A saga de Beatrice- A aprendiz de vampiro escrita por AnnabiaFreitas


Capítulo 34
O jogo das possibilidades


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Mais uma vez me enrolei, desculpem-me! Mas aqui está mais um capítulo!



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Fiquei andando de um lado pro outro dentro da tenda, já era dia e as rãs de Evanna estavam caladas ,o que era um alívio, pois além de barulhentas, eram venenosas! Eu nunca gostei muito de rãs e nem de sapos e mesmo sabendo que ela protegiam a casa da bruxa, eu não gostava de saber que eram venenosas! Estava tudo silencioso e o tédio, apesar de tudo, começou a me achar. Saí, fiquei pensando se Sr. Crepsley, ou mesmo Gavner e Vancha, precisariam de algo, mas logo notei que eu não era necessária ali. Os três dormiam calmamente, exceto Gavner, que roncava como um dragão de desenho animado! Harkat também dormia, notei que mesmo sendo um pequenino, ainda cultivava os hábitos do vampiro que fora um dia. Logo arrumei algo que me tomasse o tempo e tirasse um pouco meus pensamentos daquele estranho livro:  Tawer! Quem teria sido Tawer e qual acordo ele teria feito com Desmond? Eu, apesar de saber que poderia estar me metendo numa armadilha do Sr. Tino, queria muito descobrir quem era meu curioso companheiro. Tentei achar hipóteses que resolvessem os vários enigmas que eu mesma criara em minha mente sobre o assunto, mas nada me apeteceu. Logo voltei a pensar naquele livro! Eu o escondi no meio das minhas coisas pessoais. Nenhum deles mexeria nas minhas coisas, o que era ótimo, porque eu não sabia o que deveria fazer direito.

Resolvi ir caçar algum animal para me alimentar. Evanna era vegetariana e eu perdi o direito de ser quando me tornei assistente de vampiro. Enfiei-me na mata, eu já estava acostumada a isso e, modéstia parte, era uma boa caçadora! Encontrei alguns esquilos, mas nada me fazia sair daquele estado de espírito. Encontrei Tawer no lago que havia por perto. Observei-o de longe. Ele estava como uma estátua parado dentro d’água. Só metade do seu corpo baixinho estava para fora. Os braços estavam semiabertos e o silêncio pairava sobre ele e a água. Não adivinhei o que ele estava fazendo até ver. Em um instante, ele, num movimento veloz, bateu as mãos dentro da água e lá estava! Um belo salmão! Ele estava pescando!

—Nossa! –exclamei impressionada, alto o suficiente para ele se assustar.

Ele caminhou até a terra e olhando para mim, tirou a máscara e disse:

—Olá... Be...atrice!

—Tawer, não sabia que você pescava!

—Nem... eu...Tive von...tade...e...es...ti...ve pra...ti...can...do des...de que che...guei aqui.

—Que legal!

—Só ago...ra...con...se...gui! –pareceu sorrir, eu o parabenizei.

Ele, como já era de se esperar, comeu o peixe cru. Sentamos e ficamos em silêncio por um longo tempo.

—Acha que pode ter sido um pescador? –perguntei quebrando o gelo. –Parece uma habilidade natural a maneira como pegou o peixe, ou algo muito bem treinado.

Ele considerou.

—Não...sei...mas es ...pero des...co...brir!

—Pra ser sincera, eu também!

—Vo...cê... não pa...re...ce... bem!

—Você é direto... – murmurei –Por que acha isso?

—Está pré...o...cupa...da!

—Sim, acho que está tudo prestes a mudar logo logo e a viagem até a Montanha tem me aterrorizado.

—Por ...que?

—Bem, Larten me transformou em sua assistente e trocou sangue comigo, mas acontece que trocar sangue com uma criança, sim eles acham que sou criança, é um crime! E se os tais príncipes vampiros e os generais decidirem que Sr. Crepsley deve pagar pelos seus atos eles o matarão!

—De...ve...haver...al...gu...ma sa...í...da! Lar...ten...Creps...ley... é mui...to...res...pei...tado por e...les!

—Como sabe disso?

—Eu...es...tou...no...cir...que há...mui...to...tem...po! –respondeu e parou para tomar mais fôlego  -Lar...ten...foi...meu...o...bje...to de...obs...serv...ação...por...mui...mui...to tem...po!

—Sério?

—Sim... acre...di...tei...que...e...ele...me... le...va...ria...ao meu...pass...ado!

—Até quando acreditou nisso e por qual razão?

—Eu...sem...pre...sen...ti...um...a...li...ga...ção...es...tran...nha...com...o vam...pi...ro. E quan...do...e...le rea...pa...re...ceu...com...você... vi...que...era es...pe...cial...pa...ra...e...le. Acre...di...to...que tal...vez...por...is...so tem...tei....te  a...ju...dar...tan...tas...vezes an...tes...de...sa...ber que...eu depen...de...ria de...sua...aju...da!

—Oh, faz sentido... Será que você não foi próximo de Larten antes de  morrer?

Ele deu de ombros, era possível.  Aquilo só estava ficando mais interessante. Chegamos a conversar bastante, e quando nos despedimos eu voltei a pensar no maldito livro.

Como ainda estava com fome, voltei a procurar o que tomar... Mas não me concentrei o suficiente e deixei um coelho escapar. Desisti e voltei ao acampamento .

—Olá,  Beatrice!  -levei um susto. Estava voltando da minha caçada mal aproveitada quando alguém me chamou.

—Evanna! -exclamei exaltada.

A bruxa segurava em uma das mãos algumas ervas e na outra uma tesoura de jardineiro.

—Pelo visto estava bem distraída... -disse num tom desconfiado. Chegou perto de mim e me rasgou de um canto a outro com os olhos, examinando -me. -Está tudo bem?

—Ah... -eu fiquei em dúvida sobre o que responder!

Eu queria muito dizer o que eu tinha descoberto, mas não sabia se devia dizer e nem pra quem dizer,  se fosse o caso. Estava em dúvida se poderia confiar na bruxa ou não,  em contrapartida,  não sabia se deveria dizer aquilo direto para sr.Crepsley!

—Está sim! -respondi enfim.

—Hum... -ela assentiu com a cabeça. -Nesse caso, gostaria de me acompanhar em uma experiência?   -perguntou com empolgação.

—Uma experiência? -claro que fiquei curiosa, era da minha natureza, mas dizer que não tive medo é mentira.

—Eu não vou te jogar num caldeirão!  -disse com um sorriso macabro no rosto.

Demorou pra eu entender que era uma brincadeira.

—Haha! Me fez uma troça! - ela sorriu. -Que susto!

—Está muito tensa para alguém da sua idade! -disse -E então?

—Ah, sim! Larten só vai acordar mais tarde mesmo...

—Ótimo!

Ela me entregou uma sacola, que eu ainda não tinha visto, cheia de pedras e mandou que eu a seguisse. Fiz o que ela mandou.

Entramos em sua tenda e ela disse para deixar a sacola sobre uma mesa de pedra em formato de círculo e me sentar em uma das cadeiras. Fiquei sentada esperando que ela voltasse.

—Pronto! -disse quando chegou.

Depositou no centro da mesa uma jarra com água e algumas ervas e pegou as pedras. -Eu nunca testei isso, mas é,  basicamente,  pré-selecionar algumas coisas que estão por acontecer!

—Quer dizer, escolher o próprio destino? –perguntei.

—Não,  isso não é permitido à ninguém! Existem coisas na vida que têm que acontecer de qualquer maneira, a diferença é que podem acontecer de maneiras diversas dependendo do caminho que se toma! Essa brincadeira  permite que se escolha, ou que se elimine, algum dos caminhos existentes no momento em que alguma coisa muito importante estiver para acontecer.

—Acho que entendi...

—Porém,  é como atirar no escuro, pois não se sabe o que vai acontecer!

—Então é como escolher um caminho que não sei qual é para um destino que eu desconheço?

—É uma explicação! Ainda está disposta?

—Acha mesmo que isso vai funcionar?

—Bem, eu nunca tentei o jogo das possibilidades,  não posso dizer que dá certo com certeza!

—Bem, agora já estou curiosa demais para desistir! -ela sorriu.

Fiquei observando Evanna enquanto trabalhava. Ela retirou pedra por pedra da sacola e notei que eram todas diferentes.  Umas menores e outras consideravelmente maiores.  Com cores interessantíssimas. Ela às alinhou na mesa e se sentou.

Fiquei olhando para ela, cada vez mais interessada.

—Beatrice -disse e pegou uma concha, encheu-a daquele líquido da jarra e ergueu-a para mim -Tome o chá,  por favor!

Hesitei, mas ela me garantiu que nada em mim iria se alterar, nada além da concentração . Tomei. Não senti nada, apenas um gosto horrível. Continuei olhando para a bruxa, que agora parecia recitar alguma coisa.

—Beatrice, quero que escolha uma pedra, qualquer uma, considerando suas características, e a jogue sobre seu passado!

—Meu passado?

—Sim! Quero que se concentre em algo do seu passado e lance uma pedra sobre essa lembrança! Não vai esquecer nada!

Meu passado já deveria estar enterrado há um bom tempo, devido a minha situação. Mas naquele instante me senti tão apegada a ele que foi difícil encontrar uma lembrança para lançar uma pedra.

—Eu estarei... Anulando essa lembrança?

—Não se pode anular o que já aconteceu,  é como... Marcá-la!

Dito isso, fiquei mais aliviada e então lembrei da minha mãe e do meu irmão,  o que era inevitável!  Logo lembrei de Jhon, meu amigo,  e das coisas que fazíamos juntos. Era tudo tão distante naquele momento... Foi quando lembrei da última vez que fomos à praia, nós três. Foi, apesar de termos ficado um bom tempo juntos ainda depois daquilo, aquele dia foi, de fato, a despedida das nossas vidas. Olhei para as pedras e escolhi uma num formato triangular interessantíssimo, de tamanho médio de cor meio marrom. Pensei naquele último dia e coloquei a pedra sobre o “X” que Evanna desenhou na mesa com um giz.

—Ótimo! Agora, escolha uma pedra para lançar sobre alguém que deseja proteger, com atenção! Essa escolha pode tanto salvar quanto acabar com quem se quer bem!

—Eu espero que isso seja só uma brincadeira... -murmurei.

É lógico que Larten não saía da minha cabeça,  eu estava criando um vínculo com o vampiro bufão e mal humorado de uma maneira rápida e forte! Apesar de duvidar às vezes de que ele sentia o mesmo... Então,  como não saía da minha mente e era alguém que, de fato, faria parte da minha vida para sempre, Larten Crepsley foi minha escolha. Observei por bastante tempo as pedras e finalmente avistei uma que julguei perfeita! Tinha o formato quase exato de um cilindro maior que meu dedo indicador e era oca. Dava, literalmente, para colocar algum pequeno pergaminho dentro daquela belezinha... parecia uma capsula ou sei lá,  e tinha uma cor que lembrava chumbo... Imaginei sr. Crepsley dentro dela, quis rir, mas não faria aquilo.

Entreguei a pedrinha para Evanna que a colocou sobre o desenho esquisito de um coração humano  que estava posicionado à esquerda da primeira pedra, na diagonal.

—Agora, escolha uma para um amigo que se foi e um amigo se fez!

—Eu não me lembro de ter perdido ninguém que...

—Não mesmo? -Evanna me olhava com uma das sobrancelhas erguidas.

Era lógico,  Jhon! Eu o tinha perdido... Pensei em Daniel, mas ele não era apenas um amigo.

E então lembrei de Ofídio, o amigo que eu ganhei com minha nova vida. Eu já sabia quem eram, mas que pedra escolher? Fiquei um tempão eliminando possibilidades. Foi então que, mesmo duvidando da minha lógica,  escolhi uma que era de um formato esférico,  de uma cor azulada que me lembrava a Terra. Pensei que, se escolhesse ela para os dois, era como coloca -los figurativamente no meu mundo. Evanna pousou a pedra sobre o desenho de duas mãos. Desenhados na diagonal direita da primeira pedra.

—Agora, escolha uma pedra para uma dúvida!

—Mas colocar uma pedra sobre uma dúvida não é burrice? -questionei.

—Sim, se não souber escolher!

Suspirei, mas prossegui. Eu parti do princípio de que gosto das coisas claras. Então,  escolhi uma pedra de tamanho considerável, de uma cor amarela, mas translúcida. Pensei no monte de dúvidas que me assolavam e é claro que escolhi o livro. Evanna a colocou sobre um sinal de interrogação abaixo da segunda pedra.

—Agora preste atenção! Faltam duas pedras para fechar o pentagrama, uma abaixo da terceira pedra, no lado direito e a última na reta oposta á primeira, como pode observar. –Enquanto me mostrava onde as últimas pedras ficariam, Evanna desenhou com o giz, no lado direito oposto à última pedra que eu escolhi, um trevo e no lugar onde ficaria a última um lápis. –Agora, escolherá uma pedra para lhe guiar de volta a algum lugar que queira, ou precise, muito regressar! E logo depois, para colocar aqui, na imagem do lápis, uma que lhe guie ao que precisará saber quando regressar!

A verdade foi que eu não entendi nada.

—Por que um trevo e um lápis? –perguntei.

—O trevo significa sorte! –disse ela –Ás vezes a sorte pode nos sorrir.

—Acredita na sorte?

—Sim, acredito!

—E o lápis?

—Para escrever uma nova história!

—Vou precisar fazer isso?

Ela me encarou de maneira estranha, como se quisesse rir ou me dizer alguma coisa.

—Se desejar... –disse finalmente.

Eu continuava confusa. Mas logo fui escolher as pedras. Para o trevo não demorei muito. Escolhi uma que parecia um dado, de cor verde musgo. Para o lápis, eu demorei bastante e depois de considerar várias metáforas, acabei escolhendo a que mais me agradava! Uma pequenina pedra vermelha, que me lembrava alguma coisa que eu já tinha visto antes, que parecia uma bolinha de gude, minúscula.

—Ótimo! –disse Evanna. E num segundo traçou o pentagrama ligando todas as pedras –Me dê sua mão, Beatrice!

Obedeci. Ela cortou a minha mão. Eu tentei puxar, mas ela parecia ter uma força incalculável naquele instante. Logo notei que, na verdade, era eu quem estava fraca. Comecei a ficar tonta.

—Quer trocar alguma pedra? –perguntou.

Eu queria dizer que estava passando mal e não queria continuar.

—Não! –respondi.

—Tudo bem, uma vez selado, não poderei reverter! –disse.

Eu queria que ela acabasse logo com aquilo.

Ela pousou minha mão no meio do pentagrama e então eu vi meu sangue escorrer pelas linhas traçadas com giz até as pedras, como num desses rituais de filme de bruxa, e o vermelho começou a invadir os meus olhos. Comecei a ficar confusa, parecia meu velho pesadelo. Vi uma mão ser cortada e cair de um prédio. Tino! Darren!

Depois não vi mais nada, só o escuro!


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