Um Conto de Natal escrita por FireboltVioleta


Capítulo 8
O Espírito do Natal Presente - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoinhas!
Não sei se o capítulo ficou muito bom. Mas não consegui escrevê-lo melhor devido ás lágrimas.
Mais, depois :(
Boa leitura :P



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"Colhe o dia presente e sê o menos confiante possível no futuro."

Horácio

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Quando reabri os olhos, já estava em outro lugar.

O Espírito do Natal Presente me encarou. Para minha surpresa, seu rosto já não parecia mais tão alegre.

– Onde estamos? – perguntei, curiosa.

Parecia que estávamos em uma grande campina rural, cercada de grama alta. Havia um charco mais adiante, visível além do pequeno muro de pedras.

– Ali – ela apontou para uma casa com vários andares, curiosamente torta, que havia no meio do amplo terreno.
Acompanhei-a até a entrada da casa, passando pelo cercado de porcos, com a testa vincada de espanto. Como alguém conseguia viver num lugar daqueles?

Assim como na casa de Aline, atravessamos a parede, entrando dentro de uma cozinha pequena de aparência surrada.

Para contrastar com o tamanho do cômodo, havia nada menos do que sete pessoas ao redor de uma pequena mesa de madeira, no meio da cozinha.

A ceia da qual desfrutavam simplesmente me deixou chocada. Em vez de uma farta refeição, como a dos Seyfrield, havia um mirrado frango, que mal cabia na palma da mão, levemente queimado, circulado por umas poucas frutas e uma panela amassada com arroz, todos dispostos em cima de uma toalha esfarrapada.

Com certeza não serviria tanta gente. Aquilo mal sustentaria uma pequena família. Muito menos aquela multidão.

Uma oitava pessoa estava de pé, tamborilando os dedos no encosto da própria cadeira, com o olhar absurdamente distante.

Quando o reconheci, parei de olhar a refeição miserável da mesa e senti a irritação tomar conta de meu corpo.

Era Ronald Weasley.

Ali era a casa dele.

– Eu não acredito! – arfei, escandalizada – ele realmente não virá trabalhar? – balancei a cabeça – vai faltar só para comer essa ninharia? Por que não faz isso na fábrica? Essa comida não dá pra ninguém... por que não comer da refeição dos funcionários?

O Espírito me olhou de modo sério.

– É tudo que eles terão para comer no Natal.

Voltei a fitar a mirrada ceia dos Weasleys.

Quase me perguntei como alguém podia viver com tão pouco.

Foi quando eu lembrei que eu já vivera com muito menos.

Senti a raiva se esvair aos poucos de minha mente.

Percebi que aquela família enorme estava vivendo – sobrevivendo – á base das sobras que mais ninguém queria. Como podia julgar quem estava passando pelo mesmo que eu havia sofrido?

Ainda assim, não entendia por que Ronald preferia passar fome com eles á comer com os demais funcionários da Ogden. Por que não deixar o pouco que tinha para os demais, então?

Ouvi o som de alguém descendo as escadas, fazendo os degraus ribombarem.

O grupo, que até então estava conversando, entrou num completo e atordoante silêncio.

Foi com choque que vi Ronald disparar em direção á escada, erguendo os braços para cima, os quais seguraram o corpo de uma jovem que surgiu no ultimo degrau.

Um dos rapazes que estavam sentados levantou de seu lugar, com o corpo bizarramente tenso.

– Hermione!

A garota que se apoiava em Ronald sorriu.

E então percebi quem ela era.

– Hermione... Hermione Granger? – murmurei – do Departamento de Execução das Leis da Magia?

A moça ao meu lado titubeou.

– Weasley – ela baixou a cabeça – é a esposa de Ronald.

Reconhecia-a vagamente de uma visita que fizera ao Ministério, dois dias após a morte de Howard, para assinar os termos de herança.

Mas não parecia nem um pouco com a moça que eu vira. Apesar do rosto bonito e do sorriso despreocupado, até eu não podia deixar de perceber o quanto parecia magra e abatida, como um animal arisco e maltratado.

Já vira até mesmo mendigos numa situação melhor do que aquela garota.

– Tudo bem? – Ronald perguntou, com os olhos saltados.

– Estou bem – Hermione suspirou – hum... o cheiro está ótimo, Molly.

Uma senhora de cabelos ruivos, ao lado do garoto que levantara, deu um sorriso fraco.

– Obrigada, querida.

O menino que saíra da mesa foi cumprimentá-la, abraçando-a, embora Ronald ainda não a tivesse soltado.

– O que há com a esposa do Ronald? – perguntei, intrigada.

O Espírito não me respondeu. Apenas continuou, juntamente comigo, assistindo Weasley levando-a suavemente até uma das cadeiras vazias da mesa e ajudando-a a sentar. O garoto de cabelos negros que a cumprimentara á pouco voltou ao seu lugar, sem tirar os olhos dela.

Molly, a senhora que Hermione citara, começou a dividir as minúsculas lascas de carne do frango no prato de cada um ali, fazendo o mesmo com as frutas e com o arroz ralo da panela.

Observei o suficiente para notar que a maior quantidade de comida estava indo para a jovem esposa de Ronald.

– Não estou entendendo – funguei – é como se todo mundo quisesse agradá-la... o que há com ela, Espírito?

– Feliz Natal! – Hermione deu um sorriso, erguendo um copo de suco. Todos na mesa fizeram o mesmo.

Era impossível não notar que, por trás da suposta alegria e animação da festa, havia algo nada alegre perturbando o ambiente.

O rosto dela anuviou-se repentinamente, ficando espantosamente vazio, quando reparou na atmosfera da cozinha.

Ronald, que estava ao lado de Hermione, virou o rosto para plantar um beijo em seus cabelos.

A garota riu baixinho, retribuindo com um beijo no rosto dele.

Estava na cara que Hermione não queria preocupar ninguém, dado seu esforço para parecer animada e feliz.

No entanto, a tentativa dela pareceu falhar, já que o rapaz arfou, olhando-a de um modo quase desesperado, segurando a cadeira como se fosse uma arma.

O movimento fez Hermione se virar na cadeira, expondo uma das pernas.

Recuei, horrorizada, quando meu olhar cravou-se ali.

Eu não era medibruxa, mas sabia o que aquela paralisia anormal significava.

– Ela está doente – disse por fim o Espírito.

Assustei-me quando Ronald pulou da cadeira, saindo correndo da cozinha.

– Rony! – o garoto de óculos voltou a se levantar, deixando a mesa e indo atrás de Ronald.

Fomos atrás deles, atravessando os cômodos.

Quando finalmente os alcançamos, ambos já haviam se encontrado.

O rapaz de óculos segurava os ombros de Ronald, que soluçava histericamente.

– O que é? O que disseram que é, Rony?

Os ombros de Ronald caíram.

– Esclerose lateral amiotrófica – ele tentou, em vão, secar as lágrimas que caíam – degenerativo. E não... – Ronald engasgou com o próprio ar – não tem cura no mundo trouxa.

– Mas e aqui? Deve ter algo aqui, não é?

– Não! Não há, Harry! – ele se desvencilhou do outro – havia um bruxo alquimista que estava desenvolvendo a cura... queria salvar o filho que tinha a doença... – Ronald balançou a cabeça – a verba da pesquisa dele acabou. Ele não conseguiu concluir. O filho... – Ronald soluçou de novo – não sobreviveu.

– E quanto é preciso para continuar? Eu posso ajudar – ofegou o tal Harry.

– Não, não pode! – gritou Ronald – cem mil galeões só para continuar desenvolvendo... e ela seria uma cobaia para algo... algo completamente desconhecido . Não haveria garantia... – o rosto do rapaz murchou – não há nenhum modo... nenhum.

Harry guinchou, aflito.

– Por isso fez tanta questão de cear com a gente.

Ronald ergueu o rosto.

– Eu estou vendo-a morrer um pouco mais cada dia. Isso vai se espalhar... e não vou poder fazer nada. Esse pode ser o último... nosso último Natal.

Ronald pareceu finalmente não agüentar-se mais em pé, e caiu de joelhos no chão.

Senti um baque revirar meu estômago.

– Por isso não virá trabalhar – arquejei, pondo as mãos na boca.

O ar revolveu-se ao redor, me retirando da cena e nos pondo para fora da casa.

– Isso é... isso é terrível – gemi – por favor, Espírito. Será que algo vai poder salvar essa garota? Ela ficará bem...? Espírito...?

Olhei ao redor, espantando-me ao me ver sozinha.

– Espírito! Onde você está? – exclamei, petrificada.

Não havia o menor sinal do Espírito do Natal Presente. Para onde ela fora? Por que me deixara sozinha ali?

Senti um farfalhar atrás de mim, o que bastou para minhas costas se arrepiarem.

Temi virar para trás, sem saber o que me aguardava. Pela primeira vez sozinha desde a visita do primeiro Espírito, me vi completamente sem saber o que fazer.

Por fim, tomei coragem e virei-me para trás.

E, acostumada á manifestações brilhantes e dóceis até então, senti o temor me invadir, quando encarei o vulto negro encapuzado, de mãos pútridas, que apontou um descarnado e medonho dedo em minha direção.

Era o último Espírito.


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Notas finais do capítulo

O_O
Bem, comentários?
Beijinhos e até o próximo capítulo, onde a patota vai me odiar :( rsrs



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