanto é nítido que Temari não vê da mesma forma que eu.

— Eram apenas crianças. Não pode se culpar.

— Gostaria de pensar da mesma forma. — admite, amarga.

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Quando finalmente chega a hora de conversar com o Gaara sobre a escravidão, penso que no fim das contas nem precisaria mais de uma prova pra tudo isso. Temari é mais que o suficiente, mas ainda sim vou continuar com a minha ideia inicial. Sentamos todos — Temari, Sakura, Hanabi, Gaara, Ryu e eu — em uma mesa redonda, como se não tivesse nenhum lugar mais importante para ninguém. Gaara mantém um olhar severo e até mesmo um pouco estressado, o que é compreensível levando em conta tudo que aconteceu. Isso somando ao fato de que ele ainda é o rei e, portanto, deve ter ainda mais coisas para se preocupar.

— Acho que podemos começar. — a voz carregada de sotaque de Gaara inicia. — O que gostarias de me dizer com a sua visita, príncipe de Konoha?

— Eu, Uchiha Sasuke, vim até aqui para informá-lo de que seu país está sendo usado pelo reino do Som. Eles escravizam sua população por debaixo dos panos e eu tenho provas agora. Mas acho que depois de Temari, não preciso mais provar isso, no entanto, caso queira, posso lhe dar ainda mais evidências.

Sakura me parece desconfortável ao meu lado, embora não surpresa. Ela sabia da história da escravidão, mas não do caso de Temari. Isso deve ter atingido ela em cheio. Do meu outro lado, Hanabi parece impassível.

— Depois de tudo que aconteceu, não tem como não acreditar que você forjou provas. — Gaara conclui. — Acredito em Konoha, mas vou precisar delas em minhas mãos, caso seja necessário provar ao meu povo o motivo de perdermos as importações do Reino do Som.

A conversa está se dirigindo exatamente onde eu gostaria. No entanto, tudo parece bem estranho, já que era um consenso que a aliança seria feita. Sei que não posso apressar as coisas, já que tenho de fazer tudo ao gosto do Rei Gaara, mas desejo voltar ao meu país o mais rápido possível, principalmente por causa de meu pai.

— E do por que aliar-se a um país que é considerado hostil por aqui. — acrescento de forma mais seca do que deveria, mas Gaara não parece se importar muito.

— Já informei a ambos que não tenho o desejo de desfazer de nenhuma parte da minha vida. — Temari diz, ainda com um semblante abatido. — Amo os Suna tanto quanto os Sabaku e sendo assim não abandonarei nenhuma família. Dispondo dessa aliança, posso ser a ponte da amizade de Suna e Konoha. Uma embaixadora dupla que intercala entre os dois países, caso precisem de mais algum acordo, formal ou não.

Seria importante. Uma ex-princesa de Suna que foi salva e hospedada por anos em Konoha. É perfeito para celebrar a nova amizade entre os países, ainda que seja um tanto quanto peculiar.

— Não tenho objeções sobre isso. — digo.

Gaara assente, satisfeito com a participação de sua irmã. Ele não mantém o olhar nela por muito tempo, mas é visível a preocupação com a irmã, e talvez um pouco de orgulho.

— Também não tenho. Que seja feita a sua vontade, Temari. Mas o que realmente precisamos decidir agora são os termos das nossas alianças. Ainda que eu não queira continuar com mais nenhum tipo de aliança com aquele país, nós de Suna perderemos muito com isso. Não só os minérios, mas também dinheiro investido em uma guerra a qual não nos preparamos. Teremos algum tempo para isso, é claro, mas desejo pegá-los de surpresa.

— Se me permite dizer, Majestade. — Sakura inicia, olhando para o rei de Suna. — Não acho possível vossa Majestade pegar Orochimaru de surpresa. Se ele escraviza sua população, é de senso comum que ele dispõe de vários espiões por aqui, ou pelo menos "mercadores". Assim que a Majestade anunciar guerra contra o país do Som, eles iriam avisá-lo da ameaça.

Sakura chega a um ponto correto. Não tem como simplesmente pegá-los de surpresa. Mas é possível fazer de forma que não tenham tanto tempo de preparo como nós. E é exatamente isso que Gaara diz.

— Você está certa. — ele assume sem muita vontade. — Mas eles não terão tanto tempo quanto nós, e em poucos dias após esse anúncio já iremos atacá-los. E essa é uma parte crucial desse acordo entre três países. — Gaara se vira para Hanabi. — Porque ainda que Konoha nos ajude nessa invasão, precisaremos de abastecimento alimentício. Konoha se sustenta, mas nós não. Precisamos de um acordo sobre isso também.

— Embora seja de fato uma Hyuga, não sou a soberana. Não posso lhe dar uma resposta concreta hoje, mas sei que o rei ficaria interessado em saber o que o país do Arroz ganharia em abastecer Suna com um preço baixo em um momento de guerra.

Seria muita ingenuidade pensar que o país dos Hyuga fossem ajudar na guerra por bondade. Eles são conhecidos pela sagacidade extrema, o que é visto em demasia na Hyuga presente. Ela mantém seu sorriso um pouco desafiador, mas ninguém a tira do lugar, mesmo que seja de fato apenas um membro da realeza não tão importante quanto um rei ou o príncipe sucessor.

— Parte do controle do país do Som. É o que posso prometer tanto para Konoha quanto para o país do Arroz. Imagino que os dois países fiquem satisfeitos com isso.

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Sakura não teve tanta participação assim do acordo, mas ela estava lá, o que já foi suficientemente bom para que tenha mais experiência, além de ter começado a ser mais respeitada pelo rei de Suna. Foram poucos os comentários da garota, mas todos pertinentes, apontando alguns furos nas nossas ideias que foram prontamente corrigidos a tempo, como fechar as portas do país antes da guerra, salvo poucas exceções, para que os espiões não informassem rápido a nossa aliança. Não planejamos tudo de forma perfeita ainda, mas temos o nosso plano a grosso, que seria aperfeiçoado com a união dos nossos estrategistas junto com a resposta do Rei Hyuga. Hanabi já havia escrito a ele, e a resposta de certo não demoraria mais que uma semana para chegar. E esse seria o tempo em que deveríamos continuar em Suna. Não sou a favor, pelo meu pai, mas sou obrigado a concordar pela nova amizade. O último dia seria celebrado uma festa com um baile e banquete, e provavelmente nesse meio tempo Hanabi já daria sua resposta para a nova aliança. Tento não pensar muito sobre esse dia, porque festas me cansam no geral.

O que se passa mesmo na minha cabeça é a preocupação com Fugaku, somado a densidade de problemas que viriam com a guerra e a aliança que me deixam ainda mais exausto, e acabo por dormir o resto do dia.

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O último dia de estadia em Suna acaba por finalizar, sobrando apenas a noite do baile e banquete. As garotas aparentam ânimo e se vestem de forma típica de Konoha, como um sinal de que mesmo em Suna não somos apenas convidados, mas de igual importância, uma ideia de Temari, para deixar todas mais confortáveis. As garotas já sabem sobre a verdade da ex-princesa, e conversam animadamente com ela, que mais parece exausta que tudo. Uma cena não esperada também é vista: Sakura e Hanabi adentrando em dupla para o salão do baile. Elas não conversam muito e Sakura aparenta estar desconfortável com algo.

— É um tanto peculiar ver vocês duas tão próximas.

Seu kimono é longo a ponto de não poder enxergar qual sapato estaria usando em seus pés. O kimono no geral é simples, contendo apenas alguns bordados, diferente de todas as garotas de Konoha presentes. Tento não dar muita atenção nas vestes de Sakura, mas acabo a observando por mais tempo que gostaria, pois ela é a única com um kimono esverdeado como seus olhos. As outras garotas utilizam de diferentes tons avermelhados com bordados flamejantes e cabelos presos, demonstrando respeito a Konoha, que é considerado o país do fogo e o cabelo remete fidelidade a um possível relacionamento comigo. Sakura mantém seu cabelo solto, que simboliza a liberdade e isso a faz ainda mais irresistível e singular.

— Viramos amigas. — Hanabi sorri com escárnio, me tirando dos devaneios com a vestimenta de Sakura.

— As outras candidatas não estão satisfeitas com a nossa participação exclusiva em sua vida, Sasuke-kun. É como se elas estivessem sendo excluídas.

— E estão descontando em vocês duas?

Pergunto por que isso me incomoda. Intrigas desnecessárias não serão toleradas por mim, pois nenhuma das duas tinha culpa por terem mais atenção ou não. Isso cabe a mim e apenas a mim.

— Hah, elas não ousariam. — Hanabi debocha, já arquitetando o que poderia fazer caso contrário.

Sakura olha torto para Hanabi. A ameaça claramente não a agradou, mas percebo que não tece nenhum comentário sobre isso. Seria bobagem caçar confusão com uma Hyuga.

— Apenas nos ignorando. — Sakura responde.

Observo as outras garotas no salão de festas do castelo de Suna. Com exceção das duas ao meu lado, todas estão unidas, ainda conversando com Temari. Sinto uma aura de exclusão, de fato, pois elas se recusam a olhar para a nossa direção, e quando olham, vejo uma expressão insatisfeita no olhar.

—Tsc, essa atitude não vai ajudar em nada. Só demonstra imaturidade, e não é uma qualidade boa para uma futura rainha. E além do mais, a escolha é minha. Enquanto não há uma rainha, ainda tenho soberania sobre essas situações. — finalizando a conversa decido ir até Gaara, pois sei que teria de me apresentar alguns nobres, por etiqueta. Seria uma situação cansativa e demorada, mas tiraria o stress do meu humor.

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Quando todas as apresentações acabam, encosto-me a uma parede do salão  para descansar e me recompor. Gaara  me apresenta a tantas pessoas que se eu não fosse treinado a isso, imagino que teria esquecido o nome da maioria. Por serem pessoas de outro país, não conversei tanto com todos. Confesso que ainda tenho problemas na fonética da língua de Suna, embora pudesse entender bem o que todos diziam.

Vejo as garotas conversando animadamente ao lado de uma mesa com comidas belas e apetitosas, mas nenhuma come de fato. Ino olha para cima, alheia ao que está acontecendo, no entanto ela ainda continua na "roda". O que é diferente com Sakura. Procuro a garota com os olhos em todo o salão e acabo a encontrando na parede oposta a mim, já me olhando. Geralmente as pessoas tendem a desviar esse tipo de olhar, mas eu não o faço. Ficamos olhando intensamente para o outro. Os olhos de Sakura ficam ainda mais espetaculares com delineados negros em sua volta, marcando o seu olhar que já era inesquecível antes da maquiagem. Vejo agora mais atentamente os bordados do kimono esverdeado de Sakura. São pequenas e delicadas pétalas cor de rosa na periferia da vestimenta. Perfeito a ela, já que seu nome remete a cerejeiras. Seus lábios pintados em um tom róseo cálido se abrem em um sorriso convidativo, e os meus a respondem com um sorriso de canto, ainda longe, sem que eu tenha controle. A vontade de ir até Sakura para convidá-la a dançar é grande, mas devido à insatisfação das outras candidatas, não faço o que gostaria. O flerte de longe é bem interessante, no entanto. É como se nós dois estivéssemos travando uma batalha para ver quem desvia o olhar primeiro.  Seu olhar queima as minhas entranhas e sinto como se borboletas estivessem no meu estômago, como em histórias de amor dizem nas literaturas. Acho que agora entendo porque dizem que a arte imita a vida.

Sakura também aparenta estar um pouco afetada pelo nosso jogo, já que suas bochechas ficam adoravelmente avermelhadas. Aponto para as minhas bochechas, sinalizando que percebi o rubor, e seus lábios se crispam em um bico cômico.

— Alteza. Parece que há uma eternidade em que não conversamos. — a voz de Tenten soa ao meu lado, e quase me assusto a ponto de esboçar uma reação.

Sakura, no fim, ganha a batalha. Dou uma última olhada discreta nela, que dá os ombros, sorrindo. Mas sinto em seu olhar uma pontada de decepção.

— Tenho estado ocupado.

— Não a todas, a meu ver. — retruca, e olha para a direção de Sakura.

Isso me aborrece imediatamente. Quão ousada ela estava sendo com o futuro rei nesse momento? Ousadias nem sempre são coisas boas, tudo depende da situação. E aqui e agora, estou sem paciência alguma.

— Cuidado com a língua, Tenten. Se mais alguém demonstrasse sabedoria e não infantilidade, poderia consultá-las mais sobre questões políticas. — alfineto.

Tenten se assusta com a minha resposta áspera, porém logo se recompõe. Uma expressão de arrependimento é visto em sua face e sinto-me aliviado por ela ter percebido o quão errada está sendo.

— Perdoe minha indelicadeza, Alteza. É que não me foi permitido demonstrar ainda sabedoria alguma.

Na verdade, se ela não estivesse jogando sua insatisfação e ignorando Sakura, que nada controla as minhas ações, já teria demonstrado certa sabedoria. E calma.

— Tudo no seu tempo.

Não dou tempo para a conversa se prolongar e caminho sobre o salão. Ele é vasto e está, de fato, lotado. Com todos os diabos, como uma grande maioria de pessoas podem achar tão acolhedor festejar em companhia de tanta gente desconhecida? No entanto, sendo da realeza, devo jogar esse jogo. Caminho com uma expressão neutra e imponente, sem interesse algum em nada. Até uma cena inusitada ser vista por mim. Não esperava mesmo ver Karin conversando com um dos guardas de Konoha que haviam vindo, principalmente o que aparentava interesse em Sakura. Sasori? Algo assim. A conversa parece amigável, mas distante, de certa forma. A garota não demora a perceber que os observo e logo se despede do guarda sem muita demora. Karin segura o seu kimono avermelhado enquanto anda animada em minha direção. O kimono é bonito e sinto como se ondas escarlates estivessem se movimentando em sua parte de baixo devido aos desenhos bem ornamentados de fogo, simbolizando Konoha. Seus cabelos estão presos em um coque frouxo, mas bem elaborado e sua aparência é típica de uma garota de Konoha bem arrumada. Ela parece satisfeita com algo, também.

— Vossa Alteza não tem me dado atenção, acabo procurando outras pessoas para conversar, sabe? — Karin desabafa, mas não parece nervosa ou culpada por algo.

Então ela realmente viu que os observei conversando. Não me sinto mal por ter sido pego e nem me senti com ciúmes, apenas curioso.

— Eu não disse nada. Uma dança? — a chamo sem jeito, porque nunca consegui ser muito galante com ninguém.

Karin quase aparenta estar desapontada quando observo a sua faceta. Seus olhos delineados em uma maquiagem rubra brilham de uma forma diferente do que eu já havia visto, no entanto. 

— Seria uma honra. Eu gostaria de lhe dizer inúmeras coisas, Alteza.

Observo determinação em sua frase. Tenho uma vaga ideia de que será pela preferência de Sakura e Hanabi, mas imagino que não vá citar o nome de nenhuma das duas.

— Por exemplo?

Conversamos enquanto seguimos o ritmo de uma música clássica de Suna. Não sou um amante de músicas, por isso a reconheço apenas vagamente. Tenho de agradecer às aulas de etiqueta que tive e principalmente a Kushina por me convencer que era mais que necessário caso contrário teria problemas nesse momento.

— Senti falta das nossas conversas e divagações. Andas tão... Ocupado.

Como imaginei. Ela não cita as garotas, o que me deixa um pouco aliviado, de certa forma. Não gostaria que elas começassem a brigar, não seria algo atrativo para mim ou para qualquer uma delas na verdade.

— O reino faz isso com a realeza.

— E eu o compreendo! Embora eu gostaria de lhe ajudar em algum momento, se for possível. Apesar de falar muito sobre meu primo, também tenho interesse em outras coisas, como Konoha.

— É bom saber.

Karin fica pensativa, apenas seguindo o ritmo da música comigo. Está dividida sobre alguma coisa e morde os lábios, em dúvida.

— E para falar a verdade eu sei que alguma coisa está acontecendo. Naruto estava muito apreensivo em Konoha e agora a visita em Suna... Jamais iria pedir ou pressioná-lo a dizer algum segredo de estado, mas caso precise de qualquer coisa...

É muito reconfortante ouvir isso. Realmente, está bem óbvio para as garotas que algo está havendo. O meu sumiço, cansado e a visita são evidências. Mas a maioria está mais interessada em saber que estou dando mais atenção para Sakura e Hanabi. Sempre vi Karin como uma garota inteligente, mas que não fosse tão boa assim em questões políticas. Talvez eu esteja errado

— Karin, obrigado. — embora ela tenha dito muitas coisas para mim, a resposta é pequena, mas sincera.

E ela capta a gratidão e sorri de forma genuína. O sorriso de Karin é bonito e, embora seja uma Uzumaki, nada tem a ver com o de Naruto e Kushina. Isso é bom. Antes que ela diga mais alguma coisa, a música é finalizada. Paramos de dançar e ela me olha com expectativa, mas a digo que tenho outras garotas para conceder esta dança. Ela me agradece a oportunidade e se distancia logo após se despedir. Sei que Karin fica chateada por lhe dar pouco tempo comigo, mas não há muito a se fazer.

Observo uma das saídas do salão e decido tomar um ar fresco. Conversar com tantas pessoas fora cansativo, pois havia percebido a mágoa de ambas das garotas e falsidade de nobres. Sobre as canditadas, sei que parcela é culpa minha, deveria dar mais chances para as outras candidatas, mas isso se torna cada vez mais difícil com o passar dos dias. Imagino como será minha vida se eu não escolher Sakura... Mas isso dissipa da minha cabeça assim que observo uma escandalosa cena de Gaara, o rei de Suna, beijando Ino às escondidas.


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