Impasse escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 22
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Antes de começar esse capítulo eu gostaria de fazer uma recomendação para os fãs de Ron e Mione: Partners!
É uma história incrível que uma amiga está escrevendo sobre o casal, e todo mundo vai concordar que ela sabe fazer uma versão tão real desses dois que é impossível não amar.
https://fanfiction.com.br/historia/686553/Partners/
O prólogo está super pequenininho, mas eu sou leitora VIP e já li mais que isso, garanto que dali para frente só melhora ;)
Aproveitem Partners e vamos ao penúltimo capítulo de Impasse!



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Quando cheguei ao trabalho segunda-feira pela manhã, atrasado pela primeira vez em todos esses meses, antes mesmo de chegar à minha mesa eu já conseguia ver o sorriso sugestivo e curioso de Amy na minha direção.

—Bom dia, Harry. - Ela me cumprimentou surgindo por cima da divisória entre nossas mesas.

—Ótimo dia, senhorita. - Respondi bem humorado.

Sua expressão curiosa e agora divertida com a minha resposta me fez saber que ela me encheria de perguntas:

—Eu não sabia que a tal Ginny era tão mais bonita pessoalmente. - Afirmou sugestiva.

—Achei meio arriscado fazer propaganda para você. - Justifiquei em tom de piada e ela gargalhou. - É linda, não é?

—Sim, até demais. - Confirmou impressionada. - Que horas ela foi embora?

—Ontem a tarde.

—Então a visita foi compensadora? - Questionou com malícia.

—Você não imagina o quanto. - Respondi no mesmo tom.

—E qual era a tensão entre vocês? Você me disse que tinha um caso mal resolvido com alguém na sua cidade, mas aquele encontro no hall fez eu me sentir no meio de um caso que era tudo, menos mal resolvido. - O tom interessado não deixava esconder sua curiosidade.

—Já tem companhia para almoçar? - Perguntei e ela negou. - Então vamos juntos e eu te conto, tenho umas coisas para fazer agora.

—Ok, me chama quando estiver livre porque eu também tenho. - Concordou e sumiu do meu campo de visão quando se sentou novamente.

Me concentrei no trabalho por um bom tempo, sanando pendências e resolvendo alguns pontos ainda indefinidos, o que fazia as horas passarem a uma velocidade muito maior. O som de mensagem recebida me assustou um pouco, e só nesse momento percebi que alguns minutos já haviam se passado do meu horário normal de almoço.

—Vamos? - Convidei minha colega de trabalho enquanto desbloqueava o aparelho.

—Sim, só um minuto. - Concordou sem desgrudar os olhos da própria tela.

Relaxei na cadeira quando vi que era Ginny falando comigo e não consegui frear o sorriso com o que ela escreveu:

"Bom dia, melhor amigo."

Mantive o mesmo tom ao digitar minha resposta:

"Isso não é hora de acordar, melhor amiga."

Sua resposta me fez rir:

"Estou aproveitando meus últimos dias como desempregada, então ainda posso. Já comeu?"

—Terminei, vamos. - Amy anunciou parada em frente a minha mesa.

—Sim, só um minuto. - Pedi enquanto respondia a mensagem recém recebida:

"Estou saindo agora para isso. Depois converso com você, tudo bem?"

A resposta demorou um segundo mais do que o normal, o que eu não estranhei porque ela sempre era mais lenta ao acordar:

"Bom apetite, até mais tarde."

O próximo texto que enviei com certeza a faria sorrir, e eu digitei já me levantando e indo em direção a porta:

"Estou com saudades."

Sua resposta imediata também me arrancou um sorriso antes de guardar o celular no bolso:

"Eu também estou."

—Agora você vai ficar todo apaixonadinho? - Minha colega de trabalho perguntou quando entramos no elevador.

—Vou. - Garanti e ela revirou os olhos.

—Insuportável. - Resmungou me fazendo rir.

Atravessamos a rua para o restaurante em frente e nos sentamos à espera dos sushis que o garçom nos traria dentro de pouco tempo. Contei a ela o resumo da história enquanto almoçamos e ela não deu muitas opiniões, apenas disse que ficava feliz por nós e me desejou felicidades.

Voltamos ao trabalho antes do fim do nosso horário de almoço e eu aproveitei o tempo restante para ligar para Ginny e conversarmos por alguns minutos. Trabalhei concentrado durante o resto do dia, mantendo o hábito de sair mais tarde do trabalho e adiantar o máximo possível as questões profissionais.

Conversar com ela passou novamente a fazer parte da rotina, seja por mensagens rápidas durante o dia ou na ligação diária quando eu chegava em casa. Na quarta-feira enquanto conversávamos ela me informou que no dia seguinte viria para cá olhar alguns lugares para morar e pegar as chaves do futuro consultório para verificar se havia alguma mudança necessária. A visita aos apartamentos ela faria durante o dia, mas fui convidado para ir com ela a noite até seu futuro local de trabalho.

Eu nunca ia de carro para o trabalho, então combinamos que ela me buscaria no escritório em meu horário normal de saída e iríamos direto para lá. A expectativa de vê-la novamente me deixou um frio na barriga muito bem vindo durante todo o dia. Quando o relógio marcou a hora combinada na quinta-feira eu já havia e desligado meu computador e estava terminando de guardar as coisas na mochila, quando me lembrei que eu sempre ia para casa com Amy e tinha esquecido de avisá-la que hoje meus planos eram outros.

—Amy. - Chamei sobre a divisória e ela me olhou. - Me empresta sua tabela de cores? Te devolvo amanhã. - Ela me entregou o que pedi e eu a guardei também antes de continuar. - Obrigada. Eu já estou indo embora.

—Essa hora? - Surpreendeu-se.

—Ginny está aqui embaixo me esperando, vou com ela até o consultório. - Expliquei e ela assentiu, entendendo o motivo. -Quer carona para casa?

—Se ela não se importa, eu gostaria.

—Claro que não, Ginny é super legal. - Defendi ocultando propositalmente o fato de que ela provavelmente ficaria com ciúmes.

Ela se apressou em arrumar e caminhou ao meu lado durante todo o percurso até o carro vermelho estacionado em frente ao prédio. Mesmo de longe eu notei a cara de surpresa da motorista quando nos viu sair juntos da portaria, o que me lembrou que ela não sabia que Amy era também minha colega de trabalho, não somente minha vizinha. Entramos no carro ao mesmo tempo, ela muito mais tímida do que eu.

—Oi, Gin. - Cumprimentei me acomodando no banco da frente com um sorriso estampado no rosto, logo antes de lhe dar um selinho demorado. - Se importa de dar uma carona para a Amy até em casa?

—Oi, Harry. - Fez carinho na minha mão apoiada em sua perna antes de se virar para trás e sorrir simpática. - Claro que não. Oi, Amy.

Perguntei a ela como tinham sido as buscas e conversamos entre nós durante todo o pequeno percurso, não mais do que cinco minutos de carro. Só quando paramos em frente a minha casa nos viramos para nos despedir da passageira silenciosa acomodada ali.

—Muito obrigada, Ginny. - Ela agradeceu educada enquanto apanhava a bolsa colocada ao seu lado no banco. - Foi um prazer novamente.

—Não há de que, o prazer foi meu.

A troca de cordialidades não poderia ser mais forçada por parte da ruiva ao meu lado, o que só a tornava mais interessante de se assistir visto como ela era boa em disfarçar isso.

—Tchau Harry, até amanhã. - Ela foi mais informal e desinibida ao se despedir de mim e eu respondi da mesma forma.

—Até, boa noite.

Assim que a porta foi fechada ela arrancou com o carro para continuarmos nosso caminho. Me virei para ela no banco do carona, acomodei minha mão em sua nuca e fiz carinho durante todo o percurso. Minha intenção era perguntar como havia sido sua semana, mas ela se manifestou antes de mim:

—Ela trabalha com você?

—Sim, na mesa ao lado. - Respondi sem interromper o movimento dos meus dedos. - Ela é bem legal.

—Ah. - Foi monossilábica ao responder e não desviou o olhar da rua a frente.

—Você vai gostar dela quando conhecê-la melhor. - Argumentei e ela arqueou a sobrancelha.

—Eu vou conhecê-la melhor? - Perguntou num tom calmo.

—Provavelmente sim.

—Uhn. - Resmungou e não falou mais nada.

—Como foi sua semana? - Questionei sem tocar no assunto anterior.

Conversamos coisas aleatórias até chegarmos ao prédio alto e bonito no lado sul da cidade, onde ela finalmente se estabeleceria como psicóloga. Subimos abraçados no elevador até o andar correto e ela abriu a porta revelando um lugar branco e sem graça, como eu imaginei que fosse visto a finalidade que tinha até dias atrás. Não era um espaço grande, mas imagino que para seu propósito nada além daquilo fosse necessário.

Olhei atentamente a recepção retangular, os dois banheiros à esquerda e o consultório quadrado ao fundo. Ginny foi à frente olhando minuciosamente todos os cantos, provavelmente pensando como tudo ficaria depois de arrumado. Coloquei a mochila no chão, parei encostado à parede e esperei que ela terminasse de observar em volta antes de fazer minha pergunta:

—O que achou?

—Meio branco demais. E você?

—Meio sem graça, nada a ver com você. - Opinei sinceramente.

—Tudo o que um paciente psicológico não precisa é se sentir em um hospital. - Afirmou e eu acenei concordando.

—Vem, vamos mudar isso. - Convidei me sentando no chão e abrindo minha bolsa.

Ela se acomodou ao meu lado e observou quando puxei de dentro a tabela de cores e meu tablet. Fiz algumas perguntas de praxe como quais eram suas preferências, o que ela tinha imaginado para o local e qual tipo de público esperava receber ali. Iniciei o aplicativo que faria a simulação do projeto e inseri as medidas aproximadas do lugar antes de começar.

—Da uma olhada e me fala o que você gosta mais. - Pedi entregando a ela as inúmeras páginas coloridas.

Ficamos em silêncio vários minutos enquanto ela procurava entre inúmeros tons patéis e eu organizava alguns objetos e móveis pelo ambiente mostrado na minha tela. Quando Ginny falou novamente ela tinha um tom tão casual que eu tive certeza que aquela pergunta foi ensaiada:

—A Amy é bem bonita, não é?

—Sim, ela é. - Respondi do mesmo modo, segurando o riso e me mantendo concentrado no que estava fazendo. - Mas você precisa ver a Alice.

—Ah, tem uma Alice também? E mais bonita que a Amy? - Perguntou irônica e eu senti seu olhar queimar meu rosto.

—Na verdade a Amy é mais bonita, mas a Alice é mais gostosa. - Esclareci me esforçando para manter o tom sério. - Você vai conhecê-la uma hora.

—Não estou muito interessada.

Com essa resposta não me aguentei e ri, me virando para olhar para ela também. Sua expressão me dizia que ela não conseguia enxergar nenhuma graça nesse assunto.

—Pergunte o que você quer saber. - Pedi olhando divertido para ela.

—O que eu quero saber? - Desafiou sem alterar sua expressão.

—Quem é a Alice.

Ela suspirou se rendendo a curiosidade e fez a pergunta certa:

—Quem é Alice?

—A namorada da Amy. - Respondi e ri com vontade diante da sua expressão de entendimento.

—Oh, sério!? - Exclamou com a expressão mais amigável, ela era quem se esforçava para não sorrir agora.

—E só para aumentar seu ego, a Amy acha você super linda. A Alice nunca viu sua foto, eu acho, não a vejo com muita frequência e nunca conversamos sobre essas coisas. - Esclareci e ela riu.

—Fico lisonjeada. - Falou satisfeita com o desfecho do assunto e voltando sua atenção para a escala de amarelos que estava estudando.

—Ciumenta. - Acusei virando seu rosto para mim e roubando um beijo rápido. – Eu não disse a ninguém que você está morrendo de ciúmes, então pode começar a ser simpática de verdade agora, ninguém percebeu que você estava fingindo então não vão achar estranho.

Ela riu com vontade da minha sugestão, mas não negou minhas afirmações sobre o que sentia. Ela me mostrou alguns tons e eu apliquei as cores como sugerido, após alguns retoques mostrei a ela o resultado do meu esboço e discutimos por bastante tempo até chegar a uma conclusão que a agradou bastante.

—Quando você se muda para cá? - Perguntei enquanto ela dirigia de volta para minha casa, algumas horas depois de fazermos os ajustes e de parar em um fast food para comer.

—Eu queria já estar aqui quando começar a trabalhar, então vou tentar organizar tudo para a próxima semana.

—Encontrou algum lugar legal hoje?

—Sim, mas estou um pouco em dúvida ainda. Queria um lugar perto de lá, mas morar no centro me parece tão agitado. - Opinou e eu concordei.

—Você não vai encontrar aqui um bairro calmo como o de lá, já sabe, não é?

—Sim, imaginei. - Suspirou pensativa. - Vou ver mais três opções amanhã.

—Não precisa ter pressa, uma hora vai aparecer o lugar ideal. Se não encontrar nada até lá você fica aqui comigo uns dias. - Ofereci e ela me olhou agradecida.

Nenhum de nós dois precisava explicar porque não considerava uma boa ideia morar juntos quando as coisas ainda eram novas. Pressa nunca fez bem a nenhum relacionamento, então também não faria ao nosso.

—Estava pensando em ir para a casa dos meus pais esse final de semana. - Comentei e ela demonstrou gostar da ideia. - Quer conhecer minha mãe? - Perguntei galanteador e a fiz rir.
Estacionamos o carro em frente ao meu prédio antes que ela me respondesse e descemos juntos.

—Já conheço sua mãe, Harry. - Me lembrou o óbvio e eu revirei os olhos para sua falta de compreensão.

—Você conhece minha mãe como minha amiga, agora precisa conhecê-la de novo. - Expliquei enquanto subia as escadas e procurava a chave na mochila. - É outra versão de Lily Potter, que com certeza vai querer sair para jantar em algum lugar, então você vem junto e me ajuda a responder o monte de perguntas que ela vai fazer.

Ela me olhou desconfiada quando sugeri isso, mas só respondeu quando já estávamos na sala e com a porta fechada.

—Já respondi muitas perguntas da tia Lily. - Argumentou sem negar meu convite. - Mas eu adoraria, se eles não se importarem também.

—Com certeza estão mais ansiosos do que você. - Afirmei e me arrumei no sofá quando ela deitou no meu colo.

—Ron te encheu de perguntas? - Quis saber, se acomodando quando comecei meu carinho no seu rosto.

—Sim, e a você?

—Também, mas menos do que a minha mãe. O que foi bem estranho, porque ela nunca foi de conversar sobre isso comigo.

—Ela gostou da novidade? - Perguntei interessado nessa resposta, porque a opinião dos pais dela sobre nós era indefinida para mim.

—Bastante, todos eles ficaram felizes. - Garantiu e eu me senti satisfeito.

Combinamos de ir assim que eu saísse do trabalho na sexta-feira a tarde e marcamos o jantar com meus pais para o mesmo dia. Ginny se encantou por um dos lugares que visitou e fechou seu contrato de locação, então viajamos cada um em seu carro, pois domingo eu voltaria para casa e ela ficaria pelos próximos dias organizando suas coisas para a mudança definitiva.

Nossa primeira parada foi a casa dela para que trocasse de roupa e eu aproveitei para ver tia Molly, a quem não via desde que me mudei. Subimos abraçados os degraus que separavam a garagem do corredor de entrada enquanto ela me contava os detalhes de sua futura casa e ainda dessa maneira encontramos o resto da família sentada no sofá, incluindo Hermione. Eles pareceram realmente felizes em me ver, mas aparentemente ninguém estranhou chegarmos juntos e abraçados, nem quando ela me disse que só iria se trocar e logo poderíamos sair.

Me acomodei no sofá ao lado do Ron, Tio Arthur e Tia Molly disseram que eu sumi, perguntaram as novidades, como eu estava me saindo e mais algumas coisas do dia a dia, mas não deram nenhum sinal de que algo havia mudado, embora eu já soubesse que eles sabiam de tudo. Um tempo depois os dois disseram que estavam de saída e se despediram, apenas nesse momento ela parou ao meu lado e perguntou interessada:

—Está tudo certo agora?

—Está sim, tia. - Respondi entendendo sobre o que ela estava falando.

—Ficamos muito felizes. - Afirmou satisfeita e sumiu porta afora.

Assim que ficamos apenas os três no cômodo me virei para meu amigo:

—Ninguém está surpreso?

—Não, Ginny fez questão de deixar tudo bem claro, saltitando pela casa a semana inteira. - Explicou e eu ri.

—Pela naturalidade deles parecia até que eu entrava aqui agarrado com a sua irmã todos os dias. - Ironizei e ele riu.

—Não que fosse muito diferente, não é? - Hermione se manifestou pela primeira vez.
—Estamos aperfeiçoando os meios agora. - Respondi brincalhão e eles riram.

—Vai ficar por aqui o final de semana inteiro? - Meu amigo questionou.

—Sim, volto para casa domingo a noite.

—Vocês já tem programa para hoje?

—Se ela terminar ainda hoje vamos jantar com meus pais. - Contei olhando no relógio e vendo que já haviam se passado mais de quarenta minutos desde que chegamos.

—O atraso não mudou nesse tempo, cara. - Ron me consolou rindo.

—Nada é perfeito, não é? - Comentei conformado e me levantando do sofá. - Vou apressá-la.

Não me preocupei em bater na porta antes de entrar, e ela estava vestindo apenas sutiã, uma calça e botas de salto enquanto penteava os cabelos. Mantendo os velhos hábitos me deitei em sua cama para esperar e pedi que ela terminasse logo para irmos. Gin não demorou muito mais para finalizar o que estava fazendo, vestir um suéter e um casaco e se acomodar no meu banco do passageiro.

Estacionei em frente à casa dos meus pais e usei minha própria chave para entrar. Os dois estavam sentados na sala quando chegamos e os olhares de ambos foram para nossas mãos unidas. Ginny não demorou um segundo antes de se soltar de mim e cumprimentá-los com entusiasmo e um abraço em cada um.

—Oi, tia Lily. - Deu um beijo em minha mãe e em seguida no meu pai. - Oi, tio James.

—Oi, Ginny. Com vai? - Ele perguntou retribuindo seu sorriso.

—Muito bem, e você?

—Estamos ótimos. - Minha mãe se adiantou em responder. - Ficamos muito felizes quando Harry disse que você viria também.

Me apressei em cumprimentá-los também com um abraço demorado, e antes que o assunto se estendesse ali convidei para irmos. Eu a levaria em casa depois, então fomos no meu carro e meus pais juntos no veículo a frente.

Me sentei ao lado de Ginny com os dois à nossa frente, e as perguntas não demoraram a surgir depois que os pratos e bebidas foram pedidos, a única diferença é que eu não era o foco delas dessa vez:

—Como estão os preparativos, Gin? Minha mãe perguntou.

—Preparativos para que? - Meu pai interrompeu para colocar-se dentro do assunto.

—Ela vai se mudar para a capital também, Arthur se ofereceu para montar um consultório a ela.

—Oh, sério? É uma ótima maneira de começar a carreira, sem dúvidas. - Opinou e ela assentiu concordando.

—Está tudo indo muito bem, melhor até do que eu imaginava. Vou conseguir iniciar antes da data que tinha falado, daqui a duas semanas já está funcionando. - Respondeu como se minha mãe estivesse completamente a par do que acontecia com seus planos profissionais.

—Quanto antes melhor, mas é tempo suficiente para organizar tudo?

—Harry está me ajudando. - Gin esclareceu e encaixou sua mão na minha por cima da mesa, me lançando um sorriso cúmplice e agradecido.

O olhar satisfeito da mulher a nossa frente foi tão evidente que Ginny desviou o olhar sem graça enquanto minha mãe sorria.

—Vocês já estão namorando? - Questionou empolgada.

—Estamos começando ainda, mãe. - Fui vago, esperando que ela entendesse que nem nós dois ainda sabíamos a resposta para sua dúvida.

—Harry não me contou como foi o encontro de vocês na semana passada. Ele gostou da surpresa? Conversaram bastante?

As bochechas da ruiva ao meu lado ficaram quase da cor do cabelo, e eu tinha certeza que ela estava imaginando quão constrangedor seria dizer que nossa prioridade não havia sido necessariamente conversar. No entanto, antes que eu dissesse algo que respondesse a pergunta sem tantos detalhes meu pai comentou, rindo com sarcasmo:

—Você acha que a primeira coisa que eles fizeram foi conversar, amor? Olha a cara do Harry, claro que ele gostou da surpresa.

Eu ri do comentário, Ginny me olhou de canto como quem claramente perguntava se era sempre assim, e os dois trocaram um olhar de compreensão como se não estivéssemos ali.

—Ron não socou sua cara de novo, né? - Minha mãe perguntou fazendo piada.

—Meu irmão te deu um soco? - Me perguntou espantada, se esquecendo da timidez.

—Quando? - Meu pai se juntou a ela, interessado.

—Já faz tempo, no dia seguinte ao que voltamos da viagem à casa dos seus pais. - Contei a ela, mas sob o olhar atento de todos.

—Por que? - Quis saber, a expressão confusa.

Eu não tinha problemas em dizer o motivo na frente dos meus pais, mesmo porque minha mãe já sabia, mas achava que ela ficaria um pouco sem graça em conversar sobre isso com eles.

—Depois eu te conto. - Prometi e ela.

Tal manobra só foi possível porque era o Sr. e não a Sra. Potter querendo saber o que houve, no quesito curiosidade ela sempre vencia de todos nós. Ginny assentiu e não tocou mais no assunto.

Nossos pratos chegaram e por alguns momentos o silêncio se instaurou, até que minha mãe se manifestou novamente:

—Quando você se muda, Ginny?

—Vou tentar organizar tudo para a próxima semana, quero já estar lá quando começar a trabalhar.

—Vocês vão morar juntos? - Perguntou direta e sem rodeios.

—Não. - Respondemos em uníssono, o que fez os quatro rirem.

—Não queremos apressar as coisas, não precisamos ter pressa. - Ginny explicou e ela assentiu.

—Eu acho que vocês estão certos. - Meu pai opinou e eu assenti concordando.

—Já aluguei um apartamento para mim, próximo de onde será o consultório. - Contou, dando suporte ao fato.

—Você vai ajudá-la, Harry?

—Se ela precisar de mim é claro que sim. - Respondi como se fosse óbvio.

—Ginny, você pretende vir para casa com uma frequência maior do que uma vez a cada dois meses? Assim quem sabe Harry se anima a te acompanhar. - Comentou ressentida.

Eu e Ginny rimos, meu pai fez cara de quem concorda com a esposa.

—Vou tentar vir o máximo que conseguir, e posso tentar também persuadir o Harry para me acompanhar sempre. - Prometeu.

—Mãe, eu não tive tempo. - Expliquei novamente. - Ninguém precisa me persuadir a vir ver vocês.

Ela me olhou claramente descrente, me fazendo revirar os olhos. Conversamos mais algumas banalidades e mais perguntas foram feitas até terminarmos de comer.

Pousei meus talheres quando terminei, me acomodei confortavelmente na cadeira e coloquei meu braço ao redor de Ginny. Ela se acomodou também e sorriu para mim pousando a mão na minha perna, me inclinei e dei um beijo no seu rosto. Tudo isso foi muito casual e espontâneo, mas desencadeou a pergunta mais embaraçosa da noite:

—Teremos netos lindos, não é querido?

Nos viramos de súbito para eles a tempo de ver minha mãe sorrir satisfeita e sonhadora e meu pai concordar com um aceno antes de dizer:

—Com certeza teremos, amor.

—Vocês querem ter filhos logo? - Ela perguntou com expectativa.

—Eu não me importaria de ser avô logo. - Ele corroborou com a questão.

Olhei para Ginny e atraí seu olhar, entre divertida e sem entender nada ela riu, indicando que também achava aquele assunto muito estranho.

—Não estamos pensando nisso, mãe. - Respondi esperando que fosse suficiente para encerrar a discussão.

—Mas por que? Vocês não querem ter filhos? - Seu tom era quase magoado e eu me controlei para não rir dela.

Tempos atrás eu já tinha conversado com Ginny a respeito de filhos, bem antes da nossa viagem juntos sequer ser planejada, e eu sabia que ela queria ter filhos. Sua posição quanto a isso, no entanto, era a mesma que a minha: daqui a muito tempo.

—Não é isso, mãe, só que nenhum de nós dois acha que é hora de pensar em crianças.

—Eles são as crianças ainda, Lily. - Meu pai zombou.

—Mais ou menos isso, pai. - Concordei encerrando o assunto.

Contei a eles algumas coisas que aconteceram nas semanas que não nos vimos e eles disseram como havia sido a viagem para a casa dos meus avós enquanto terminamos nossas sobremesas. Meu pai pediu a conta quando todos estávamos satisfeitos e eu segurei a mão de Ginny quando ela começou a abrir a bolsa:

—Você ainda nem tem renda, lembra? Deixa comigo hoje. - Afirmei divertido para que só ela ouvisse.

Ela agradeceu enquanto ria e não insistiu. Quando entreguei meu cartão meu pai fez o mesmo comigo:

—Hoje é por minha conta, crianças. - Determinou brincalhão.

Como presentes dos pais não devem ser recusados nunca, apenas agradeci e não insisti. Caminhamos juntos até a saída e esperamos enquanto traziam os veículos. Ginny se despediu deles com um abraço e eu avisei que daqui a pouco chegaria em casa, nos acomodamos e saímos em direção à casa dela.

—Minha mãe sabia que você se mudaria para lá desde quando? - Perguntei me referindo à familiaridade do assunto entre ambas.

—Contei a ela assim que me decidi, deve fazer um mês, mais ou menos.

—Vocês duas conversam?

—Sim, por que? - Confirmou sem entender a pergunta.

—Por nada, é legal que vocês se deem bem. - Expliquei sinceramente.

—Mas ela é realmente outra pessoa quando você está por perto. - Comentou se referindo às perguntas um tanto embaraçosas.

—Isso é só no começo, daqui a pouco passa. - A tranquilizei rindo.

—Ela sempre perguntou para as garotas que você apresentou a ela sobre os filhos de vocês logo no primeiro jantar? - Perguntou sem especulações, apenas por curiosidade.

—Na verdade depois dos jantares ela sempre me dizia que só devo ter filhos quando encontrar a mulher certa para isso. Vai ver essas perguntas são o modo sutil que ela tem de me dizer que agora eu acertei. - Contei e ela sorriu muito satisfeita com o que ouviu.

Ela se deitou no meu ombro e ficamos em silêncio pelo resto do caminho.

—Obrigada pelo convite, adorei jantar com vocês. - Agradeceu quando parei em frente a sua casa.

—Muitos outros virão. - Afirmei me virando de frente para ela e recebi um sorriso antes que ela me beijasse. - Amanhã vou passar o dia com eles, tudo bem?

—Claro, e eu vou começar a organizar minhas coisas. Não separei ainda o que vou deixar aqui.

—A noite acho que vou sair com o Ron. Quer vir também? Matar a saudade dos velhos tempos? - Convidei com o rosto na curva do seu pescoço.

—Pode ser, a gente se fala durante o dia para combinar direitinho.

—E domingo antes de ir embora eu passo aqui. - Informei e ela assentiu.

—Vou te esperar.

Namoramos por alguns minutos antes de nos despedirmos e ela entrar. Quando cheguei em casa a luz acesa na sala me dizia que nem todo mundo tinha ido dormir. Estacionei o carro na vaga que continuava sendo minha e, como previsto, encontrei minha mãe sentada no sofá.

—Papai já foi dormir? - Perguntei enquanto fechava a porta.

—Sim. Agora somos só nós dois, já pode me contar tudo. - Pediu empolgada e eu ri.

A cena não era nenhuma novidade, e pelas próximas duas horas respondi a todas as suas perguntas e contei tudo o que havia acontecido desde a semana anterior.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!
Me desculpem a demora dessa semana, não consegui postar ontem =/
O que acharam do capítulo? Espero que tenham gostado!
O próximo é o último e depois teremos um pequeno epílogo, estou ansiosa pela opinião de vocês nessa reta final.
Não deixem de me dizer o que acharam de tudo.
Até a próxima semana,
Beijos!



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