Savior. escrita por Izzy


Capítulo 6
Dynamite.




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Você é uma explosão, você é dinamite.

Arctic Monkeys.

– Bebo a mais tempo que você, menina – ele disse, abaixando o olhar para o balcão, na tentativa de conter a tentação de olhá-la – Sou mais velho.

Katarina apenas revirou os olhos, esfregando-os em seguida. Sua visão estava levemente turva e, quando ela tentou se sentar à frente do balcão ao lado de Louis, cambaleou um pouco, soltando uma risada falha. Ele a olhou, inexpressivo.

– Você bebeu – ele afirmou, entediado.

– Hmmm, sim, eu bebi. Está incomodada, mamãe? – ela perguntou, e a ironia se fez mais presente em sua voz do que todos os momentos em que Louis estivera junto dela.

O barman colocou o copo de whisky à frente de Louis, lançou um olhar malicioso para Kat – que tinha um sorriso torto nos lábios enquanto olhava pelas pessoas que dançavam animadas no bar – e Louis precisou se controlar enquanto olhava para o barman, que já tinha se afastado para atender outro cliente.

Louis bufou.

– Você tem 17 anos. Como te deixaram entrar e beber? – ele perguntou, sentindo o whisky amargo descendo por sua garganta quando bebera um longo gole.

Ela deu de ombros.

– Esse bar não tem essas frescuras, sabe – ela comentou, mas, antes que Louis pudesse dizer algo, viu-a arregalando os olhos quando uma outra música do Arctic Monkeys começara – MEU DEUS.

– Que foi?!

– Temos que dançar essa música! – ela gritou, e Louis viu os olhos verdes sempre opacos brilharem enquanto o som do começo da música invadia o recinto. Ainda assim, não moveu nem um músculo.

– Você pode ir. Eu fico.

Ela revirou os olhos e tentou puxar Louis do banco pela jaqueta de couro que ele usava, mas de nada adiantou. Ele ficara parado, impassível. Kat finalmente desistiu e largou do braço dele. Ele mal conseguiu conter o suspiro.

– Eu vou dançar então! – ela disse, e, quando ele pensava estar finalmente livre, ela começou a dançar. Ali mesmo, próxima a ele.

Mesmo hesitante, ele tentou conter a tentação de olhá-la, mas, como esperado, a tentação foi maior que ele. Irresistível, pensou, sentindo uma pequena confusão em sua mente enquanto tentava acompanhar os movimentos ritmados que Katarina fazia. Fechava os olhos, com os lábios intumescidos. Os longos cabelos chacoalhavam-se, mais cacheados do que nunca, e, estando praticamente sem maquiagem, tinha no rosto uma claridade que ele nunca vira antes. Algo puro, talvez. Ou talvez fosse apenas a bebida fazendo efeito. Mas ali estava ela... Com uma saia cortada acima dos joelhos, uma blusa comprida jeans e o all star que ele já estava acostumado a olhar.

Foi quando a voz do Alex Turner soou nos altos falantes que ela abriu os grandes olhos verdes, dirigindo-os diretamente para os olhos de Louis. Ele se controlou para não engolir em seco, enquanto ela, animada, começara a dançar cada vez mais liberta. Nesse instante, várias pessoas – até as que dançavam no meio do bar – começara a olhar para a garota que dançava sozinha, como se estivesse em um universo diferente.

I wish you'd stop ignoring me, because you're sending me to despair – ela cantou, olhando para ele com um sorriso de orelha a orelha - Without a sound you're calling me and I don't think it's very fair!

Louis, embora estivesse se controlando, esboçou um sorriso curto enquanto Kat cantava para ele, ignorando todos que estavam ali, observando-a.

Oh you're an explosion, you're dynamite – ele cantou, sem que ninguém pudesse perceber, já que todos olhavam para ela. Entretanto, um sorriso tomou o rosto dela, e ele, involuntariamente, acabou sorrindo também.

Antes que a música acabasse, ele levantou e a tomou pelas mãos, dançando enquanto todos os outros voltavam também a dançar, com gritinhos animados saindo de todos. Ele, porém, tinha substituído à expressão triste de antes, assim como ela. Por um momento, era como se ambos fossem felizes.

*

– Você quer um cigarro? – ela perguntou, com certa dificuldade.

Louis chacoalhou a cabeça, levemente zonzo.

– Eu não fumo – disse, rouco.

Ambos olharam para a rua quando um carro com o farol alto passou rapidamente por eles. Katarina tentava – sem sucesso – se equilibrar sobre o meio-fio, e Louis andava ao lado dela, na calçada, com o braço um pouco esticado para pegá-la caso ela caísse.

Ela deu de ombros e acendeu o terceiro cigarro naquela noite. Louis, há quase uma hora atrás, ficara desconfortável, mas agora já se acostumara. Chegava a ser agradável o cheiro entrando por suas narinas, mesclados com o cheiro dela própria.

– Louis – ela balbuciou, enfim indo para a calçada, ao lado dele – Eu tô sem saber o que fazer.

Ele deu um sorriso.

– Sobre o quê?

– Sobre ficar aqui com você. Quero fazer alguma coisa pra essa noite não acabar – ela disse, dando uma olhadela nele. Quando os olhares de ambos foram trocados novamente, nenhum dos dois quis romper o contato.

Louis apenas fez um gesto ligeiro com uma das mãos.

– Essa noite não vai acabar para nós enquanto estivermos aqui.

– Por que sinto hesitação vindo de você? – indagou Kat, em um tom baixo.

Ele olhou para o chão, finalmente rompendo a troca de olhares, a contragosto. A bebida ainda entorpecia os sentidos dele, mas ficava mais fraco a cada momento que passava ao lado da garota. Enfim, talvez não fosse a bebida. Louis encolheu os ombros imperceptivelmente ao constatar o que aquilo tudo causava nele. O que Katarina podia estar causando nele.

– Já viu algum professor enchendo a cara com uma aluna que é... O quê?, sete anos mais nova? Bem. As coisas não devem ser boas caso alguém descubra – Louis disse, em um tom baixo.

Kat aproximou-se mais dele.

– Caso alguém descubra o que exatamente, Louis?

Louis voltou a olhá-la, e talvez aquele tenha sido o seu pior erro. Ou o melhor. Os olhos incrivelmente verdes dela fitavam os dele, como se o instigasse. E sim, ela o instigava. Apesar do efeito estonteante que o pouco álcool que ela havia consumido naquela noite tomasse conta dela, podia distinguir algo sendo escondido ali. Por Louis. Talvez porque ela mesma sabia – em seu âmago – o que estava escondido sobre toda aquela camada de proteção. Era o mesmo que ela escondia dentro de si. Entretanto, seus sentimentos estavam guardados, presos em algum lugar. Ninguém faria com que ela os soltasse mais uma vez.

Antes que Louis pudesse responder, um carro familiar a Kat parou próximo deles, e, quando o vidro se abaixou, ela sentiu um misto de alívio e decepção apoderar-se de si. Amélie tinha os cabelos tão loiros que pareciam quase brancos no meio da escuridão daquela noite.

– Finalmente achei vocês! Sabia que estariam aqui – ela disse, presunçosa – Meu Deus, vocês estão caidinhos de tanto beber. Vamos, subam, quero logo voltar pra casa.


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