Percy Jackson Filmes escrita por JkTorçani


Capítulo 40
Na Estrada




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Ponto de Vista de Percy

 

 Seguir discretamente a van de Zoë, Bianca e Grover era muito sistemático. Quando a van acelerava eu tinha que pisar fundo, quando freava eu tinha que reduzir demais a velocidade para que eles não desconfiassem. E a essa altura eu já estava surpreso que eles não tivessem notado alguém seguindo-os por quase 15 horas. Talvez eu devesse atribuir isso à pouca visibilidade por causa da chuva. A cada parada que eles faziam, Thalia e eu nos revezávamos no volante. Atravessamos os estados da Pensilvânia, Ohio, Indiana e eu já estava me perguntando o que Hades estávamos fazendo em Illinois.

— O que acha? – perguntei à uma Thalia sonolenta.

Ela bocejou e se ajeitou no banco do passageiro.

— Grover pode muito bem estar perdido.

— Ou Zoë tenha confundido o caminho com a “habilidade” de rastreamento e caça dela – adicionei.

Thalia suspirou.

— Quanto tempo mais teremos que segui-los? Podemos apenas chegar neles e sei lá, conversar talvez.

— É – concordei – mas é melhor esperarmos um pouco.

Continuamos pelo caminho, mas meus pensamentos estavam longe. Estavam em Annabeth, e o quanto eu queria encontrá-la. Me sentia estranhamente péssimo saindo em missão sem ela, como se estivesse quebrando uma tradição, o que era bem compreensível, já que nunca fugira antes do Acampamento sem ela. E, sejamos francos: eu sabia que Artémis era uma deusa muito importante, mas eu estava exclusivamente nessa missão por causa de Annabeth.

Nessa mesma hora, 19:23, se nada tivesse acontecido e tudo tivesse ocorrido bem em Westover Hall, nós dois estaríamos na casa de minha mãe para conhecer o novo namorado dela e aproveitar para passarmos algum tempo juntos. Teríamos passeado de mãos dadas pelo Central Park, frequentaríamos minha lanchonete preferida da região, depois voltaríamos para casa, nos aconchegaríamos no sofá e namoraríamos muito. Como planejado.

— Percy. Percy! – Thalia estava estalando os dedos na frente do meu rosto – eles mudaram de direção.

Captei de relance a van pegando uma saída para a direita. Estava deixando a rodovia secundária para seguir pela principal. Talvez eles planejavam deixar Springfield, para ir ao Missouri. Mas por que estavam tomando esse rumo?

Tive que ouvir muitas buzinas de carros quando forcei para a principal, para continuar seguindo-os. Até eu notar que eles haviam sumido da estrada. A van peculiar do Acampamento com uma das lanternas traseiras mais fraca do que a outra não estava à vista.

— Para onde eles foram? – Thalia forçou a vista pelos para-brisas e o vidro lateral – não consigo ver a van. Vá devagar, talvez tenhamos passado por eles.

— Mas como...

— Olha! – Thalia apontou para uma direção fora da estrada, onde só havia terra e árvores altas, sem as cercas de proteção. Em determinado ponto, marcas de pneu haviam sido deixadas por ali – eles podem ter saído da estrada.

— Eu não estou tão seguro quanto a isso, Thalia. Se pararmos e eles não tiverem saído, perderemos a van de vista.

— Se continuarmos e eles estiverem parados por ali, perderemos eles de vista do mesmo jeito. Está vendo alguma van mais à frente? Pois eu não. Encoste o carro.

Eu não queria, mas relutantemente diminui a velocidade e deixei a rodovia. O som nos pneus do carro se tornaram abafados em contato com a terra e os tufos de grama. Eu teria que me manter em primeira marcha devido à alta quantidade de árvores e galhos espalhados pelo solo e a escuridão que começava a ser formar por causa da chegada iminente da noite.

— Estas marcas de pneus parecem muito recentes – disse Thalia.

— Certo, Especialista em Marcas de Pneus – resmunguei.

Eu sentiria raiva de Thalia se ela não estivesse realmente certa. Há uns 40 metros, dava para notar a lataria da acinzentada van, pelo menos a parte que não estava debaixo de um carvalho norte-americano. Zoë, Bianca e Grover não estavam à vista.

Gostaria de saber porque haviam parado em um lugar assim.

— Não consigo vê-los – Thalia anunciou.

— Então somos dois – parei o carro na sombra de outro carvalho.

Descemos para encontrar os outros três. Mas nenhum sinal deles. Até olhamos para dentro da van, havia apenas as mochilas de viagem. Thalia e eu trocamos olhares desconfiados, antes de nos tornarmos alertas aos ruídos de galhos se partindo.

— Eu deveria cravar uma flecha em cada um de vocês – era a voz de Zoë. Ela saltou de um dos carvalhos que estavam perto da van, o arco preparado e apontado para mim.

Atrás de Thalia, Bianca surgiu, apontando relutante e desengonçada o arco dela na direção da filha de Zeus.

Grover veio correndo em seus cascos.

— Eu sabia – ele olhou para Zoë – Eu disse à você que reconhecia o carro. Estou feliz em ver vocês...

— Grover! – repreendeu Zoë.

— Por que estavam nos seguindo? – perguntou Bianca. Ela já havia abaixado o arco, e não parecia chateada. Na verdade, ela e Grover pareciam até aliviados.

— Reforços – respondeu Thalia.

Zoë deu um passo à frente, a mira do arco se revezava entre mim e Thalia.

— Nós não precisamos de reforços!

— Precisam sim— rebati.

Eu tinha quase certeza que depois disso Zoë ia disparar a flecha na minha direção, mas não teve a chance porque Bianca a interrompeu.

— Zoë, digo, tenente Zoë. Talvez isso seja bom, duas pessoas a mais. Vai fortalecer a equipe.

A tenente das Caçadoras estava com uma expressão assassina no rosto, mas abaixou o arco.

— Então... para onde estavam indo? – Thalia se apoiou na van.

Bianca emitiu um “São Fran...” antes de Zoë interrompe-la.

— Não é da sua conta.

Thalia se endireitou, encaminhando-se depressa para a frente de Zoë. As duas se encararam, 5 centímetros separavam os rostos de ambas, como se fossem lutadoras de UFC em uma apresentação. Nenhuma recuou, nem desviou o olhar.

Troquei um olhar com Grover. Sabíamos que essas duas iam acabar se engalfinhando se não houvesse interferência.

— Ei, parem vocês duas – Bianca se colocou no meio delas – Olha, pelo que eu sei, não temos muito tempo – ela olhou para mim – Percy, estávamos à caminho de São Francisco. Pergunte à Grover porquê.

Nosso amigo sátiro andou até ficar no centro do pequeno grupo.

— Isso é algo sério. Ultimamente, eu tenho tido essas sensações ruins em relação à aquele lugar. É como se monstros estivessem se aglomerando em um lugar só. Sabe como é o sexto sentido de um sátiro.

Franzi a testa.

— Existem milhares de monstros no mundo mortal, por que só agora isso deveria ser preocupante? Não que não seja...

Zoë deu um passo à frente.

— Sátiros também são ótimos para rastrear outros tipos de presença. Como a de um olimpiano, por exemplo. Por isso convoquei ele na missão, talvez ele pudesse me ajudar a encontrar a senhora Artémis. Mas segundo Grover... os resquícios da magia da deusa sumiram do nada, como se ela... como se...

— ...estivesse morta – completou Bianca.

Eu ainda estava tentando juntar os pontos.

— Cara, quando o rastro de Artémis desapareceu, ela definitivamente estava pelas redondezas de São Francisco – expressou Grover para mim.

— Mas você mencionou um possível aglomerado de monstros, como eles enfrentariam uma deusa do Olimpo? – perguntei.

— Se você ampliasse a sua definição de “monstros”, veria que essa expressão engloba várias outras coisas – disse Zoë.

— Como o quê?

Thalia suspirou.

— Com o que há naquela cidade, é muito fácil chegar na conclusão mais óbvia.

Pronto, agora eu realmente estava perdido. Acho que minha expressão deve ter deixado isso claro.

Talvez Grover não quisesse parecer tão incrédulo. Mas Thalia e Zoë me encaravam como se eu tivesse dito que 2+2 é igual a 5.

— Tá falando sério que você não sabia que o antigo lar dos titãs fica em São Francisco? – perguntou Thalia.

Eu gostaria de exclamar um “claro que eu sabia”. Mas eu não poderia estar mais alheio a esse fato quanto eu estava agora. Caramba, eu namorava uma filha de Atena, que ainda por cima tinha um pai que morava naquela cidade.

— Ah...

Zoë sorriu desdenhosa. Ela me lembrou a Clarisse em suas piores performances, é claro, antes de começar a ser medianamente legal e tudo mais.

— Nem precisa falar nada. Vou resumir para que você entenda: Artémis, desaparecida, São Francisco, Monte Tamalpais, vulgo ruínas do Monte Otris, antiga morada do rei titã Cronos e os outros titãs - ela gesticulou teatralmente com as mãos - Perigo!

Não sei o que mais me incomodou: tudo o que eu acabara de ouvir ou a forma como ouvi. Fala sério, Zoë falou comigo como se eu tivesse algum retardo mental...

Me virei para Thalia e Grover.

— Acham que isso tem alguma ligação com o ataque em Westover Hall?

— Tem grandes possibilidades. Artémis estava seguindo os rastros daquelas pessoas – respondeu Grover.

Então talvez Annabeth estivesse no mesmo lugar que a deusa da Lua, e considerando aquele ambiente, isso só me deixou ainda mais frustrado.

— Estamos perdendo tempo aqui – anunciou Zoë – Como eu não posso simplesmente despachar vocês dois - ela apontou para mim e Thalia – de volta para o Acampamento, seguirão caminho conosco. Mas em transportes separados.

E com isso, a tenente das Caçadoras se abriu a porta da van em um puxão, Bianca imitou-a de forma um pouco mais calma e Grover relutantemente entrou do lado do passageiro.

Olhei para Thalia, antes de arrancar junto à ela em uma corrida até o carro. Do jeito que Zoë dirigia, eu teria que ser rápido tentando acompanha-la.

Zoë continuou conduzindo a van pelo caminho que nem uma doida varrida. Agora, as paradas que dávamos eram quase raras e na maioria delas eu havia sinalizado para dar um tempo. Desde de que deixamos o Acampamento, um dia e meio já havia se passado enquanto estávamos na estrada.

No banco do passageiro, Thalia devorava um pacote mediano de batatas fritas, os pés descansavam preguiçosamente no painel do carro, e toda sua concentração estava em uma espécie de cover de Stairway To Heaven.

Já estávamos atravessando o Novo México, e as múltiplas camadas de casacos de um nativo de Nova York se tornavam inúteis em uma temperatura de 21°C. O sol da tarde destacava o que essa região tinha em abundância: deserto para todos os lados que você olhasse. E cactos.

Por ser filho de Poseidon, regiões áridas não eram as minhas preferidas.

 

3 horas e meia depois, uma placa azul com os dizeres: “Arizona”, na parte de cima e abaixo em uma letra ligeiramente menor “O Estado do Grand Canyon” “Seja Bem-vindo” surgiu em meio aquele horizonte de tonalidade laranja pelo entardecer.

Nem tínhamos atravessado 2 quilômetros naquele território, quando o capô da van do Acampamento emitiu um estalo alto e filetes de fumaça escaparam.

— Mas que merda! – conclui.

Encostei o carro há 4 metros da traseira da van. Eu sabia que algo assim aconteceria se Zoë não desenterrasse o acelerador e diminuísse pelo menos 30% da velocidade. Por que, caramba, em uma média de 180 quilômetros por hora, que van nessa terra aguenta percorrer tanto chão?

— Mal funcionamento no carburador, talvez? – sugeriu Grover, carregando uma garrafa de água. Ele parecia esperançoso demais.

Zoë estava chutando a roda frontal do lado do motorista como se a roda tivesse culpa. Ela suspirava exasperada.

— Droga, droga, droga – ela apoiou as mãos na cintura, olhando com raiva para o capô da van – motor fundido, no mínimo – diagnosticou por fim.

— Isso que dá pensar que está estrelando Velozes e Furiosos: Arizona – Thalia repreendeu .

Grover abriu o capô do carro. Inalei um tornado de fumaça. Todos começaram a tossir.

Talvez ela estivesse certa sobre o motor ter fundido.

— Arrasou, Zoë. Literalmente – comentei, batendo palmas.

Ela me olhou de cara feia.

— Será que tem como consertar? – perguntou Thalia.

— Acho que sim. Vou dar uma olhada na minha mochila para ver se eu lembrei de trazer um motor reserva em um dos bolsos – retrucou Zoë.

— Ei, você fez isso, não ela – defendi.

Olhei em volta. Deserto, deserto e mais deserto.

— Percy, veja se tem uma corda no seu carro. Podemos guinchar a van até um posto de gasolina ou qualquer coisa assim – Grover aconselhou.

— Certo. De qualquer forma, tirem as coisas de vocês da van e coloquem-nas no carro – pedi.

Andei até o porta-malas do carro da minha mãe. Antes que eu o abrisse, uma imagem ao longe chamou minha atenção. Estava na estrada, vindo ao nosso encontro, parecia um automóvel sedan preto. Com as mãos, eu bloqueei os raios de sol no meu olho para que pudesse ver melhor. Parecia uma... limusine...

— Está confeccionando a corda? – gritou Zoë.

— Pessoal! Venham cá.

Grover, Bianca, Thalia e a impaciente Zoë se colocaram ao meu lado.

— O que é aquilo? – perguntou Bianca.

— Acho que é uma limusine – falei.

— É, definitivamente – concordou Thalia.

Menos de 100 metros e aquele transporte de luxo alcançaria nosso grupo. Talvez quem quer estivesse se aproximando soubesse de algum posto por essas redondezas.

A limusine se alinhou com o nosso carro. Os vidros pretos não permitiam reconhecer os ocupantes.

— Talvez seja a Beyonce – Grover murmurou baixo, com os lábios quase imóveis.

Eu tinha certeza de que não era o caso.

O vidro lateral da parte da frente do carro baixou para revelar um típico motorista de celebridade. Quepe e terno negro, gravata bem alinhada, ray-ban hollywoodiano escuro com armação dourada. O cara deveria ter no máximo 30 anos, a barba castanha por-fazer era perfeitamente alinhada como a de um modelo de loção de barbear. Talvez fosse bonito, mas com tanto clichê encobrindo suas características, era difícil dizer.

— Percy Jackson – disse ele, uma mistura de sotaque francês com voz de dublador de filme de ação europeu. Quando ele disse o meu nome, meus sentidos congelaram. Aquele era o sinal vermelho do perigo – minha senhora precisa ter um momento a sós com você.

— Diga à ela que apareça – bradou Thalia, passando à minha frente em modo de proteção.

O motorista mudou a direção do olhar para a estrada, como se fizesse descaso de nossa presença.

— Lady Afrodite não gosta que deixem-na esperando.


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