Percy Jackson Filmes escrita por JkTorçani


Capítulo 41
Ex-Amigos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/659048/chapter/41

Ponto de Vista de Annabeth

 

 

— Algum dia você vai desistir? – Luke havia me levado até um trailer negro, quase do tamanho de um ônibus. O interior era bem organizado, beirando o luxuoso. Não era muita coisa comparado ao iate que ele possuía antes, mas dava para concluir que Luke estava vivendo em boas condições.

Ele nunca fez o tipo esnobe, mas nunca abriu mão de conseguir as coisas que queria. Eu só não sabia se isso era uma peculiaridade de filho de Hermes ou um atributo individual de Luke.

— Desistir do meu plano de destruição ou de manter você temporariamente viva? – questionou ele. Eu ainda estava tentando me acostumar com essa personalidade fria que Luke desenvolvera depois de trair o Acampamento. Ele sempre fora tão... afetuoso. Comigo principalmente.

— Cronos devorou você! – tentei colocar o máximo de descrença no meu tom de voz – e mesmo assim ainda está do lado dele, como se nada tivesse acontecido.

— Eu estou do meu lado. Os titãs querem vingança, ótimo, vou embarcar no mesmo trem – ele andou, trazendo consigo uma taça de vidro com um liquido purpura até a poltrona que eu estava sentada. E amarrada – Vinho? – ele ofereceu a taça.

Não respondi. Na verdade eu nem sabia como agir. Luke estava tão calmo com tudo, como se tivesse previsto a própria vitória. E mesmo que eu tentasse fugir e com sorte conseguisse, o que eu faria em seguida?

— Vou levar isso como um não – ele se sentou ao meu lado e deu um longo e satisfatório gole no vinho. O cheiro da bebida me fez lembrar do Sr. D e suas garrafas caras. E o Sr. D me fez lembrar do Acampamento, onde Percy deveria estar agora.

Os vidros escuros com cortinas fechadas não davam maior visibilidade do lado de fora, mas eu sabia que em algum lugar por ali, uma deusa sofria ao segurar o peso do céu. Por minha causa. Eu jamais entenderia a nobreza de Artémis. E nem mesmo os deuses sabiam o quanto eu queria ajuda-la. Talvez Atena soubesse. Nunca na minha vida eu havia enviado tantas orações para minha mãe quanto nessas últimas horas. Apesar de eu não conseguir imaginar a deusa da sabedoria descendo do Olimpo para salvar a filha mortal. E ponderava a possibilidade de ela agir como Artémis se estivesse aqui.

Eu não sabia até que ponto pensar desse jeito me tornava igual ao Luke. Era ele que estava revoltado com os deuses, não eu.

Balancei a cabeça para afastar tais pensamentos nocivos. Focar em uma saída seria bem melhor.

“Mãe, sei que você é uma... deusa muito ocupada, mas por favor, eu realmente preciso da sua ajuda agora. Mesmo que seja apenas um sinal”— Talvez fosse em vão, mas eu tinha que tentar. Agora eu tinha uma vaga noção de como Percy se sentia quando ia até o lago tentar conversar com Poseidon.

Talvez eu tivesse chance de sair daqui por conta própria, supondo que eu me soltasse sozinha das amarras, acabasse com Luke e enfrentasse quem quer que estivesse do lado de fora do trailer. E saísse de São Francisco para voltar até Nova York.

Simples na teoria, complexo na prática.

Uma batida forte na porta de aço me fez saltar. Luke deixou a taça de vinho de lado e se levantou, caminhando até a porta, que quando aberta, revelou Ethan Nakamura. Ele fez uma varredura no interior do trailer com o olhar, antes de fixar sua linha de visão em mim.

— Algum problema? – Luke desceu os degraus do trailer, fechando a porta atrás de si. As vozes dos dois semideuses foram abafadas.

Olhei em volta. Havia objetos realmente pontiagudos naquele lugar, como uma espada dourada emoldurada atrás de um vidro na parede. Mas as minhas amarras em ambos, braços e pernas, estavam tão apertadas que eu tinha certeza que eu ficaria marcada por um bom tempo. E a qualquer momento Luke estaria de volta.

 

Cerca de dois minutos se passaram até que meu “carcereiro” retornasse.

— Sentiu minha falta? – o humor de Luke parecia ter dado uma guinada, com um certo tom vitorioso circundando sua expressão – Tenho boas notícias. Seus amigos estão a caminho.

Eu queria bater na cara de Luke, mas então lembrei que estava amarrada. Eu não poderia sequer imaginar que meus amigos estavam vindo para uma emboscada por minha causa. Eu não poderia imaginar Percy se arriscando por mim...

Mas eu os conhecia tão bem para tentar ignorar os fatos. Se fosse qualquer um deles no meu lugar, eu iria ao Tártaro para salva-los se fosse necessário.

— Deixe-os em paz. Eu estou aqui, faço o que você pedir, mas deixe-os em paz.

Luke reprimiu um sorriso maldoso.

— Você é uma ótima companhia, além de ser muito atraente – ele se aproximou – mas receio que você não vá servir tão bem aos meus propósitos. É claro que você ainda pode escolher ficar ao meu lado.

Respirei fundo.

— Sabe, de todas as decepções que eu poderia ter, você foi de longe a pior – atirei. Não importava quanta raiva eu sentia dele e o quanto eu deixava isso transparecer, Luke não dava a mínima. Talvez eu tivesse me tornado tão estranha aos olhos dele quanto ele se tornou aos meus. Parecia que nunca havíamos nos conhecido antes.

Mas Luke esperou, observando-me em silêncio, os olhos azuis vividos e o semblante relaxado como se nunca tivesse deixado o Acampamento Meio-Sangue. Por um segundo, eu juro, aquele garoto que cruzou metade do país comigo e Thalia pareceu tomar a mente deste novo Luke.

— Você já gostou de mim um dia – não foi uma pergunta, o que tornou as coisas mais tensas do que eu achava ser possível. Luke se endireitou, movendo-se para o final do trailer.

Eu não queria admitir que ele tinha razão, por isso cortei meus pensamentos sobre esse assunto.

— E o que pensa que vai fazer quando encontrar Thalia e Percy? Eu sei que está atrás dos dois, não teria ido até o Maine se esse não fosse o caso. Tinha que esperar que eles estivessem fora do Acampamento.

Luke pegou um controle negro na mesa de centro do trailer e ligou o aparelho de som estéreo que estava em cima de um pequeno balcão. Uma espécie de obra orquestral começou a tocar em volume baixo.

— Bem, primeiro: darei à Thalia as boas vindas pelo retorno...

Como todo cínico, ele ignorou a própria participação no envenenamento da árvore de Thalia.

— Segundo: como estou impaciente em relação ao Jackson, vou mata-lo se ele se atrever à dizer “não” quando eu, gentilmente e novamente, convidá-lo a se juntar à mim.

— Se você tocá-lo, eu juro, vai ser a última coisa que...

— Uau, realmente se preocupa com ele, não é? – Luke riu.

Achei que seria uma desvantagem se eu revelasse o quanto eu me preocupava com Percy e o que tínhamos nos tornado. Luke poderia usar meu relacionamento como gatilho de sua arma.

— Ele é meu... amigo — “mais que meu amigo” – como um dia você foi – “não, não foi”.

Luke abriu uma geladeira e tirou de lá o que parecia ser um pernil congelado. Ele o colocou em um micro-ondas acima do balcão. Depois olhou para mim.

— Chega de sentimentalismos. Você deve estar com fome, porque eu estou.

O pernil estava ótimo. O que me deixava desconfortável era a companhia sádica de Luke. Ele afrouxou as cordas dos meus braços, o suficiente para que eu pudesse manusear o garfo e a faca, e me advertiu que não fizesse a estupidez de tentar algo. Ele se sentou na cadeira de frente para mim naquela mesa quadrada.

Eu estava tentando tirar o máximo de informações dele, mas Luke mantinha suas respostas no ponto mais vago possível.

— Então... como saiu de Circelândia? – perguntei.

Luke levou um dedo aos lábios, reprimindo um presunçoso sorriso.

— Imagino que Polifemo não consiga enxergar mais nada agora – ele respondeu, depois de terminar de mastigar.

Eu dividia a carne em pequenos pedaços, para ganhar tempo com ele.

— E para onde o sarcófago de Cronos foi?

Luke engoliu ruidosamente um pedaço do pernil.

— Ainda está comigo. Pedi que buscassem-no. Erro de vocês deixarem ele lá.

— Eles ainda estão com você? Chris, Silena e os outros?

— Você faz muitas perguntas. Vou responder essa última. Sim, eles estão – ele limpou a boca em um guardanapo – alguns fugiram. Um desertor é sempre um desertor, não é mesmo?

Ele ficou me observando comer. Alguns minutos depois, uma outra batida na porta se fez ouvir, mas Luke não se levantou.

— Pode entrar.

A porta se abriu e lá estava Ethan Nakamura novamente. Ele olhou para mim da mesma forma que havia olhado antes: sombrio e impaciente.

— Não se incomode com ela, Ethan. Conte-me as novidades – pediu Luke, mas continuou olhando na minha direção.

— Estarão aqui em algumas horas.

— Estão em quantos? – Luke olhou para Ethan.

— Cinco. A filha de Zeus, o Jackson, duas garotas de Artémis e o sátiro que havíamos raptado em Washington. Quer que eu prossiga? As criaturas estão aguardando – informou Ethan.

“Prosseguir... criaturas...” Não...

Luke sorriu, maldoso.

— Mande-os ir. Agora.

— Espere! O que... Luke, o que você...?

Ethan assentiu e saiu. Me virei para Luke.

— Do que vocês estavam falando? Que criaturas? Se machucar meus amigos eu vou acabar com você!

 Eu não poderia permitir que algo acontecesse a Percy, Thalia e Grover. Me levantei da cadeira, cambaleando para o lado por causa das cordas nas minhas pernas. Agarrei a faca de cortar carne ao lado do meu prato, mirando-a em Luke.

Ele já tinha puxado uma Sai, adaga chinesa de três pontas, quase igual à que Grover usava.

— O que acha que vai fazer? Além de mim, terá que passar por todos que estão lá fora. Talvez até tenha o azar de esbarrar em um dos guerreiros-esqueletos. Você não tem escolha – a voz dele estava fria e calma – abaixe essa faca antes que eu tenha que executar você aqui e agora.

— Guerreiros-esqueletos?

Foi tudo muito rápido. Luke arremessou a adaga chinesa em linha reta, na direção do meu pescoço. Se meu reflexo de semideusa não tivesse trabalhado, eu estaria me afogando no meu próprio sangue. Desviei a adaga para o lado usando a faca em minha mão, ao mesmo tempo que Luke se jogava para cima de mim, imobilizando os meus braços.

— Bem – Luke ofegou – eu poderia ter sido bem menos gentil. Venha – ele colocou meus braços para trás, como um policial faria com um criminoso – vamos encontrar nosso anfitrião. E acredite, ele vai ser bem menos tolerante do que eu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Percy Jackson Filmes" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.