Savior. escrita por Izzy


Capítulo 4
Bastard Bluwin.


Notas iniciais do capítulo

Antes de começar, queria agradecer pelos comentários no capítulo anterior. Vocês são uns amores! ♥



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Mesmo sem jeito eu fui topando essa parada, e no final achei tranquilo.

– Tulipa Ruiz.

Louis saiu perturbado da faculdade. Havia tentado de tudo: música, algum vídeo aleatório ou uma olhada para as estrelas, mas seus pensamentos sempre voltavam para ela, e ele encolhia os ombros todas as vezes que isso acontecia. Havia batalhado para conseguir tudo o que tinha. Se continuasse a pensar em Katarina, se ela continuasse sempre em seus devaneios... Ele não mais resistiria e tudo iria por água abaixo.

Atravessou a rua e foi para a calçada da praia, sentindo a brisa que vinha da direção do mar naquela noite. A rua estava calma e ele decidira tirar os fones de ouvido. Havia um som de violão ao longe, que provocava um efeito agradável misturado ao som calmo do mar. Enquanto observava o mar, acabou vendo com sua visão periférica que havia um grupo de jovens na praia.

... Pra eu me soltar porque você me conduzia...

Louis parou onde estava. Aquela voz...

... mesmo sem jeito eu fui topando essa parada, e no final achei tranquilo...

Quando olhou com atenção para o grupo de jovens, foi impossível não reconhecer aqueles longos cabelos negros com fios azuis.

Kat estava sentada na areia tocando violão e cantando enquanto seus amigos a ouviam e distribuíram uma garrafa de uma bebida alcóolica e doce e alguns marshmallows. Ela era a cantora do grupo. Todos pararam e começaram a olhar em um ponto um pouco atrás dela, mas, seja lá quem estivesse vindo, não a importava. O que realmente importava naquele momento era sua música.

Só sei dançar com você, isso é o que o amor faz... Só sei dançar com você, isso é o que o amor faz.

– Não sabia que cantava, Katarina – ouviu a voz familiar atrás dela quando terminou a canção – Nem sabia que tocava.

Kat olhou para trás e o viu. A brisa vinda do mar ventava os cabelos dele, deixando-os mais bagunçados e seus olhos estavam mais brilhantes com o reflexo da água que batiam neles.

– Eu canto e toco, moço. Impressionado? – ela perguntou retoricamente, sorrindo em seguida.

Amélie revirou os olhos.

– Nem pra nos apresentar, Kat? – ela reclamou, e os outros do grupo começaram a murmurar. Kat sorriu ao ouvir um comentário malicioso vindo de Eduardo, mas Louis ficou apenas confuso quando finalmente prestou atenção em seus amigos.

– Amélie, precisa ser mais calma. Minha música não te acalmou? – Kat perguntou calmamente, mas logo os apresentou: – Louis, esses são meus melhores amigos. Amélie, Eduardo, Monalisa, Verônica, Vittor e Tiago – disse, enquanto apontava para cada um deles.

Amélie tinha os olhos azuis e os cabelos eram loiros e cacheados de um jeito quase parecido ao de Kat. Eduardo era moreno dos olhos castanhos e os cabelos eram cheios e os fios, enrolados. Monalisa tinha feições indígenas e um sorriso gentil, mas completamente difícil de compreender, como o sorriso de Katarina. Verônica tinha os cabelos lisos e castanho-escuros, e os olhos tinham um brilho feliz enquanto estava deitada no colo de Monalisa – como Katarina estava deitada no colo de Amélie mais cedo. Vittor tinha os olhos tristonhos, mas o sorriso era bobo antes quando Louis chegara, quando Kat estava tocando. E Tiago tinha feições divertidas e zombeteiras.

– Gente, esse é o Louis, meu... Amigo. E o professor que a diretora colocou para me dar aula no lugar da madrasta do mal – disse Kat, ainda com um sorriso tranquilo. Louis estranhou aquilo, mas decidiu não comentar – Senta aqui, Louis!

Ele se sentou ao lado dela na areia sem hesitar e lançou um sorriso para ela e para os seus amigos. Um deles – Vittor – entregou a ele uma garrafa.

– O que é isso? – ele perguntou, franzindo o cenho.

Todos soltaram uma risada baixa e Kat falou, com um tom divertido em sua voz:

– É Blue October. Alguém tem um copinho de plástico? – ela perguntou, mas ninguém estava prestando mais atenção neles. Ela revirou os olhos e pousou o violão em seu colo – Me dá isto – disse, pegando a garrafa da mão de Louis antes mesmo que ele entregasse a ela.

Kat colocou a garrafa em seus lábios e bebericou alguns goles da bebida, mas deixou um pouco escorrer em seus lábios.

– Está vendo? É azul – ela disse enquanto ele se aproximava para olhá-la. Ambos deram um sorriso, sem entender exatamente o porquê – E october se retrata a doçura da bebida. Outubro é o primeiro mês inteiro de Primavera, então... Doçura.

– Vou experimentar apenas um pouco – ele disse meio receoso, embora a excitação estivesse presente em sua voz.

Quando bebeu um gole pequeno da bebida, sentiu o sabor doce inundar seus lábios e um prazer tomou conta de seu corpo. Arregalou os olhos e Kat riu com a expressão dele, mas logo falou alto para interromper o burburinho que seus amigos faziam:

– O que vai ser agora?!

Monalisa olhou intensamente para Verônica e falou, em um tom baixo:

Ainda é cedo.

Kat apenas sorriu e, sem um aviso prévio, começou a tocar e cantar.

Uma menina me ensinou quase tudo que eu sei

Era quase escravidão, mas ela me tratava como um rei

Ela fazia muitos planos, eu só queria estar ali... Sempre ao lado dela, eu não tinha aonde ir.

Mas egoísta que eu sou esqueci de ajudar a ela como ela me ajudou... E não quis me separar.

Ela também estava perdida e por isso se agarrava a mim também... E eu me agarrava a ela.

Porque eu não tinha mais ninguém.

E eu dizia ainda é cedo, cedo, cedo, cedo, cedo...

*

– Estou confuso – Louis disse enquanto Kat caminhava ao seu lado, com o olhar perdido pela rua escura – Por que fazem isso nas quintas?

Ela revirou os olhos.

– Não vejo como isso pode te deixar confuso, mas a questão é... Fazemos isso porque no fim de semana... Bem, não ficamos todos juntos. As quintas são nosso dia. Podem ser seus também, se quiser – ela comentou distraidamente.

A atenção de Louis foi novamente voltada para Kat e ele ainda estava tonto, presumiu, devido aos pensamentos que tomavam conta dele enquanto a olhava. Parecia haver uma luz em torno dela, embora naquela parte da rua não tivesse farol.

Eles haviam decidido caminhar lado a lado por algum tempo ali perto da praia, embora ambos tivessem coisas para fazer no dia seguinte. Louis tinha que acordar cedo e correr para o trabalho na faculdade. Katarina tinha aula na manhã seguinte, mas era sexta-feira, de qualquer forma.

– Precisamos combinar um dia para tomar Blue October – disse Louis, logo depois se arrependendo. Ainda assim, Kat apenas riu.

– Tomaremos. Você até que é divertido, professor – ela comentou, mexendo na barra do short para evitar que fizessem mais um dos contatos visuais que haviam feito enquanto ela cantava na praia. Aquilo tinha sido estranho para ambos, e parecia mais saudável evitar.

*

No outro dia, Louis sentava-se naquela mesma cafeteria com o Notebook pousado sobre a mesa enquanto bebia seu café, e seu irmão, John, sentado ao seu lado lendo o jornal.

– Já comentei que está com uma cara terrível hoje? – John perguntou retoricamente pela milésima vez.

Louis suspirou, esfregando uma de suas mãos no alto da cabeça.

– Já é a décima vez que me diz isso.

John soltou uma risadinha divertida. Adorava irritar Louis, principalmente quando este já acordava irritado. Ainda assim, estava confuso com a aparência do irmão. Ele tinha bolsas escuras embaixo dos olhos e os cabelos estavam mais bagunçados do que o normal, embora seus olhos tivessem um brilho que John não via há tempos.

– O que rolou?

– Bebi um pouco ontem à noite e fui dormir tarde, John, apenas isso – Louis comentou, ficando quieto novamente enquanto bebia mais do café em sua xícara e digitava freneticamente em seu Notebook.

John decidiu ficar em silêncio e voltou a se concentrar na história que lia no jornal. Era o segundo capítulo publicado dessa história, e ele acompanhara ontem, quando o primeiro já havia sido lançado. Não demorou para que as pessoas já começassem a comentar sobre a história na padaria que ele trabalhava, e, definitivamente, era incrível. A história e essa tal mulher que se intitulava Bastarda Bluwin.

– Louis.

– O quê?

– Já leu Quando as barreiras se rompem?

Louis pela primeira vez realmente olhou para o seu irmão, confuso.

– Nunca li e nem ouvi falar sobre esse livro.

O irmão dele revirou os olhos.

– Não é um livro, idiota. Pelo menos ainda não é. É uma garota que escreve essa história no jornal. Ontem saiu o segundo capítulo, e todo mundo já está comentando sobre – ele disse animadamente.

Louis riu da forma que ele falou e pegou o jornal da mão de John.

– Dá cá isto, me deixe ver.

Quando as barreiras se rompem.

Marianne era abandonada, Marianne era sofrida. Luís concluíra isso de imediato enquanto tinham aquela conversa sobre cigarros e bebidas, perto de um bar que se instalava próximo a um beco de Ocean.

– Dizem que um cigarro diminui a vida – ela comentou com o rapaz, com um sorriso nostálgico esboçando de seus lábios.

– Por isso fuma? – ele perguntou, tentando vê-la sem que a olhasse, de fato.

– Sim – dissera Marianne, enquanto levava mais uma vez à boca um cigarro, com certa elegância.

Luís finalmente decidiu olhá-la realmente. Tinha feições pálidas e suaves, embora uma tensão parecesse estar sempre junto a ela. As unhas curtas eram pintadas de vermelho, e a boca escura devido ao batom que a vira passar antes que ambos começassem a conversar estava quase desbotando, deixando a cor no cigarro que estava envolvido por seus lábios quentes. O cabelo era ruivo e encaracolado, os olhos azuis eram intensos e pesados demais, e ele sentiu-se novamente intimidado quando tais olhos infiltraram-se nos dele, pela primeira vez ficando escuros naquela noite.

– Quero apenas desfrutar dos prazeres e morrer cedo – ela disse, desviando novamente o olhar para as nuvens avermelhadas de chuva que aproximavam-se – Beber, fumar, fazer sexo, ler livros, escrever poemas, ouvir algumas fitas do The Smiths. E depois posso morrer. Ainda assim, o que mais faço é beber e fumar.

– Por um lado é bom – ele murmurou, sentindo a própria nostalgia misturada com a da ruiva – Você pode viver um pouco mais.

– Mas e se eu não quisesse viver?

Calou-se diante daquela revelação escondida na pergunta. Marianne voltara a olhá-lo e mais uma vez naquela noite ele fora intimidado com aquilo. Não podia evitar. Mesmo conhecendo-a apenas naquele dia, era como se a conhecesse há anos. Mas tinha uma resposta para isso, talvez. Ela era o espelho dele.

*

– Uau – Louis disse, arregalando os olhos diante aquela escrita – Quando isso foi publicado?

– Há dois dias – John disse com certo orgulho ao ver que Louis havia gostado – Alguém que eu conheço deve ter o jornal do primeiro dia que a história foi escrita.

– Vou ver se consigo compra-los – Louis murmurou. – Quem escreve?

John fez uma careta.

– Ainda não se sabe como é, ela tem um codinome. Está ali embaixo, olha.

Quando Louis olhou, não teve reação alguma senão franzir o cenho, sem poder acreditar.

Bastarda Bluwin.


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