Naruto caminhava com Boruto no colo e Hinata, como ele previa, vinha logo atrás. Não queria ter sido tão duro, mas foi a única forma de fazer com que ela viesse, depois de vê-la negar tão veementemente a proposta de ficar na mesma casa que ele. Mesmo que pedisse perdão e ela o desculpasse, isso não significava que Hinata aceitaria tanta proximidade. Entretanto o loiro precisava tê-los por perto, não só para garantir que ficariam em segurança, mais do que tudo, precisava de tempo para reconquistar sua família. Daria um jeito de se redimir pelas palavras ásperas depois, o que importava é que seu plano dera certo e nesse momento os três estavam juntos.

Ele não fez nenhuma tentativa de quebrar o silêncio, perdido nas lembranças de tudo que aconteceu desde o reaparecimento da garota. Ele tinha deixado a raiva o invadir e disse coisas terríveis, acusou-a de ter lhe tirado seu filho, de ser egoísta e insensível. O quanto se arrependia agora do seu julgamento precipitado. A culpa o corroía desde que viu as memórias de Hinata naquela sala, no fim das contas, era tudo culpa dele, por ser tão cego. Nunca se perdoaria se algo tivesse acontecido, tanto Hinata quanto seu filho correram um risco enorme por conta de sua estupidez.

Amaldiçoava-se por ter sido incapaz de reconhecer seus sentimentos pela morena de olhos perolados. Estava obcecado por sua amiga de infância, na época, e realmente acreditou que a amava. Mesmo quando Hinata foi embora, ele custou a identificar a causa daquele imenso vazio no peito e de ter seus pensamentos ocupados pela morena, ao invés da rosada com quem namorava. Ele sequer foi procurá-la logo após sua partida, deixando-a sozinha e desamparada enquanto esperava um filho seu, logo ele que sempre sonhou em ser pai, em ter uma família.

Agora sentia-se perdido, sem saber como agir, principalmente depois de tudo que disse para ela. Tentava pensar em uma forma de se reaproximar, de fazer com que ela perdoasse tantos erros... Mas de uma coisa tinha certeza: faria o que fosse preciso para reconquistar Hinata.

Antes que percebesse, estava em frente a sua casa. Acomodou o garoto, que havia adormecido durante o trajeto, em um dos três quartos da casa e levou Hinata para o outro.

– Você pode ficar aqui. - disse, apontando para a porta aberta que dava para o pequeno aposento.

– Certo... - hesitou, olhando para os próprios pés. - Naruto, você não precisa fazer isso…

– Isso o quê? - O loiro franziu a testa, olhando-a sem compreender.

– Eu posso arranjar um lugar para ficar, prometo que não vou mais afastá-lo do Boruto, só não acho que seja uma boa ideia ficarmos na mesma casa…

– Do que você tem medo, Hina? - disse, aproximando-se da garota, que encolheu-se levemente na parede ao lado da porta do quarto.

Ela parecia assustada e confusa. Ele parou a poucos centímetros dela, colocando uma mecha dos cabelos longos e macios atrás da orelha da menina. Mesmo sem se tocarem, ambos podiam sentir o calor que emanava de seus corpos.

– Preciso descansar!

Hinata reuniu todo seu autocontrole para proferir essas duas palavras e, antes que fraquejasse, afastou o loiro, atirando-se para dentro do quarto. Recostou-se na porta fechada, tentando controlar as batidas irregulares do seu coração, censurando-se por ser tão fraca. Em um instante ele a odiava, então o que aconteceu agora? O que foi aquilo? É verdade que depois das memórias ele tinha ficado pensativo… será que ele entendeu seus motivos? Quais memórias ele viu? Mas, mesmo que ele entendesse seus motivos, Sakura e ele estavam juntos, como ele era capaz de fazer isso?

O pior é que, mesmo magoada pelas palavras ditas mais cedo, seu corpo reagiu automaticamente e por pouco não colou seus lábios aos dele. Teria que tomar mais cuidado se não quisesse sofrer novamente, não poderia se render a ele. Embora estivesse extremamente agitada, o cansaço a venceu, fazendo-a dormir profundamente. Acordou no início da noite, com o som de risos vindo da sala. Encontrou pai e filho, brincando em meio a uma bagunça gigantesca.

– Mamãe! Gritou o menino atirando-se em seus braços.

– Desculpe, te acordamos? - Perguntou Naruto.

– Ah, não, tudo bem. - sentou-se no chão, junto ao rapaz, levando o garotinho no colo. - você sabe quem é ele, Boruto?

– … - o garotinho olhou para Naruto e depois para a mãe, em expectativa.

– É o seu papai!

– Papai?!? - perguntou enquanto um sorriso imenso tomava seu pequeno rosto.

– Sim, querido. - respondeu retribuindo o sorriso.

– Papaaai!!! - gritou, jogando-se em Naruto, que tinha os olhos marejados. Ele acolheu o garoto, abraçando-o com força.

Desde esse dia, pai e filho desenvolveram um forte vínculo. Todos se encantavam com Boruto e até mesmo Hiashi rendeu-se ao neto. Assim que soube da chegada deles, Hiashi quis conhecê-lo e deixou Hinata surpresa pela forma calorosa com que foram recebidos no seu clã. O Hokage já o informara sobre as circunstâncias da fuga de Hinata e tudo que acontecera. O pai não podia culpá-la por ter partido sem pedir sua ajuda, ele tinha consciência do quanto foi rígido e duro com ela, arrependia-se de não ter apoiado mais a menina. Se ela confiasse nele, na época, talvez tivesse contado tudo e as coisas poderiam ser diferentes. Tinha uma segunda chance com sua filha agora e não a desperdiçaria. E assim que viu seu neto, com um sorriso largo e espontâneo, tão similar ao do pai, ficou desarmado.

Duas semanas decorreram desde que Hinata havia acordado no hospital e desde esse dia Naruto estava cada vez mais frustrado. Queria aproximar-se dela, mas ela o evitava e fugia, fazendo de tudo para que não ficassem sozinhos em um mesmo cômodo: ou estavam com o filho ou ela arranjava uma desculpa para se retirar para seu quarto. Eles dividiam a mesma casa e se viam todos os dias, mas ficavam restritos a conversas triviais, e Naruto sequer conseguiu uma oportunidade de desculpar-se por tudo que havia feito, muito menos de dizer o que sentia por ela.

Nesse pouco tempo, a morena mal saiu de casa, já que precisava se recuperar dos ferimentos e descansar da viagem desgastante, ademais não sabia como as pessoas reagiriam a ela, afinal ela tinha desaparecido e voltado com um filho. O que Hinata achou estranho foi não ter visto Sakura por lá, como tanto temia, mas não teve coragem de perguntar o porquê.

Naruto, por sua vez, tentou transmitir em gestos o que não conseguia oportunidade para traduzir em palavras, sendo atencioso e fazendo pequenos mimos sempre que podia. Passou o maior tempo possível em casa e até arriscou-se na cozinha na tentativa de agradá-la. Não que fosse algo planejado só para tê-la de volta, na verdade era algo natural para ele cuidar de quem tanto amava. Sentia um prazer imenso em deixá-la feliz, vibrando com cada sorriso tímido da morena ou a cada vez que a via corar levemente. Aos poucos ela parecia ficar mais confortável em sua presença e a convivência entre eles era agradável, como se realmente fossem uma família comum.

Era fim de tarde de mais um dia monótono. Hinata saiu do banheiro secando com a toalha os longos cabelos e deu de cara com Naruto. Ele observou como a morena estava linda, a pele com o frescor do banho, as bochechas coradas, os cabelos desarrumados… o loiro respirou fundo, para se recompor.

– Hinata, o pessoal vai se encontrar pra comer alguma coisa. Então… você quer ir comigo?

– Eu n-não sei se deveria…

– Não se preocupe. - respondeu, entendendo a hesitação dela. - não deixarei que te incomodem com perguntas sobre o passado. Você tem saudades de todos, não é? E o Kiba e o Shino estarão lá também.

– E o boruto?

– Podemos deixá-lo com Hiashi. Ele pode dormir lá, sei que vão adorar ficar mais um tempo com ele. Vamos, por favor!

– Ah… tudo bem, então. - Rendeu-se a proposta de Naruto, não tinha como negar que sentia uma falta imensa de todos e ansiava por vê-los.

Quando chegaram ao local, todos já estavam presentes. Para alívio da morena, não fizeram perguntas, até porque Ino havia contado todo os detalhes para Sai e ele tratou de espalhar a história, então todos sabiam o que tinha acontecido. Hinata ficou surpresa quando Naruto acomodou-se ao seu lado, já que Sakura estava em frente a eles, com um lugar vago ao lado dela.

A noite transcorria tranquila e agradável, todos pareciam estar exatamente como ela lembrava. Até que Hinata observou com espanto Sasuke entrando no estabelecimento e o seu queixo caiu quando ele sentou ao lado de Sakura, capturando os lábios dela em um beijo longo e apaixonado.

– O que foi, Hinata? - perguntou Naruto baixinho ao vê-la boquiaberta.

– E-ela… quer dizer… vocês n-não estão juntos? E o que ele está fazendo aqui? Ele não tinha ido embora da vila?

– Você não sabia? Ah, é claro que não. Como sou idiota, esqueci de te contar. Eu e Sakura não estamos juntos a muito tempo, somos apenas grandes amigos. Pra falar a verdade, já faz um ano que ela se casou com o Sasuke, assim que ele voltou para a vila.

– Ah…. sinto muito…

– Não tem problema. - disse, sorrindo. - Nós já éramos apenas amigos quando ele voltou.

Naruto se perguntava como podia ter esquecido desse detalhe. É claro que ela pensava que ainda estavam juntos, ela não tinha como imaginar que ele havia se arrependido e descoberto que a amava. Bom, essa conversa tinha esclarecido muita coisa... Todas as vezes que ela fugiu dele, que o evitou, talvez não fosse apenas por mágoa. Agora que Hinata sabia que ele não amava Sakura, talvez permitisse que ele se aproximasse.

Hinata sentiu sua cabeça girar levemente, confusa com a informação. Não conseguiu evitar a expressão de espanto nem reprimir as batidas aceleradas do seu coração. Quer dizer que Sakura estava casada com Sasuke? E o mais estranho: eles já não estavam mais juntos quando Sasuke voltou… mas por quê? Será que ela o dispensou porque se cansou dele? Repreendeu-se por ser tão tola, ele amava Sakura e isso não mudaria.

Voltaram para casa, cansados e alegres. Naruto estava ansioso, tinha certeza de que naquele primeiro dia, quando tentou beijá-la, ela quase tinha cedido. Ela ainda o amava, tinha visto isso em cada memória dela. Agora que ela sabia que estava sozinho, talvez tivesse uma chance, precisava tomar novamente a iniciativa se a queria de volta.

– Boa noite! Já vou me deitar. - foi trazido de volta a realidade com o cumprimento dela. Estavam na sala de casa. Segurou o pulso dela, fazendo-a se virar.

– Hina, você ainda me ama, não é?

– Q-quê? - ele levou as mãos até a nuca da morena e aproximou-se vagarosamente. - N-naruto…

Ela sabia que devia sair dali mas seu corpo estava paralisado. Sentiu os lábios de Naruto e fechou os olhos, entregando-se ao beijo. A boca do garoto era quente e macia e ela não resistiu a entreabrir os lábios, deixando-o aprofundar o contato. O beijo foi lento e delicado, em meio à carícias ternas. Sentiu o loiro apertá-la ainda mais em seus braços, como se quisesse se fundir a ela, fazendo-a arquejar. Entretanto, neste momento, a conhecida voz da razão logo a fez sair do transe em que se encontrava. Afastou-o e sentiu ele tentar se reaproximar, roçando os lábios nos seus.

– Hina, não vá. Se é por tudo que eu fiz, me perdoe! Eu fui cego e um idiota… Sei que eu também disse coisas horríveis quando você voltou, mas eu não podia imaginar o que tinha acontecido. Por favor, fique comigo… - pediu.

– E-eu não posso! - empurrou o garoto e correu, refugiando-se em seu quarto. Todo seu corpo tremia incontrolavelmente. O que estava acontecendo? Ele amava Sakura, então por que estava fazendo isso? Só tinha uma explicação: já que não tinha mais chances com Sakura, resolveu ficar com Hinata e criar o filho deles. Ele só queria dar uma família a Boruto. Se era assim, ela teria que ser forte, pois não suportaria mais ser magoada. Não se envolveria em um relacionamento sem ser amada e nem estava disposta a servir como uma segunda opção.

Naruto, por sua vez, estava arrasado. Teve esperanças de que a única coisa que os afastava agora era o relacionamento que não existia mais entre ele e Sakura, e que o amor que sentiam seria o suficiente para que a morena o perdoasse, mas pelo visto estava enganado. Passou a noite tentando entender as reações da garota. Precisava reconquistar ela de alguma forma e ele removeria cada obstáculo do caminho até ter seu amor de volta.