Percy Jackson Filmes escrita por JkTorçani


Capítulo 38
Fuga




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Ponto de Vista de Thalia

 

— Acalme-se – pedi à Percy.

Ele estava agindo daquele jeito, como se fosse o único afetado da situação. Annabeth era como uma irmã para mim, e eu faria qualquer coisa para encontrá-la. Começando por um bom plano.

— Quíron disse que as Caçadoras não demorariam à chegar. Vamos resolver isso. Pelo jeito dele, ou pelo nosso.

Notei várias coisas jogadas ao chão do chalé de Percy, que antes, eu poderia jurar que estavam sobre a mesa de escritório. Um baú de madeira estava tombado como se tivesse acabado de levar um chute.

— Eles não se importam, Thalia. Ninguém se importa – Percy se virou, e seus olhos estavam vermelhos, como se metade de sua concentração estivesse focada em não chorar.

— Não perca seu tempo dizendo isso – aconselhei.

Percy puxou uma das gavetas da mesa de escritório, e de lá de dentro, retirou uma foto.

Eu nunca havia visto uma expressão tão devastada em alguém depois de olhar uma fotografia. Possivelmente, era a foto de Annabeth.

Eu queria bater nele por agir como se ela estivesse morta.                  

— Ei, olhe para mim – ele não olhou – Percy, olhe para mim – foi preciso que eu puxasse seu rosto para que ele fizesse o que pedi – nós vamos encontrá-la. Eu prometo.

Seus olhos azuis continham um brilho de agonia, que eu tinha certeza: não era algo normal nos olhos daquele rapaz.

Percy deu uma olhada rápida na fotografia, antes de voltar a guardá-la na gaveta. Ele fungou.

— Qual é o plano?

Respirei fundo.

— Por agora, não há nada que possamos fazer. Mas preciso contar à você algumas coisas. Coisas que a própria deusa Artémis me contou.

— Então Zeus... quer dizer, seu pai foi falar com Hades?

— Não necessariamente, os olimpianos não podem entrar no Mundo Inferior, exceto Hermes. Mas os deuses podem se encontrar no mundo mortal. Zeus e Poseidon tiveram uma conversa séria com Hades, e o repreenderam por tentar conseguir do Raio Mestre como você bem sabe. Mas principalmente, porque ele deixou... Luke levar o caixão de Cronos.

Percy olhou para o chão, estreitando os olhos.

— Eu deveria ser a última pessoa a dizer isso, mas não acho que Hades tenha permitido que Luke simplesmente levasse o caixão.

Eu concordava. Hades também sofreria a ira de Cronos se ele retornasse. Mas Luke era esperto, e com toda certeza entrou e saiu do reino dos mortos sem ser notado.

— Bem, é. Artémis também contou que Zeus ordenou aos deuses que cortassem todo o tipo de comunicação com os meio-sangues, até por telepatia, desde que você e Annabeth foram ao Olimpo.

— Isso não faz o menor sentido! – exclamou Percy.

— Zeus imagina que um olimpiano possa tentar destruí-lo por meio dos semideuses, como Luke. Isso quase aconteceu, não foi?

Percy suspirou.

— Pode ser paranoia de Ze... – ele parou e olhou para mim. Eu não sabia se ele havia se contido porque estava prestes a falar do meu pai ou se receava que Zeus o ouvisse. Talvez ambos – desculpe.

Eu ri sem humor algum.

— Tudo bem, eu nem sequer conheço ele.

Percy se ajeitou ao meu lado. Estávamos sentados em sua rede de balanço.

— Quer saber como ele é?

— Não – respondi, seca.

Mentira seria se eu dissesse que não estava curiosa sobre como era sua fisionomia e personalidade pessoalmente, mas eu me presentearia com o benefício do desconhecimento.

Percy estava prestes a dizer algo, mas o interrompi antes que começássemos com esse tipo de conversa.

— Eu não acabei ainda. Os deuses estão agindo conforme o sexto sentido deles. O ataque em Westover Hall, aquelas pessoas atrás dos di Angelo. Pode ser o começo de algo.

Percy bufou.

— Acho que a parte mais interessante disso tudo foi ela ter chamado você para trocar confidências...

— Bem, na verdade, ela foi meio vaga em relação a quase tudo. Sabe como é, os deuses gostam de nos deixar no escuro. No entanto, ela ofereceu um convite para que eu e Bianca entrássemos na Caçada.

— E... – Percy se inclinou para olhar corretamente para mim – você aceitou?

Suspirei.

— Hum, não. Mas Bianca sim, e é isso o que me preocupa.

Ele franziu a testa.

— Espera, por que ela faria isso? Se ela ficar com as Caçadoras...

— Sim, Nico ficaria sozinho. Mas, acredite Percy, foi tentador. As coisas que nos prometeram. Imortalidade, ser livre de responsabilidades... uma nova família.

— Você tem uma família. Nós— ele fez um gesto, englobando o Acampamento.

Abaixei a cabeça.

Eu nunca diria isso à alguém, mas a última vez que me senti em família foi quando estava com Luke, percorrendo o país atrás de algo que desconhecíamos: Segurança.

Luke não estava mais aqui.

Forcei um mínimo sorriso.

— Não diga! Por que acha que ainda não aceitei?

— Percy! Percy! – Tyson entrou correndo no chalé – Onde está Annabeth? Eu ouvi ao redor do Acampamento que ela... – ao meu lado, Percy baixou a cabeça, a expressão derrotada retornando – Onde...?

— Tyson, não se preocupe. Vamos encontrá-la. – assegurei. Seu único olho piscou para mim.

— Por que aquele grupo de garotas está lá na Casa Grande?

— O que? – Percy levantou-se da rede.

— As Caçadoras chegaram? – perguntei.

— Foi disso que os campistas estavam chamando elas... – murmurou Tyson, pensativo.

Levantei-me da rede com a mesma agilidade de Percy.

— Ok, temos que resolver as coisas. Vamos Percy. Acompanhe-nos, Tyson.

— Recebemos ordens expressas de nossa senhora, Zoë – dizia uma Caçadora.

As demais seguidoras de Artémis estavam espalhadas pela Casa Grande, observando ornamentos aqui e ali.

Eu, Percy e Tyson encontramos Quíron, Zoë e Phoebe conversando no escritório principal.

— Sim, mas com essa profecia... eu não sei – argumentou Zoë.

— De fato, não é algo que se possa ignorar – concordou Quíron.

— Qual profecia não pode ser ignorada? – perguntou Percy.

Quíron e Phoebe olharam para nós, mas Zoë ignorou nossa chegada. As outras Caçadoras olhavam para Percy e Tyson como se o fato de eles serem homens fosse o pior crime já cometido.

— Não deveriam estar aqui – o tom de voz de Zoë era melancólico e desanimado ao invés do rude natural, e pela direção em que ela estava olhando, parecia que estava dizendo às paredes que elas “não deveriam estar aqui”.

— Mas estamos, então se você... – começou Percy, muito irritado.

— Acalmem-se, todos. Acontece que a senhora Artémis ordenou a Zoë que falasse comigo para permitir à ela uma visita ao Oráculo. Ela recebeu uma profecia. E receio que isso gere uma busca – disse Quíron.

— Receia? – perguntei – Por quê?

“A oeste, cinco buscarão a deusa acorrentada,

Um se perderá na terra ressecada,

A desgraça do Olimpo aponta a trilha,

Campistas e Caçadoras, cada um, brilha,

A maldição do titã um deve sustentar,

E, pela mão do pai, um irá expirar.”

Zoë não olhou para ninguém em especial, mas ela tomava fôlego a cada frase que havia dito.

— Isso foi... péssimo – comentei.

— Mas vocês não percebem? Isso é importante. Temos que ir – afirmou Percy.

Temos? Você não tem que ir a lugar algum, rapaz— disse Phoebe.

— Acha mesmo que pode me impedir de buscar por Annabeth!? – perguntou Percy.

— Chega! Tudo bem!? Cada um com seus propósitos – intervi - vamos recapitular, temos que ir para o oeste, isso é certo, e cinco devem procurar. A deusa acorrentada— olhei para Zoë e Phoebe – acho que vocês já tiraram a conclusão de quem é a deusa, não? Campistas e Caçadoras, juntos.

— E dois não irão retornar – proferiu Tyson. Todos olharam para ele.

— Portanto, é o que eu digo, temos que seguir as ordens da senhora Artémis. Ela pediu que ficássemos aqui e não interferíssemos – disse Phoebe.

— E quem vai desacorrentá-la? – perguntei.

— Essa decisão está agora nas mãos de Zoë. A profecia veio para ela – Quíron lembrou.

Zoë soltou um longo suspiro.

— Nós vamos.

— Ótimo – comentei.

— Mas só vamos em três – Zoë sentenciou.

— Três? Você ouviu a profecia. Cinco devem buscar – contrapôs Percy.

— E você ouviu a profecia. Dois não vão retornar – rebateu Zoë, olhando pela primeira vez para alguém naquele escritório. Para Percy – além disso, três é um número de sorte e é o número de pessoas em uma missão. Eu, Phoebe e Bianca vamos partir para o oeste.

Uma onda de protestos encheu o lugar, vindos de Percy e eu, é claro.

— Sem chance – disse Percy.

— Campistas e Caçadoras – lembrei.

— A Bianca? – questionou Phoebe.

— Acalmem-se – pediu Quíron – Zoë, não tenho certeza se é uma boa ideia burlar a profecia. Em qualquer outro caso, três seria o número correto em uma missão, mas agora...

— Um risco por outro risco – observou Zoë.

Quíron não gostou do plano, mas procedeu.

— Só peço que repense sua escolha de equipe. Campistas e Caçadoras podem colaborar juntos. Devem colaborar.

Percy deu um passo à frente.

Devem— ele reforçou.

— Tudo bem. Phoebe, se importaria em ficar? Vou adicionar o sátiro Grover à busca.

Phoebe deu de ombros.

— Ei, por que o Grover? – perguntei.

— Ele é um sátiro, pode farejar monstros. Uma adição importante, principalmente porque é um campista— explicou Zoë.

Eu não queria que aquilo tivesse feito sentido.

— E a Bianca!? Ela não passou nem 24 horas no Acampamento! Como espera que ela ajude em algo!? – Percy estava perdendo a paciência.

— Exato. Será uma boa experiência para ela. Caçadoras são treinadas lá fora, não no Acampamento. Treinarei Bianca conforme avancemos para o oeste. Vamos partir amanhã, antes do sol se pôr – foi o xeque-mate da Zoë.

Percy ia perder controle, por isso segurei-o em uma espécie de abraço de urso.

— Espere, espere. Ainda podemos fazer algo à respeito – sussurrei perto de seu ouvido. Ninguém parecia ter escutado.

Zoë e Phoebe saíram andando do escritório.

— Caçadoras, vamos – Zoë ordenou, e junto às suas companheiras, deixou a Casa Grande.

Quíron caminhou para perto de nós.

— Preciso que entendam isso. No momento, nada pode ser feito.

Nós entendemos— não, não entendemos – vamos.

Puxei Percy pelo braço, Tyson nos acompanhou. Deixamos a Casa Grande.

O relógio na minha cabeceira marcava 00:27. Eu não poderia e nem conseguiria dormir. Há poucas horas, deixei Percy em seu chalé. Ele me deu um “boa noite” seco e entrou.

Eu sabia que ele estava planejando algo, talvez a mesma coisa que eu. Por isso me levantei e troquei de roupa, por isso eu havia arrumado uma mochila com itens definidos como “necessários”.

E por isso andei até o chalé de Percy tomando cuidado para não ser notada.

— O que faz aqui? – ele estava vestido com um casaco bege surrado, calças azuis muito claras e botas da mesma cor que o casaco. Eu não estava surpresa e ele não estava surpreso. Ao que parece, tomamos a mesma decisão: iriamos nessa busca de um jeito ou de outro.

— Você sabe – me coloquei atrás das cortinas brancas de lona, para que ninguém me visse naquele chalé, que era todo aberto – já fez sua mochila?

As chamas dos lampiões e qualquer outra fonte de luz estavam apagadas. O Acampamento estava um breu. Apenas o alvor das estrelas me permitia enxergar as coisas a minha volta.

Percy colocou algo envolta do pescoço e se abaixou para pegar alguma coisa no chão.

— Sim – de fato, ele havia pegado sua mochila azul – eu só estava esperando pelo momento certo.

— O momento em que eu chegasse, acredito.

— Não exatamente. Mas tudo bem.

— Então, você tem um plano?

Percy olhou em volta, assegurando que não havíamos sido descobertos.

— Na técnica. Só estou com medo de colocá-lo em prática. Acho que estamos sendo muito previsíveis. Pelo menos, eu estou – disse ele.

— Por que?

— Não é a primeira vez que eu fujo do Acampamento, Thalia – era quase impossível ver sua expressão, com a claridade precária, mas eu sabia que não havia ninguém tão determinado quanto Percy nesse momento – Quíron provavelmente não espera que eu fique de braços cruzados.

— Não acho que Quíron esteja na colina do Acampamento esperando passarmos por ele.

Percy se aproximou.

— Certo. Vamos torcer para que não. Pois temos que chegar até o carro da minha mãe.

— Por que até lá?

— Você me perguntou sobre o plano. É esse. Zoë vai partir antes de amanhecer, e Grover estará com ela, rastreando o caminho. Vamos segui-los, sutilmente.

— Soou como se fosse o único recurso – comentei.

Percy ajeitou as alças da mochila nos ombros, soltando um suspiro decidido.

— É o melhor recurso – ele se alinhou à mim na entrada do chalé – rápidos e silenciosos, assim seremos enquanto atravessamos a floresta. Pronta?

— Vamos.

— Nico e Bianca discutiram hoje – notifiquei aos sussurros – eu vi.

Já estávamos perto das barreiras mágicas do Acampamento, tomando o cuidado para não irmos em direção ao meu antigo pinheiro, onde o jovem dragão Peleu, muito provavelmente, dormia tranquilo.

Corujas piavam nos galhos das árvores.

— Bianca tomou uma decisão muito precipitada. Acho que agora é o momento em que Nico mais precisa dela – sussurrou Percy – olha, o carro está logo ali.

Era um sinal de que havíamos atravessado as barreiras para o mundo mortal.

— Fique atento aos monstros – precavi.

Agora que eu morava no Acampamento, sair dele não me era comum. Eu sentia que tantas coisas aconteceriam.

— É. Se os monstros não nos matarem, o frio de Long Island vai – afirmou Percy, sua voz tremeu.

Acho que assim como eu, ele havia se esquecido de adicionar mais algumas camadas de roupa. O inverno estava impetuoso.

— Caramba, abre a porta do carro – pedi.

Percy entrou no carro e destrancou a porta do lado do passageiro. Assim que ele ligou o ar quente, a sensação de congelamento nos meus membros se esvaiu.

— Beleza, temos que esperar o trio deixar o Acampamento, certificarmos de manter uma boa distância entre nós e eles – estruturei.

— É – concordou Percy – mas eles ainda vão demorar. Pode dormir se quiser.

— Não consigo.

— Por que?

— Pelo mesmo motivo que você não consegue.

Ele olhou para mim.

— Ela ficaria feliz ao saber que estamos nos dando tão bem.

— Sim, mas ela não precisaria desaparecer para nos darmos bem. Fico imaginando onde ela está, como ela está. Talvez... talvez tenha algo a ver com a deusa acorrentada.

— Acha que Artémis a encontrou? – perguntou ele.

— É bem possível.

Ficamos em silêncio por minutos, antes de Percy quebra-lo.

— Posso te fazer uma pergunta?

— Capricha.

— Por que não entrou para a Caçada? O motivo real.

Por que tinha que ser logo sobre esse assunto?

— Eu... eu não saberia dizer. É como se eu estivesse esperando por algo.

— Esperando pelo quê?

Eu não queria discutir esse assunto com Percy. Talvez nem mesmo com Annabeth. Era algo íntimo.

— Se Annabeth fosse convidada a se juntar à Caçada, iria esperar que ela aceitasse?

— Eu não poderia imaginar algo mais doloroso para mim. Mas a escolha seria dela. Eu a amo suficiente para deixa-la ir, mesmo que isso me destruísse.

No ambiente mal iluminado, deduzi que Percy não notaria minhas sobrancelhas levantadas para ele. A intenção dele não era ter soado romântico, ele estava falando o que honestamente sentia.

Cheguei à conclusão de que ele era o melhor namorado do mundo, mas apenas seria assim com Annabeth.

A necessidade de encontrá-la só aumentava. Eles mereciam ficar juntos.

— Acredite, apesar de tantas pessoas terem abandonado ela, Annabeth nunca abandonou ninguém. Quanto a mim, não se preocupe, não estou pronta para deixar o Acampamento ainda.

“Preciso de um bom motivo para isso” – pensei.

O assunto pareceu morrer.

Percy se acomodou em seu banco, olhando pelo para-brisa ligeiramente embaçado, para a direção onde ficava a entrada do Acampamento, alheio ao real motivo de eu não ter aceitado o convite de Artémis.

Eu esperava encontrar Luke mais uma vez. A última vez.

 


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