A saga de Beatrice- A aprendiz de vampiro escrita por AnnabiaFreitas


Capítulo 27
Como um verdadeiro filho da noite faz!




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Houve um largo e tenso silêncio. Eu olhava Victor firmemente e ele me olhava com incredulidade.

—O que foi que você disse? –ele perguntou finalmente.

—Que entregarei a família de Daniel pela vida e liberdade de Ofídio. –repeti.

—Você deve ter batido na cabeça dela com muita força! –disse Ofídio

—E então, Victor, o que me diz? –perguntei ignorando Ofídio.

—Você está disposta a entregar a família do seu namoradinho em troca do garoto cobra?

—Daniel não é meu namorado e sim, eu estou!

—Beatrice, você enlouqueceu? –Ofídio disse alto, me olhava com total confusão e incredulidade.

—Mas e o Crepsley...

—Ora, Victor! Ele matou seu mentor e seus parceiros. E você falhou em me matar... Acha que ele se importa comigo? Ou com Ofídio?

—Eu, eu ouvi vocês brigando! –admitiu

—Ouviu? E por que não o atacou?

—Eu estaria em desvantagem, trazê-lo até aqui seria mais fácil e...

—Está vendo! –cortei-o –Precisa ter vantagem! Ele não dá nada por você e vamos combinar que não está fazendo muito para ter credibilidade.

—Eu, ora, eu sequestrei você! Duas vezes! –protestou –Peguei dois de seus amigos e...

—Oh sim, me sequestrou e todos os seus comparsas morreram. Sequestrou Daniel, um garoto que Larten sequer sabia que existia e com quem pouco se importa e pegou Ofídio, meu amigo que quase não sabe nada verdadeiramente do mundo dos vampiros! Grande plano! –dei risadas.

—Você está me chateando!

—Vamos lá, mostre quem está vencendo ao velho vampiro de cabelo laranja! Massacre a família do garoto e mande um recado, não me importa o que vai fazer com Crepsley ou com o garoto humano, só deixe Ofídio em paz! É com ele com quem me importo...

—Você está louca? –gritou Ofídio, sua expressão era de puro horror. –Está tratando Daniel como se ele fosse um...

—Um humano! É isso o que ele é. Nada mais do que isso! –disse séria e friamente. Ele me olhava com desprezo.

Houve mais um daqueles longos silêncios entre nós, Ofídio quase o quebrou, mas desistiu. Daniel ainda estava apagado na gaiola.

—Para falar a verdade, você tem razão! Confesso que fiquei tentado a ir atrás da família do garoto com quem você parecia tão preocupada ainda há pouco.

—Sim, ele é legal. Mas eu não o passaria na frente de Ofídio, afinal, ele é somente um garoto que eu conheci de passagem!

—E quanto ao Crepsley?

—Viu que não nos damos bem, jurei lealdade a ele e não vou entregá-lo por isso, mas a Daniel não jurei nada!

—Entendo! –ele estava entusiasmado –Mas você entende que acabou de perder a amizade tão preciosa do cobrinha?

Olhei para Ofídio que me olhava com ódio e logo desviou o olhar.

—Eu compreendo.

—E sabe que Crepsley vai querer destruí-la se me entregar essas pessoas?

—Provavelmente, mas não pretendo voltar a vê-lo! Partirei depois de tudo, apenas me certificando de que Ofídio estará seguro.

—Você é um ser imprevisível, tenho que admitir! –murmurou –Mas e se você vier comigo?

—Ir com você?

—Sim, vir comigo! Te ensinarei o que é ser uma criatura da noite, uma autêntica, e não um desses vampiros sujos!

—Você quer que eu seja sua assistente?

—Sim, e minha parceira! Confiaríamos um no outro e...

—Confiar! Está aí uma coisa que não existe entre mim e Crepsley!

—Eu notei!

—Então está certo, depois de tudo e depois que prometer que deixará Ofídio ir ileso eu irei com você! Não me restou mais nada aqui.

—Sábia decisão! Agora, vou desamarrar você, mas ainda a deixarei com as mãos algemadas, não posso confiar inteiramente que você não vai fugir.

—Compreendo.

—Vai me levar até a casa desse garoto, e depois que eu terminar meu pequeno espetáculo voltaremos pra cá e eu solto a cobrinha.

—Certo, mas o que pretende fazer com Daniel?

—Quero que você o mate!

—Como?

—Exatamente, quero que prove para mim que não se importa com eles, mate-o!

Encarei-o e depois olhei para Ofídio que voltara o olhar para mim suplicante.

—Só deixará que Ofídio vá se eu o fizer?

—Sim.

—Pois bem, fechado!

Ofídio abriu a boca e notei que chorava, eu não sabia dizer o que ele via em mim naquele momento, um monstro completo, mas eu tinha que fazer àquilo. Doeu sentir que ele me odiava.

Victor sorriu triunfante e veio me desatar daquela posição horrível. Fiquei até mesmo um pouco tonta quando ele me colocou de pé novamente, as mãos ainda algemadas.

—Já deve estar anoitecendo. –disse Victor.

—Eu dormi o dia todo?

—Sim.

—Nossa! –Voltei a olhar para Ofídio. Eu entendia o que ele devia estar sentindo, ele nunca faria o que eu estava fazendo naquele momento e achava monstruoso o fato de eu estar sendo capaz de tal baixaria. Porém ele não poderia entender nunca a minha posição. Ter relações com humanos não é recomendável para um vampiro e eu fui imprudente, tive que escolher.

Olhei para Daniel que dormia preso como um bicho na gaiola, eu gostava dele demais e se pudesse evitaria tudo aquilo, mas as coisas acabaram saindo do controle.

Victor voltou com uma lanterna na mão e segurou o meu braço.

—Vamos agora! –eu concordei com a cabeça e saímos por um túnel escuro e úmido.

Ele falava sem parar sobre como pretendia matar a família de Daniel e de como queria chocar Crepsley. Numa parte do caminho perguntou:

—E quantas pessoas compõem a família do garoto?

—Ele tem um pai e um tio que moram com ele. Alguns empregados pelo que notei. A mãe não mora aqui.

—Irmãos?

—Não.

—Primos?

—Também não. E por falar nisso, como o pai dele não o procurou ainda?

—O garoto disse ao pai que passaria a noite de sexta e o sábado na casa de um amigo antes de ir ao espetáculo escondido. Foi uma ideia que eu dei a ele quando o conheci no cafénet. O pai espera que ele volte essa noite.

Achei estranho o fato do pai dele não ter pedido endereço ou o telefone desse amigo, mas logo me lembrei de que Daniel e o pai não tinham muito diálogo e que ele vivia enfurnado em seu trabalho. O tio era muito parecido com o pai. Essas coisas ele me disse quando saímos para ir até o cafénet.

—Interessante! –exclamei. –Você pensou em tudo, né?

—Sim, sim, Beatrice, eu pensei!

Paramos em frente a uma bifurcação.

—Essa passagem –disse ele apontando para a esquerda –É uma que vai dar direto na capela abandonada e no meio tem o alçapão que você descobriu no bosque. Essa nos leva para perto de uma parte do riacho, não tão distante de onde o circo está acampado. –disse apontando para a da direita.

—Foi assim que você saiu de lá ontem com Ofídio tão rápido antes de me ligar?

—Sim. –ele sorriu e me conduziu a passagem da direita –Essas passagens foram criadas para o caso de uma fuga desesperada no final do século retrasado, durante a ‘’perseguição aos infiéis’’. Mas como essa cidade é pequena poucas pessoas sabem da existência delas. Na verdade elas não têm noção da importância desse lugar para o que estava acontecendo na época da perseguição. Algum grupos da resistência se encontravam aqui como se fossem católicos nas missas e construíram passagens para fugir rapidamente caso fossem descobertos.

—Perseguição aos infiéis?

—Sim, pessoas envolvidas com protestos contra os governantes que eram acusadas de bruxaria e outras coisas para que fossem executadas logo. Aconteceu em vários lugares e chegou a passar por aqui silenciosamente.

—E ninguém sabe?

—Algumas pessoas sim, outras não, algumas desconfiam... –disse ele, despreocupado –Mas esses grupos foram descobertos aqui, foram denunciados por alguém de dentro, e eles invadiram a igreja, deixando-a desabilitada, e mataram os que encontraram. Algumas pessoas conseguiram fugir pelos túneis que nunca foram descobertos.

—Mas e a pessoa que os denunciou não sabia deles?

—Provavelmente, mas não deve ter hesitado de sair correndo pelas passagens antes dos soldados chegarem!

—Ah sim. Que horrível!

—Os humanos são animais, Beatrice! A devoção que os vampiros criaram em volta dessas coisinhas é equivocada. Deixamos de lado esse universo quando nos convertemos em criaturas da noite. Devemos enxergá-los como verdadeiramente são: alimento!

Eu apenas o olhei séria, tentando não demonstrar emoção nenhuma.

—E quanto a outra passagem?

—O que tem ela?

—Disse que daria direto na igreja, onde eu estava com Larten mais cedo.

—Sim.

—Não pensou em voltar lá? Ele não o veria chegando, não é?

—Não. Não veria. –concordou. –E eu voltei durante o dia, mas ele já não estava lá!

—Pretendia matá-lo enquanto dormia?

—Sim, uma morte desonrosa para um filho da noite e perfeita para o filho da mãe do Crepsley!

Continuamos andando e andando muito. Pensei que aquele túnel não teria mais fim ou que estávamos indo para o outro lado do planeta. Chegamos, enfim,  a um novo alçapão de ferro antigo. Ele o empurrou e saiu, depois me puxou.

Estávamos em alguma parte do bosque nos arredores do riacho, dava para ouvir o som da água correndo.

—O circo fica naquela direção e a estrada naquela. –ele sinalizou. –Agora, onde nosso amiguinho mora? –perguntou-me.

—É uma chácara, com um casarão. Fica na parte rural que está situada perto daqui. É isolada, mas de fácil acesso. Conheço o caminho principal, pela cidade e também o atalho pelo bosque que vai dar na parte de trás da casa. É o que Daniel mais usa para poder andar de skate tarde na pista sem o pai notar.

—Vamos por esse caminho!

—Certo!

Começamos a caminhar para a estrada e de lá eu o guiei até o casarão pelo bosque do outro lado. Não trocamos nenhuma palavra. Agradeci por me lembrar de tudo o que Daniel me dissera naquela tarde em que saímos, só assim para ficar sabendo onde era sua casa e não errar o caminho.

Chegamos a casa e fomos para a sua lateral. Estava iluminada, mas pouco movimentada. Demos a volta nela,, Victor estava estudando o lugar. Foi quando viu que nos fundos não havia realmente ninguém e que a cozinha já estava vazia.

—Amanhã tem algum tipo de festival na cidade vizinha. A maioria das pessoas vai e é provável que ele tenha dispensado os empregados! –Victor concluiu.

—Isso explica a quietude... Mas onde acha que ele está?

—Tenho certeza de que tem um tomando banho, um dos quartos daquela parte é uma suíte. Ouço o barulho do chuveiro ligado.

Tentei escutar, depois de um tempo captei.

—Sim, mas só nota essa pessoa?

—Espere, algo se moveu naquela janela! –ele disse observando o térreo da casa –deve ser um escritório  -murmurou.

A luz do cômodo se apagou e foi quando Victor decidiu que entraríamos.

Entramos pelos fundos, passamos pela área de serviço e entramos na cozinha. Moderna, mas com um toque de campo. Atravessamos um corredor e saímos na sala de jantar e logo à frente estava a sala de visitas, antes da antessala que era o primeiro cômodo depois da entrada principal. Era uma senhora decoração, elegante e com muitas coisas antigas. Um lugar muito bonito, mas entendi o porquê de Daniel sentir-se tão só. Era gracioso e enorme, mas vazio demais. Na sala de visitas estava uma enorme escada feita de madeira cara e ornamentada no formato circular. Subimos  cuidadosamente. Lá em cima havia muitas portas e dava para ver luz pelas brechas delas em alguns quartos. Dois estavam acesos. Tinha mais uns quatro. Deduzi que um dos quatro era o de Daniel e provavelmente os outros eram de visitas. Havia mais um cômodo que não tinha luz, nem uma porta, mas sim uma espécie de cortina escura na entrada. Vinha som de lá e logo notei que devia ser uma sala de televisão e havia alguém nela.

Victor deu uma espiada e eu olhei quando pude. Era a silhueta de um homem deitado no sofá enorme assistindo um filme de ação.

—Esse está distraído e não ouvirá nada! –sussurrou.

—Deve ser o tio de Daniel.

Voltou a cabeça na direção contrária. Um dos quartos de luz acesa.

—O pai está ali! Eu o quero primeiro!

Ele chegou perto da porta, ouviu o som do chuveiro e então girou a maçaneta e entrou. Um quarto grande, mas com poucos móveis. Uma cama grande e um closet ao lado do banheiro, onde o homem estava. A janela era grande, como as outras, mas estava fechada e uma cortina azul-marinho a cobria. Tinha um tapete feio no chão, que certamente destoava do resto da decoração.

—Alí está meu jantar! –sorriu. Parou de frente para a porta do banheiro e mandou que eu me aproximasse dele. Puxou o meu braço e disse –Quero que veja como um verdadeiro filho da noite faz.

Nesse momento abriu a porta do banheiro vagarosamente e então o viu!


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Notas finais do capítulo

E agora, será que Beatrice vai deixar que Victor continue? Ela realmente irá embora com o vampixiita?



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