Hinata abriu os olhos, tomando aos poucos consciência do corpo completamente dolorido. O teto branco, o silêncio e o cheiro característico logo denunciaram o local onde se encontrava: um hospital. Em um flash todas as lembranças a invadiram e ela sentou-se de vez na cama, parando ao sentir dois braços fortes retendo-a.

– Meu filho! - gritou enquanto se debatia, tentando sair de onde estava sem sucesso.

– Hinata, calma! Está tudo bem agora.

Ela ficou imediatamente imóvel ao ouvir aquela voz, sabia que era ele, reconheceria aquele som em qualquer lugar. Naruto mantinha as mãos firmemente postadas sobre os ombros dela, sem querer soltá-la, contendo-se para não subir as mãos em uma carícia em direção ao pescoço alvo. Era indescritível poder sentir novamente a maciez daquela pele, fazia tanto tempo que desejava tocá-la novamente.

Mas uma parte da sua mente tratou de lembrá-lo que ela o havia abandonado e tinha também o garoto… Um filho! Abriu relutantemente os dedos, descendo as mãos vagarosamente pelos braços dela, tentando prolongar o contato. Hinata tomou fôlego e virou-se, encontrando Sakura e Naruto atrás dela.

– O meu filho...

– Ele está bem, pedi para a Ino dar um passeio com ele. Você está dormindo a dois dias. - Interrompeu Sakura.

– O quê?!?

Ela ativou imediatamente o Byakugan, levantando em um pulo e pôs-se a correr. Dois dias! Com certeza a notícia de que estava na vila já teria se espalhado e outros inimigos chegariam a qualquer momento, não poderia deixar seu menino desprotegido. Ficaria ao lado dele e se certificaria de que ninguém o machucasse.

Naruto e Sakura levaram alguns segundos para processar o que estava acontecendo e ter alguma reação, mas logo puseram-se em seu encalço. Ele não sabia mais o que pensar. Quando a levaram ao hospital o estado dela era tão grave que o deixou desesperado, ele apenas desejou com todas as suas forças que tudo ficasse bem. Entretanto, quando a situação tornou-se estável, vários sentimentos assomaram em sua mente: o amor que sempre manteve por ela, o medo de perdê-la, a felicidade por tê-la de volta e, depois, a raiva por ter ficado tanto tempo sem notícias.

Como se isso não fosse o bastante, o filho recém descoberto dela o deixava surpreso e assustado. Será que aquele garotinho era seu filho? Tinha que ser! O menino era doce como a mãe, mas o gênio expansivo e a aparência o tornavam definitivamente uma miniatura de Naruto.

Aos poucos ele foi tirando suas próprias conclusões: ela o abandonou, ela nunca o amou realmente e o pior, escondeu o seu filho! Nunca poderia perdoar o fato de ter sido privado de conviver com o garoto. E assim a raiva foi se apoderando da sua mente, fazendo com que os outros sentimentos fossem suplantados. Mesmo assim, ele se negou a sair do seu lado até que ela acordasse para dar as devidas explicações, precisava saber o que tinha acontecido, porque tinha certeza de que o garotinho que a acompanhava era seu filho.

E depois de tanta espera, de tantas dúvidas, ela simplesmente levanta-se e foge! Ela estava deixando ele louco! Seja lá o que ela pretendesse fazer, não deixaria que escapasse novamente. Apesar de correr com todas as suas forças, não conseguia vencer a distância, era inacreditável como ela conseguia ser tão rápida quando ainda se encontrava debilitada daquela forma.

Ele viu quando Hinata, tão logo alcançou o filho, tomou-o de Ino que apenas olhava boquiaberta, enquanto Naruto e Sakura continuavam a perseguição. A loira não entendeu o que estava acontecendo, mas achou melhor seguí-los.

Hinata invadiu a sala do Hokage, arfando, sob o olhar surpreso de Kakashi. Colocou cuidadosamente o filho no chão e pressionou com a mão uma das feridas que voltara a sangrar, curvando-se levemente com uma careta de dor. Antes que pudesse retomar o fôlego para falar, Naruto a interrompeu, entrando na sala junto a Sakura e Ino, com uma expressão irada no rosto, toda a raiva reprimida retornando com o medo de perdê-la novamente.

– O que você pensa que está fazendo? Acha que vai fugir de novo sem me dar explicações? Quem é esse garoto? Ele é meu filho, não é? - apontou para o pequeno sentado no chão, que examinava com interesse um objeto retirado da mesa de Kakashi, sem perceber que tinha se tornado o alvo das atenções.

– … - Hinata limitou-se a sacudir a cabeça afirmativamente, sem olhá-lo.

– Você ficou louca? - Explodiu Naruto. - Primeiro você desaparece, esconde o meu filho de mim, o MEU FILHO! O que pensa que está fazendo na sala do Kakashi Sensei? Se pensa que eu vou deixar você afastá-lo de mim de novo, pode esquecer, porque nem o Hokage pode te ajudar agora. Nunca imaginei que pudesse ser tão egoísta e cruel, você tinha que ter me contado, não tinha o direito de ter ido embora sem dizer nada! Você …

– Naruto, pare! Já chega. - Kakashi o interrompeu ao ver a expressão da garota de cabeça baixa a sua frente. - Venha, Hinata, sente-se aqui. E Sakura, ajude-a. - Ele guiou a morena delicadamente até uma cadeira e esperou a jovem médica estancar o sangramento.

– É o melhor que posso fazer por agora, Kakashi Sensei. - sinalizou Sakura, afastando-se da garota.

– Tudo bem, Sakura, você fez um ótimo trabalho. Agora, Hinata, por que você veio até aqui? - Kakashi perguntou, analisando a jovem.

– Eu… eu sei que não tenho o direito de pedir, mas preciso de ajuda. Boruto está em perigo. Por favor, não deixe que eles machuquem meu filho! - pediu, com os olhos marejados. Tudo que estava passando no momento já a deixava frágil, mas ouvir as palavras ditas por Naruto fizeram com que ela se sentisse ainda pior, extremamente ferida e infeliz.

– Eles? Eles quem? - Questionou o Hokage, interessado.

– Eu não sei, eles descobriram que Boruto herdou parte do chacra da Kyuubi e passaram a nos perseguir. Eles já devem estar por perto, meu filho não pode ficar desprotegido. Toda a vila foi destruída, e Akane, ela… ela… - Hinata enterrou a cabeça nas mãos, chorando.

– Acalme-se, Hinata. - suspirou ele. As informações estavam todas soltas. Que vila foi destruída? Quem era Akane? E quais pessoas estavam atrás da criança? Desse jeito, seria difícil saber o que aconteceu e fazer o que fosse preciso para ajudá-la, a não ser que… - Tive uma ideia, mas preciso que você aceite. Ino pode vasculhar suas memórias, selecionar algumas e transmitir para nós. Isso nos ajudará a entender o que está acontecendo e talvez possamos identificar quem está te perseguindo. Tudo bem para você?

– Transmitir? C-como assim? - perguntou insegura, passando as mãos nos olhos para afastar as lágrimas.

– Você lembra que Ino tem o jutsu de transferência de mente, não é? Então, ela desenvolveu uma nova técnica que permite entrar na mente de uma pessoa, selecionar as memórias necessárias e simultaneamente transmitir para que todos nós possamos ver.

Hinata hesitou por um segundo, mas logo se censurou por isso. De fato, seria humilhante ver os seus sentimentos tão expostos, ainda mais com Naruto e Sakura parados bem na sua frente, mas era a vida do seu filho, não importa o que eles vissem ou pensassem sobre ela. Tentou ignorar o loiro, que a encarava furioso, fazendo-a se encolher cada vez mais no sofá. Respirou fundo, resignada, repetindo como um mantra para si mesmo o quanto era forte. Tinha passado por muita coisa durante o tempo que ficou fora, enfrentaria toda essa situação de queixo erguido também. Endireitou-se no sofá e levantou a cabeça, sua voz soando mais firme do que se sentia:

– Claro.

Kakashi assentiu e Ino posicionou-se ao lado de Hinata, executando o seu jutsu para entrar na mente da garota. A loira abriu os olhos, vendo seu próprio corpo inconsciente na cadeira ao lado e em seguida encarou o Hokage, esperando sua autorização.

– Tudo pronto, Ino? Pode começar. - Ordenou Kakashi.