Percy Jackson Filmes escrita por JkTorçani


Capítulo 42
Tudo Pode Piorar




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Ponto de Vista de Percy

 

— Percy Jackson. Quem eu queria conhecer – Talvez eu realmente tivesse entrado na limusine de uma celebridade. A celebridade do Monte Olimpo: Afrodite.

A deusa explodia a escala de beleza. Sua voz era carregada de lascividade. E se eu não possuísse uma grande força de vontade, eu teria me ajoelhado aos pés dela e exigido que ela me transformasse em seu servo para o resto da minha vido mortal. Era esse o efeito da deusa do Amor.

Não era só a visão, mal iluminada pela fraca e glamorosa luz no teto da limusine, que estava carregada de luxuria. A atmosfera parecia ter se alterado, o oxigênio que eu respirava parecia ter sido misturado a alguma droga, ou algum hormônio. O feromônio talvez.

Involuntariamente, eu comecei a me imaginar junto à Annabeth, mas em um lugar onde estaríamos a sós. A praia seria um bom local para fazer amor...

Balancei a cabeça. Eu não deveria ter esses tipos de pensamentos... não ali, e não naquele momento.

Eu sabia que essas fantasias eram causadas pela presença da deusa à minha frente, elegante em seu vestido vermelho com um profundo decote em “V”, os cabelos negros perfeitamente ondulados. Eu não sabia se seus olhos bem delineados eram verdes ou azuis, mas algo me dizia que determinar um padrão na aparência de Afrodite era como determinar a direção definitiva do vento. Não tinha como, ambos estavam em constante mudança.

— Eu sei o que está pensando – a deusa devassou – sensual demais para ser verdade.

Tentei me concentrar em qualquer coisa, menos no fato de estar sozinho com a deusa do Amor e do... Sexo.

— Ah... senhora Afrodite – reverenciei com a cabeça.

— Tudo bem se deixarmos de lados as formalidades – a voz dela parecia com a de alguém durante uma noite de prazer, chamando pelo seu amante. Pelo que eu sabia da deusa, talvez esse fosse o caso dela.

Foram tantas as vezes que Annabeth reclamara de eu ter um chalé ao lado das águas termais, onde as filhas de Afrodite se banhavam só de biquíni, que eu não queria nem imaginar o que ela diria ou faria se soubesse que, agora, eu estava separado por pouco mais de 1 metro da deusa.

— Seu motorista... ele disse... – cara, por que eu não conseguia formar frases completas?

— Sim, eu queria encontrar você— ela sensualizou. Eu queria dizer algo como: “comprometido... eu sou.” Mas não consegui. Receei insultar a deusa com alguma suposição errada – não é incomum que eu convoque ou procure mortais e semideuses para me fazer companhia, mas... – ela sorriu maliciosa, mordendo o lábio inferior – geralmente eu os procuro por um atributo que eu queira. Já com você – todos os pelos do meu corpo arrepiaram. Eu estava prestes a ter que dar um fora na deusa do Amor – é um assunto diferente.

Pisquei.

— Ahn... o quão diferente?

Achei que a deusa nunca mais fosse parar de sorrir.

— Vamos falar sobre seu relacionamento, se me permite. É claro que permite.

Não dei permissão, mas o que eu podia fazer?

— Eu...

— Sim, eu vejo que está profundamente apaixonado pela deslumbrante filha de Atena – ela assumiu uma expressão contemplativa - Tenho que admitir que, ás vezes, Atena sabe o que faz, literalmente.

— Ah... é – balancei a cabeça. Ainda tentava descobrir o que eu fazia ali.

— Imagino que toda essa saga através do país não seja apenas para trazer Artémis de volta.

— Bem, Zoë e...

— Esqueça as Caçadoras. Elas não valem o meu tempo. Conte-me sobre suas prioridades – ela pediu.

— Encontrar Annabeth – murmurei, facilmente. Não era só uma prioridade, era tudo o que me restava. Pois seu eu não a encontrasse, tudo estaria acabado. Nada mais faria sentido na minha vida.

— Isso! – a deusa exclamou animada – e por quê?

Eu poderia responder algo como “porque ela desapareceu”, mas eu sabia que Afrodite queria ouvir algo bem diferente.

— Bem, porque eu... ahn, adoro ela.

— Não tenho certeza se “adorar” é o verbo correto. Tente novamente – ela insistiu.

Engoli em seco. Annabeth e eu conversávamos diversas vezes, e em nenhum momento nos expressamos sobre o que sentíamos.

Acho que as pessoas sabem quando amam alguém. Eu sei que amo Annabeth. Mas dizer as famosas 3 palavras parecia complicado, mesmo realmente não sendo.

— Eu... – Afrodite me olhou em expectativa - ... amo ela.

A deusa juntou as mãos na frente do rosto, contendo um grande sorriso.

— Não foi tão difícil assim, foi? Ah, o amor jovem é tão... excitante. Sabe, em nossa atualidade, é complicado de se achar um casal com um sentimento tão forte e genuíno. As pessoas se relacionam sem a menor das emoções, apesar de estarem mais libertinas aos prazeres carnais. Deveria haver mais paixão.

Assenti, concordando com o que quer que ela estivesse tentando me dizer. Afrodite pareceu meditar por um tempo.

— Bem, eu posso ajuda-la em mais alguma coisa? – ofereci, esperando que ela tivesse terminado, pois eu precisava continuar a missão.

A deusa saiu de seu transe de pensamentos românticos, abrindo um sorriso caloroso.

— Acho que acabamos. Mantenha o foco em sua amada e sempre estarei ao seu lado, rapaz. Eu sempre apoio aqueles que buscam o amor – a porta da limusine se abriu e eu estava prestes a sair – tome cuidado em sua jornada, ela está quase no fim. Nós nos veremos de novo.

Eu queria perguntar sobre o que ela estava falando, mas receava ouvir algo que eu não queria. E o tempo estava passando, eu precisava prosseguir.

Deixei a limusine, a porta se fechou atrás de mim. Thalia, Grover, Zoë e Bianca estavam apoiados na van, com expressões impacientes.

Grover veio correndo ao meu encontro, conforme a limusine de Afrodite já partia.

— Então, cara? Como ela é? O que ela falou? Vocês dois...

— Calma, calma. Ela veio, hã, desejar boa sorte.

Thalia, que chegava atrás de Grover, bufou em descrença.

— A deusa do Amor te procurou para desejar boa sorte? Vocês gastaram um tempo considerável ali dentro...

— Espero que você não esteja insinuando o que eu penso que está – disse à ela. Que blasfêmia ela estava pensando? Eu nunca seria infiel à Annabeth, nem mesmo com a própria Afrodite – temos que continuar.

O olhar desconfiado de Thalia atenuou.

— Ela bem que poderia ter me desejado boa sorte também... – Grover murmurou baixo.

— Ah, vamos – puxei ele pelo braço.

Zoë estava tão desinteressada que achei que ela tinha dormido de olhos abertos. Bianca parecia apreensiva.

— Já amarramos a corda entre a van e o carro – anunciou Bianca – podemos seguir adiante.

— Ótimo, todos para dentro – sentei no banco do motorista, aparentemente já haviam colocado o carro à frente da van. Liguei a ignição – espero encontrar um posto logo, estamos quase na reserva do tanque.

— Com a sorte que Afrodite nos desejou, quem precisa de azar... – resmungou Zoë, enquanto Grover eu tentávamos drenar a gasolina do tanque da van.

— Estão conseguindo alguma coisa? – Thalia perguntou.

Grover negou com a cabeça, e o rosto, assim como o meu, estava encharcado de suor. Fora a estreita estrada de asfalto, tudo à nossa volta se resumia a areia quente. Morros de areia.

Bianca desceu do carro pedindo nossa atenção.

— Pessoal, eu estive analisando o mapa. Imaginei que, se entramos no Arizona pela rota 40 há quase 1 hora... temos que estar perto de Sun Valley. Definitivamente tem que ter um posto nessa cidade...

— Eu diria que temos um pouco mais de 50 minutos de caminhada até chegarmos em uma cidade, mas vamos deixar tudo aqui? – Grover se levantou.

— Acho que podemos encontrar algum lugar antes mesmo de uma cidade, a noite já está chegando. Vamos pegar as mochilas e continuar - Thalia olhou ao longe – nem deveríamos ter parado para início de conversa...

Zoë suspirou, e junto a Bianca, pegou as mochilas de dentro do carro.

Continuamos caminhando pelo asfalto sinuoso, portando garrafas de água. O sol já estava se pondo, e ainda não havíamos encontrado nenhum ponto de parada, seja posto ou lanchonete. O único meio de transporte que tínhamos visto passar era uma chopper que, aparentemente, estava com pressa.

— Gente, olhem – Grover apontou para um painel laranja enferrujadíssimo na beira da estrada, cuja as letras em cor preta indicavam: FERRO VELHO.

— É exatamente o que estávamos procurando – murmurou Zoë sarcástica.

— Talvez consigamos alguma informação ou até mesmo ajuda – comentou Thalia – vamos lá.

Ela acelerou o passo em direção à uma entrada de terra, há 7 metros de onde se encontrava o painel. Seguimos atrás dela.

Não havia nenhum portão impedindo que entrássemos, como se o dono desconsiderasse a ideia de alguém querer roubar sucata. Porque era tudo o que havia naquele lote. O lugar era um cemitério de carros, motos e até mesmo aviões biplanos. Devia ser um ferro velho bem antigo, até carruagens detonadas do século XV se encontravam por ali.

— Aquilo é uma harpa de ouro!? – exclamou Grover.

Há alguns metros de onde estávamos, vários objetos dourados reluzentes formavam pilhas de alturas consideráveis.

— Acham que isto tudo é ouro verdadeiro? – Bianca questionou, dando alguns passos à frente.

— Fala sério, quem seria louco de deixar ouro de verdade em um lugar como esse? – perguntei.

— Bem, olhe ali, há uma placa dizendo: “Não toque, sujeito a uma morte horrível”... – apontou Grover, lendo lentamente cada palavra.

— É... acho que sei onde estamos, pessoal – anunciou Zoë, séria.

— Então, abençoe-nos com sua sabedoria – pediu Thalia, exausta.

— Esse é o Ferro Velho de Hefesto. Ele tem vários desses espalhados pelo país, encontramos um deles – informou a tenente das Caçadoras.

Considerei.

— Hã, e isso é bom ou...

— Será que um deus nos ajudaria? – ponderou Grover.

Lembrei da nossa última missão, quando fomos parar em Washington e posteriormente na empresa de correios do senhor Hermes. Naquela ocasião, precisávamos muito de ajuda e o deus mensageiro se mostrou um exímio colaborador. Se, por acaso, encontrássemos o deus Hefesto, iria querer que ele fosse tão bondoso quanto seu colega olimpiano.

— Vamos ver o que encontramos, mas não toquem em nada – Thalia advertiu.

Seria complicado. Para onde quer que olhássemos, havia pilhas e mais pilhas de sucata.

Continuamos adentrando cada vez mais o interior do Ferro Velho. Meus olhos vagaram para o que parecia ser uma enorme mão de ouro. Mas estava soterrada sob outros objetos dourados.

— Lá em cima – Bianca apontou para o céu alaranjado com o entardecer – por que aqueles corvos estão voando daquele jeito?

Focamos no ponto onde ela havia indicado. 8 pássaros negros voavam em formação circular, como se o primeiro estivesse tentando alcançar o último.

— Estão à procura de comida – disse Zoë.

— Ou esperando a comida morrer – Grover dramatizou.

— Pessoal... esperem – Thalia parou no meio do caminho, bloqueando minha passagem e a de Grover – ouviram isso?

— O que... – Zoë parou, os olhos procurando por algo.

Apurei minha audição. Cheguei a pensar que poderia ser apenas paranoia de Thalia, mas definitivamente, com o silêncio, um som poderia ser ouvido, e não parecia muito longe. Era como se milhares de panelas estivessem caindo umas por cima das outras. Ou uma das pilhas de ouro ganhara vida.

— Os corvos dispersaram! – avisou Grover.

Zoë estava olhando para apenas uma direção. Atrás de mim. Ela parecia mortalmente séria.

— Gente... – ela começou calma – CORRAM!

A corajosa tenente das Caçadoras arrancou em uma corrida pela estreita trilha que se formava entre as altas pilhas de metais, puxando Bianca pelo braço. Grover soltou um “béé” desesperado e partiu atrás das donzelas eternas. Thalia me puxou pelo casaco, conforme eu tentava me virar para olhar o motivo de estarmos correndo. Quando olhei, constatei que havia sido inútil puxar Contracorrente do bolso e clica-la, porque tinha a droga de um gigante de ouro caminhando lentamente na direção que coincidentemente, estávamos correndo. E o caminhar lento dele era o equivalente da nossa maratona. 70 metros de altura, no mínimo. Quase me fez sentir saudades de Cronos recém saído do sarcófago.

— Corram até não terem mais pernas! – Grover gritou, saltando por cima de capôs amassados de carros da década de 60.  

— O que Hades é aquilo? – exclamei, desviando de uma placa desbotada com a imagem de “Ganimedes, o Sommelier de Zeus”, segurando um coração que havia escrituras em grego antigo como: “Apenas 10% de juros na compra com o cartão Afrodite Express”

Aquilo se chama Talo, é um protótipo do senhor Hefesto. Por aqui, se escondam – Zoë indicou um container azul, aparentemente vazio, com a porta escancarada – Fechem! Fechem! – ela mandou quando todos já estavam lá dentro.

— Deixem uma brecha – pediu Thalia, assumindo a frente, agarrando-se a porta do container – ainda não consigo vê-lo.

— O que aconteceu? Alguém pegou alguma coisa? – Grover questionou.

Bianca olhou para cada um de nós, esperando que alguém se manifestasse. Concluindo que ninguém havia nada para dizer, ela se expressou:

— Pessoal, acho que a culpa é minha. Esbarrei em alguma coisa, foi sem querer... eu juro...

— Tudo bem – Zoë a acalmou.

As vibrações que as larguíssimas passadas de Talo emitiam no solo trepidavam nas estruturas metálicas do container. Eu estava me sentindo como um rato dentro de uma panela constantemente golpeada com uma barra de ferro. E um covarde por estar encolhido ali, sem ao menos tentar fazer algo, enquanto meus amigos corriam perigo. Fala sério, eu havia derrotado o Titã Supremo do Tempo há menos de 8 meses atrás...

— Eu vou lá fora – anunciei, Contracorrente esquentando em minha mão.

— O que!? – Thalia se virou para mim – Nem pensar!

— Ele está cada vez mais perto! – Grover informou.

Tentei forçar passagem entre os quatro, mas surpreendentemente, foi Zoë quem me barrou.

— Só um debilitado mental iria encarar Talo com uma espada. Qualquer tipo de ataque direto seria em vão, a carcaça dele é blindada, quase impenetrável. Mas se quiser realmente ir, vá – a Caçadora deixou o caminho livre – não vai fazer a menor diferença para mim. Você é apenas mais um aspirante a “herói” querendo se provar.

Ela disse a palavra herói com tanto desprezo que até meus ancestrais devem ter se sentido ofendidos.

— Eu estou tentando salvar o seu couro também! O que sugere que façamos!? – a minha vontade era de jogar Zoë na frente de Talo.

— Passei tempo demais aprendendo o espirito coletivo com minhas irmãs de Caçada para partir para o individualismo agora. Vamos sair dessa juntos – a tenente de Artémis abriu um pouco mais a fresta.

— Apoiado – Thalia disse com certa relutância, depois franziu a testa como se não acreditasse que concordara com Zoë em algo.

— Beleza, não temos tempo para pensar em nada, então como vamos passar por ele? – Grover puxou seu par de sais.

— Distração – Bianca exclamou, quase que para si mesma. Todos, inclusive eu, se viraram para ela. A garota pareceu sem jeito, mas permaneceu firme em sua ideia – se ele focar em apenas um de nós, os outros poderão fugir.

Era considerável. Mas...

— Então eu vou. Sou mais rápida – Thalia se voluntariou.

— Não tenho tanta certeza, deixa isso comigo – intervi.

— Não, não. Eu vou – Bianca se aproximou da porta, ao lado de Zoë – isso é culpa minha.

— Esqueçam essa ideia, ninguém vai ficar para trás – a tenente das Caçadoras segurou a porta de metal – eu vou abrir, e vamos refazer o caminho até a estrada. Silenciosamente.

Zoë abriu a porta do container de uma vez, em seguida puxou o arco que carregava nas costas, mirando para cima. Thalia foi a próxima, carregando uma lança de ouro, juntando-se a Zoë. Grover ergueu os sais e ao meu lado deixou o container, enquanto eu empunhava Contracorrente. Bianca veio logo atrás, carregando em mãos o arco com uma flecha por precaução.

O gigante, mesmo há quase 400 metros de distância, produzia uma sombra enorme acima de nossas cabeças. O sol baixava no horizonte, de forma que não havia claridade suficiente para me impedir de observar toda sua estrutura dourada. A frota inteira dos Autobots empilhados um em cima do outro teria dificuldade de jogar basquete com esse cara. A enorme cabeça do protótipo se virava de um lado para o outro, procurando os intrusos no território de seu senhor. Os olhos eram nitidamente vermelhos.

Andamos, abaixados, por entre as pilhas e carros estroçados. Talo deu um passo para o lado, a terra tremeu em resultado. Dava para ouvir as articulações do gigante rangendo conforme ele fazia algum movimento, até mesmo com os dedos metálicos da mão.

— Ele está muito perto da saída – Zoë sussurrou – vamos ter que contornar...

— Por aqui!

A cabeça de Talo virou bruscamente para olhar a origem do som. E para nossa surpresa, ele olhou para bem longe de onde estávamos.

— Para esse lado! Aqui!

— Bianca!? Mas como... – Zoë olhou para a retaguarda do grupo, onde Bianca di Angelo deveria estar, mas não estava – Droga!

— Ela vai acabar se matando! – exclamou Thalia, endireitando-se. Ela sabia bem como era sacrificar-se pelos amigos e acabar morrendo.

Não dava para ver o exato lugar em que Bianca estava, mas ela gritava a plenos pulmões para o gigante dourado, chamando a atenção dele. E ela obteve sucesso.

Talo começou a caminhar em direção a origem dos gritos, esmagando amontoados de carro em cada passada.

— Fiquem aqui, eu vou busca-la – Zoë desprendeu a mochila dos ombros, largando-a no chão.

— Nem pensar, você não me deixou ir sozinho antes, eu também não vou deixar você ir sozinha. Vou com você, traremos Bianca de volta juntos – falei à ela.

— Vamos – Thalia chamou, correndo na direção do gigante.

Troquei um olhar conciliado com Zoë, e seguimos atrás de Thalia. Grover veio em seguida.

— Thalia! Talvez aqueles seus raios venham em uma boa hora! – gritei para ela, enquanto subia em cima da carcaça detonada de um helicóptero Sikorsky S-61R. A minha única arma servia apenas para ataques de perto, e acho que os ferros velhos de Hefesto não eram conhecidos por sua abundância em água. Em outras palavras, minha atuação ali estava à beira da inutilidade.

Thalia caprichou em um relâmpago que deixou o céu em um tom purpura escuro quando desceu bem acima da cabeça do gigante. Achei que funcionaria bem contra uma criatura de metal daquele tamanho, mas só serviu para deixa-lo mais irritado, conforme ele redirecionava seu alvo para... bem, para nós.

— Ele pode ser feito a partir do ouro, mas o lado interno dele é revestido de borracha! – Zoë gritou do chão, disparando uma saraivada de flechas em Talo, para mantê-lo ocupado.

— E o que fazemos!? – perguntei.

— Temos que abrir uma fissura nele, de preferência na cabeça!

Uma flecha acertava o gigante a cada minuto que passava, e eu sabia que era Bianca tentando colaborar. Grover havia corrido para alcança-la.

— Mas você disse que ele era impenetrável! – lembrei-a, saltando para o lado quando Talo arremessou um pneu de trator na minha direção – filho da...!

— Eu disse quase impenetrável. Você pode tentar rompê-lo de alguma forma! – Zoë correu para o meu lado – Eu vou manter a atenção dele em mim. Vá, e certifique-se de não deixá-lo te pegar!

Corri pelo ferro velho, para tentar dar a volta no gigante. Zoë e Thalia se concentraram em gritar grosserias para ele. Talo levantou um caminhão acima da cabeça, e naquele momento, eu temi pela vida das minhas duas amigas. Mas Thalia foi bem mais rápida ao agir, ela invocou outro relâmpago, explodindo e estilhaçando o caminhão na cara do protótipo de Hefesto. Ele ficou desnorteado por um instante, e isso me deu abertura para correr a toda velocidade para a retaguarda do gigante.

Me icei em um braço de metal do guindaste que estava próximo, e saltei para a panturrilha de Talo, agarrando-me nas partes mais irregulares de sua carcaça. Passei pelo joelho, escalando como um alpinista, e saltei nas junções da coxa. O gigante parecia não sentir minha subida, mas complicou meu avanço quando voltou com os ataques em Thalia e Zoë, arremessando o que estivesse mais perto na direção das duas.

Cheguei até a coluna vertebral, aproveitei o momento em que ele abaixou para pegar um trator e corri até chegar o pescoço. Thalia estava tendo o bom senso de não atirar mais raios em Talo, pois a essa hora eu estaria bem frito.

Tudo começou a dar errado quando eu alcancei a nuca dele. O gingante lançou uma geladeira acima de Zoë, que teve pouco tempo para desviar, ficando com as pernas presas. Thalia correu para ajudar. E sem muitos rodeios, Bianca começou a gritar de novo lá do chão, disparando erroneamente suas flechas prateadas, chamando a atenção de Talo. Era de se admirar: mesmo novata e sem experiência, Bianca di Angelo possuía uma imensa coragem. Eu diria isso à ela se saísse vivo dessa.

Aquela era a hora de agir. Puxei Contracorrente com uma mão, enquanto me segurava na estrutura da cabeça do protótipo com a outra, e cravei a espada alguns centímetros acima de onde deveria estar a orelha direita. Deu resultado, a espada abriu uma fenda na ossada de ouro. O crânio do gigante emitiu um ruído parecido com o do Touro de Colchis quando lancei a caneta-espada em suas engrenagens.

A parte boa era que eu nem precisaria me dar o trabalho de descer, a cabeça de Talo chacoalhou tão forte que não havia mais onde ou como equilibrar. Eu caí.

A queda teria sido a minha morte, mas antes de ir para o solo, bati em lugares que me lembraram vividamente o que era dor. O primeiro lugar foi o ombro metálico, onde pinguei e fui lançado até o cotovelo em movimento. Após isso, eu sabia, o chão me acolheria de braços abertos.

Bem, algo realmente me acolheu. Era metálico, mas não era Talo dessa vez. Desabei com tudo em cima do braço do guindaste, e dali eu fui para o chão sem interrupções.

É, eu estava suficientemente cansado desta vida de semideus. A pior parte era que além de eu ter me lascado com estilo, Talo agora tinha a mim como alvo, e eu mal conseguia levantar. Os gritos de Grover não dispersaram a atenção do gigante para longe de onde eu estava.

Eu só tinha uma oportunidade.

— Thalia! – gritei a plenos pulmões – é agora ou nunca!

A filha de Zeus agiu conforme o roteiro. O céu escureceu de novo, e outro relâmpago foi evocado, descendo mais uma vez acima do crânio de Talo.

O gigante ficou imóvel, os braços recaíram ao lado do corpo, fumaça começou a sair do topo da cabeça e tais olhos vermelhos apagaram como uma TV removida da tomada. O protótipo de Hefesto fritou.

Eu poderia ter começado a me sentir aliviado, pelo menos até o enorme corpo de metal tombar para o meu lado. Com todo o meu estado de incapacidade e paralisia, tive que esperar mais uma vez a morte me alcançar. Pedi desculpas mentalmente à Annabeth, por não ser eu a encontrá-la e levá-la de volta para o Acampamento, para que pudéssemos ficar juntos e eu ter a chance de admitir em voz alta o quanto eu a amo...

— Saia! – era Bianca, tentando fazer o que podia e o que não podia para me tirar dali – Percy! Cuidado!

Eu não sei exatamente o que aconteceu em seguida, mas Bianca realmente salvou minha vida. Ela correu ao máximo, e se chocou com toda força contra mim, me empurrando para longe do alcance do corpo inerte de Talo. E ele desabou, produzindo um som tão alto que quase fiquei surdo.

Depois disso, tudo era fumaça, escombros metálicos e terra seca voando para todos os lados. Algumas partes do gigante se desprenderam, como um de seus orbes oculares, que rolou até parar em uma placa enferrujada.

Meus amigos estavam gritando por mim, as vozes abafadas.

— Aqui! – respondi.

Escutei os cascos ágeis de Grover, correndo por cima dos carros. Ele apareceu por cima de uma caminhonete desmontada, e depois saltou ao meu lado. Parecia tão desesperado quanto ofegante.

— Cara! Você tá legal!? – não respondi, e Grover também não esperou resposta. É claro que eu não estava legal.

Grover se virou para encarar a cabeça do protótipo de Hefesto.

— Santo Estige, que estrago!

— Pessoal...! – Thalia chegou deslizando por uma pilha de eletrodomésticos arrebentados – Vocês... – ela parou quando notou nós dois, e então começou a olhar freneticamente em volta – Cadê a Bianca!?

“Ah, deuses...”

Mesmo com toda a dor, corri para o gigante derrotado. A quantidade de fumaça ainda era opressiva. Thalia e Grover se colocaram ao meu lado. Se ela tinha me empurrado para fora do caminho...

— Ela tem que estar aqui, em algum lugar! – tentei subir por cima da cabeça metálica, mas sem sucesso – talvez do outro lado... Bianca! Bianca!

Olhei para os meus amigos. Eles estavam desolados. E eu entendia porquê.

No fundo eu sabia: Não encontraríamos Bianca di Angelo viva, pois ela havia se sacrificado para me salvar.


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