Impasse escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 23
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Antes desse capítulo eu preciso agradecer à Cella Black pela recomendação linda que me deu essa semana. Ela escreveu em seu texto que não recomenda como amiga, mas sim como leitora. Pois aqui eu agradeço como ambas: amiga e escritora.
Escrever me trouxe inúmeras coisas boas e você foi uma delas, catilanga. Obrigada pela recomendação, pelos reviews, pelas inumeras risadas e conversas no whatsapp, pelas consultorias fora de hora e por me receber tão bem quando fui de SP a Belém só para conhecer vocês. Você é uma linda ♥
Agora sim, ao último capítulo.



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Ginny me pediu que acompanhasse as mudanças no consultório e algumas questões burocráticas de sua nova casa, assim quando finalmente se mudou, no fim de semanas seguinte, eu já conhecia os dois lugares muito melhor do que ela. Viajei para nossa antiga cidade na sexta feira a noite para ajudá-la com as coisas e voltamos juntos no sábado logo depois do almoço. Todo o final de semana foi gasto limpando e colocando as coisas no lugar onde deveriam ficar. Seu novo quarto era quase uma cópia do antigo, e isso a fazia se sentir em casa.

Passamos esse e praticamente todos os outros finais de semana juntos.

Ela também só trabalhava de segunda a sexta, então muito do nosso tempo livre no começo foi gasto explorando os lugares que não constavam em rotas turísticas e conhecendo preferências e detalhes um do outro que antes não fazia sentido perguntar. Descobri que Gin parece até outra pessoa e quase não se mexe quando dormimos de conchinha e que ela adora isso, quase tanto quanto gosta de tomar banho tagarelando enquanto me deixa com frio fora do jato quente da água do chuveiro.

A balada que ela me devia aconteceu nas primeiras semanas em um local que nos pareceu simpático visto de fora, mas o ambiente era escuro demais e parecia de alguma forma mais agressivo e intenso do que os que estávamos acostumados. De qualquer forma o passeio rendeu muitas risadas e uma noite divertida que acabou na casa dela, que era a mais próxima dali.

Começamos a estabelecer uma rotina confortável entre nós, onde o contato diário era garantido e a companhia para os dias frios também.

Manter nossa decisão de ir devagar era bem difícil quando morávamos os dois longe das nossas famílias e amigos de infância e ambos sozinhos, cada um em sua casa em lados opostos da cidade. A tentação de ter alguém para conversar e conviver quando saímos cansados do trabalho nos obrigou a estabelecer a meta de dormir em nossas próprias casas e sozinhos pelo menos três vezes por semana. De modo geral tivemos sucesso em manter as regras, salvo algumas exceções compreensíveis.

Ginny é uma das pessoas mais carinhosas que conheço, e tal qualidade se multiplicou a medida que nossa relação evoluía. Nesse ponto combinávamos, porque eu gostava muito de ser romântico com ela e vê-la não precisar se esforçar para retribuir minhas gentilezas me deixava feliz. Não foram poucas as vezes que ela aproveitou seus horários livres para atravessar a cidade apenas com o objetivo de me fazer companhia durante o almoço.

Os primeiros meses para ela foram um pouco parados, mas aos poucos as recomendações foram se espalhando, os horários vazios sendo preenchidos e essas ocasiões se tornando mais raras, mas eram sempre uma surpresa agradável quando possível, como agora:

—Oi, Gin. - Atendi sua ligação inesperada no meio do dia, pouco antes do meio dia.

—Está livre para mim hoje? - Perguntou e eu ouvi o barulho da rua de fundo.

—Sempre. - Afirmei sorrindo e olhando no relógio. - Que horas?

—Daqui uns vinte minutos. Só nós dois hoje, tudo bem? - Pediu se referindo ao fato de que as vezes Amy nos acompanhava.

—Tudo bem, me avisa quando chegar. Beijos. - Ela também se despediu e desligamos.

Aproveitei os minutos até meu celular tocar novamente e me apressei em descer quando li sua mensagem dizendo que já estava aqui. Normalmente ela estacionava o carro em algum lugar perto e íamos a algum restaurante nas redondezas, então estranhei quando ela me esperou na vaga destinada a embarques rápidos sem nem desligar o motor. Me acomodei ao seu lado e antes mesmo de me dar um beijo ela saiu em direção à avenida principal. Me inclinei em sua direção e grudei os lábios em seu rosto em um beijo demorado, quando voltei ao meu assento coloquei o cinto de segurança e pousei a mão em sua perna.

—Onde vamos?

—Sua casa. - Respondeu se virando na sua de acesso ao meu apartamento.

—Por que?

—Só nós dois hoje. - Esclareceu com um sorriso rápido em minha direção.

—Não trouxe minha chave. - Me desculpei.

—Eu trouxe a minha.

—Garota esperta. - Elogiei acariciando sua coxa.

Ela estacionou em frente ao prédio e pegou uma sacola no banco de trás antes de subirmos.

—O que é isso? - Tentei espiar por entre as alças.

—Comida chinesa. - Explicou enquanto destrancava o portão. - Estou morrendo de fome.

—Eu também. - Afirmei e segurei sua mão livre para subirmos juntos. - Você não tem mais pacientes hoje?

—O próximo é daqui três horas. - Contou quando paramos em frente minha porta.

Apanhei as sacolas para que ela a abrisse e deixei que entrasse primeiro que eu. Ela foi à cozinha buscar talheres enquanto eu abria as duas caixinhas de comida e deixava sob a mesa de centro. Comemos sentados no chão um ao lado do outro, encostados no sofá e conversando durante todo o tempo.

Quando terminamos as embalagens foram deixadas sobre o móvel à nossa frente e ela deitou a cabeça no meu ombro. Fiz carinho no seu rosto um tempo antes de dizer:

—Só nós dois é realmente só nós dois então?

—Estava com saudade hoje. - Falou se acomodando na curva do meu pescoço.

—Ontem não? - Brinquei enquanto a puxava para o meu colo.

Ela se sentou de frente para mim com uma perna de cada lado e se deitou de novo no meu ombro em um abraço gostoso e confortável.

—Ontem um pouquinho, mas hoje é um daqueles dias em que eu estou loucamente apaixonada. - Explicou enquanto eu alisava suas costas por baixo da camisa social.

—Então é um daqueles dias em que eu me aproveito. - Comentei e ela riu. - Eu estou loucamente apaixonado todos os dias, florzinha.

—Por isso eu me aproveito todos os dias. - Afirmou se afastando para me olhar. - E florzinha não, por favor. - Pediu revirando os olhos e me fazendo rir.

—É bonitinho, igual a você. - Me defendi rindo e ela fez cara de quem não concorda.

—Hoje é sexta feira. - Mudou de assunto.

—Quer dizer que já posso me enfiar na sua cama de novo? - Apoiei minhas mãos em seu quadril enquanto dizia.

—Isso mesmo, o melhor dia da semana. - Confirmou satisfeita. - Você quer jantar fora?

—Hoje não estou muito disposto a sair, prefiro ficar em casa só nós dois. - Neguei seu convite e ela resmungou. - Eu vou direto para sua casa quando sair, passo em algum lugar e levo uma coisinha diferente, o que acha?

—Pode ser. Meu último paciente é as quatro então pode deixar que eu penso em algo, vou chegar bem mais cedo do que você. - Se ofereceu, mas eu neguei.

—Não, hoje deixa comigo. - Insisti e ela assentiu.

—Tudo bem, então.

Olhei no relógio e vi que já havia passado dez minutos do meu horário de retornar.

—Preciso ir, Gin.

—Vamos, eu te deixo lá. – Me deu um selinho e se levantou.

Ela me puxou pela mão quando ficou de pé e eu me levantei também. Trocamos um abraço apertado e carinhoso antes de eu dizer:

—Eu vou de carro, assim saio de lá e já vou direto. Dá um tempo aí deitada antes de voltar. – Sugeri e ela assentiu.

—Acho que vou fazer isso mesmo, se eu sair daqui uma hora ainda dá tempo. - Aceitou a proposta e me abraçou de novo. -Até mais tarde.

—Até. - Trocamos um beijo demorado e gostoso antes de nos separarmos novamente. - Fecha a porta para mim, por favor. -Pedi enquanto pegava as chaves do carro e lancei um beijo para ela antes de sair.

Devido a quantidade de visitas o guarda roupas de Ginny já tinha também algumas peças minhas, então eu não precisava me preocupar em levar nada. Desci as escadas correndo e menos de quinze minutos depois me acomodei novamente em minha mesa de trabalho.

Alguns minutos depois meu celular anunciou uma nova mensagem dela:

"Você esqueceu sua carteira aqui. Quer que eu leve para você?"

Ponderei que seria desnecessário ela desviar o caminho apenas para isso, então neguei:

"Não precisa florzinha, eu passo em casa e pego quando sair daqui. Obrigado."

Sua resposta me fez rir antes de voltar a me concentrar no trabalho:

"Vou encontrar um apelido ridículo para você também. Até mais tarde."

Eu precisaria passar em casa de qualquer jeito, então aproveitei o caminho e dei uma carona à minha colega de trabalho e vizinha, que se despediu de mim quando parei em frente ao meu apartamento e continuou subindo mais um andar em direção ao seu. Como eu não tinha intenção de demorar, nem me dei ao trabalho de fechar a porta atrás de mim e andei apenas alguns passos necessários para alcançar a carteira sobre a mesa de centro, no mesmo lugar onde eu havia deixado.

O papel colocado em cima dela já me fez sorrir antes mesmo de ver a letra já conhecida por mim formando a frase: "Eu te amo". Ginny era muito mais adepta a demonstrar do que a dizer, mas eu sempre achava muito legal quando ela fazia isso. Guardei seu bilhete e saí para minha parada obrigatória no supermercado antes de encontrá-la.

Subi de elevador os cinco andares até sua casa com as duas mãos cheias de sacolas, toquei a campainha e esperei que abrisse a porta. Gin me atendeu vestindo apenas uma camisola curta e com os cabelos molhados, confortável e linda. Me adiantei e enquanto ela fechava a porta atrás de mim trocamos um beijo.

—Eu amo você também. - Falei sem desgrudar nossas bocas e senti quando ela sorriu.

—Eu sei. - Respondeu confiante, como sempre fazia. - O que você comprou? - Perguntou sem esperar minha resposta e olhando as embalagens que eu trazia. - Fondue? Boa escolha.

—Me traz boas recordações. - Afirmei e entreguei as sacolas a ela. - Prepara enquanto eu tomo banho, por favor.

—Por que eu? - Reclamou, mais por implicância do que por realmente se incomodar.

—Eu entrei com o poder aquisitivo, você entra com a mão de obra. - Argumentei e ela revirou os olhos para minha explicação.

Quando entrei na cozinha, também de cabelo molhado e vestindo apenas a minha calça do pijama, Ginny estava de costas para a porta terminando de cortar as frutas. Me encostei nela, prendendo seu corpo entre mim e o balcão à frente, e aproveitei nossa diferença de altura para admirar de cima o decote avantajado da peça que ela vestia.

—Já estou terminando. - Informou distraída.

—Pode demorar a vontade. - Tranquilizei e ela riu depois de perceber a direção do meu olhar.

—Como foi o seu dia? - Me perguntou voltando ao que estava fazendo.

Dei um beijo em seu pescoço e apanhei uma faca para ajudá-la antes de contar tudo de que me lembrava. Ginny dizia que não era ético contar os problemas dos pacientes, mas sempre acabava comentando comigo uma coisa ou outra sem dizer a quem se referia e algumas histórias eram realmente interessantes.

Nos sentamos um de frente para o outro no sofá com a bandeja entre nós e jantamos nosso excesso de queijo e chocolate enquanto uma música baixa tocava. A noite de sexta-feira acabou no sofá da casa dela, sem toda a agitação de alguns meses atrás, mas com muito mais satisfação em todos os sentidos.

O dia seguinte amanheceu chuvoso, o que extinguiu qualquer possibilidade de atividade ao ar livre. Depois de tomar café e lavar a louça da noite anterior peguei na mochila o livro de ação que estava lendo e me sentei no chão da sala para continuar a leitura. Ginny não demorou muito a se juntar a mim e encontrar algo interessante para mexer no meu celular, mania que ela nunca perdeu.

Ela se sentou no chão também, mas enquanto eu usava o sofá como apoio ela preferiu encostar-se às minhas pernas. Ficamos por vários minutos em silêncio, cada um entretido em sua atividade, até que ela me chamou:

—Harry, como eu devo te chamar? – Questionou em dúvida e eu levantei os olhos para ela sem entender sua pergunta.

—De Harry? Amorzinho? Lindo? – Arrisquei algumas respostas e ela riu.

—Para os outros. Com eu devo te chamar para os outros. – Explicou e agora sua dúvida ficou mais clara.

—Não sei Gin, do que você quer me chamar? – Opinei despretensioso, mas ansioso por sua resposta.

—Ontem a tarde uma paciente viu nossa foto no meu celular e perguntou se era meu namorado. – Contou e eu entendi como a questão surgiu em sua cabeça.

—E o que você disse? – Questionei interessado.

—Que sim. – Respondeu simplesmente, como se fosse a única opção possível.

Gostei de como a frase soou, mas esse ainda não era todo o mais que eu queria com ela depois.

—Casa comigo? – Pedi sem desviar nossos olhos e ela sorriu um tanto cética, mas ainda assim foi outro de seus sorrisos encantadores.

—Eu não sei nem se você é meu namorado e você está me pedindo em casamento? – Questionou desconfiada, mas sua expressão dizia que ela gostou do que ouviu.

—Não agora. Daqui um ano, ou dois, ou cinco, mas diz que vai casar comigo um dia. – Pedi de novo e estendi a mão, ela imediatamente entrelaçou os dedos nos meus.

—Eu com certeza vou casar com você um dia. – Afirmou com segurança e eu retribuí o sorriso que ela ainda mantinha.

—Eu sou mesmo um cara de sorte, não sou?

—Sim, você é. – Confirmou no melhor estilo Ginny Weasley e eu revirei os olhos para sua resposta.

Ela me deu um beijo antes de voltar a olhar minhas fotos e eu abri novamente o livro, mas não soltamos nossas mãos.

Eu com certeza sou um cara muito feliz também.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoas!
Chegamos ao último capítulo, e parece que foi ontem que começou hehehe
Espero que vocês tenham gostado, estou ansiosa para saber a opinião de vocês então comentem!
Semana que vem trago o epílogo e novidades, afinal escrever é um vício que a gente não consegue parar depois de começar ;)
Nos vemos nos comentários,
Beijos e até o próximo.



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