Percy Jackson Filmes escrita por JkTorçani


Capítulo 39
Tamalpais ou Otris




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Ponto de Vista de Luke

 

 

A dor era tanta que respirar era quase um dom. Minha linha de visão estava turva, e parecia que havia pontos de costura em cada centímetro dos meus braços, se desfazendo.

Agora eu me perguntava se eu não havia sido arrogante demais quando aceitei essa tarefa. Como um meio-mortal sustentaria o peso do céu?

Eu tentava me levantar ou apoiar os pés no solo, mas era em vão. Com a minha visão embaçada, eu podia vislumbrar as ruinas que cercavam minha localização, os poucos pilares restantes e encardidos que antes reluziam em mármore branco e sustentavam um esplendoroso palácio. O nevoeiro se tornava cada vez mais denso e gélido, congelando meus membros.

Assim era o Monte Otris.

Eu havia dito à ele que existia apenas uma chance pequena de isso funcionar. Era um plano, que se não obtivesse sucesso, o único ferrado seria eu.

Enganá-la não seria assim tão fácil. Tente dar uma rasteira em uma filha de Atena e o único a cair será você. Eu tinha que torcer para que eu permanecesse em pé, figurativamente e literalmente.

Já era possível ouvir os sons de seu chamado, reconhecendo o local, procurando por alguém que lhe explicasse “Onde Hades ela estava”.

— “Por que trouxeram-me para cá!?” – sem dúvidas, era a voz de minha velha amiga. Annabeth.

Eu não tinha o luxo de gritar. Minha força estava toda concentrada em segurar o peso absurdo sobre a minha cabeça.

Ela teria que se aproximar...

— Tem alguém aqui!? – talvez 30 metros – Droga. – havia um resquício de medo em sua voz.

Acho que a ex-moradia dos titãs não passava uma impressão de um lugar caloroso e pacífico.

— Ann... Annabeth – chamei. Isso tinha que dar certo.

Aparentemente, ela não ouviu. Mas parecia se aproximar.

— Annabeth, por favor – pedi.

Silêncio. Os passos cessaram.

— Percy!? É você?

“Sim, mas apenas para você”. Imaginei o que Jackson faria em uma situação dessas.

Ah, claro.

— Vá embora. Saia daqui, rápido. Vão encontrar você. – cada palavra era quase impossível de se pronunciar.

Os passos voltaram agora, em grande quantidade. Ótimo, ela estava correndo.

No fundo da minha mente, era incômodo o fato de que ela estivesse tão preocupada com Jackson, pois nos dias de hoje, ela não correria em minha direção se eu precisasse de sua ajuda. Mas eu me beneficiaria disso, até porque...

— Percy!? – ela havia chegado ao topo mais alto do monte, onde eu segurava com a força que ainda me restava, o peso do céu – o que faz aqui!? O que aconteceu!?

— Eles... eles me pegaram. Eu fui atrás de você. Por favor, saia antes que...

— Deuses. O que fizeram com você? – ela chegou para mais perto, enquanto eu me mantinha, involuntariamente, no chão. Talvez ela não conseguisse ver com clareza o que havia acima de mim, apesar das tentativas de entender.

— Me colocaram... para segurar isso. Eu não consigo me livrar. Annabeth, saia.

Ela parecia desolada, mesmo que eu não pudesse vê-la claramente, pois à essa altura, as coisas já estavam rodando.

— Eu vou tirar você daí. – ela se abaixou, alinhando-se comigo e estendendo as mãos para a forma negra e pesada que representava o céu.

Assim que o reflexo de filho de Hermes me alcançou, eu me joguei para a frente, soltando o peso todo em cima de Annabeth, e rolei para o lado, livre daquela função torturante.

— Percy! Eu não... isso... isso está pesado. Me ajude!

Suspirei.

— Ufa. Nem me fale. Obrigado por isso.

— Percy! O que você...

— Relaxe, Annabeth... ah, não, espere... não , não é? – era cruel, mas acabei rindo.

O plano funcionou.

— Por que você...?

— Eu não sou o Jackson. E não se preocupe, você estará livre em breve. Quando acharmos uma pessoa que seja uma nobre voluntária, assim como você. Até lá, tente não morrer.

Eu estava de pé, mas praticamente me arrastei pela descida do monte, escutando os lamentos da filha de Atena atrás de mim.

— Deuses, por favor!!

— Você deveria ter mais fé em mim – minha voz estava fraca, mas audível o suficiente para Ele— funcionou.

— Apenas uma parte – era o tom de voz de alguém que qualquer um iria preferir segurar o céu ao invés de enfrenta-lo – o que pretende fazer com a garota depois que terminar? Tomá-la para si?

Que?

— Não, meu senhor. Mas estou curioso em relação à sua definição de “terminar”. Acha que ela só servirá para atrair a deusa aqui? Acredito que ela seja a melhor isca que tivemos, eles virão atrás dela.

— Você age e fala como se isso compensasse o seu fracasso.

Ok, agora calma.

— Eu falhei, meu senhor. Peço que me perdoe, por favor.

— Talvez você já tenha passado por sua punição. Eu não saberia dizer, pois afinal, o que é uma hora segurando o céu perto de éons?

Eu não queria nem imaginar. Mas, penso, qual seria a punição que os deuses me dariam por tentar destruí-los?

— Deve haver zilhões de motivos para acabar com a tirania dos olimpianos. – murmurei.

— Você não saberia nem por onde começar, garoto— meu senhor andou pelas ruínas onde antes, deveria estar o palácio dos titãs. Ele parecia nostálgico, mas depois de passar tanto tempo preso aqui, não imaginava que esse fosse o caso – Eu sinto. Sim, a presença dela se torna mais forte a cada momento. Prepare-se. Enfrentar uma rival olimpiana requer habilidade.

— É bom ver você de novo, Artémis – meu senhor rodeava a deusa ajoelhada e acorrentada. Os olhos dela continham uma fúria que lhe passavam o desejo de correr para bem longe. Seus cabelos avermelhados estavam bagunçados, vários fios caiam sobre a face olimpiana, tornando sua expressão ligeiramente macabra.

Você— Artémis rosnou, seus olhos acompanhavam cada movimento do meu senhor – você deveria estar...

— Em minha punição eterna? – Ele parou de frente para a deusa, seu rosto se tornou uma máscara de desprezo – Se eu sequer pudesse condenar todos os olimpianos à passar por aquilo. Eu estaria sendo misericordioso.

— Acha mesmo que vai ser fácil assim? Derrotar todos os deuses? – Artémis desdenhou.

— Não diretamente. Mas, como você pode ver, os deuses fizeram inimigos interessantes. – meu senhor olhou de relance para mim – Que linda simetria, não acha? Os olimpianos exilaram seus pais, os titãs, e agora serão igualmente exilados, pelos seus filhos semideuses. Quem imaginaria algo assim? Quem notaria uma prole mortal?

Artémis virou o rosto bruscamente em minha direção. Era uma sensação prazerosa vê-la acorrentada e sem poder fazer nada. Melhor seria se fosse Hermes ali, ajoelhado aos meus pés.

— Não perca seu tempo. – meu senhor avisou. Ele olhou para o alto da colina, o ponto mais escuro do Monte Otris – Terá que se preocupar com outro meio-sangue.

— Como ousa fazer isso com esta garota? – Artémis não poderia ir muito além pois meu senhor segurava a ponta de sua corrente, mas ela se esticou ao máximo para alcançar Annabeth, que estava curvada e de joelhos, o corpo trêmulo e encharcado de suor. Mais cinco minutos sob aquele fardo e ela morreria.

— A pergunta deveria ser: Por que eu não ousaria? – debochou meu senhor.

A deusa estendeu a mão para Annabeth, a expressão em seu rosto era a de total agonia, o que não combinava muito bem com a situação, pois Annabeth não era sua filha.

— Liberte-a. – pediu Artémis.

Meu senhor se colocou atrás da deusa.

— Sabe o que terá que fazer.

A deusa da Lua baixou a cabeça.

— Eu sei.

Os outros não compreendiam o porquê de eu ainda ter mantido Annabeth viva. Para eles, ela era um lembrete do fracasso em Circelândia. E quando eu digo outros, eu quero dizer os mesmos semideuses que estavam comigo antes, com o desfalque de alguns covardes.

Se eu tivesse que ouvir mais uma reclamação enquanto amarrava a filha de Atena em um dos pilares de mármore...

Pelo menos, ela não demorou à acordar. Era evidente sua fraqueza, mas ela se retesou quando eu fui a primeira coisa que viu ao abrir os olhos.

— Luke!? – ela olhou em volta, tentando entender.

— Eu quase posso dizer que é bom ver você de novo. – me abaixei para ficar em seu nível de altura, mas longe o suficiente para que ela não pudesse tentar nada. Um cantil de néctar avolumava meu bolso frontal.

Apesar de abatida e a palidez tomando conta de sua pele, Annabeth mantinha um olhar feroz como se fosse a pessoa mais perigosa do mundo mesmo amarrada e incapaz de se manter em pé.

— O que você quer!? Achei que você estivesse morto.

— Você queria que eu estivesse morto, é diferente.

— Onde o Percy está?

Claro, o Jackson. O que ela via nele?

— Por que se preocupa? Ele não está aqui, nunca esteve.

— Como...

— Você não é a única que pode conseguir um spray de Névoa. Você viu o que queria ver, e ao mesmo tempo o que não queria ver. É uma magia fácil de manipular.

— Por que iria querer que eu visse Percy? – ela se mexeu em suas amarras.

— Porque era o único jeito de você colaborar.

— Com o quê? O que você fez, Luke!?

Reprimi um riso.

— Olhe em volta, o que você consegue ver além desse nevoeiro? Onde acha que estamos? Eu sei que você deve ser ótima em geografia, mas eu desafio você a acertar.

Annabeth começou a observar o lugar, mas parou com uma expressão magoada no rosto.

— Só consigo ver o que você se tornou. – ela murmurou baixinho, como se fosse apenas um pensamento que escapou.

Suspirei.

— Aposto que depois de tudo o que você deve ter dito à Thalia, ela deve estar pensando o mesmo agora.

— Eu só disse a verdade! – exclamou ela. Annabeth ficava bonita quando estava nervosa.

— Bem, talvez ela ainda tenha a chance de mudar de ideia. – puxei o cantil de néctar e ofereci-o à ela. Annabeth se afastou – Vou soltar um dos seus braços. Não tente nada que faça você se arrepender.

Libertei seu braço direito das amarras. Ela, relutantemente, aceitou o cantil.

— Talvez você também tenha a chance de mudar de ideia, – comentei – pois eu não vou. – me levantei, a neblina além de densa, se tornava cada vez mais gélida – Até porque meu senhor não tolera traições.

Annabeth olhou diretamente para mim, os lábios rosados e rachados pelo frio estavam entreabertos. Seus olhos absurdamente azuis não piscavam por um segundo.

Seu senhor?— ela ofegou – está se referindo à Cron...

— Não exatamente. Mas você já deve ter ouvido falar muito dele. O mestre Atlas é muito influente. – eu falei aquilo como se não fosse nada, mas eu quase podia ver sua mente absorvendo o impacto da notícia – A propósito, estamos nas ruinas do Monte Otris, agora chamado de Monte Tamalpais...

Os olhos de Annabeth se arregalaram para mim.

— ...Ou se você preferir, estamos em São Francisco.


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