Um Conto de Natal escrita por FireboltVioleta


Capítulo 12
Longanimidade


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoinhas!
Bem, decidi ser boazinha e fazer um epílogo depois do próximo capítulo. Então ainda tem três capítulos para vocês chorarem e comentarem! (rsrsrs)
Boa leitura!



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"Basta ajuizar bem para bem fazer, e julgar o melhor que nos seja possível para fazermos também o nosso melhor."

René Descartes

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Meus pés afundaram um pouco na neve quando reapareci em meu destino.

Tudo estava do jeito que eu vira, sem um único detalhe fora do lugar.

A casa de Ronald Weasley.

Ergui o olhar para a casa torta que eu vira na noite passada. Senti um arrepio quando vi, de soslaio, a colina mais adiante, onde, num possível futuro, um túmulo seria erguido.

Balancei a cabeça, decidida. A ideia que tivera na mansão iria ser colocada em prática.

E, para isso, eu decidi manter uma fachada e não demonstrar minhas intenções de início. Queria que fosse uma grande surpresa para toda a família dele.

Fui até a porta, sem fazer barulho. Verifiquei a maçaneta, procurando descobrir se estava destrancada.

Sorri... estava completamente aberta.

Aproximei-me da janela da cozinha, espiando cautelosamente pela fresta.

Observei, tensa, o momento em que Ronald ajudou Hermione á terminar de descer a escada. Continuei olhando a família se acomodar ao redor da mirrada refeição, segurando firmemente a bolsa ao meu lado.

Era quase medonho perceber que a garota que eu encarava morreria em menos de um ano, e levaria consigo um bebê que jamais veria a luz do dia.

Ver o momento em que seu rosto murchava simplesmente me fez correr em direção á porta. Se eu ia fazer aquilo, seria agora.

Confesso que quase hesitei quando irrompi pela porta, fazendo mais da metade das pessoas na mesa saltarem de susto em suas cadeiras.

Hermione quase se desequilibrou, agarrando-se ao braço do marido, como um bicho assustado.

Ver todos os rostos chocados - e me encarando - por pouco não me fez desistir da palhaçada que eu iria fazer. Mas resolvi não deixar a peteca cair.

Fiz minha melhor expressão irritada na direção de Ronald, que se pôs de pé, segurando o ombro da esposa, com o rosto contorcido de medo.

– Senhorita Ogden... – ele estremeceu, olhando assustado na direção das pessoas confusas – eu... eu posso explicar...

– Explicar o que? – cheguei mais perto da mesa, fazendo todos se encolherem – que você faltou com o seu dever na fábrica para ficar em casa?

A pobre mãe de Ronald estava tão pasma que nem conseguia articular palavra, embora fosse visível que queria me mandar sair de sua casa.

– Senhorita Ogden... – ele arfou, angustiado – eu não queria fazer isso... eu precisei... eu sinto muito...

Hermione segurou a mão de Ronald, parecendo querer cair no choro.

– Precisou descumprir a ordem que te dei. Foi isso? – exclamei, cruzando os braços, e, num impulso, segurando o prato com o paupérrimo frango queimado – e para comer restos que mais ninguém quer? Só por isso?

Um dos irmãos de Ronald fez menção de tentar se erguer, zangado, mas outro o segurou, impedindo-o de levantar.

– Não, não foi só por isso – Ronald apertou a mão de Hermione – eu posso explicar, senhorita Ogden...

– Não quero ouvir suas desculpas, Weasley – bati o prato com o frango na mesa, fazendo a ave quase se desmanchar com o impacto – eu lhe avisei sobre o que aconteceria se você não aparecesse na fábrica hoje, não disse?

– Por favor, senhorita Ogden... – Ronald começou a guinchar – não faça isso. Eu imploro...

– Você não merece mais o salário que recebe, Weasley. Não vai ter mais este emprego.

Hermione empalideceu, e fiquei com serio medo de que a pobre garota desmaiasse ali mesmo. Decidi que não poderia estender aquela brincadeira por muito mais tempo.

– Ogden, por favor! – ele a abraçou, aflito.

– Não vou mudar minha decisão. Não vai mais ser secretario da Ogden...

Vi o rosto de cada um ali se vincar de surpresa quando sorri, desmanchando minha máscara.

– Vai ser meu codiretor.

O queixo de Hermione caiu de espanto, o que foi engraçado de se ver.

Ronald não parecia menos abalado. Pelo contrário, foi a vez dele parecer que ia desmaiar.

– Senhorita Ogden...? – ele paralisou, incrédulo.

– Ah, me poupe, Weasley. O que você ganha mal dá pra alimentar essa família – ergui a sobrancelha, fingindo petulância – ah, não. Á partir de amanhã, vai ser meu braço direito. Acho que oitenta galões semanais devem servir para comprar algo decente para essas pessoas.

– Oitenta galeões? – temi que o garoto tivesse um ataque catatônico.

Bem, não podia culpa-lo. Quase o matara de susto alguns segundos atrás.

– Sim. E se reclamar, serão noventa – franzi o lábio.

A atmosfera na pequena cozinha era quase hilária. Uns pareciam querer rir, outros ainda estavam atordoados, e Hermione parecia dividida entre rir e fugir com a única perna que lhe restara.

Ronald ainda me fitava, congelado demais até para dizer alguma coisa.

– Mas isso já ajudaria bastante – sussurrou uma garota ruiva ao lado de Hermione, dando um meio sorriso.

– Não o bastante – piou o irmão de Ronald que quase me espancara minutos atrás.

– Ah, quase esqueci – apanhei os dois sacos que trouxera do meu cofre pessoal , jogando-os na mesa, diante da estátua que era Weasley – considere um bônus de Natal... não que eu dê bônus de alguma coisa para alguém. Se eu tiver que falar com o coitado do homem que estava pesquisando, posso quebrar o galho também.

Olhei para Hermione, que se surpreendera com o som tilintante do conteúdo dos sacos. Ela me observou, arregalando o olhar.

– Me diga... quinhentos mil galeões já é o suficiente para dar um jeito nessa moça aí do canto?

Isso pareceu despertar Ronald, que sacudiu a cabeça e ofegou, de olhos saltados.

– Como a senhorita...?

– È o bastante ou não? – o interrompi, impaciente.

Hermione balbuciava baixinho, olhando para os sacos cheios de galões como se nunca tivesse visto nada parecido.

– É mais do que o suficiente – a garota ruiva arquejou, maravilhada – vai pagar qualquer verba para descobrir a... mas como...?

– Se não quiserem o dinheiro... – titubeei, gracejando por dentro.

– Não, nós aceitamos – vi-a agarrar os sacos, acotovelando de leve o irmão – Rony, isso...

Voltei a encarar Ronald, que começara a esboçar lentamente um sorriso no rosto.

– Podemos conseguir a cura – ele murmurou, rindo, e virando num átimo para a esposa – Hermione!

Assisti, satisfeita, ele erguer Hermione da cadeira e a apertar num abraço emocionado, que aa rodou no ar.

– Você vai ficar bem, Hermione! Vai ficar bem! - ele cantarolou, absurdamente alegre.

A pobre garota fungou, sem saber se ria, se chorava ou se mandava o marido se controlar na frente da chefe dele.

O ar tenso da cozinha começou a desaparecer, enquanto todos se entreolhavam, sem acreditar no que estava acontecendo.

Percebi o olhar desiludido de uma criança no colo de uma moça loura – que não aparecera na noite anterior – para o prato rachado de frango no canto da mesa.

– Ah, quase esqueci – lembrei-me, voltando a remexer em minha bolsa, e tirando, com dificuldade, o gigantesco peru que Thomas me comprara – não sei se já esfriou, mas deve dar um jeito nessa ceia minúscula de vocês.

Um dos irmãos de Ronald só faltou cair de susto quando coloquei a enorme ave numa terrina que conjurei na mesa.

– Minha nossa... – Harry balbuciou, rindo – isso é um peru?

– Ainda tenho minhas dúvidas – funguei, rindo – bem – espalmei as mãos uma na outra – acho que era tudo que eu tinha para dizer aqui. Agora, se não se importam... acho que vou sair da casa de vocês, antes que a senhora ali me estupore – fiz sinal para a mãe de Ronald, dando de ombros.

Virei-me na direção da porta, decidida a dar um tempo para que todos se recuperassem do choque.

No entanto, para minha perplexidade, uma mão magra segurou meu ombro.

Virei-me para trás, dando de cara, para meu espanto, com Hermione.

Ela ajeitou a muleta no braço que não me segurava, os olhos brilhando de emoção.

– Não quer ficar para cear conosco?

Olhei para o corpo tremulo e maltratado da esposa de Ronald, sentindo algo estranho me embolar na garganta.

Eu torcia para que o tal bruxo que pesquisaria sua cura conseguisse salva-la. Pela primeira vez em minha vida, a expectativa em minha mente não se voltava á meu favor.

– Obrigada, Hermione – meneei a cabeça, sorrindo – mas eu ainda tenho muito que fazer hoje. Quem sabe no ano que vem.

Eu sabia que, agora, havia a chance de Hermione ter mais um Natal. Não custava nada dar a mim e á ela um pouco de esperança.

E por que não? Agora, podia dizer que gostaria de passar o dia com aquela família.

– Tudo bem... – ela mordeu o lábio, dando um sorriso – uma próxima vez, então.

Ronald a ladeou, abraçando sua cintura e voltando o olhar para mim.

– Senhorita Ogden... – a voz dele estava estranhamente embargada – eu... – ele desengasgou, finalmente falando - como posso... agradece-la?

– Fácil – muxoxei – agora você é codiretor. Pra você, sou apenas Helena.

Os dois riram baixinho, olhando-se entre si.

– Obrigada... Helena.

Assenti, finalmente deixando a soleira da porta e saindo da casa dos Weasleys.

Antes de aparatar, voltei o corpo na direção de Ronald e Hermione, que ainda me observavam sair da fazenda.

Vi algo, nos olhos daquele casal, que me intrigou por um momento. Algo que eu nunca vira em nenhum rosto que já me encarara.

A palavra me surgiu apenas quando voltei a aparatar, com o rosto sorridente de Ronald emoldurando minha visão.

Pela primeira vez, percebi o que significava aquela coisa estranha e ridiculamente natalina que chamavam de gratidão.


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Notas finais do capítulo


Então? O que acharam? *-*
Espero que tenham gostado da versão mais maleável - e ainda sarcástica - da nossa Helena! :3 kk
Beijinhos e até o próximo capítulo!



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