Savior. escrita por Izzy


Capítulo 5
Demons.




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Preciso da sua ajuda, eu não consigo lutar contra isso para sempre.

– Starset.

Katarina estranhou Louis naquela noite.

Era sexta-feira e o último horário de seu curso seria com ele, o que resultava em apenas uma coisa: voltar sozinha para o apartamento. Isso apenas piorava ao ver a forma que Louis estava naquele dia, completamente diferente do dia anterior. Como se ela houvesse feito algo completamente errado, embora a tenha cumprimentado normalmente quando ela chegou à sala naquela noite.

– Não sei se sabe, professor, mas fica absurdamente bonito quando está sério – ela comentou, esboçando um sorriso torto conforme o olhava organizando alguns papéis que havia entregado a ela.

Louis parou de organizar seus papéis e olhou para Kat, com as sobrancelhas arqueadas.

– Ah, qual é? Errei alguma coisa disso aí? – ela perguntou, controlando-se para não bufar. Seria idiotice ele ficar daquela forma por algo tão pequeno.

Ainda assim, ele negou com a cabeça, voltando a arrumar os papéis.

– O que é? – Kat perguntou novamente, e seu tom fez com que Louis finalmente a olhasse.

Ela havia falado baixo – coisa que não fazia, pelo menos, em nenhuma vez que eles haviam conversado – e parecia incrivelmente confusa com a expressão que ele assumia. Vendo isso, Louis resolveu relaxar e suspirou, lançando um breve sorriso para ela.

– Eu só... Quem é Bastarda Bluwin? – ele perguntou, tentando assumir uma expressão calma em seu rosto.

Kat ficou confusa por um momento, mas, assim que compreendeu, suas bochechas assumiram um tom levemente avermelhado e ela soltou um riso baixo, constrangido.

– Sou eu. Fico feliz que tenha pensado direto em mim – ela comentou, desviando do olhar de Louis enquanto ainda sorria.

Ele achou estranho, e tentou pensar no que falar em seguida. Havia muitas perguntas a serem ditas naquela noite. Talvez, naquela vida. Ele queria perguntar sobre a história, tanto da personagem que ela escrevia, quanto dela. Queria perguntar por que ela sempre sorria quando seus olhos quase começavam a lacrimejar, ou porque ela não tinha errado uma pergunta sequer da pequena prova que ele tinha passado para ela. Mas o sinal havia tocado, e, ainda assim, ele não saberia formular mais um questionário para ela sem parecer um psicopata – não que ele fosse um psicopata.

– Acertou tudo – ele murmurou, mudando enfim de assunto enquanto entregava a prova para ela.

Kat fez uma expressão engraçada quando olhou para sua prova, e Louis apenas sorriu.

– Eu pensei que tinha errado tudo! – ela exclamou. Logo olhou para ele, com certa gratidão – Obrigada, Louis.

Ele deu de ombros e olhou para o relógio.

– É tarde – ele disse, pensativamente.

– Sim, e tá na hora de eu enfrentar Ocean – ela murmurou enquanto levantava-se de sua carteira, guardando rapidamente os materiais na mochila – Tchau, Louis!

– Espera! – falou, olhando para Katarina enquanto ela saía da sala rapidamente. Ela parou e o olhou com um misto de confusão estampada em seu rosto, mas Louis apenas deu um sorriso curto – Não me olha assim, não vou fazer nada de ruim. A questão é que as ruas de Ocean são perigosas nesses fins de semana e eu...

– Aceito. Vou te esperar lá fora, já sei qual é o seu carro – ela disse calmamente, ajeitando a franja antes de sair da sala.

Dessa vez, Louis que ficou confuso. Que garota era aquela?

*

– Pode parar aqui – ela disse, e ele estacionou em frente ao prédio.

Katarina estava encolhida no banco do carro e os longos cabelos dela tampavam todo o seu rosto propositalmente. Não queria que Louis notasse o rosto dela.

– Obrigada – sussurrou, fungando baixinho.

E estava prestes a sair. Entretanto, Louis a puxou delicadamente pelo braço e, ao notar que ela tinha os olhos inchados e avermelhados, franziu o cenho.

– Tá chorando? – ele perguntou, em um misto de surpresa e medo.

Ela apenas deu de ombros, desviando o olhar dele. Passou-se um tempo, e um tempo, e mais um tempo... Ambos não diziam nada. Katarina apenas olhava para a luz que os faróis transmitiam para a rua escura, Louis olhava para ela.

Um longo momento havia passado, Louis vira o relógio anunciar que já era 0:07h. Quando Kat voltou novamente seu olhar para Louis, as lágrimas já haviam sido esquecidas de seu rosto e o costumeiro sorriso irônico começava a brotar ali.

– Olha, você quer tomar Blue October comigo qualquer hora? – ela perguntou, e Louis quase se encolheu. Os olhos verdes da garota infiltravam-se nos dele, instigando-o a sabe-se lá o quê.

Mas ele sabia o quê.

– Não sei – suspirou, desgrenhando seus cabelos com os dedos de sua mão livre enquanto a outra pousava-se no volante do carro – Katarina, você é minha aluna, e...

– Papinho mais furado que o alargador da minha orelha – disse ela, revirando os olhos.

Louis franziu o cenho, espantado.

– Você tem um alargador?!

– Tenho, olha... É pequenino, parece um brinquinho – sussurrou, puxando os longos cabelos para o lado e mostrando o pequeno alargador de sua orelha direita.

Ele teve que conter a tentação de se aproximar mais que o necessário. E viu, aquele alargador na orelha pálida, que poderia ser simples. Poderia, se algo em Katarina conseguisse ser apenas simples – mesmo que ela tentasse.

Despediram-se rapidamente depois daquilo, ela não tocou mais no assunto de Blue October e nem sobre Bastarda Bluwin. Do mesmo jeito que Louis também evitou qualquer assunto que ambos tiveram antes. Enquanto dirigia até sua casa e deixava o som de seu carro ligado, baixo, em um rock clássico, seus pensamentos voavam somente para ela. Pelas lágrimas que brilhavam em seu rosto, por aquele cabelo longo e escuro, com as mechas azuis. Por aquela pinta que ela tinha na clavícula, que ele vira quando ela mostrara o pequeno alargador.

Quando chegara a sua casa, um suspiro alto saiu dele, involuntariamente.

Em que porra eu fui me meter? – resmungou, jogando um copo que ainda estava com whisky sobre a mesa na parede, sem se importar com um dos cacos que voou em seu braço, deixando que um pequeno fio de sangue começasse a escorrer do machucado.

*

Era sábado, chuvoso, frio, mas, assim que Louis adentrou o bar, sentiu o calor humano misturado ao cheiro de nicotina, álcool, e um leve cheiro de perfume. De repente, valeu a pena sair de casa no tempo horrível que se instalara em Ocean depois de todo aquele calor dos dias anteriores. Seguiu para o balcão do bar, sem realmente olhar para lá ou para qualquer direção. Não olhou para ninguém enquanto se sentava. Estava com uma aparência péssima, seus olhos castanhos carregavam uma vermelhidão e grandes bolsas embaixo dos olhos, decorrido às horas de insônia que havia tido na noite passada e em boa parte do dia de hoje. Mais uma vez os demônios chegaram, com a intenção de atormentá-lo constantemente.

– O que vai ser pra hoje? – o barman perguntou, entediado.

Louis deu de ombros.

– Whisky. Sem gelo, por favor – pediu, com a voz soando tão baixa e rouca que teve que repetir para que o barman o entendesse em meio às conversas e o som que tocava uma música qualquer do Arctic Monkeys.

Passados alguns momentos, enquanto o barman preparava sua bebida, Louis sentiu uma presença atrás de si. Antes mesmo que pudesse olhar, ouviu aquela voz de sempre, apenas um pouco enrolada, mas ainda assim... Aquela voz.

– Escolha ruim. Sem gelo, é quase possível engolir, sabia?

Katarina.


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