Um Conto de Natal escrita por FireboltVioleta


Capítulo 7
O Espírito do Natal Presente - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!
Estou triste pela decaída nos comentários? O que aconteceu, zentes? :-:
Bem, como não se pode salvar cavalo moribundo, o jeito é continuar deixar ele morrendo. Então vamos continuar a história :( kkkkk
Boa leitura!



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"Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento."

Érico Veríssimo

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Quando voltei a acordar, ainda estava de noite.

Senti uma cambalhota no estômago. Meu rosto ainda estava meio aderente com as lágrimas que eu havia vertido.

Tivera a boba esperança de que tudo que havia visto e ouvido, horas antes, fosse apenas um longo pesadelo. Insistia em tentar fingir que não era verdade. Queria apagar tudo que ocorrera de minha mente.

Mas quando o sino badalou outra vez, meu último fiapo de esperança se evaporou.

– Não... não, não... – funguei, abraçando o lençol – não venha, não venha...

Escondi-me embaixo do lençol assim que pressenti a súbita luminosidade em minhas costas.

Amaldiçoei todos os Espíritos em minha cabeça, revirando os olhos, aborrecida, e me voltando para o que quer que estivesse me aguardando do outro lado da cama.

Não pude deixar de soltar uma mínima exclamação de surpresa quando a vi.

Era uma moça alta, de cabelos negros exageradamente cacheados e olhos cor de mel. Trajava uma capa branca brilhante, cujo capuz lhe abarcava o rosto adolescente.

O Espírito sorriu largamente, puxando, de um dos bolsos, um cacho de uvas gordo e maduro, apanhando um dos gomos e o colocando na boca.

– Boa noite, Helena – a voz dela ecoou, tinindo como um guizo dentro do quarto.

– Como se eu estivesse tendo uma – suspirei, decidindo me levantar e sentar no colchão – e você? Quem é?

Quase perguntei o que ela era, mas pensei que, caso a adulasse, ela não resolvesse me torturar, tal como fizera o Espírito dos Natais Passados.

Ela fez um meneio formal com a capa.

– Sou o Espírito do Natal Presente.

Estreitei os olhos.

– Natal Presente? Você mostra o que acontece no presente? – deduzi.

– O Espírito assentiu.
– De certa forma. Vou mostrar a você o futuro que se tornará o presente – a garota inclinou um gomo em minha direção – quer um gomo?

– Isso é mesmo de verdade? Por que ainda acho que tudo isso é um sonho muito bizarro.

Apanhei a uva, colocando-a na boca e ficando espantada com o sabor doce e delicioso da fruta. Era impossível ser um sonho, pois sentia o sabor e a textura reais do que estava entre meu dentes.

– Convencida? – o Espírito riu, encarando minha expressão chocada – bem, se nãos e importa, acho que podemos ir e voltar logo,s e assim quiser.

Bufei, levantando da cama e ajeitando meu roupão.

– Podiam me deixar dormir em paz, não acham? – pensei um pouco, sentindo a repentina necessidade de perguntar, antes de fechar os olhos – isso é real? Ou é só uma paranóia minha?

A moça segurou minha mão, gargalhando.

– È claro que está acontecendo em sua cabeça, Helena. Mas por que isso significaria que não é real?

Ainda atordoada com a frase intrigante do Espírito, senti meu corpo novamente alçar vôo, e a escuridão encobrir-se sobre nós.

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Pousamos num vilarejo conhecido ali perto.

Não me recordava o nome do lugar, mas o reconhecia. Podia vê-lo da varanda da mansão, quando subia ao último andar.

– O que estamos fazendo aqui? – perguntei, intrigada.

– Você vai ver – o Espírito me puxou em direção á uma das casas de aspecto cinzento ao centro da rua.

VI uma criança atravessar a rua correndo, segurando uma grande guirlanda de azevinho nos braços.

Muxoxei, desdenhosa.

– Por acaso é Natal nesta... visão?

– Sim, é Natal. Tal como nas lembranças que você viu – ela mal se virou para me olhar, enquanto me arrastava para dentro da casa. Senti um arrepio quando traspassamos a parede do imóvel, adentrando no lugar.

Pisquei, incomodada com a repentina luz que inundou minha visão.

Estávamos numa grande sala de estar, luminosa e barulhenta. Havia azevinhos e bolas decorativas por todo o lugar. Uma grande mesa estava repleta de frutas, circulando um peru absurdamente grande que havia no centro dela. Mais á frente, uma árvore de Natal espalhafatosa piscava freneticamente.

Virei-me em direção ao que produzia toda a algazarra do lugar.

Havia um grupinho de pessoas rindo e apontando para algo pendurado na parede.

– Anda, William. A gente quer ver!

Um garoto moreno se afastou, gargalhando, e indicou com os braços a moldura que havia ladeado até então.

Senti o sangue inundar meu rosto de tanta raiva.

– O que pensam que estão fazendo? – exclamei para o Espírito.

Era um retrato meu, cujo rosto estava inteiramente sujo de tinta verde, formando um enorme bigode vitoriano. Meu eu fotográfico esperneava, tentando arremessar o vaso de flores da pintura nos garotos que gracejavam.

– Ei, olhem pra mim – uma garota de vestido colocou as mãos na cintura, careteando e fazendo voz grossa – sou Helena Ogden, e o Natal é uma bobagem!

O grupo riu ainda mais alto.

Minhas mãos se fecharam em punho. Quem aquelas pessoas achavam que eram?

Ouvi passos descendo a escada, e encarei Aline Seyfrield se aproximando dos vândalos irritantes.

– Ta bom, já chega – ela titubeou, pigarreando – o que estão fazendo?

– Nada – disse um dos meninos mais novos.

– Nadinha mesmo, prima – acrescentou outro.

– Saiam daí – Aline se interpôs entre eles, girando o olhar quando viu minha pintura – ah, pelas plicas de Merlim, gente – ela fez cara séria, para, em seguida, me deixando completamente chocada, acrescentar uma pincelada de tinta no queixo da pintura; a gritaria aumentou – esqueceram de pintar aqui!

– Como ela pode fazer isso comigo? – guinchei, ofendida – e ainda queria que eu passasse uma ceia com essas pessoas horrorosas!

– Soberbo, Aline – o rapaz moreno bateu palmas.

Aline sorriu.

– Ta bom, chega de bagunça – ela gesticulou com a varinha, apagando todos os vestígios de tinta do rosto escandalizado da minha versão em pintura – já sacanearam bastante a pobre coitada. Vamos cear logo, gente...

– Agora eu sou coitada? – cruzei os braços, observando-os se reunirem á mesa, ainda rindo..

O Espírito se apoiou em uma das paredes, assistindo, satisfeita, aquele bando de ingratos comerem e conversarem. Uma velha senhora – devia ser a tal vovó Willow – se debruçou na mesa, sorrindo para as pessoas ali reunidas.

– Podemos ir embora? – supliquei, quase desejando que aquele vislumbre fosse real o suficiente para eu poder esganar um dos convidados.

– Ainda não – a garota me olhou, ajeitando o capuz – veja.

Aline se ergueu repentinamente da mesa, erguendo uma taça em sua mão.

– Ok, pessoal, um pouco de sua atenção, por favor – ela bateu a varinha no cristal – gostaria de, como tem sido feito desde vinte anos atrás, fazer um brinde...

– .. desnecessário – um fungou.

– Calado, Will – censurou o menino moreno, rindo.

– ... á pessoa que, apesar de não estar aqui, ser um bocado ranzinza...

– Bocado é apelido... ta, parei! – gargalhou uma menina, desviando do bolinho que Aline jogou nela.

– Posso continuar? – Aline também ria – enfim, quero propor um brinde para nossa prima Helena Ogden – arfei, congelada – por que, apesar de tudo que aconteceu... apesar de zoarmos tanto com ela... ainda temos muita consideração por nossa prima... entendemos pelo que passou. Não fosse a pobreza da época, ela teria estado, desde sempre, aqui com nossa família. E, embora ela não acredite, desejamos que Helena tenha um ano novo de mudanças e muita esperança, por que talvez, um dia, estes finalmente toquem seu coração e a façam verdadeiramente feliz. – Aline levantou ainda mais sua taça de vinho – á Helena.

Todos se entreolharam, e, a seguir apanharam suas próprias taças, erguendo-as no ar.

– Á Helena – estremeci ao ouvir todos dizerem.

– A garota mais adoravelmente irritante do mundo – brincou William.

Abismada, abracei meu próprio corpo, fitando o Espírito.

– Eles estão... me brindando – murmurei, confusa – por quê? Nunca fiz nada por eles... nunca me preocupei sequer em lhes dar atenção, em momento algum.

A garota luminosa ao meu lado apanhou outra uvinha do bolso e a mastigou, me encarando afetadamente.

– Por que eles gostam de você, Helena. E entendem você... até mais do que seria necessário compreender – ela me inclinou novamente a mão, sorrindo – bem, temos de ir. Há mais uma coisa que devo lhe mostrar.

Segurei sua mão, ainda encarando a ceia barulhenta adiante.

Antes de ser novamente transportada pelo Espírito, senti algo estranho dentro de mim.

Por um segundo avassalador, quase pensei que não me importaria de continuar ali por um bom tempo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Deem um comentáriinho que seja, nem que queiram dizer que está uma droga. Pufavorzinho, gentes :-:
Beijinhos e até o próximo!



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