Eu apenas ri das ideias de minha amiga. Eu deixei ela na fileira dos doces enquanto ia na ao lado pegar o leite. Anita fica muito distraída quando vê chocolate, então tenho certeza que não vou ter mais problemas na questão de encontra-la.

Bom... Por enquanto, eu acho.

Me estiquei ao máximo para alcançar o leite sem lactose da ultima prateleira e, quando meus dedos tocaram na caixa...

– Ah! Que bom vê-la, querida!

Eu dei um pulo e o leite quase cai na minha cabeça, mas a velhinha de cabelos totalmente brancos, olhos claros e sorriso constante o alcançou com um movimento surpreendentemente rápido para sua idade. Virei em sua direção assustada.

– Oh, você se assustou... - Ela soltou uma risadinha, enquanto jogava o leite nos meus braços.

– O-o-olá Sra. Smifilght. C-como a senhora está? - Questionei, pegando o leite integral da prateleira mais próxima mesmo, tentando evitar algum acidente.

– Estou ótima, amada Isabella! Ótima! E sua amiga ruivinha, está bem? Ela teve algum... pressentimento, esses dias? Hihihihi... - Smifilght riu de um jeito estranho, meio sapeca, por assim dizer. Eu levantei as minhas sobrancelhas quando entendi o que tinha dito.

– Como a senhora sabe que ela tem pres...

–Ah! Querida, observe as horas! As horas! - A velha gritou, enquanto colocava o pulso bem na minha cara

– A senhora não está usando relógio...

– Mas eu não preciso de relógios! Por que eu precisaria de um relógio? Mas, oh! Estou tão atrasada! Nós nos vemos outro dia, querida Isabella! Outro dia! - Ela saiu rápido, deixando seu carrinho lotado de coisas, que pareciam temperos, para trás.

Revirei meus olhos para o nada e alcancei outra caixa de leite integral. Sra. Smifilght é uma velhinha de 90 anos que sempre viveu em Forks, desde muito pequena. Mas, ao contrário do normal, ninguém sabe nada sobre ela. Todos dizem que ela é louca... Mas eu não acredito nisso. A velhinha é só... Excêntrica.

Caminhei de volta para a fileira dos doces com as três caixas nos braços. Quando eu dei o primeiro passo pra dentro do corredor, meus olhos se encontraram com um par de dourados.

Fico paralisada. Não consigo mexer minhas pernas, e todos os pensamentos que rondavam minha cabeça nos últimos segundos sumiram. Como num passe de mágica, sinto como se o todo mundo tenha desaparecido. Como se só eu e ele existíssemos, e nada mais importa.

O momento parece ficar congelado por cem anos e o mundo fica em câmera lenta. Eu fico ali, apoiada na prateleira, tentando em vão arranjar algum misero equilíbrio. O lindo garoto me lança um sorriso torto, e o rubor forte no meu rosto me desperta.

– Hey! Bella! Bellaaaa! Ooooi?!!!

Pisquei furiosamente e encaro o ser branquelo que se balança na minha frente. Anita muda sua expressão e me encara com uma sobrancelha arqueada e um sorrisinho malicioso.

– Quem diria... Ele é bem bonito... Parece que você finaaalmente encontrou seu crush, heim?! Vêm, fecha a boca e enxuga a baba para que possamos dar um olá para eles. - Ela já começa a me puxar em direção à outra ponta do corredor. Mas pera aí...

– O QUE?! - Eu grito-sussurro, e dou um jeito de equilibrar os leites em um só braço, puxando Anita de volta; ela tem que se apoiar em uma prateleira cheia de massas de bolo para não cair. - Você está louca?! Eu não vou lá não! De jeito nenhum!

Anita fecha a cara para mim enquanto me segura pelos ombros; seu olhar fica intenso e decidido.

– Pare com essa besteira e seja homem, mulher! - Essa é nova... - Encare o crush de cabeça erguida e honre os Swans!

– Mas...

– Shiiiipu! Pare de ser tão tímida ou você vai perder muitas coisas boas da vida. Vamos dar boas vindas para eles.

Eu suspirei, vencida. Assumo que to sendo muito infantil com essa vergonha boba. Mas ela disse eles?...

Levantei a cabeça na direção do garoto e descobri que ele estava acompanhado de uma garota de nossa idade e uma mulher na faixa dos 30.
A garota, com seus cabelos pretos curtos com mechas espetando em varias direções, é baixinha e magra; parece uma fada dos contos da Disney. Já a mulher possui o rosto mais gentil que já vi. Seu cabelo cor de mel emoldura seu rosto até os ombros, e o sorriso feliz que direciona para o menino é cheio de amor maternal.

E o que dizer sobre ele?! É o garoto mais bonito que conheci na minha vida inteira. Cabelos de uma cor engraçada, um pouco mais claro do que um bronze enferrujado; e eles são tão revoltos que parece que ele acabou de sair da cama depois de uma noite bem... agitada. E o sorriso, ah, o sorris...

– Um segundo. Você está bem? Escutei uns gritos.

– Oh, eu estou bem. Só encontrei com a Sra.Smifilght.

– Há! Ela deu a desculpa do relógio para ir embora, né?

– Sim. - comecei a rir, e ela me acompanhou - E ela ne-em estava usando um! - Meio engasguei com o riso e meio falei.

– Okay, Okay. Vamos até lá antes que vão embora. - Anita continuou me puxando pelo braço, secando umas lágrimas inexistentes de seu rosto. Mas ela empacou de repente no meio do caminho.

– Ah, não! Que merda! Tudo culpa sua Bella!

– Mas do que diabos voc... Oh.

Os três não estavam mais no corredor, e Anita me olhava de um jeito engraçado. Certeza que ela está tentando fazer um olhar repreensor, mas não tá funcionando.

– Calma! Com certeza eles vão estar na escola amanhã.

– Vamos logo, Isabella. Eles devem estar no caixa. - Ela saiu andando na minha frente enquanto eu agarrava o carrinho e jogava os caixas de leite em cima das outras compras. Fiz uma careta para a dorzinha nos meus braços, mas me apresso quando escuto um grito.

Dobrei o corredor que dava direto nos caixas, vendo uma Anita estabacada no chão. Ela levantou de repente, e encarou furiosa a mulher de olhos arregalados na sua frente.

– Você não olha para onde vai, não? Você viu, Bella? Essa mulher quase me matou! Eu podia ter quebrado o pescoço! Devia te processar, mas estou muito ocupada agora. Sorte sua, sua... assassina! VELHA - PLASTIFICADA - ASSASSINA!! - Berrou pra mulher que fazia cara de assustada.

– Mas foi você qu...

–Nem vou perder meu tempo com loucas. Passar bem, ou melhor, passar mal!! Vamos, Bella.

Tive que morder meu lábio muito forte para não ter um ataque de tanto rir. Passa mal? Passei pela moça que continuava paralisada e dei uma corridinha para ficar apenas um pouco atrás da Anita. Mas ela parou de repente, e quase que eu acerto as canelas dela com o carrinho.
– Porra! Eles foram embora. Maldita empata-crushs!

– Olha a boca, Anita! Fica calma, credo. Esse desespero todo não é necessário - ela abriu a boca e eu pude até ouvir um "claro que é importante" saindo de seus lábios, mas continuei antes que ela realmente dissesse e começasse a tagarelar sobre a importância de eu ter encontrado meu senpai.

– Já disse que os mais novos devem ir para a escola amanhã. Vamos logo para o caixa que já é tarde, ok?!

Anita suspirou e fez um drama básico enquanto se arrastava para uns dos poucos caixas que tinha, mas nós finalmente conseguimos sair do supermercado.

Até que hoje não teve muito estrago, né?