Rosas de Sangue escrita por NocturnalVacancy, FranHyuuga, DudaB


Capítulo 4
Capítulo 2 - Preço da Paz.


Notas iniciais do capítulo

Olá, flores!
Espero que gostem do capítulo!
E do nosso Itachilicious



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Ela ainda questionava se o que vira e sentira pudesse ser real. Poderia existir um ser tão perfeito quanto aquele que se aproximou, imponente e seguro, altivo e duvidosamente humano?

 

Não. Se havia uma dúvida maior do que a existência daquele homem era, certamente, de que haveria alguém ainda mais belo.

 

Suspirou, frustrada por ter cerrado as pálpebras em um momento como aquele. Talvez se as mantivesse abertas, ele ainda estaria ali. À sua frente. Banhando o calor de seu rosto choroso com os dedos gelados, em uma carícia que parecia conter muito mais do que aparentava.

 

Mirou a lua uma última vez antes de retornar ao carro com passos vagarosos. Não sentia vontade de se hospedar na mansão secundária. Era tão fria e solitária, com poucos Hyuuga circulando a propriedade. No entanto, não tinha escolha senão obedecer à ordem autoritária do pai e internamente confessava que hesitaria em retornar à mansão principal só de recordar o olhar desgostoso que recebera dele.

 

Enquanto o carro partia, recostou a face delicada sobre o vidro escurecido, inspirando o ar pesadamente e deixando os pensamentos vagarem na lembrança da presença majestosa do homem que a havia surpreendido. Os longos cabelos pareciam sedosos e brilhantes à luz da lua, cuidadosamente presos na altura dos ombros largos. Ela não pôde deixar de notar alguns poucos fios que se deslizavam sobre a face masculina e perfeita como uma cortina negra, concedendo ao desconhecido uma elegante aparência jovial. Precisou agarrar o vestido com suas mãos delicadas ao lembrar-se dos olhos daquele sujeito. Eram abismos, quentes e sóbrios, tão escuros quanto o breu noturno. Tão profundos quanto o mistério do desaparecimento repentino de seu dono.

 

Franziu as sobrancelhas perfeitas com a constatação.

Fosse quem fosse, ela odiaria jamais retornar a vê-lo.

 

* * *

 

O odor delicioso dançava no ar, com suas partículas saborosas e irritantemente evasivas. Os passos ágeis, centrados e firmes, o conduziam a uma velocidade absurda para qualquer humano acompanhar.

 

Quem pudera, afinal. Ele não era humano.

 

Correu com impaciência, sentindo a adrenalina impulsioná-lo a cada passo, franzindo o cenho com o calor insuportável que sentia em sua garganta. O calor da sede. A maldita e adorável sede!

 

Alcançou a clareira contendo o desejo selvagem de rugir com o prazer antecipado. Ignorava a beleza do lugar, com o lago plácido banhado pelo luar e as flores rosadas das cerejeiras sobre o tapete esverdeado das folhagens. Para ele, tudo era vermelho.

 

- Maldição! – Esbravejou ao inspirar o ar adocicado, sentindo o calor aumentar ao ponto de entorpecê-lo. Ele já se acostumara com a dor aguda da sede; com a louca vontade de arrancá-la com as próprias mãos em um gesto suicida – se o fosse! Mas aquele odor, inferno, era muito diferente!

 

Era tentador, quente, vigoroso! Parecia reagir ao olfato sensível, impulsionando seu instinto assassino com a mensagem clara de morte. Ele precisava sentir o sabor ferroso daquele aroma; a textura viscosa do seu sabor.

 

Levou as mãos aos próprios cabelos, agarrando-se aos fios com agressividade, no desejo insano de livrar-se daquelas sensações desconhecidas! Conteve a respiração, evitando inalar a fragrância suave do que parecia uma rosa de sangue, concentrando-se na real razão por estar ali, naquela clareira.

 

Repentinamente, a imagem de seu alvo surgiu à mente, fazendo-o ignorar o adorável odor que o envolvia e limitar-se a distinguir outro que estava caçando.

 

Inalou o ar suavemente e sentiu a costumeira dor aguda, somada ao calor insuportável de sua garganta. Ao fundo, quase despercebido, ele sentiu: o cheiro pungente de quem merecia uma morte lenta. O cheiro odioso de lembranças dolorosas.

 

Com um rugido baixo, pôs-se a correr novamente, seguindo o rastro de seu alvo.

 

* * *

 

A noite havia sido longa e Hinata tentou conter o terceiro bocejo em menos de dez minutos desperta, sem sucesso. Lembrou-se chateada da falta de sono por tentar conter seus pensamentos involuntários sobre o maravilhoso desconhecido que a havia abordado na clareira, em uma constante briga interna para concentrar esforços em repensar seus planos.

 

Ela não queria ou planejava casar-se tão jovem. Ainda sonhava em realizar seus estudos distante da égide de seu pai, pensando muitas vezes em fugir para cumprir seus objetivos, mas agora parecia que sobre seus ombros pesava o mundo.

 

O mundo Hyuuga.

 

Seria uma decisão imperdoavelmente egoísta de sua parte se partisse sem cumprir os desejos de seu pai. Sendo a inútil que era, jamais poderia negar-lhe a única vez em que poderia agir honrosamente diante de sua família. A única vez em que poderia beneficiar seu clã e interromper o ciclo mortífero de uma guerra secular com os Uchiha, sendo finalmente reconhecida por algo mais do que um fardo.

 

Além disso, Sasuke não parecia assim... tão ruim. Ele era um jovem confiante, seguro e sincero. Afinal, não hesitou em expressar seu descontentamento em casar-se com ela, tampouco em esclarecer alguns fatos que permaneciam obscuros sobre o clã Hyuuga.

 

Seria mesmo verdade que todo o ódio entre ambas as raças havia se intensificado com uma fatídica história de amor mal resolvida?

 

Isso pouco importava agora que tudo estava a um passo de se solucionar. O matrimônio da herdeira Hyuuga com o herdeiro Uchiha seria, certamente, o meio mais civilizado para interromper as mortes desnecessárias naquela sangrenta guerra. Provavelmente, ele também devia concordar com esta verdade e ponderava aceitar aliar sua existência com a pequena e insignificante humana.

 

Suspirou, cansada. A quem estava tentando enganar? Sasuke a odiava. E, apesar de suas qualidades, era arrogante e mal-humorado. Sua vida seria infeliz. E para não causar outras mortes, o condenaria à mesma infelicidade. Afinal, notara, ele certamente era apaixonado por sua própria serva pessoal, Sakura.

 

Seguiu até o banheiro, sentindo-se um pouco irritada por considerar soluções diferentes à situação, esquecendo-se mais uma vez de seus planos iniciais, negligenciando a si mesma. Lá estava ela, refletindo como trazer felicidade ao seu clã e ao seu noivo, limitando-se a condenar seus próprios sentimentos.

 

Uma lágrima solitária banhou o rosto feminino e Hinata fungou, ciente de que precisava esquecer a si mesma uma vez mais. Sempre esteve fadada a uma vida sem amor. Ela sabia disso e, inferno, continuava a acreditar que um dia poderia ser tudo diferente! Aproximou-se da pia e mirou seu reflexo no espelho do espaçoso banheiro, observando as escuras olheiras sob os orbes sem cor. Quem a quereria como era? Não havia futuro melhor para alguém tão inútil; nunca seria capaz de encontrar uma pessoa que a amasse. Era um fracasso.

 

Reprimiu um gemido auto-piedoso, sabendo que mesmo nestas circunstâncias nada a faria deixar de tentar. Nada a impediria de levantar-se uma vez mais, ignorando o incômodo aperto no peito. Hinata possuía algo em seu interior tão especial quanto a bela clareira na qual chorava suas dores: ela guardava dentro de si uma fortaleza, capaz de mantê-la em pé mesmo diante de frágeis circunstâncias, com o doce sorriso nos lábios rosados e a bondade nos orbes perolados.

 

Era sua missão.

 

Se não seria feliz em lugar algum, poderia ao menos possibilitar felicidade àqueles que lutavam e morriam nas batalhas, sofrendo o ódio secular entre ambos os clãs. Não haveria razão para continuarem a lutar com o selamento de paz.

 

Encarou seu reflexo uma vez mais, franzindo o delicado cenho em um gesto determinado. Se pudesse ao menos manter a felicidade de Sasuke, sentir-se-ia menos culpada.

 

Poderia haver uma maneira?

 

Os dedos finos e pálidos abriram a torneira dourada e molharam-se na água gelada, banhando a face de mármore. Quando a Hyuuga mirou seu reflexo novamente, com o rosto úmido e pequenas gotas cristalinas a pingarem sobre a pia, um rompante a envolveu como mágica.

 

Sim.

Havia uma maneira! Ela sorriu, melancólica.

Casar-se com Uchiha Sasuke era o melhor a fazer para os dois.

 

* * *

 

Uma semana havia se passado desde que vira Hinata durante a reunião com o Conselho e os representantes do clã Hyuuga. Tempo suficiente para Uchiha Sasuke se considerar livre da irritante obrigatoriedade de se casar com uma humana.

 

- Uchiha-sama, o líder Hyuuga deseja vê-lo. – Um servo anunciou, fazendo-o bufar entediado. Talvez fosse cedo demais para comemorar.

 

Caminhou com elegância até a sala principal da mansão, mantendo a comum expressão vazia ao mirar com orbes gélidos a figura imponente de Hiashi.

 

- Sr. Uchiha... – A voz grave o cumprimentou e o homem realizou uma breve reverência solene. – Minhas sinceras desculpas por não o ter informado sobre minha visita.

 

Sasuke limitou-se a movimentar a cabeça com indiferença, indicando o sofá vermelho para que Hiashi se sentasse.

 

- Serei breve. – A voz grave reiniciou, seca. – Minha primogênita aceitou o matrimônio como selamento de paz e desejo saber se podemos manter o acordo.

 

O Uchiha remexeu-se incomodado, contendo-se para não gritar seus verdadeiros desejos. Orgulhava-se de seu perfeito autocontrole, uma das qualidades que herdara do falecido pai, e não erraria como o mesmo. Não concederia ao sujeito à sua frente motivos para duvidar de suas intenções, pois apesar da ideia de casar-se com uma estúpida humana não o agradar em nada, era – sem dúvida – a melhor proposta para interromper as constantes guerras entre os clãs.

 

Era a melhor forma de cumprir o que nem mesmo seu pai fora capaz... alcançar um tratado estável de paz com os humanos.

 

- Dei minha palavra. – Respondeu, após um breve silêncio. – Manterei o acordo. – Os ônix vislumbraram a tensão de seu visitante reduzir pelo quase imperceptível relaxamento dos ombros largos. – Realizaremos a festa de noivado na próxima semana, com o anúncio formal. – Concluiu e levantou-se em um claro aviso de que não havia mais nada a tratar.

 

- Eu agradeço, Sr. Uchiha. – O homem expressou em timbre apático. – Vou providenciar para que acertemos os detalhes em tempo hábil.

 

E quando o líder Hyuuga se despediu polidamente, deixando-o sozinho, Sasuke gritou em fúria derrubando o precioso vaso que ornamentava uma das mesas. A expressão contorcida com a profunda raiva que sentia o tornava ameaçador, as bonitas mãos sobre os fios sedosos e negros de seus cabelos acrescentavam à cena um claro sinal de instabilidade.

 

A verdade é que o Uchiha odiava os Hyuuga! Odiava a sua natureza estúpida e frágil, atroz e mesquinha. Eram uns párias, capazes de quaisquer coisas para adquirir poder e status.

 

Inferno!

Ele teria de arranjar um jeito de fazer com que Hyuuga Hinata compreendesse que apesar de casados, jamais seriam íntimos.

 

* * *

 

O quimono emoldurava o corpo de curvas sinuosas, acariciando a pele com sua textura de seda. A cor vermelha era atraente sobre o tom leitoso da  tez suave e o obi dourado sobre a cintura fina concedia à herdeira a elegância necessária para a ocasião. Os longos cabelos estavam cuidadosamente presos com kanzashis em um coque bem-feito, deixando mechas sedosas deslizarem-se sobre o rosto delicado. Os lábios cheios eram convidativos com o tom rosado e os perolados pareciam ainda mais belos com a maquiagem clara.

 

Hyuuga Hinata era, definitivamente, uma noiva linda.

 

- Melhore esta cara. – Seu pai repreendeu, ciente de que a aparência majestosa da herdeira não combinava com a falta de brilho em seus orbes bonitos.

 

A jovem tratou de encenar um dos melhores sorrisos para agradar ao pai, apoiando-se com maior pressão em seu braço forte enquanto ele a conduzia com passos vagarosos até o noivo do outro lado do espaçoso e requintado salão. Concentrou-se em cumprimentar algumas pessoas conhecidas, ignorando a louca vontade de sair correndo e esconder-se em seu silencioso quarto.

 

- Boa noite, senhorita. – A voz rouca soou próxima o suficiente para que Hinata se voltasse rapidamente ao seu autor, encarando com orbes surpresos a figura altiva de Uchiha Sasuke. Ela sequer havia notado já ter alcançado o lado oposto do salão.

 

- B-Boa no-noite. – Ela cumprimentou, sentindo-se uma tola por seu nervosismo.

 

- Vou deixá-los a sós. – O líder Hyuuga expressou polidamente, abandonando o casal para desespero da morena.

 

- Então, aceitou casar comigo? – Hinata não pôde deixar de notar o timbre cínico. Embora quase a tenha enganado com a falsa imagem que apresentou diante de seu pai, ele continuava o mesmo.

 

- Não tenho escolha. – Respondeu com sua voz suave e baixa.

 

- Desse jeito me sentirei ofendido. – O sarcasmo parecia banhar cada palavra. – Tenho certeza de que pode mudar de ideia.

 

O corpo masculino aproximou-se perigosamente, fazendo a jovem recuar desajeitada, com o rosto em chamas pela iniciativa. A mão gelada dançou sobre a face alva em uma carícia suave, mas os ônix estavam duros e frívolos. Ele se divertia em atormentá-la, como se pudesse demonstrar seu descontentamento com o compromisso forçado.

 

- Sa-Sasuke... – Ela balbuciou, afastando-se e mirando o chão. – Podemos... fa-fazer um acordo diferente. – O Uchiha fixou sua atenção sobre a noiva, confuso com a afirmativa.

 

Hinata brincou com os dedos indicadores em um gesto nervoso antes de encarar as pedras ônix com a face corada. Ela inspirou pesadamente, exigindo mentalmente a coragem necessária para a proposta.

 

- E-Eu... não quero privá-lo do amor. – Começou, mordendo o lábio inferior ao vislumbrar as perfeitas sobrancelhas do Uchiha franzirem-se em confusão. – Quer dizer, n-nós não precisamos viver como um casal. – Comentou, sentindo dificuldade em lidar com o assunto. – Eu não me importo se você quiser manter um... ­– Encarou o chão bem polido, fungando extremamente nervosa. ­– Um re-relacionamento e-extra-conjugal.

 

Os lábios perfeitos do moreno entreabriram-se com incredulidade. De todas as coisas que esperava daquela humana, nada se assemelhava à autorização que recebera. Definitivamente, Hyuuga Hinata era diferente.

 

Tão diferente quanto ela...

 

~ ~ ~ ~ ~ {Flash Back On} ~ ~ ~ ~ ~

 

- Eu já disse que não responderei suas perguntas, otouto. A voz autoritária de Itachi encerrou o assunto e Sasuke o encarou descontente por não ter sua curiosidade saciada.

 

- Nii-san, eu só quero saber mais sobre a Shinju-nee-chan! – Ralhou o pequeno em uma clara tentativa de vencer o irmão pelo cansaço. – O que custa você me dizer quem ela é?

 

O primogênito Uchiha aproximou-se do menor, cutucando sua testa com dois dedos. Era um aviso.

 

- O que exatamente você quer saber? – Questionou, sério. Ele sabia que seu otouto devia ter uma clara intenção sob o pedido de aparência ingênua. – Respondo somente a uma pergunta. – Completou e cruzou os braços sobre o peito largo.

 

Sasuke suspirou, massageando a testa um pouco vermelha. Pensou por breves momentos, desejando aproveitar a única resposta que obteria.

 

- Ela é sua namorada? – A pergunta fluiu sincera e ignorante à norma subjetiva de que vampiros e humanos jamais poderiam se apaixonar.

 

- Não seja idiota. – O mais velho afirmou ríspido, afastando-se com uma ligeira expressão irritada na face bonita.

 

- Você não respondeu! – Sasuke gritou antes de perder o irmão de vista no longo e escuro corredor da mansão.

 

E quando Itachi não cessou os passos ele entendeu, anos mais tarde, sua resposta.

 

~ ~ ~ ~ ~ {Flash Back Off} ~ ~ ~ ~ ~

 

Sasuke encarou a mulher atraente à sua frente, observando a profunda timidez misturada com uma nuance determinada. Sua noiva podia ser diferente, mas ela não era Hyuuga Shinju.

 

Nunca seria.

 

- Por que pensa que preciso dessa caridade? – Questionou ferino, quase cuspindo a última palavra.

 

Os perolados arregalaram-se com a reação agressiva e Hinata sentiu-se subitamente raivosa com a falta de reconhecimento do moreno. Ela estava tentando ajudar!

 

- Pensei que amasse Sakura! – As palavras escaparam sorrateiras e acusadoras, mas antes que o Uchiha pudesse responder, ela cobriu os próprios lábios com as mãos, como se notasse a maldade do que dissera segundos depois. Ela não era ninguém para questionar os sentimentos do homem à sua frente.

 

- Você não sabe o que diz. – Havia asco na voz rouca. – É uma pirralha mimada que não sabe nada sobre mim. – O moreno se aproximou o suficiente para que a Hyuuga sentisse o hálito quente sobre seu pescoço quando ele sibilou: – Não se dê ao trabalho de me dizer essas inutilidades. – E afastando-se, ele a mirou com intensa cólera. – Nós nunca viveríamos como um casal.

 

E com altivez, ele se afastou, deixando-a com os bonitos perolados marejados.

 

* * *

 

O ar parecia carregado daquele odor apelativo, entorpecendo seus sentidos e conduzindo-o a lembranças há muito evitadas. A forma como seu corpo reagiu àquele aroma configurava uma experiência quase mística, levando-o a cada passo para outra dimensão de sua vida.

 

Ao retorno do que nunca poderia resgatar.

À sua Rosa de Sangue.

 

Alcançou aquele espaço mágico, banhado pelo luar e repleto das mais lindas flores, mas nenhuma superava aquele odor. Nenhuma o fazia se sentir vivo como naquele momento. Os orbes negros dançaram sobre a paisagem com ansiedade, procurando a fonte de sua adorável insanidade.

 

A brisa suave da noite balançou as flores, levando às narinas o que procurava. Passos cautelosos e silenciosos sobre a grama o aproximaram do local e pela primeira vez em longos e miseráveis anos Itachi sentiu medo do que encontrar.

 

Sentiu medo de revê-la e constatar ter enlouquecido com a culpa que o assombrava por tê-la feito perder seu sopro de vida. Por ser o autor de sua morte. Não. Ele não seria capaz de agüentar...

 

Recuou.

Incerto. Inseguro. Temeroso.

Sentimentos que nunca o envolveram com tal fulgor; nunca o pegaram desprevenido, porque – há muito tempo – Itachi nada sentia.

 

Desde que a matara, tornara-se uma sombra.

 

Cessou os passos uma vez mais, cerrando as pálpebras para se acalmar. Mortos não voltavam à vida! Mortos permaneciam mortos. E era essa imutável verdade que o tornara tão infeliz quanto se sentia.

 

Bufou. As pálpebras abriram-se e os negros brilharam na escuridão. Avançou, ignorando a dúvida e a idiota expectativa de que ela pudesse estar viva.

 

Bobagem.

Humanos são frágeis e mortais.

Morrem em poucos cem anos de vida.

 

Alcançou a beira do lago e, então, a viu. Linda, elegante, irresistivelmente semelhante demais a ela. Havia uma pequena gotícula cristalina sobre sua face delicada, manchando a beleza estonteante com dor.

 

Não conteve o impulso de se aproximar, movendo os lábios para que quaisquer palavras saíssem apenas para vê-la se voltar para si; apenas para mirar os grandes perolados que sempre o faziam se recordar da lua cheia fixos sobre si. Definitivamente, suas lembranças não faziam justiça à imagem dela. A própria encarnação da beleza.

 

Deslizou seus dedos sobre a lágrima que em nada combinava com sua personalidade guerreira, sentindo a maciez e o calor da pele sob a sua.

 

Que os deuses o lançassem ao mais odioso inferno pelo que sentira!

Ainda amava a mulher que matara; ainda amava Hyuuga Shinju!

 

- Maldição! – Gritou, enfurecido, lançando ao chão o saquê que bebia.

 

As lembranças da noite em que a encontrara ainda invadiam sua mente, fazendo-o se odiar por não ser capaz de recuperar a razão! Ela não era Shinju!

 

Ele sabia. Ele havia pesquisado. Ele a esteve seguindo por vários dias. Ele observou todas as diferenças de comportamento e disse a si mesmo que era impossível, porque – técnica e realisticamente – haviam se passado cem anos!

 

- Hyuuga Hinata! Hyuuga Hinata! – Repetiu para si mesmo, como um mantra, memorizando a imagem perfeita da mulher que encontrara no lago e associando-a ao nome que havia escrito algumas dezenas de vezes sobre o guardanapo amassado à sua frente.

 

Se ao menos aquele idiota não o tivesse encontrado, ele poderia permanecer lá, na adorável companhia do que parecia a reencarnação de Shinju. Inferno, ele ainda o mataria por fazê-lo perder esta oportunidade de conhecê-la um pouco melhor. Talvez se a ouvisse por alguns minutos, a desprezasse por não ser quem sua aparência o fazia lembrar. Talvez fosse mais fácil esquecê-la.

 

Ou talvez piorasse tudo.

 

Bufou, levantando-se e saindo do bar de quinta onde estava. Não conseguiria seguir em frente sabendo que havia alguém tão parecida com ela.

 

Alguém que o faria se aproximar um pouco mais de suas lembranças, como se fossem reais. A essa altura – e ele odiava-se por sequer pensar assim – seria bom reconhecer na imagem perfeita de uma mulher desconhecida a sua Shinju.

 

E mesmo que soasse loucura, a hipótese de reencarnação não estava totalmente descartada. As duas mulheres eram semelhantes demais e havia, inclusive, o peculiar odor que exalavam, como uma rosa de sangue. Sim, Hinata podia ser Shinju e, quando pressionada, era possível que essa personalidade antepassada sobreviesse à sua mente.

 

Apressou os passos e mudou seu destino.

Ele a faria se recordar!

.

.

Ela era a materialização da minha culpa.

A expressão do meu maior arrependimento.

E mesmo que a considerasse dessa maneira,

não conseguia negar a mim mesmo o anseio de revê-la.”

.

.

Preço da Paz.

By FranHyuuga

.

 

 


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Notas finais do capítulo

E então, pessoal?
O que acharam do capítulo?

.Flores ou Pedras.
(sapatadas, chineladas e "adas", rs)
!Reviews!