Impasse escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 19
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Antes de começar esse capítulo eu gostaria de agradecer à linda da Nathy Evans que animou meu dia com uma recomendação linda e inspiradora.
Foi muito gratificante ler o que você escreveu sobre Impasse, e eu espero que a história continue fazendo jus a isso. Mais uma vez, obrigada!



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Terminei de responder à última dúvida sobre o que estava sendo feito e agradeci a todos os presentes na sala apertando a mão de cada um quando passaram por mim com um sorriso sincero no rosto, o que indicava satisfação com o que viram. Quando fiquei sozinho também sorri satisfeito com com os resultados obtidos e me permiti relaxar um pouco na cadeira antes de juntar os papeis que havia espalhado pela mesa durante a apresentação e guardar novamente na pasta destinada ao projeto.

Apaguei a luz da sala de reuniões antes de atravessar o escritório em direção à minha mesa, do lado oposto do andar do prédio onde estávamos sediados. Deixei o computador de lado, abri novamente a pasta com os esboços e comecei a comparar, avaliando os detalhes minuciosos da maquete à minha frente.

A reunião havia sido bem sucedida e os resultados estavam dentro do esperado, o que era bom para marcar meu terceiro projeto de sucesso em apenas pouco mais de três meses no novo cargo, mas isso tudo era reflexo de uma dedicação fora do comum à minha vida profissional, que agora havia se tornado meu grande e único foco.

Sair mais tarde do escritório virou um hábito, mesmo ninguém nunca me cobrando isso, e se tornou um passatempo útil para deixar um pouco de lado as outras questões. Sexta-feira, como hoje, era o único dia em que eu sempre fazia questão de ir para casa um pouco mais cedo porque era quando eu organizava as coisas e fazia compras para receber minhas visitas no final de semana.

Essa noite seria uma exceção a essa regra, pois minha mãe havia ligado mais cedo para avisar que ela e meu pai não viriam, então livre da necessidade de ir ao supermercado decidi esticar um pouco mais meu horário de trabalho e adiantar as coisas para a próxima semana, quando iniciaria a fase de implantação no local de vendas.

—Ei. - Amy me chamou, se debruçando sobre a divisão de nossas mesas. - Já está indo para casa?

—Vou ficar um pouco mais, e você? - Respondi levantando os olhos da anotação e vendo-a olhar curiosa e admirada para o que eu estava fazendo.

—Não tenho nada para fazer lá, mas também não tenho muita coisa para adiantar aqui. - Informou, sem responder à minha pergunta.

—Me espera, vamos juntos daqui a pouco. - Sugeri e ela pensou por um momento. - Aproveita que só estamos os dois aqui e coloca algumas daquelas suas músicas estranhas, pelo menos anima o ambiente. - Pedi sorrindo e ela me olhou desconfiada.

—Desde quando você gosta de música? - Quis saber, mas apertou o botão multimídia de seu teclado e em segundos uma batida leve encheu o departamento com um volume moderado.

—Eu adoro música. - Esclareci voltando meus olhos para os detalhes que estava verificando.

—Não as minhas músicas. - Argumentou.

—Então o problema está nelas, não em mim. - Justifiquei sorrindo de canto e ela revirou os olhos para isso.

—Me avise quando terminar. - Pediu antes de se sentar e sumir do meu campo de visão novamente.

Corrigi pequenos erros que passariam despercebidos até ao cliente mais atencioso, aperfeiçoei a iluminação, revi o cálculo de materiais necessários, repassei a lista de locais com escoamento de água nos jardins e conferi as escalas de cores da fachada do edifício que seria lançado para venda em duas semanas.

Passei as próximas duas horas concentrado nessa tarefa, e quando terminei todas as checagens fechei o material e o coloquei dentro da minha gaveta com as demais anotações. Desliguei meu computador e apanhei a mochila antes de me debruçar por sobre a baia ao lado e sugerir o que tinha em mente:

—Está com fome?

Amy desviou o olhos da tela do celular e olhou para cima para me responder.

—Um pouco.

—Quer jantar? - Sugeri e ela assentiu antes de se levantar e caminhar ao meu lado até a porta.

—Quero, você vai cozinhar de novo? - Perguntou com os olhos brilhando de ansiedade.

—Hoje nem pensar. - Neguei e ri de sua cara de decepção. - Pensei em passar em algum lugar.

—Pode ser também. - Aceitou conformada. - Algum específico em mente?

—Algo no caminho para casa, não estou a fim de ir até lá andando para depois sair de carro. - Propus.

—Ok, procuramos alguma coisa no caminho então.

Abri a porta e esperei que ela passasse antes de fechá-la atrás de mim. O elevador chegou rápido e descemos conversando alguns detalhes do projeto no qual ela estava empenhada. Amy era quatro anos mais nova e havia acabado de terminar a faculdade, por isso mesmo sendo muito boa pedia muitas dicas que eu não me importava em passar.

Caminhamos sem pressa pelo percurso já tão bem conhecido, conversando sobre assuntos banais e engraçados, que eram sua especialidade, e paramos em frente a uma pequena lanchonete que parecia aconchegante apesar do pequeno espaço.

—O que acha daqui? - Perguntei avaliando a fachada.

—Por mim está ótimo.

Uma das inúmeras vantagens dela é ser uma pessoa fácil de agradar e conviver, o que tem sido muito bom nesse tempo em que estou aqui, principalmente se considerar que eu não conheço muita gente ainda.

Nos acomodamos em uma mesa discreta ao fundo e eu esperei Amy tirar o casaco e apoiar sobre a bolsa na cadeira ao lado, ritual que sempre fazia ao entrar em um restaurante para se sentir mais confortável, antes de fazer sinal ao garçom para que se aproximasse e anotasse nossos pedidos.

—Queria algo interessante para fazer no final de semana. - Resmungou tamborilando os dedos sobre a mesa.

—Eu também, se tiver algo em mente e quiser companhia eu estou disponível. - Ofereci e encostei-me à parede atrás de mim com os olhos fechados, sentindo todo o cansaço da semana pesar sobre mim.

—Vou pensar em alguma coisa e te falo. - Prometeu e olhou ao redor. - Bonitinho aqui, não sei como não vimos esse lugar antes.

Repeti seu movimento e tive que concordar com ela, era o tipo de lugar que frequentamos: informal, aconchegante, limpo e com comida nada saudável.

—Tomara que também seja gostoso. - Comentei no momento em que nossos lanches chegaram.

Comemos em um silêncio confortável por alguns minutos, até que ela se manifestou novamente:

—Você acha que eu deveria cortar o cabelo? - Perguntou casualmente, se olhando no espelho decorativo atrás de mim.

Avaliei por um momento antes de responder.

—Não, você está bonita assim.

—Mas eu queria cortar. - Justificou e eu revirei os olhos, já sabendo que não valia a pena debater.

—Então sim, se você quer. - Mudei de opinião dando de ombros.

Ela riu da minha cara de desinteresse em seu assunto e mudou o rumo da conversa:

—Acha que vai demorar para eu conseguir alguns projetos maiores?

—Não, os seus resultados estão sendo muito bons. - Opinei sinceramente e ela sorriu convencida.

—Não vejo a hora de fazer coisas mais legais, como as que você faz, por exemplo.

—Para você assumir do início ao fim acho que demora um tempo ainda, mas logo estará fazendo umas coisas diferentes. Esse começo é meio entediante mesmo. - A tranquilizei.

—Ainda bem que eu tenho você lá do lado para me ajudar em algumas coisas e aliviar o tédio. - Agradeceu casualmente, comendo uma batata. - É legal ter alguém mais experiente para dar uns toques.

—Eu tive o Jefrey, não era tão legal como eu, mas me ajudou bastante. - Brinquei e riu da minha piada.

—Você está com pressa para chegar em casa? - Mudou de assunto outra vez.

—Não, por quê?

—Queria passar naquela livraria a caminho de casa.

—Ok, mas precisamos ir logo antes que feche. - Informei olhando no relógio e checando as horas.

—Vamos, eu termino minhas batatas no caminho. - Decidiu e se virou para acenar a alguém que nos trouxesse a conta.

Pagamos nosso jantar e eu aguardei que Amy se vestisse novamente antes de sairmos para o ar frio da noite. O destino sugerido por ela exigia desviar algumas ruas do nosso trajeto, mas o tempo passou rápido enquanto conversávamos e dividíamos as batatas fritas que ela pediu que embrulhassem para viagem.

—Algum lançamento interessante? - Perguntei assim que entramos, indo direto à ilha de novidades ao centro da loja.

—Sim, mas você não vai gostar. - Alertou procurando algo específico entre os títulos.

Eu ri entendendo o que ela queria dizer com isso e apanhei um exemplar qualquer para ler a sinopse enquanto ela continuava sua busca.

—Não entendo por que você gosta de autoajuda. - Comentei sem realmente prestar atenção, mais interessado no livro em minhas mãos.

—Porque é isso o que eles fazem, ajudam. - Respondeu como se fosse óbvio.

—E quem te garante que eles funcionam? - Quis saber, agora olhando em sua direção.

—Psicólogos dizem que sim, e eu acredito neles.  - Comentou casualmente, sem desviar a atenção do que estava fazendo. - Já conversou com um psicólogo? Eles são ótimos.

Senti um desconforto desagradável diante daquela pergunta e vontade nenhuma de falar sobre psicólogos e o que eles acham que faz bem ou não, então preferi não responder.

—Achei. - Anunciou sem se incomodar com minha falta de interação no assunto e se levantou com seu exemplar em mãos. - É só isso, a menos que você queira ver algo.

—Hoje não, outro dia eu volto com mais tempo. - Informei e devolvi o que segurava à pilha destinada.

Enquanto ela pagava aguardei na calçada olhando o movimento constante de carros característico dessa região, principalmente em uma noite de sexta-feira, e voltamos a caminhar quando ela se juntou a mim com a sacola em mãos e a expressão satisfeita diante da nova aquisição.

—A gente poderia ir ao cinema amanhã. - Sugeriu depois de um tempo de caminhada.

—Essa é sua interpretação de coisa legal para fazer no final de semana, Amy? - Zombei e ela riu.

—Estou sem criatividade. - Explicou.

—Eu também, então acho que vamos acabar passando o sábado e o domingo em casa mesmo. - Falei conformado.

—Vou pesquisar na internet o que tem em cartaz. - Insistiu na ideia.

—Do que trata o livro da vez? - Perguntei mudando de assunto, porque eu realmente não estava com vontade de ir ao cinema de novo como opção de lazer.

—É sobre como ser um bom líder de pessoas, tendo como base nossos próprios pontos positivos e negativos. - Contou empolgada. - Você deveria ler.

—Eu ainda não lidero pessoas. - Me esquivei da sugestão e ela riu.

—Mas um dia vai, e se continuar trabalhando quase em tempo integral será em breve. - Argumentou com o dedo em riste em repreensão à minha carga horária, que segundo ela não fazia bem.

—Parece a minha mãe falando desse jeito. - Desdenhei, virando a esquina e chegando na rua da minha casa.

Ela riu da comparação e contou mais alguns detalhes sobre sua próxima leitura.

—Deve ser bastante interessante mesmo, mas ainda assim não me desperta o interesse. - Opinei quando paramos em frente ao portão social.

—Um dia ainda te convenço. - Disse esperançosa e eu ri negando enquanto abria o portão para ela entrar na minha frente.

Amy deu alguns passos em direção à escada e parou em frente a ela ao invés de subir na frente, como fazia sempre, e me olhou confusa antes de comentar:

—Você já viu alguém dormindo aqui nessa escada antes?

—Não, por que? - Respondi rindo, esperando alguma piada ou algo do tipo, e andando até onde ela estava para subir também.

—Porque também é a primeira vez para mim. - Informou no momento em que cheguei ao seu lado.

—Ai, caralho. - Exclamei com os olhos arregalados e um descompasso já conhecido no coração.

—O que foi? Você conhece? - Perguntou curiosa, divertida com a minha reação.

Eu poderia responder de muitas formas àquela pergunta, inclusive dizendo que aqueles cabelos vermelhos eram inconfundíveis aqui, lá e até mesmo embaixo d’água. Mas, ainda paralisado no mesmo lugar, disse apenas:

—Sim, é Ginny Weasley.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!
Para quem apostou que ela iria atrás, acertou. E agora, o que será que vai acontecer com esses três parados ali no hall?
Não deixem de me dizer o que estão achando, já estou ansiosa para os comentários de vocês.
Obrigada a todos que estão acompanhando.
Beijos e até semana que vem.



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