Um Conto de Natal escrita por FireboltVioleta


Capítulo 4
O Fantasma de Ogden


Notas iniciais do capítulo

Olá, pipous!
Novo capítulo para meus leitores perfeitos! *-*
Boa leitura!



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"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar."

William Shakespeare

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Recuei vários passos, balançando a cabeça, sentindo o pânico tomar conta de mim.

Não podia ser...

Era impossível.

Howard se aproximou, o que me fez agachar num cacoete para recuperar a varinha que deixara derrubar.

– Não... – apertei-a na mão, sentindo meu braço adormecer mesmo assim – não pode ser... você está...

– Morto? – o cadáver fantasmagórico encovou os olhos – não exatamente, Helena... nunca poderei descansar...

Arregalei os olhos. Descansar? Howard não era sólido, mas tampouco parecia um fantasma.

– O que é você? – murmurei, antes de perceber o quanto estava fazendo papel de ridícula, falando com aquele desgraçado como se fôssemos velhos amigos – não importa! Quero que saia da minha casa! Volte para o buraco de onde veio! Nada aqui lhe pertence mais!

Howard baixou a cabeça, fazendo a mandíbula tremer ameaçadoramente pra a frente. A pouca coragem que eu havia reunido se dissipou.

– Realmente... nada... – ele sussurrou, me encarando – estou condenado a vagar por este mundo, invisível aos olhos de outros, para pagar pelos meus erros...

– Isso não me diz respeito algum, Ogden – tentei ao menos fingir um rosnado – você nem sequer merecia ter tido a chance de surgir nesse plano de existência... por mim, você pode vagar por esse mundo pela eternidade.

– E ainda assim não será suficiente – retrocedi mais alguns passos, observando Ogden tremeluzir diante da luz de minha varinha – você devia ter sido protegida... devia ter sido o que era para ser... – o rosto esquelético se contraiu – de todos os meus erros, os piores foram cometidos com você.

Trinquei os dentes, a raiva sobrepujando o pavor que me consumia.

– E só agora você me vem com essa patacoada, Ogden? Precisou morrer para descobrir isso, seu infeliz?? – exclamei, sentindo o sangue correr por minhas veias.

A presença dele não só me repelia, mas também trazia de volta lembranças que eu decidira manter enterradas em minha mente. Por que diabos aquilo estava acontecendo? Como? Por quê?

A única coisa que eu queria era que aquela aparição horrível desaparecesse.

– Afinal – guinchei, fitando-o – por que veio aqui? Quer me torturar mesmo em morte? Vai transformar minha vida num inferno outra vez? Vai, Ogden?

O vulto reergueu a cabeça, olhando para mim.

E, para minha surpresa, vi um mínimo espasmo de tristeza encolher os nacos de pele no rosto cadavérico.

– Vim lhe dar um aviso, Helena... eu já estou condenado, e você sabe por que... as coisas que fiz... nunca terão perdão... não posso... corrigir o que fiz – ele recolheu o braço, fazendo as bandagens tremularem – mas você... você ainda pode escapar...deste destino...

Retraí o corpo, pasma.

– Destino? – resmunguei – que destino?

– O de cometer... os mesmos erros que os meus – o fantasma gemeu – de ter... esse mesmo fim que o meu..

Ri, incrédula.

– Não vou terminar como você, Ogden. Apenas pessoas como você terminam assim – falei – não sou como você... e nada vai me acontecer!

Howard estremeceu, e, para meu terror, jogou-se contra mim, fazendo-me desabar na poltrona.

– Mas pode se tornar! – a voz dele encheu o quarto, rascante – e pode ter o mesmo fim... o mesmo fim, Helena!

Sua mão apontou para a janela enquanto falava.

Ainda retraída, me encaminhei para o parapeito, indo olhar para o lado de fora do vidro.

O que vi ali fez minhas pernas bambearem.

Em meio á escuridão da noite, pude ver não um, mas vários fantasmas como Ogden. A maior parte arrastava correntes, e outros – arfei – se arrastavam nas calçadas, sem partes do corpo, visivelmente gemendo e gritando, embora ninguém ouvisse os sons que emitiam.

– Todos condenados... todos condenados, Helena... – Ogden se aproximou da janela, olhando para fora, em direção á um vulto fantasmagórico de tamanho bem menor que os demais – um garoto órfão que veio pedir uma esmola... sem o dinheiro que pediu, começou a roubar, e assaltou uma família... matou todos... até as crianças... e talvez não o tivesse feito se eu lhe tivesse dado uma pequena moeda naquele dia...

Balancei a cabeça, atordoada.

Fechei a cortina veneziana, baixando o olhar para o chão.

Só tinha uma explicação para aquilo: eu estava sonhando.

E se estava sonhando, teria que esperar aquele pesadelo acabar de uma vez.

– Isso só deve ser um pesadelo – virei-me para Ogden – só pode ser um pesadelo... nada disso é real... não pode ser real – conclui, com a testa vincada.

Howard negou com a cabeça, fazendo os ossos dos ombros saltarem para fora da pele.

– É muito mais real... do que você jamais conseguirá entender... Helena – ele inclinou-me um dedo descarnado – vai ter que reviver... vai ter que esquecer um futuro... – os olhos esbranquiçados tremularam nas órbitas de meu avô morto – esta noite, três espíritos lhe visitarão em seu leito, um á cada batida do sino... e você terá a chance de evitar o futuro ainda não escrito...

Bufei, já me irritando com a minha demora em acordar daquele pesadelo. Espíritos, visita, futuro... se não fosse um sonho, eu estava ficando louca.

– Isso se eles vieram – disse – não vou deixar mais fantasmas entrarem aqui. É a minha casa – enfatizei, apontando meu braço para a porta – e acho que chegou à hora de você deixá-la, Ogden.

Pensei que Howard iria investir novamente em mina direção, mas apenas fechou a boca, assentindo.

– Espero... que saiba o que fazer... ainda pode mudar muita coisa... Helena Ogden.

A janela que estava aberta se fechou com um estrondo.

Virei a cabeça para olhá-la., assustada.

Quando voltei o olhar, Ogden havia desaparecido.

As velas que haviam se apagado minutos antes reacenderam, iluminando o quarto.

Tudo no lugar, como se nada tivesse acontecido;

Vislumbrei o lado de fora da janela, verificando se os medonhos fantasmas haviam desaparecido.

A rua estava deserta, como sempre ficava àquela hora da noite.

Pisquei, a princípio confusa.

Mas, enfim, senti um alívio tomar conta de mim.

Foi só um sonho, pensei.

Nada havia mudado no ambiente ou lá fora.

Eu devia ter cochilado na poltrona. Era isso. Havia sido um simples pesadelo. Terrível, mas apenas um pesadelo.

Como se Howard Ogden pudesse ressurgir do inferno para onde fora. Ou se espíritos estranhos pudessem me aparecer á noite.

Que bobagem. Devia ser o acúmulo de irritações do dia, se despejando em minha cabeça na forma de sonhos.

Sentindo-me estranhamente exausta, resolvi me despir, vestir minha camisola e deitar na cama. Enrolei-me nas cobertas macias, recostando a cabeça no meu travesseiro e fechando os olhos.

Antes de finalmente adormecer, relembrei aquela parte bizarra do pesadelo, onde jurei ter visto Howard Ogden demonstrar um mínimo de preocupação comigo.

No entanto, algo me dizia que, pelo menos naquele estranho sonho, aquela demonstração poderia ter sido mais sincera do que eu pensava.


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam?
Beijinhos e até o próximo capítulo!



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