Anita me deu um sorriso gostoso e fofinho enquanto apertava suas unhas grandes nos botões do vidro elétrico. O vento entrou no carro de um modo agradável. Mesmo com os trovões de mais cedo, milagrosamente a tempestade diária ainda não caíra. Eu sorri de volta, e nós cantamos a música da One Replubic no volume máximo.

– Aqui, pare no canto da pista! A gente dá um caminhadinha na floresta e voltamos para o carro. - me diz, enquanto se joga do carro antes que eu termine de estacionar.

É incrivel como Anita assume um outro comportamento quando começa a correr; isso é uma de suas paixões. No começo, ela tinha que me arrastar para lhe acompanhar. Agora, confesso que já me acostumei e até que gosto... Além de realmente passar uma paz para a mente, a saúde física e mental melhora muito.

Nós nos alongamos em silêncio por uns 10 minutos e corremos mata a dentro. Essa parte da floresta é aberta o suficiente para que passemos sem que a vegetação nos arranhe.

Há verde em todo lugar; o musgo toma todo o troco das árvores e cai acima, junto com as folhas, em filetes gosmentos. Eu olhei para o lado e Anita parece estar em outro mundo, os olhos distantes e o ritmo definido - com passos certeiros e leves na terra.

Decidi me concentrar nos meus pés, seguindo o ritmo de minha companheira. Caminhamos por 30 minutos em total silêncio, mas quando voltamos para a estrada e eu liguei o carro...

– Ah! É tãoo bom caminhar com o solo um pouco menos molhado! Provavelmente irá demorar para isso acontecer de novo... Falando nisso, é muito estranho ainda não ter caído o temporal rotineiro; com certeza a noite vai ser bem chuvasquenta! Pera, essa palavra não existe... Estranho né, uma palavra não existir! E você sabia que é estimado que a língua inglesa tenha entre 500 mil e 1,2 milhão de palavras? E isso é só na língua inglesa!! Imagina todos os idiomas falados no mund...

– Calma, Anita! Você vai acabar ficando sem saliva. - Eu disse, contendo o máximo possível o riso. E antes que ela dissesse um "Tecnicamente isso não é possível", perguntei a primeira coisa que me veio à cabeça.

– E então... É... Onde está mesmo a lista de compras que a sua mão fez? Nós estamos quase chegando no mercado.

Anita olhou em volta, para a cidade pequena e calma. Mais pessoas do que o normal transitavam pelas calçadas, fruto do clima fresco de hoje. Ela suspirou, e eu posso até escutar o que minha amiga pensa, como se expressasse em voz alta: "Tédioooo".

– Está aqui. - Disse, me alcançando o papel dobrado do porta copos - Forks precisa de uma animação, credo! Tipo, sempre precisou de animação, mas nessas ultimas semanas a situação tá complicada!

– E o que você pretende fazer, pequena? Uma festa? - Questionei enquanto descíamos do carro, levantando as sobrancelhas em sua direção. Só para esclarecer, eu a chamo de pequena por causa de sua idade e da aparência meio de "princesa", não por causa de sua altura: ela é maior que a minha pessoa, no fim das contas!

– Ainda não sei... Mas vou pensar logo em algo!

Nós entramos no supermercado - que é até grandinho para a cidade - e eu peguei um carrinho. Anita já saiu saltitando pela entrada em direção aos corredores, então eu fui o mais rápido que pude atrás dela, antes que se perdesse. Pois é, a criatura consegue ficar perdida no mercado de Forks. Forks! Eu já cansei de tentar entender sua mente, e sugiro que você releve que é melhor.

– Espere! - A alcancei e segurei seu braço antes que entrasse na primeira fileira - Espere.

– Relaxa, Bellita!! Por que você não vai pegando algumas coisas da lista enquanto eu pego outras, ãhn? Nós dividimos o papel!

Antes que eu pudesse detê-la, Anita já tinha pegado a lista de minhas mãos. Ela colocou uma mão em cada extremidade do papelzinho e puxou. Com força. Muita força.

Eu encaro o papel, perdão, os papeis de olhos arregalados enquanto ela solta um barulhinho surpreso, típico de quando ela faz coisas "sem querer querendo".

– Opa.

Levanto meus olhos para a demoniazinha na minha frente de modo repreensor (não pelo o que ela fez, mas sim por qual motivo o fez), porém gargalhando por dentro. É impressionante como Anita nunca para de me surpreender! Eu conseguia prever o que ela faria e suas reações diversas vezes, mas ela nunca deixava de inovar.

– Parece que agora nós vamos ter que pegar coisas no improviso mesmo. Que pena que a lista se foi, né? Era uma boa lista. Vamos sentir falta dela. - Ela diz em um tom exageradamente dramático e melancólico, enquanto eu reviro meus olhos e bufo ao mesmo tempo.

– Pare com isso, Anita! Olhe o papel! - Eu me estiquei e alcancei o papelzinho de suas mãos, levantando para que ela observasse. Anita tinha rasgado a lista bem no meio de dois tópicos, de um modo que os itens ficaram divididos igualmente entre as duas partes. Seu plano de rasgar a lista para que nós andássemos por todo o supermercado pegando apenas as coisas que lhe interessavam não deu certo, no final.

Eu gargalhei quando percebi ela murchando, um pouco menos animada.

– Vamos começar. E você, senhorita, vai permanecer ao meu lado por todo o tempo, viu? Fique comigo! - Puxei ela para o corredor dos produtos de limpeza e começamos a pegar os produtos.

Só depois de alguns minutos, quando eu já tinha passado por três corredores, percebo que estou sozinha. Paciência, Bella, paciência. Saio procurando ela pelo lugar tentando me manter calma e, na verdade, eu tenho um bom palpite de onde a Anita pode estar.

Quando chego na parte de cosméticos que a encontro. E adivinhe? O que você acha que ela está fazendo? Tenho certeza que você errou, por que ela está simplesmente com um creme em uma das mãos e com o dedo da outra dentro da boca. De novo.

– Anita!! - Ela levanta a cabeça em minha direção e arregala os olhos. Largo o carrinho e ando até ela, tomando o creme para corpo de morango de sua mão. - Você está comendo hidratante de novo?! Isso faz mal, Anita, e sua mãe te proibiu. Se ela souber...

– Ah, desculpa! Mas eu não consegui aguentar. Eu só queria ver se o gosto é tão bom quanto o cheiro... - Ela me olha com aqueles olhinhos de gato de botas e pisca, os cílios grandes batendo contra suas bochechas. As duas esmeraudas parecem brilhar enquanto ela inclina levemente a cabeça para o lad...

– Arg! Tá! Só dessa vez, SÓ dessa, eu não conto para a Tia Erika. Você venceu.

– Obrigada, obrigada, obrigada! Você é a melhor, Bella! - Anita pula no meu pescoço quase me fazendo perder o equilíbrio enquanto eu coloco o creme de volta à prateleira.

Nós continuamos as compras, eu pegando os produtos enquanto Anita empurra o carrinho.

– Mas, me conte... Qual era o gosto? - Questionei, me virando em sua direção enquanto soltava um risinho. Ela faz uma careta.

– De sabão. Não faz muito sentido, já que a embalagem fala que o creme é com aroma de morango, então devia ter o gosto também, né? Bom, mamãe trabalha com isso, depois pergunto pra ela.

Eu apenas ri das ideias de minha amiga. Eu deixei ela na fileira dos doces enquanto ia na ao lado pegar o leite. Anita fica muito distraída quando vê chocolate, então tenho certeza que não vou ter mais problemas na questão de encontra-la.

Bom... Por enquanto, eu acho.