–É difícil botar minha colher na panela , sabe , Cícero. Mas agora minha vontade mesmo é pegar a Letícia e o Pedro , botar eles dentro do carro e levá-los para um lugar onde eles pudessem se entender . Tá mais do que na hora desses dois ficarem juntos...você não acha?!

Ariel estava muito nervoso e andava em zigue –zague na cozinha . Ele queria tanto ajudar. Se sentia prepotente sem os seus poderes para ler os pensamentos das pessoas, e ainda mais de Pedro.

Ele sabia de tudo sobre o rapaz, na verdade , ele seguia Pedro sempre que tinha oportunidade.

Pedro havia mudado muito.Isso não dava para negar . Ariel não tinha a menor das duvidas que o rapaz havia progredido muito .

Queria compensar o rapaz que fizera tanto para pagar todas as dividas do vinhedo Campobello do seu irmão Felipe , as hipotecas das casas e as dividas da sua amada avó Vitoria .

–Tudo tem seu tempo, amigo anjo. São palavras do Mestre. – respondeu o calmo Cícero.

–Mestre. O Mestre fala uma coisa e faz outra. Ele não interferiu no destino do Pedro ?!

Cícero afirmou com a cabeça . Ele também sabia de toda a verdade sobre do rapaz.

–Por que então ele não deixou o Pedro encontrar a Letícia no século 19 e sentir esse amor com ela ao invés de Lívia ?!

– Ariel, isso nem eu sei como responder agora . O Mestre está dando ao Pedro a chance de se ajustar porque pediu ajuda . Agora se ele vai aproveitar ... depende do livre-arbítrio dele.

–Eh ... vamos trabalhar na louça , então ! Mas estou ainda pecando pela minha preguiça ... e olha que nem sei onde começar, meu amigo.

E os dois anjos botaram a mão na massa . Hmm, é claro que não. Como sempre Cícero usou seus poderes para que a louça ficasse limpa e guardada em seu devido lugar.

Depois da sobremesa Pedro foi para a cozinha fazer um cafezinho para todos . E encontrou a louça limpa e em ordem . Ele teve vergonha e pena em invadir aquele espaço que não era seu para fazer bagunça .

Pedro estava tão concentrado na tarefa até na hora de retirar a água quente da chaleira que estava na boca do fogão despejando sobre o coador cheio de pó de café que não viu quando Letícia chegou e colocou a mão em seu ombro dizendo:

– Me desculpe .

Pedro foi pego de surpresa quando sentiu o toque leve da mão de Letícia sobre seu ombro que este se virou , e com isso o coador despencou da jarra de café e derramou água quente .... no chão.

Se antes Letícia se sentia péssima , agora ela estava pior porque quase teria visto Pedro ter sua mão com queimaduras e a família dele inteira socorrendo . Mas foi rápida puxando ele e envolvendo o corpo de Pedro em seus braços num abraço .

Ela nunca poderia imaginar, mas era a primeira vez que estava nos braços de um homem . Um homem que fez o mundo parar sem avisar. O corpo de Pedro era tão quente e aconchegante que Letícia , sem querer , inalou o cheiro de perfume e suor de Pedro. E gostou, porque simplesmente era um cheiro gostoso e agradável que gostaria de sentir em um homem principalmente se , se ele fosse seu namorado.

Mas Pedro não era seu namorado!

E por quê ela estava pensando em algo assim .... tão embaraçoso ?!

–Me desculpe por ter xingado você na estrada durante a tarde. Eu não sabia que era você que estava dirigindo naquele fusca . Você me desculpa?!

Pedro estremeceu ao ver a água derramada e o que poderia ter acontecido... Seu corpo reagiu ao abraço correspondendo ao carinho dela mas pôs – se a escutar a doce voz como se viesse de longe , bem de longe.

– Eu te desculpo, sim. É lógico que te desculpo.

Letícia respira aliviada pelo perdão recebido. E assim que o abraço acabou, limparam juntos a bagunça da cozinha.

E saíram do cômodo com um café fresquinho numa travessa com xícaras para todos que estavam esperando na sala de estar .