Rain escrita por LyaraCR


Capítulo 6
Capítulo Seis


Notas iniciais do capítulo

Mais uma atualização para quem está acompanhando. Espero que gostem e muito obrigada pelas reviews!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/65934/chapter/6

Aquilo era ruim demais. Ter a sensação de ser o único que não sabe de nada estava frustrando-o. Gustav estava assentado sobre uma das caixas de som do local onde costumavam ensaiar todo santo dia. Estava um pouco desconcertado. Ficar no meio da turma naquele clima tenso, estranho, era algo que não lhe apetecia de todo. Estava muito cedo para estar alí, mas com todas as coisas que rondavam sua cabeça, tudo o que queria fazer no momento era se distrair um pouco, ou ao menos tentar. Talvez até mesmo quebrar algumas baquetas...

 

Olhou para o baixo encostado a alguns centímetros de distância... Como queria falar com o amigo agora... Suspirou, levantando-se e indo até a grande janela, observando aquela cobertura que vivia cheia de divas fúteis curtindo o sol ao redor de uma piscina que fazia muito lembrar o mar do caribe...

 

A porta se abriu e se fechou. Tão absorto em seus pensamentos, nem mesmo percebeu. Estava cedo demais e achava que nenhum dos outros estaria acordado agora, muito menos disposto para vir para o local onde costumavam se divertir e ensaiar.

 

— Gustav...

 

Voz macia, uma mão em seu ombro. Seus desejos sendo realizados. Voltou-se àquele quem o havia tocado e teve certeza:

 

— Georg!

 

Sorriu. O amigo era tudo o que precisava naquele momento. Tinha a certeza de que ficaria mais calmo conversando com ele. Talvez até desse a sorte de saber um pouco do que estava acontecendo e tentar quebrar aquele clima estranho...

 

Ele parou ao seu lado.

 

— Dias estranhos, não?

 

— Sim... Muito.

 

Disse olhando para o outro lado, ocultando um sorriso tímido. Ambos permaneceram em silêncio por um instante, apenas desfrutando da presença do outro, apenas observando o mundo sob seus pés, como se de agora em diante, fossem donos do mesmo.

 

— Sabe... — o de cabelos longos começou — pode até parecer estranho e assustador demais, mas... O Tom vai te contar algo hoje, e espero que não fique chocado.

 

Tenso. Ficou tenso no mesmo instante.

 

— Não pode nem ao menos me dizer do que se trata?

 

— Bom... acho que não é meu papel.

 

— Qual é Georg! Não custa adiantar um pouco! Eu vou morrer de tensão assim!

 

— Certo... Parece que... ele e Bill... estão tendo um caso.

 

O loirinho parou. Entrou praticamente em estado de choque. Georg apenas riu. Não um riso malicioso. Algo mais como.. um riso de “eu sabia”.

 

— Eu acho que entendi errado.

 

— Não, você não entendeu errado...

 

Gustav queria surtar, mas talvez isso pegasse mal, afinal, um cara bagunceiro como ele surtando por algo assim, não seria de todo... agradável. Precisava manter a postura de Bad Boy. Mesmo que a situação dos gêmeos não fosse tão normal, tão aceitável, não o havia assustado tanto à ponto de causar desgosto.

 

— Tá... e daí?

 

Foi a gota para Georg.

 

— Como é?

 

Decerto essa não era a resposta mais esperada por ele. Talvez fosse o seu modo de ver as coisas e certo sentimento que ainda possuía em relação a Tom que o fizera pensar que as coisas seriam de tal modo, que Gustav não aceitaria e a banda ficaria entre um fogo cruzado de intenções, pecados e coisas do tipo. Talvez fosse só o medo de sentir sua segurança de anos completamente abalada por uma coisa não usual.

 

— O que a gente tem a ver com isso Georg? Acho que ao invés de estarmos nos preocupando com eles, devíamos estar curtindo a vida... Ao menos eles terão boas lembranças quando forem mais velhos... E... isso, mesmo tão errado, soa tão bem... Olha... eles sempre juntos, sempre cuidando um do outro... Isso não te parece um casamento?

 

Estava com uma baqueta na mão, voltado ao amigo, tentando esclarecer os pensamentos do mesmo. Parecia claramente decidido em fazer o outro ver a situação por um ângulo diferente.

 

— É que... dói olhar para isso Gustav... E... é tão estranho que acho que mais cedo ou mais tarde vai acabar consumindo a gente... Todos nós.

 

— Nós não seremos consumidos por isso... Não tem nada a ver com a banda! Se trata de problemas pessoais deles, Gee... Vai dizer que nunca desejou algo assim? Mesmo que errado, bom o bastante para que você não se importasse com mais nada?

 

Por um momento, o de cabelos longos deixou-se olhar as coisas do modo como queria, no fundo, no fundo. Era realmente algo... forte. Eles estavam praticamente casados, vivendo toda a eternidade ao lado um do outro, compartilhando das alegrias, problemas, bebendo juntos, cantando juntos... Realmente, se dissesse que não queria algo como isso, estaria mentindo para si mesmo. Era bonito. Mesmo que olhar de fora com todos os erros rotulados pela moralidade, era algo bonito...

 

Saiu de seus devaneios com uma mão em seu ombro. Já sabia de quem se tratava.

 

— Olha, eu só preciso colocar a cabeça no lugar...

 

— Entendo... Por que não vamos beber alguma coisa? Podemos esquecer o ensaio por hoje...

 

Olhou para ele e sorriu. Um sorriso fraco, mas ainda assim, um sorriso em meio a todas aquelas ideias confusas. Pelo visto, precisava rever seus conceitos e segurar certos impulsos causados nada mais nada menos por certas necessidades...

 

---

 

O caminho parecia longo demais. O carro parecia lento demais e podia jurar, de tanto girar aquela mecha de cabelo entre os dedos, já tinha um dread semelhante aos de Tom. Olhou para ele. Parecia apreensivo também. Droga... Toda essa coisa de contar para Gustav os estava fazendo sentir o mundo sobre as costas, e tinha certeza, não, podia jurar que Tom estava arrependido. Isso lhe dava ganas de chorar, um peso desconfortável no peito. Podia sentir que ele também estava assim. Queria perguntar os motivos de o outro ter feito toda essa coisa louca de obrigá-los a algo que nem mesmo tinha justificativa. Não era como se não fossem contar para ele que estavam tendo um caso, esconder isso tornando um segredo e massacrando a banda... Com o tempo ele, obviamente, descobriria! “Maldito Georg...” Pensou, por um momento desejando colocar as mãos no pescoço dele e torcer aos poucos, de modo leve e doloroso... Respirou fundo. Tom, ao seu lado, parecia absorto demais em seus próprios pensamentos para perceber o quão desconfortável estava... Absorto demais para ajuda-lo com seu coração disparado e com suas mãos trêmulas. Ah, droga... Jamais havia parado para pensar realmente no que poderia acontecer caso alguém descobrisse, e agora... agora... Tudo havia acontecido de uma só vez, rápido demais. Por ele, certo que não contaria, mas provavelmente, esse não era o desejo de Tom ante a situação em que se encontravam...

 

---

 

Um drink a sua frente, uma cereja em sua boca e sua mente mais.. leve. Era bom estar ali ouvindo todas aquelas coisas de quem menos esperava. E havia sido bom também contar de seu caso com o Kaulitz mais velho. Se sentia aliviado de certa forma. Olhou para o balcão. A mão dele estava sobre a sua. E as palavras, doces na medida certa, o faziam pensar duas vezes antes de subentender a situação, levando somente para um lado, seguindo somente um ponto de vista... Mas não se culpava. Não de todo... Era só um garoto carente, e nada podia fazer se conseguia agir apenas de acordo com isso.

 

— ... Você não pode continuar agindo assim Georg... Vai ver, vai entender mais tarde que isso não era de todo necessário... Eles só precisavam de certo tempo pra estabelecer algo concreto, pra entender o que está se passando! Um... relacionamento desse tipo não é algo que se rotula em dois dias...

 

— E-eu... Entendo, mas... Eu não sei ao certo... Deve ter sido o medo de ficar sozinho de novo... Sabe, Gus... Isso é ruim... Talvez eu não queira as pessoas juntas ao meu redor porque eu sei que nunca vou ser como elas... entende?

 

Um sorriso fraco. Mais um dos vários daquele dia. Se sentia confuso, e um pouco envergonhado. A mão do outro agora acariciava a sua, e fazia questão de tentar nem pensar em certas coisas... Já havia lhe bastado os problemas causados por seus sentimentos. Queria se tornar uma verdadeira pedra de gelo de agora em diante.

 

— Entendo, mas... — abaixou a cabeça — Você nunca está, estará ou esteve sozinho...

 

Apenas um sussurro da parte do loiro. Sussurro que parecia secreto demais, sussurro que parecia que não deveria ter sido exposto... Mesmo assim, aquela mão continuou sobre a sua... Como um toque tão suave podia pertencer a alguém capaz de manusear aquelas baquetas com tanta agilidade e ferocidade?

 

Não queria se questionar sobre isso. Não agora. Olhou para ele. E ele o olhava...

 

---

 

A tensão era a pior coisa do momento. Era como se fossem ser castigados pelo pecado cometido. Bill estava quieto demais, e Tom sabia que isso não era muito bom... Era melhor que ele estivesse gritando, brigando ou até mesmo chorando. Bill quieto era sinal de fragilidade, preocupação. Estava abalado, e essa instabilidade deixava o mais velho receoso o bastante para evitar até mesmo uma aproximação.

 

O carro parou. Bill pôde sentir todo o corpo esquentar por dentro. O medo o estava fazendo se arrepender amargamente por cada segundo ao lado de Tom. Sacrificaria todos eles se fosse preciso para que a banda não explodisse justo agora. Era tão bom ter os amigos ao seu redor...  Era como uma família... Família que agora, por sua insensatez estava desmoronando. Era como se fosse a mãe hostil e desnaturada que faz questão que os filhos se afastem pouco a pouco.

 

O prédio parecia frio demais, tomado por sombras das piores trevas. Seu coração estava doendo tamanho desespero. Adentraram o elevador. Tom o olhou. Franziu o cenho num claro sinal de preocupação, aproximando-se, tocando-lhe o rosto.

 

— Bill... Olha pra mim...

 

Obedeceu, mas não conseguiu olhar nos olhos dele.

 

— Bill... O que foi? V-você está... pálido!

 

Seu corpo estava pesado demais, o ar, pouco demais para que conseguisse respirar... Droga, como queria ser mais forte num momento desses... Sabia que se caso chorasse, melhoraria, mas nem mesmo isso estava conseguindo fazer...

 

— Maldito Georg! Bill, olha pra mim! Fica comigo!

 

Foi a última coisa que escutou antes de tudo sumir pouco a pouco. Agora tudo estava bem... No silêncio, na escuridão, sem nem mesmo querer voltar pela porta de onde havia surgido...

 

Ao seu lado, segurando-o, com os olhos cheios d’água, estava seu irmão gêmeo, Tom... Pobre Tom, nunca havia ficado tão apavorado... Seu... anjo, havia desfalecido justo em seus braços!

 

— Eu vou matá-lo Georg... Isso tudo é culpa sua!

 

Dizia ao nada, pensando num modo de tirar Bill dalí a salvo da imprensa e de quem quer que fosse... Contaria as coisas à Gustav, mas não antes de dar um bom susto em Georg.

 

Do lado de fora do prédio, começava a cair uma garoa fina... Como sempre, chuva... Como sempre, deixando o ambiente cinza assim como seu coração, sua alma, antes que se descobrisse com Bill.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Continua!