Percy Jackson Filmes escrita por JkTorçani
Ponto de Vista de Thalia
— Acalme-se – pedi à Percy.
Ele estava agindo daquele jeito, como se fosse o único afetado da situação. Annabeth era como uma irmã para mim, e eu faria qualquer coisa para encontrá-la. Começando por um bom plano.
— Quíron disse que as Caçadoras não demorariam à chegar. Vamos resolver isso. Pelo jeito dele, ou pelo nosso.
Notei várias coisas jogadas ao chão do chalé de Percy, que antes, eu poderia jurar que estavam sobre a mesa de escritório. Um baú de madeira estava tombado como se tivesse acabado de levar um chute.
— Eles não se importam, Thalia. Ninguém se importa – Percy se virou, e seus olhos estavam vermelhos, como se metade de sua concentração estivesse focada em não chorar.
— Não perca seu tempo dizendo isso – aconselhei.
Percy puxou uma das gavetas da mesa de escritório, e de lá de dentro, retirou uma foto.
Eu nunca havia visto uma expressão tão devastada em alguém depois de olhar uma fotografia. Possivelmente, era a foto de Annabeth.
Eu queria bater nele por agir como se ela estivesse morta.
— Ei, olhe para mim – ele não olhou – Percy, olhe para mim – foi preciso que eu puxasse seu rosto para que ele fizesse o que pedi – nós vamos encontrá-la. Eu prometo.
Seus olhos azuis continham um brilho de agonia, que eu tinha certeza: não era algo normal nos olhos daquele rapaz.
Percy deu uma olhada rápida na fotografia, antes de voltar a guardá-la na gaveta. Ele fungou.
— Qual é o plano?
Respirei fundo.
— Por agora, não há nada que possamos fazer. Mas preciso contar à você algumas coisas. Coisas que a própria deusa Artémis me contou.
Ω
— Então Zeus... quer dizer, seu pai foi falar com Hades?
— Não necessariamente, os olimpianos não podem entrar no Mundo Inferior, exceto Hermes. Mas os deuses podem se encontrar no mundo mortal. Zeus e Poseidon tiveram uma conversa séria com Hades, e o repreenderam por tentar conseguir do Raio Mestre como você bem sabe. Mas principalmente, porque ele deixou... Luke levar o caixão de Cronos.
Percy olhou para o chão, estreitando os olhos.
— Eu deveria ser a última pessoa a dizer isso, mas não acho que Hades tenha permitido que Luke simplesmente levasse o caixão.
Eu concordava. Hades também sofreria a ira de Cronos se ele retornasse. Mas Luke era esperto, e com toda certeza entrou e saiu do reino dos mortos sem ser notado.
— Bem, é. Artémis também contou que Zeus ordenou aos deuses que cortassem todo o tipo de comunicação com os meio-sangues, até por telepatia, desde que você e Annabeth foram ao Olimpo.
— Isso não faz o menor sentido! – exclamou Percy.
— Zeus imagina que um olimpiano possa tentar destruí-lo por meio dos semideuses, como Luke. Isso quase aconteceu, não foi?
Percy suspirou.
— Pode ser paranoia de Ze... – ele parou e olhou para mim. Eu não sabia se ele havia se contido porque estava prestes a falar do meu pai ou se receava que Zeus o ouvisse. Talvez ambos – desculpe.
Eu ri sem humor algum.
— Tudo bem, eu nem sequer conheço ele.
Percy se ajeitou ao meu lado. Estávamos sentados em sua rede de balanço.
— Quer saber como ele é?
— Não – respondi, seca.
Mentira seria se eu dissesse que não estava curiosa sobre como era sua fisionomia e personalidade pessoalmente, mas eu me presentearia com o benefício do desconhecimento.
Percy estava prestes a dizer algo, mas o interrompi antes que começássemos com esse tipo de conversa.
— Eu não acabei ainda. Os deuses estão agindo conforme o sexto sentido deles. O ataque em Westover Hall, aquelas pessoas atrás dos di Angelo. Pode ser o começo de algo.
Percy bufou.
— Acho que a parte mais interessante disso tudo foi ela ter chamado você para trocar confidências...
— Bem, na verdade, ela foi meio vaga em relação a quase tudo. Sabe como é, os deuses gostam de nos deixar no escuro. No entanto, ela ofereceu um convite para que eu e Bianca entrássemos na Caçada.
— E... – Percy se inclinou para olhar corretamente para mim – você aceitou?
Suspirei.
— Hum, não. Mas Bianca sim, e é isso o que me preocupa.
Ele franziu a testa.
— Espera, por que ela faria isso? Se ela ficar com as Caçadoras...
— Sim, Nico ficaria sozinho. Mas, acredite Percy, foi tentador. As coisas que nos prometeram. Imortalidade, ser livre de responsabilidades... uma nova família.
— Você tem uma família. Nós— ele fez um gesto, englobando o Acampamento.
Abaixei a cabeça.
Eu nunca diria isso à alguém, mas a última vez que me senti em família foi quando estava com Luke, percorrendo o país atrás de algo que desconhecíamos: Segurança.
Luke não estava mais aqui.
Forcei um mínimo sorriso.
— Não diga! Por que acha que ainda não aceitei?
— Percy! Percy! – Tyson entrou correndo no chalé – Onde está Annabeth? Eu ouvi ao redor do Acampamento que ela... – ao meu lado, Percy baixou a cabeça, a expressão derrotada retornando – Onde...?
— Tyson, não se preocupe. Vamos encontrá-la. – assegurei. Seu único olho piscou para mim.
— Por que aquele grupo de garotas está lá na Casa Grande?
— O que? – Percy levantou-se da rede.
— As Caçadoras chegaram? – perguntei.
— Foi disso que os campistas estavam chamando elas... – murmurou Tyson, pensativo.
Levantei-me da rede com a mesma agilidade de Percy.
— Ok, temos que resolver as coisas. Vamos Percy. Acompanhe-nos, Tyson.
Ω
— Recebemos ordens expressas de nossa senhora, Zoë – dizia uma Caçadora.
As demais seguidoras de Artémis estavam espalhadas pela Casa Grande, observando ornamentos aqui e ali.
Eu, Percy e Tyson encontramos Quíron, Zoë e Phoebe conversando no escritório principal.
— Sim, mas com essa profecia... eu não sei – argumentou Zoë.
— De fato, não é algo que se possa ignorar – concordou Quíron.
— Qual profecia não pode ser ignorada? – perguntou Percy.
Quíron e Phoebe olharam para nós, mas Zoë ignorou nossa chegada. As outras Caçadoras olhavam para Percy e Tyson como se o fato de eles serem homens fosse o pior crime já cometido.
— Não deveriam estar aqui – o tom de voz de Zoë era melancólico e desanimado ao invés do rude natural, e pela direção em que ela estava olhando, parecia que estava dizendo às paredes que elas “não deveriam estar aqui”.
— Mas estamos, então se você... – começou Percy, muito irritado.
— Acalmem-se, todos. Acontece que a senhora Artémis ordenou a Zoë que falasse comigo para permitir à ela uma visita ao Oráculo. Ela recebeu uma profecia. E receio que isso gere uma busca – disse Quíron.
— Receia? – perguntei – Por quê?
— “A oeste, cinco buscarão a deusa acorrentada,
Um se perderá na terra ressecada,
A desgraça do Olimpo aponta a trilha,
Campistas e Caçadoras, cada um, brilha,
A maldição do titã um deve sustentar,
E, pela mão do pai, um irá expirar.”
Zoë não olhou para ninguém em especial, mas ela tomava fôlego a cada frase que havia dito.
— Isso foi... péssimo – comentei.
— Mas vocês não percebem? Isso é importante. Temos que ir – afirmou Percy.
— Temos? Você não tem que ir a lugar algum, rapaz— disse Phoebe.
— Acha mesmo que pode me impedir de buscar por Annabeth!? – perguntou Percy.
— Chega! Tudo bem!? Cada um com seus propósitos – intervi - vamos recapitular, temos que ir para o oeste, isso é certo, e cinco devem procurar. A deusa acorrentada— olhei para Zoë e Phoebe – acho que vocês já tiraram a conclusão de quem é a deusa, não? Campistas e Caçadoras, juntos.
— E dois não irão retornar – proferiu Tyson. Todos olharam para ele.
— Portanto, é o que eu digo, temos que seguir as ordens da senhora Artémis. Ela pediu que ficássemos aqui e não interferíssemos – disse Phoebe.
— E quem vai desacorrentá-la? – perguntei.
— Essa decisão está agora nas mãos de Zoë. A profecia veio para ela – Quíron lembrou.
Zoë soltou um longo suspiro.
— Nós vamos.
— Ótimo – comentei.
— Mas só vamos em três – Zoë sentenciou.
— Três? Você ouviu a profecia. Cinco devem buscar – contrapôs Percy.
— E você ouviu a profecia. Dois não vão retornar – rebateu Zoë, olhando pela primeira vez para alguém naquele escritório. Para Percy – além disso, três é um número de sorte e é o número de pessoas em uma missão. Eu, Phoebe e Bianca vamos partir para o oeste.
Uma onda de protestos encheu o lugar, vindos de Percy e eu, é claro.
— Sem chance – disse Percy.
— Campistas e Caçadoras – lembrei.
— A Bianca? – questionou Phoebe.
— Acalmem-se – pediu Quíron – Zoë, não tenho certeza se é uma boa ideia burlar a profecia. Em qualquer outro caso, três seria o número correto em uma missão, mas agora...
— Um risco por outro risco – observou Zoë.
Quíron não gostou do plano, mas procedeu.
— Só peço que repense sua escolha de equipe. Campistas e Caçadoras podem colaborar juntos. Devem colaborar.
Percy deu um passo à frente.
— Devem— ele reforçou.
— Tudo bem. Phoebe, se importaria em ficar? Vou adicionar o sátiro Grover à busca.
Phoebe deu de ombros.
— Ei, por que o Grover? – perguntei.
— Ele é um sátiro, pode farejar monstros. Uma adição importante, principalmente porque é um campista— explicou Zoë.
Eu não queria que aquilo tivesse feito sentido.
— E a Bianca!? Ela não passou nem 24 horas no Acampamento! Como espera que ela ajude em algo!? – Percy estava perdendo a paciência.
— Exato. Será uma boa experiência para ela. Caçadoras são treinadas lá fora, não no Acampamento. Treinarei Bianca conforme avancemos para o oeste. Vamos partir amanhã, antes do sol se pôr – foi o xeque-mate da Zoë.
Percy ia perder controle, por isso segurei-o em uma espécie de abraço de urso.
— Espere, espere. Ainda podemos fazer algo à respeito – sussurrei perto de seu ouvido. Ninguém parecia ter escutado.
Zoë e Phoebe saíram andando do escritório.
— Caçadoras, vamos – Zoë ordenou, e junto às suas companheiras, deixou a Casa Grande.
Quíron caminhou para perto de nós.
— Preciso que entendam isso. No momento, nada pode ser feito.
— Nós entendemos— não, não entendemos – vamos.
Puxei Percy pelo braço, Tyson nos acompanhou. Deixamos a Casa Grande.
Ω
O relógio na minha cabeceira marcava 00:27. Eu não poderia e nem conseguiria dormir. Há poucas horas, deixei Percy em seu chalé. Ele me deu um “boa noite” seco e entrou.
Eu sabia que ele estava planejando algo, talvez a mesma coisa que eu. Por isso me levantei e troquei de roupa, por isso eu havia arrumado uma mochila com itens definidos como “necessários”.
E por isso andei até o chalé de Percy tomando cuidado para não ser notada.
— O que faz aqui? – ele estava vestido com um casaco bege surrado, calças azuis muito claras e botas da mesma cor que o casaco. Eu não estava surpresa e ele não estava surpreso. Ao que parece, tomamos a mesma decisão: iriamos nessa busca de um jeito ou de outro.
— Você sabe – me coloquei atrás das cortinas brancas de lona, para que ninguém me visse naquele chalé, que era todo aberto – já fez sua mochila?
As chamas dos lampiões e qualquer outra fonte de luz estavam apagadas. O Acampamento estava um breu. Apenas o alvor das estrelas me permitia enxergar as coisas a minha volta.
Percy colocou algo envolta do pescoço e se abaixou para pegar alguma coisa no chão.
— Sim – de fato, ele havia pegado sua mochila azul – eu só estava esperando pelo momento certo.
— O momento em que eu chegasse, acredito.
— Não exatamente. Mas tudo bem.
— Então, você tem um plano?
Percy olhou em volta, assegurando que não havíamos sido descobertos.
— Na técnica. Só estou com medo de colocá-lo em prática. Acho que estamos sendo muito previsíveis. Pelo menos, eu estou – disse ele.
— Por que?
— Não é a primeira vez que eu fujo do Acampamento, Thalia – era quase impossível ver sua expressão, com a claridade precária, mas eu sabia que não havia ninguém tão determinado quanto Percy nesse momento – Quíron provavelmente não espera que eu fique de braços cruzados.
— Não acho que Quíron esteja na colina do Acampamento esperando passarmos por ele.
Percy se aproximou.
— Certo. Vamos torcer para que não. Pois temos que chegar até o carro da minha mãe.
— Por que até lá?
— Você me perguntou sobre o plano. É esse. Zoë vai partir antes de amanhecer, e Grover estará com ela, rastreando o caminho. Vamos segui-los, sutilmente.
— Soou como se fosse o único recurso – comentei.
Percy ajeitou as alças da mochila nos ombros, soltando um suspiro decidido.
— É o melhor recurso – ele se alinhou à mim na entrada do chalé – rápidos e silenciosos, assim seremos enquanto atravessamos a floresta. Pronta?
— Vamos.
Ω
— Nico e Bianca discutiram hoje – notifiquei aos sussurros – eu vi.
Já estávamos perto das barreiras mágicas do Acampamento, tomando o cuidado para não irmos em direção ao meu antigo pinheiro, onde o jovem dragão Peleu, muito provavelmente, dormia tranquilo.
Corujas piavam nos galhos das árvores.
— Bianca tomou uma decisão muito precipitada. Acho que agora é o momento em que Nico mais precisa dela – sussurrou Percy – olha, o carro está logo ali.
Era um sinal de que havíamos atravessado as barreiras para o mundo mortal.
— Fique atento aos monstros – precavi.
Agora que eu morava no Acampamento, sair dele não me era comum. Eu sentia que tantas coisas aconteceriam.
— É. Se os monstros não nos matarem, o frio de Long Island vai – afirmou Percy, sua voz tremeu.
Acho que assim como eu, ele havia se esquecido de adicionar mais algumas camadas de roupa. O inverno estava impetuoso.
— Caramba, abre a porta do carro – pedi.
Percy entrou no carro e destrancou a porta do lado do passageiro. Assim que ele ligou o ar quente, a sensação de congelamento nos meus membros se esvaiu.
— Beleza, temos que esperar o trio deixar o Acampamento, certificarmos de manter uma boa distância entre nós e eles – estruturei.
— É – concordou Percy – mas eles ainda vão demorar. Pode dormir se quiser.
— Não consigo.
— Por que?
— Pelo mesmo motivo que você não consegue.
Ele olhou para mim.
— Ela ficaria feliz ao saber que estamos nos dando tão bem.
— Sim, mas ela não precisaria desaparecer para nos darmos bem. Fico imaginando onde ela está, como ela está. Talvez... talvez tenha algo a ver com a deusa acorrentada.
— Acha que Artémis a encontrou? – perguntou ele.
— É bem possível.
Ficamos em silêncio por minutos, antes de Percy quebra-lo.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Capricha.
— Por que não entrou para a Caçada? O motivo real.
Por que tinha que ser logo sobre esse assunto?
— Eu... eu não saberia dizer. É como se eu estivesse esperando por algo.
— Esperando pelo quê?
Eu não queria discutir esse assunto com Percy. Talvez nem mesmo com Annabeth. Era algo íntimo.
— Se Annabeth fosse convidada a se juntar à Caçada, iria esperar que ela aceitasse?
— Eu não poderia imaginar algo mais doloroso para mim. Mas a escolha seria dela. Eu a amo suficiente para deixa-la ir, mesmo que isso me destruísse.
No ambiente mal iluminado, deduzi que Percy não notaria minhas sobrancelhas levantadas para ele. A intenção dele não era ter soado romântico, ele estava falando o que honestamente sentia.
Cheguei à conclusão de que ele era o melhor namorado do mundo, mas apenas seria assim com Annabeth.
A necessidade de encontrá-la só aumentava. Eles mereciam ficar juntos.
— Acredite, apesar de tantas pessoas terem abandonado ela, Annabeth nunca abandonou ninguém. Quanto a mim, não se preocupe, não estou pronta para deixar o Acampamento ainda.
“Preciso de um bom motivo para isso” – pensei.
O assunto pareceu morrer.
Percy se acomodou em seu banco, olhando pelo para-brisa ligeiramente embaçado, para a direção onde ficava a entrada do Acampamento, alheio ao real motivo de eu não ter aceitado o convite de Artémis.
Eu esperava encontrar Luke mais uma vez. A última vez.
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